sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Uma vergonha passageira

 344º dia do recomeço do blog

Hoje ouvi falar do cinema de Campolide de que não me lembro mas que ficava ao pé do mercado. Esse sim, descendo a rua quase a pique ficava do lado esquerdo. Era pequeno. Dito na minha dimensão de criança. 

Entrei para o Lycée Français aos quatro anos. Por isso esta minha recordação foi antes dessa data ou nalgum dia sem aulas.

Já falei várias vezes na minha Mãe, super educada e discreta.

Uma manhã fui com a empregada (antigamente chamada criada) ao mercado. Na zona do peixe, uma peixeira exuberante no tom de voz e chamamento das clientes, estava cheia de ouro. Brincos vistosos, cordões de ouro, anéis, aquilo que o meu Pai chamaria uma ourivesaria ambulante. Certamente me chamou, quem sabe se cantou, seguramente me encantou.

E devo ter dito qualquer coisa como "gostava que fosse minha Mãe", que a criada transmitiu à minha Mãe.

A minha Mãe, a senhora sóbria, discretamente perfumada e enfeitada, não sei o que sentiu mas lembro-me do que me disse "e gostavas que eu chegasse a casa a cheirar a peixe?".

Não, não me traumatizou mas envergonhou-me. Tanta coisa que dizemos e que quem ouve deve calar. Mas a rapariga, não me lembro de qual, deu com a língua nos dentes. Vai na volta também ela gostou do festival da peixeira.