domingo, 28 de fevereiro de 2021

Encontros de café, fazem-me falta

 346º dia do recomeço do blog

Na mesma avenida do Liceu Francês havia lá mais à frente, esquina com a Artilharia 1, um café/pastelaria chamado Sol Parque. Nesta mesma rua ficavam mais dois colégios, o Colégio Maristas de Lisboa e o Externato do Parque. Não me lembro de nos termos juntado por ali.

O Sol Parque era o espaço onde os meus amigos e eu nos encontrávamos quando tínhamos mais tempo. Um café/pastelaria amplo, com um empregado muito simpático que já nos conhecia a todos. 

É maravilhoso relembrar como tínhamos sempre prazer em conversar! Tinha um grupo interessante, activo culturalmente, quer no teatro, quer na música, quer na política numa altura muito antes do 25 de Abril. 

Uma referência ao meu primo Pedro, sete anos mais novo que eu e que já morreu. Na altura era aluno dos Maristas e no Sol Parque orgulhoso da prima mais velha, pedia sempre para pôr as suas despesas na minha conta.

Nunca mais fui frequentadora de cafés, nem nunca mais tive um grupo que se encontrasse nalgum. Pena!

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Concursos de rapidez a comer bolos.

  345º dia do recomeço do blog

Morava em Campolide e ia todos os dias a pé para o Liceu Francês. Distância curta. Em pequena ia com o meu Pai de mão dada até à porta. Depois começou a deixar-me na esquina. E mais tarde ia sozinha, mas quase sempre acompanhada por dois colegas que também moravam para ali.

Em adolescente, não sei com que idade, íamos sempre mais cedo e parávamos naquilo a que chamávamos leitaria. Um pequeno espaço, paredes de azulejos brancos, um balcão e umas mesas.

Encontrávamos ali grande parte da turma. Se calhar um pastel de nata, ainda não bebia bica diária mas fumava cigarros. Fazíamos um pequeno ajuntamento fardado, eles de calças cinzentas e camisa azul clara e blazer azul escuro, nós, as raparigas semelhante mas com saias. Umas conversas ou melhor trocas de frases e lá íamos para as aulas que começavam às 8h da manhã. 

Também se comia lá, raramente mas lembro-me de um ou outro almoço que combinávamos. E na galhofa fazíamos uns concursos, ver quem comia mais rapidamente um pudim flan ou noutros dias um bolo de arroz. Ambos com técnicas diferentes. 

O pudim era mesmo de forma inestéctica, prato junto à boca, pudim junto à boca e aspirava-se todo de uma vez. Por acaso nunca nenhum se engasgou. 

O bolo de arroz, pelo contrário, era comido aos bocadinhos pequenos, retirados do bolo com a mão que os levava à boca. Quem comia às dentadas embuchava, não conseguia engolir e como o concurso era de velocidade, perdia.

Não me lembro quem tinha mais perícia para ganhar. 

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Uma vergonha passageira

 344º dia do recomeço do blog

Hoje ouvi falar do cinema de Campolide de que não me lembro mas que ficava ao pé do mercado. Esse sim, descendo a rua quase a pique ficava do lado esquerdo. Era pequeno. Dito na minha dimensão de criança. 

Entrei para o Lycée Français aos quatro anos. Por isso esta minha recordação foi antes dessa data ou nalgum dia sem aulas.

Já falei várias vezes na minha Mãe, super educada e discreta.

Uma manhã fui com a empregada (antigamente chamada criada) ao mercado. Na zona do peixe, uma peixeira exuberante no tom de voz e chamamento das clientes, estava cheia de ouro. Brincos vistosos, cordões de ouro, anéis, aquilo que o meu Pai chamaria uma ourivesaria ambulante. Certamente me chamou, quem sabe se cantou, seguramente me encantou.

E devo ter dito qualquer coisa como "gostava que fosse minha Mãe", que a criada transmitiu à minha Mãe.

A minha Mãe, a senhora sóbria, discretamente perfumada e enfeitada, não sei o que sentiu mas lembro-me do que me disse "e gostavas que eu chegasse a casa a cheirar a peixe?".

Não, não me traumatizou mas envergonhou-me. Tanta coisa que dizemos e que quem ouve deve calar. Mas a rapariga, não me lembro de qual, deu com a língua nos dentes. Vai na volta também ela gostou do festival da peixeira.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Para fantasiar não é preciso ver com os olhos.

 343º dia do recomeço do blog

Está a ficar mais escuro, nuvens cinzentas começam a tapar o céu azul.

Lembro-me com a minha Mãe de fazer um jogo de fantasia, certamente no verão porque estávamos deitadas no chão. 

Olhávamos então para as nuvens brancas do céu e imaginávamos formas conhecidas. Muitas vezes de animais e até dinossauros voadores. Era muito divertido e riamos imenso. Muitas vezes tínhamos de explicar a forma que nos tinha motivado e se havia vento as nuvens mudavam rapidamente de forma.

Ela de vez em quando dava um grito de prazer e exclamava, olha, olha, estou a ser puxada. Uma espécie de sucção que o céu exercia sobre ela mas nunca o fazia a mim. Tirando a identificação das formas não me permitia mais nada.

Um dia numa consulta um miúdo falou-me neste jogo das nuvens. Que fazia com o avô, ele tinha-lhe ensinado isso e ele tinha gostado muito. Conhecedora da família, sabia que ele já só tinha um avô, com quem passava muitas tardes. Só que o avô era cego, não de nascença mas há já muitos anos.

Fiquei emocionada na altura. Foi quase como ter acabado de ouvir um poema bonito.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

O pensamento em demasia inibe a acção

 342º dia do recomeço do blog

Em 1980 fiz o meu Serviço Médica à Periferia no Distrito de Viseu, bem ao norte do mesmo. Já falei disto várias vezes mas vou agora juntar mais qualquer coisa.

Inicialmente foi muito difícil. Depois a integração no trabalho e nas populações, o ter arranjado amig@s, veio facilitar as coisas. Foram um ano e uns dias e mantenho a melhor das experiências da minha vida.

Mas de vez em quando as saudades do meu ambiente habitual, Lisboa, Sesimbra, Rio Tejo e Mar batiam forte. Ali no interior não havia isso, só muitos kms de más estradas me poderiam levar aos "meus" sítios.

Ia então ao fim do dia para a Barragem do Vilar, bem ao perto. Ouvia as rãs, atirava umas pedras para ouvir o barulho da água a mexer e voltava mais consolada.


Ontem estava mesmo em baixo. E hoje levantei-me com uma ideia que me animou, vou passear para ao pé do Rio Tejo. Arranjei-me, pronta para sair quando recebi um telefonema de uma amiga que me disse ter tentado e a polícia ter impedido. Para além do mais é 
proibido passear no passeio junto ao rio.

Fiquei caída. E comecei a magicar que se apanhasse o metro até à Praça do Comércio veria o rio. Ia conseguir chegar lá e fazer a pé até ao Cais do Sodré, como se fosse apanhar um comboio?

Quando se age depressa não se pensa muito, quando se pensa demais pode acontecer que já não se age.

Foi o que me aconteceu, fiquei pelo bairro a ler as ementas dos almoços e vim para casa comer restos que cá estavam e estavam muito bons.

Talvez um destes dias pense menos...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Era uma vez o coro, para já.

 341º dia do recomeço do blog

Não tenho conseguido treinar a partitura de Mozart. A música é linda, mas quando dou por mim, estive ocupada com outra coisa e quase só à hora de deitar me lembro que não a estudei. Tarde demais.

No dia a seguir acontece-me a mesma coisa. Mais um dia sem estudar.

No início dos ensaios por ZOOM divertia-me. Foram os reencontros e muitas vocalizes. Depois começaram umas músicas que foram razoavelmente fáceis porque conhecidas, até cantadas pelo Louis Amstrong. Estavam no ouvido.

Até me ofereci para cantar para todos, eu de microfone aberto, os outros com os deles desligados. Julgo que foi a primeira vez que a maestrina me ouviu cantar e até elogiou. Sim, sei que me saí bem mas não tenho a voz sempre assim.

E depois há a porcaria da memória, esqueço-me da sequência da música, a letra tenho-a à frente. As notas também lá estão mas não os sons.

A isto junta-se o meu estado de humor, uma quase anedonia. Passa quando agarro num livro e leio sem parar. 

Enviei um mail e despedi-me por uns tempos. Não expliquei a razão, só falei na minha ausência e um eventual interregno.

Sei, para além do confinamento, o que me trás assim. Vamos a ver o que se segue.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Há vários tipos de memórias e há o esquecimento

 340º dia do recomeço do blog


" Os mortos são objectos que se estragaram, como um televisor, um rádio, a batedeira eléctrica, e o melhor é lembrarmo-nos deles como eram quando funcionavam, porque o único túmulo aceitável é a recordação".
Elena Ferrante in A Vida Mentirosa Dos Adultos

 
Uma frase, um pensamento chocante. Por ser seco, frio e pragmático. Mas fiquei a pensar.

Tanto mais quanto a minha primeira chefe desde o final dos anos 80 até 2000, me pediu uma informação para situar um artigo da minha Mãe.

Não tinha a revista científica onde foi publicado mas uma colega amiga enviou-me as fotos da capa, Conselho de Redacção e Índice.

E aqui começam as memórias. Ainda bem que a minha Mãe publicou aquele artigo que vai ter nova vida. Deixar escritos é uma forma de permanecermos para lá dos netos, da memória dos netos.

Agora a outra memória, ou melhor da falta dela. Constatei que fiz parte do Conselho de Redacção. Mas nunca mais me tinha lembrado disso. E mesmo para os currículos que tive de fazer para prestar provas na carreira hospitalar referi o "posto". Nunca tive jeito para me valorizar.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Jantar de domingo

 339º dia do recomeço do blog

Há pouco ao telefone o meu filho mais velho dizia que já não nos víamos desde o dia anterior ao confinamento. À mesa estava o meu filho mais novo que na próxima semana muda para uma casa mais adaptada aos cães que ele e a Inês têm.

Fico com ambos os filhos a morarem em concelhos diferentes do meu. Se o confinamento continuasse só os poderia ver de semana. Mas como se todos trabalham? Possível mas mais difícil.

Tem alguma comparação com os Pais dos filhos que emigram para outros países, às vezes separados por  muitos kms e muitas horas?

Sem trânsito um fica a 15, o outro a 40 minutos.

Voltámos a falar disto hoje ao jantar. Para nos habituarmos, talvez mais eu. Embora se passem dias sem nos encontrarmos, se isso acontece é quando vão passear os cães, somos muito independentes.

Uma coisa nos une, a mesma empregada que há 40 anos a servir-nos, uns dias a mim outros aos meus filhos que ajudou a criar, vai deixar de ser esse laço. Já disse que desta vez não os acompanha. 

É pena que não possam ficar mais perto, mas os preços determinam algumas opções.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Café Society para finalizar

 338º dia do recomeço do blog

Choveu todo o dia. As gotas escorriam pelas vidraças das minhas janelas. Não oiço a chuva porque os vidros duplos não deixam mas pus-me a pensar na música da Sylvie Vartan, êxito nos anos 60. 

J´écoute en soupirant la pluis qui ruisselle
Frappan doucement sur mes carreaux
Comme des milliers de larmes qui me rappelle
Que je suis seule en l´attendant.

E lembrar às vezes é como as cerejas, atrás de uma memória vem outra, o Teatro Monumental onde a fui ver duas vezes, como eu cheiinha e sem toque atrativo, pensava eu , olhava para ela como um modelo desejado.

E o então marido dela, o roqueiro em francês Johnny Halliday, que também vi no mesmo teatro. Fiquei a conhecê-lo quando a minha Mãe entrou em casa com um 45 rotações acabado de sair.

Daí para o Youtube foi uma parte da tarde, a ver, ouvir, entrevistas deles e o filho, que eu nem sabia que existia, um pouco da biografia, dos países de origem, enfim, umas horas em que não costumo perder tempo. Mas soube-me bem.

Acabei a noite a ver mais um filme do Woody Allen, Café Society. São sempre os mesmos temas, as quase mesmas músicas, mas diverti-me imenso. 

Brilhante a do judeu que foi condenado a morrer na cadeira eléctrica e que se converte ao catolicismo porque para os judeus não há vida para lá da morte.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Feelgood? Às vezes, tem dia, tem horas.

 337º dia do recomeço do blog

Max Jacobson foi médico de muitas personalidades inclusive do futuro presidente dos EUA John Kennedy. Conhecido como Doctor Feelgood, era o médico que dava felicidade. Dominava bem as drogas, nomeadamente  anfetaminas e drogava os pacientes por forma a dar-lhes força, ânimo e confiança neles próprios.

Muitos dos seus doentes ficaram adictos. Na altura ainda não estava regulamentado o seu uso.

Ontem precisaria eu de um Doctor Feelgood? 

Não, neste estado de pandemia com as dúvidas quanto ao futuro, sem perspectivas quanto ao final, isolada de relações, isto que tive ontem tem de ser considerado normal. Hoje tão atenta estive a ler até ao fim do livro, interessada e deliciada. A leitura, quando se consegue ficar preso é uma muito boa solução. 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Escrever é juntar letras? Que disparate!

 336º dia do recomeço do blog

"E eu que digo isto - por que escrevo eu este livro? Porque o reconheço imperfeito. Calado seria a perfeição; escrito, imperfeiçoa-se; por isso o escrevo."

Bernardo Soares in O Livro Do Desassossego.

Ele escreve tão bem! E tem pensamentos profundos, por vezes inquietos.

E eu, por que escrevo neste blog todos os dias? Sinto-me, como hoje, uma penitente a cumprir a sua promessa. 

Estou pesada, lenta, quase apática. Dormi mal, acordei cedo. Acordar às 2h da madrugada e eu a julgar que já é de manhã, tal desperta fico. 

Ao longe ouço as notícias da noite. Ouço? Não, há o som mas não dou sentido às palavras. Não quero ouvir.

Não quero escrever, não quero pensar. Fico por aqui, amanhã é outro dia.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Foi breve a estadia mas tenho umas ideias sobre o assunto

 335º dia do recomeço do blog

Sala de espera de um centro de saúde. Comigo sete pessoas, cadeiras espaçadas por duas vagas, em redor das quatro paredes da sala. Numa das paredes, em cima, uma televisão ligada. 

Chega uma senhora, utente como se diz, trazia duas máscaras, e com exuberantes caretas retirou a cirúrgica que tinha por baixo de outra, com gestos e caretas a mostrar que estava cheia de calor na cara e com falta de ar. Ficou imediatamente bem.

Uma mãe com uma criança ao colo mostra-lhe no telemóvel um filminho com vozes de miúdos a cantarem canções infantis. Normalmente acharia pouco adequado o uso permanente dos écrans às crianças. Mas agora no estado em que estamos elas passam todo o dia a ver écrans, coitaditas!

A televisão, com som, dava notícias desgraçadas umas atrás de outras. Pensei estar num canal ordinário mas vendo melhor era a RTP3. A Valentina, coitada da menina morta às mãos do pai e madrasta, que a jornalista à porta do tribunal nomeava de mãe. Com todos os pormenores conhecidos!

Os centros de saúde terão televisão por cabo? Se têm poderiam ligar para canais da natureza, animais e música por exemplo. Se não têm a RTP Memória tem uns programas interessantes.

Mas evitem replicar este tipo de programas!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

"A vida são dois dias e o Carnaval são três"

 334º dia do recomeço do blog

Hoje é 3a feira de Carnaval. Não há tolerância de ponto. Estamos em confinamento.

Em 1993 o então Presidente da Republica Cavac@ Silva "cortou" a tolerância de ponto na 3a feira de Carnaval aos funcionários públicos. 

Em 1992 o Centro de Saúde Mental Infantil e Juvenil de Lisboa foi integrado no Hospital Dona Estefânia. Apesar disso fiquei a trabalhar na mesma equipa, a Clínica da Encarnação. E como de costume ao chegar ia dar um sorriso à nossa directora e mentora Dra. Maria José Vidigal. Entrei e ela embatucou. É que eu tinha um laço enorme feito de papel crepom azul turquesa ao pescoço. Olhou-me mas não comentou e eu nada disse. Assim estive todo o dia, todas as consultas com as crianças e com os pais delas. Ninguém comentou e eu não me desmascarei.

Foi uma atitude de protesto. Na altura aquele decreto caiu mesmo mal. E sem razão para ele. 

Quanto às máscaras, agora usamos todos os dias, carnaval para quê?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Hoje de manhã saí muito cedo ...

 333º dia do recomeço do blog

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...
Alberto Caeiro

Nada como a chuva, vento e frio para que se cumpra melhor o confinamento.

Desde que começou o sol, também eu comecei os meus passeios. Tenho sorte, moro em Lisboa mas num sítio rodeado por jardins, parques e quintas. Sábado e domingo alterei aminha rota, havia muito mais gente. Hoje já estava quase só eu e os poucos que se cruzaram comigo tinham máscara. Mas vi na televisão magotes de pessoas. Estamos fartos do inverno e do confinamento. Mas contem comigo, sou a favor dele.

Sempre dei erros de ortografia, mas agora com o computador é muito mais fácil ter certezas. Ainda há pouco fui-me certificar da ortografia de "contem" que escrevi no parágrafo anterior. Claríssima explicação, contem sem acento é do verbo contar, no sentido de cumprir um acordo, que é o que eu queria, contém com acento é do verbo conter.

Vi há pouco na televisão uma imagem que acho não era portuguesa. Eram pessoas a perder de vista, bastantes de raça negra. O que foi dito é que a fome estava a aumentar em Portugal. E depois houve entrevistas onde se ouviu contar o número, melhor o aumento, de pessoas que pedem ajuda alimentar. Da quantidade de famílias no desemprego, casais jovens, é terrível. Sempre houve desigualdade social mas agora parece-me que está a aumentar. Fome, que vergonha ainda ou voltarmos a ter.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Dia dos namorados

 332º dia do recomeço do blog



sábado, 13 de fevereiro de 2021

Dentuças iguais, sorrisos de plástico

 331º dia do recomeço do blog

Vejo mais televisão, tirando quem está em teletrabalho deve acontecer o mesmo. Tirando um ou outro programa que escolho só a ligo pouco antes do jantar. 

Tenho reparado que muitos apresentadores/as, animadores, artistas mais abonados ou que fazem disso anúncio, deixaram de ter os seus dentes. 

Há bastantes anos, foi a primeira vez que ouvi uma pessoa que trabalhava no meu serviço, contar das inúmeras horas que a cunhada tinha estado de boca aberta, as mandíbulas presas para não se poderem fechar e tendo-lhe sido arrancados todos os dentes. Andou uns tempos com dentadura e finalmente nova operação de boca aberta para colocar os implantes.

A minha Mãe tinha um sorriso doce, com um dos caninos um pouco saído para cima do incisivo. Ficava-lhe muito bem!

Na altura dela não haveria ortodontistas para pôr um aparelho nos dentes. Eu tive dois, um em criança mas perdi-o e apareceu um tempo depois na caixa da costura. Foi um mistério nunca resolvido. Mais tarde, dava eu aulas na faculdade pus outro, de pôr e tirar e que eu tirava sempre antes de entrar para as aulas. Acabado o acerto previsto deixei de o usar. Os meus dentes ficaram mais direitos mas cada um manteve as suas características, uns mais estreitos, outros maiores. Marca da casa. 

Agora andam tantos dentes iguais por aí, todos perfeitinhos, muito brancos, e que dão um sorriso de anúncio de pasta dentífrica. Só os lábios variam de uns para os outros.

Terão passado pelo processo da cunhada da outra?

Lembrei-me daquela história do alentejano quando a mulher apareceu de lábios pintados e lhe perguntou porque o tinha feito, ao que ela respondeu que era para ficar bonita. E ele retorquiu "E porque não ficaste?"

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

O rés-do-chão tem a sua vantagem

 330º dia do recomeço do blog


Com um dia de sol como hoje, depois de uma data deles de chuva e vento, fui dar um passeio higiénico. Dois mais precisamente, metade antes do almoço e o resto depois. A pé, tudo somado diz o meu pedómetro que foram 7 kms.

Encontrei estas senhoras na conversa. Sem perigo, à distância regulamentar e de máscara. Pedi licença e tirei-lhes uma fotografia.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Dois pontos actuais e uma lembrança

 329º dia do recomeço do blog

Acabei de ver imagens do lixo nas ruas de Luanda, aos montes, depois do governo ter deixado de pagar a seis empresas por falta de verbas. Uma tristeza, riachos cheios de lixo e crianças a brincar por cima, avenidas largas com lixo no meio, com partes a arder e ruas ainda mais estreitas nos bairros mais pobres. Pensávamos que em 1975 com o fim da guerra colonial e a independência a vida daquelas gentes ficaria melhor. Mas têm sofrido tanto! 

Hoje recebi um WhatsApp com uma anedota que não me permito reproduzir. Mas lembrou-me um episódio que se passou estava eu de urgência. No internamento de pedopsiquiatria estava internado um rapaz de uns 12 anos, muito perturbado psiquicamente e com pouca capacidade cognitiva. Todos os dias arranjava maneira de engolir qualquer peça não comestíveis. Todos os dias era enviado para fazer rx e ver como e por onde andava o objecto. Podiam ser facas, colheres, borrachas e material de desenho, peças de jogos, o que estivesse à mão. Era uma situação perigosa por risco de rotura de alguma parte do trato digestivo ou mesmo de ficar por lá preso. Havia o cuidado no internamento, com o sentido óbvio de o proteger, de não deixar à mão dele quase nada. No meu dia foi uma pilha do comando da televisão que ele engoliu. Objecto perigoso até pelas substâncias que contêm. Enviei-o para fazer um Rx e o radiologista de serviço já o devia conhecer de ginjeira. Depois da situação resolvida enviou um breve relatório que dizia unicamente "Pronto a recarregar". 

A bast@nária d@ ordem dos enfermeir@s tem sido notícia pela declarações incríveis que tem dito. As "coisas" são da maior falta de educação, dignas da pior estirpe existente. Só razões políticas, chegam para isto? A anterior, Enfermeira Maria Augusta Sousa,  pessoa com dignidade, veio publicamente pedir desculpa por se sentir envergonhada pelo comportamento da que nem o nome me apetece escrever. 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Ao sabor da tarde. Più non si trovano (alto)


328º dia do recomeço do blog

Os ensaios de coro por ZOOM exigem técnicas diferentes dos presenciais. Logo à noite teremos um e de tarde vou ensaiando sozinha por karaok.

Piú no trovato de W. A. Mozart. Contralto.

Vi agora o Vice-Almirante Gouveia de Melo, ramo marinha, a prestar declarações sobre a vacinação, posto de organização para o qual foi nomeado. Vestido de camuflado tons verdes. Fiquei baralhada, camuflado de mato? Estamos na guerra numa selva? Poupem-me, já basta de disparates!

Fernando Tordo internado por Covid-19 desde Janeiro. Adolescente ainda, conheci-o em Sesimbra. Ele na tropa ficou amigo de um Sesimbrense de gema, o Cagica e com ele ia passar dias, melhor fins de tarde e noites para lá. No Tony da Marisqueira nos encontrávamos, com conversa e música. Nunca mais o vi desde então mas ouvi sempre que possível. Músicas, poesias e voz maravilhosas!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Vacina não tem acento no "a"!

 327º dia do recomeço do blog

Estes dias de chuva nem dão para o passeio higiénico autorizado. Tenho usado pouco esta licença. 

Ia muito ao cinema, agora vejo na televisão. Costumo ver na RTP2 mas ontem vi na RTP Memória um filme espantoso mas muito impressionante. Do realizador húngaro László Nemes, são filmados no campo de concentração de Auchwitz dois dias da vida de um judeu Sonderkomando , obrigado a fazer os trabalhos que os alemães não queriam fazer. Uma filmagem interessantíssima, quase sempre debaixo de fumo, quase sempre o rosto do protagonista, corpos só filmados por inteiro no fim, ao ar livre. Um homem que quer fazer um enterro a um jovem que iria ser autopsiado para estudo e depois cremado. Diz ser seu filho mas os amigos diziam que não tinha nenhum, pelo que dar um enterro decente, com os rituais próprios, será uma metáfora. O futuro tem de ser melhor.

Livros, tantos que tenho na estante que não li ou que li mas já poderei ler de novo.

Música, esta semana o Teatro Nacional de São Carlos passou um concerto de música de Câmara e canto.

São tantas as coisas possíveis que chego ao fim da noite e tenho de obrigar-me a ir para a cama dormir.

Neste momento na televisão Daniel Deusdado fala das vácinas. Tal como o Bastonário dos Médicos, será que eles já leram a palavra vacina escrita? Tem acento no "a" ?

Há tanto tempo que não via tanta gente. Lembrei-me das esplanadas.

 326º dia do recomeço do blog

1h30 passadas numa sala de espera de um hospital. Nada de grave, esta minha ida, só para tirar uns pontos postos há 15 dias.

Que fazer inicialmente senão estar atenta ao ambiente? ​Fui olhando, vendo e ouvido. Sala grande onde nunca estiveram mais de 5 pessoas. Volta não volta ouve-se chamar pelo microfone o número de uma senha. Ou pessoalmente entram as auxiliares de acção médica para buscar e encaminhar. Os administrativos estão depois da porta que dá acesso ao corredor.

Lá da zona dos guichets ouço uma senhora a falar em voz alta.

Estou isenta minha senhora, tantos anos a trabalhar e agora recebo umas migalhas. Para que trabalhei tanto?
Mandei por correio normal, sempre é mais baratinho.

Os restaurantes, ouvi dizer, só abrem lá para Maio.

Na fila para entrar uma sra de muletas comenta, nem sei quais são as prioridades. Varias pessoas dizem-lhe para passar à frente mas ela recusa. Acabará por passar ficando trás de mim, que sou a 1a. Na minha altura de entrar ia dar-lhe a minha vez mas o porteiro foi firme, era eu em 1o lugar. Pelos meus cabelos brancos? A outra tinha-os pintados mas acho que teria mais anos que eu. 

Sr. José Manuel, faça favor de entrar, ou seja passar para o lado dos gabinetes.

Uma auxiliar chama D. Elisa Silva, repete sem que ninguém se acuse. Repete de novo mas agora com os apelidos todos. Uma jovem com uns ferros circulares na junção da perna com o pé pergunta, é Elisa ou Elsa. Era Elsa mas a funcionária tinha lido mal. E lá vai ela com duas muletas e um pé no ar como os flamingos.

E tentei com sucesso concentrar-me no livro que trouxe para aguentar a espera de mais de 1h30 na sala de espera.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Este tempo que me vai fazer falta.

 325º dia do recomeço do blog

Este tempos confinados, este ano com limitações de movimentos, e o mais que aí virá, vai-me fazer falta. Que saudades eu tenho de passear, viajar, conhecer terras, pessoas, histórias novas. A viagem ao Peru que era para outubro passado foi adiada para abril de este ano e vai ser novamente adiada.

E eu mais velha, este tempo vai fazer-me falta.


A ideia de viajar nauseia-me.
Já vi tudo que nunca tinha visto.
Já vi tudo que ainda não vi. 

Bernardo Soares in Livro do desassossego

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Quem tem uma espada em cima da cabeça tem medo.

 324º dia do recomeço do blog

1 - Hoje perdi-me no corredor da minha casa. É pequeno, tem a porta do meu quarto, a do outro, a da casa de banho e ao fundo, poucos passos a porta de acesso às outras partes da casa.

Tinha fechado a porta de acesso à sala. A casa de banho não tem janela e ambos os quartos tinham as persianas corridas e nenhuma luz acesa.

Saí do meu quarto para ir jantar. Não sei explicar como não dei com o caminho. Com as mãos nas paredes à procura de um interruptor que não encontrei, deixei de perceber onde estava. Não sei quanto tempo demorou, um ou dois minutos talvez, mas foi o suficiente para perceber que estava perdida. Perdida nuns 3 metros quadrados!

De repente lembrei-me do telemóvel. Abri-o mas não deu para me orientar. Por acaso tenho instalada a lanterna, liguei-a e fez-se luz. Percebi que estava junto da porta do meu quarto, virada para ele, de onde tinha saído.

Provavelmente isto para qualquer pessoa não teria importância. Para mim, por razões familiares, foi preocupante.

2. Apanhei num canal da tv por cabo o filme do Woody Allen "Meia Noite Em Paris". Estava convencida que tinha visto os três filmes, Nova York, Roma e este que vi hoje. Pois se vi, e eu acho que sim, não me lembrava de nada. terei visto ou foi esquecimento? Mais um motivo de inquietação.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Médicos brasileiros e venezuelanos querem trabalhar

 323º dia do recomeço do blog

Neste estado de calamidade em que estamos, ouvem-se vozes dizer que há muitos médicos e enfermeiros que querem trabalhar e não os deixam. Só me vou referir aos médicos.

Vejamos, portugueses houve quem se oferecesse. Eu fi-lo em Março. Iria como voluntária, não remunerada. Nunca fui chamada. Li colegas que foram mas a obrigatoriedade de cumprir  o horário que tinham antes de se aposentarem fê-los não aceitar. Teriam outros compromissos em horário parcial, por exemplo. Outros foram contactados mas o valor que lhes queriam pagar era tão baixo, quase indecente. Não aceitaram.

Há pouco tempo houve outra lista para saber da disponibilidade de médicos. Tanto esta como a de Março foram organizadas pela Ordem dos Médicos. Desta vez não me ofereci.

Agora ouve-se que há muitos médicos brasileiros e venezuelanos que desejam trabalhar. E que não os deixam. Ora vamos a ver, o acordo entre países para as licenciaturas é dentro da UE. 

As universidades, os currículos da América do Sul, não são semelhantes aos nossos. Por isso terão de prestar provas, de língua portuguesa e de conhecimentos. Estará o processo a ser demorado, sim, acho que sim. Mas é absolutamente normal que seja exigido.

Ouvi uma médica venezuelana dizer que era incrível um dos exames constar de uma prova escrita com 100 perguntas num tempo que está determinado nos países europeus. Eu fiz em 1981/2 e é obviamente difícil. Mas são as regras de confirmação científica e eu o meu curso já tínhamos 4 anos de prática. 

Temos de ter confiança em quem nos assiste, não é?

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

A guerra Colonial começou em Angola há 60 anos.

 322º dia do recomeço do blog

Hoje por volta das 19horas, na antena 2 deu um programa interessante e emocionante. A guerra colonial começou em Angola há 60 anos.

É um programa no qual para além de uma contextualização, pude ouvir Manuel Alegre ler o seu poema sobre Nambuangongo, músicas na voz de Zeca Afonso, Luís Cília, Zé Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira e tantos outros.

Merece a pena ouvir.

60 anos Guerra Colonial | 4 Fevereiro | 19h00 - Destaques - Antena2 - RTP

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Mais vale ser desejado do que aborrecido.

 321º dia do recomeço do blog

Mais vale ser desejado do que aborrecido, ouvi muitas vezes esta frase da boca da minha Mãe. Também esta terá contribuído para a descrição das minhas emoções.

Com esta idade já me sinto capaz de dizer algumas verdades sem rodeios. Nunca me ensinaram a mentir mas dizer as coisas suavemente foi sempre uma indicação que recebi e não era sempre capaz de cumprir. Continha-me às vezes, só às vezes. Com a idade comecei a achar que não tinha de aturar tudo o que me aborrece, sejam pessoas sejam ideias. Religião e política são dois assuntos que não discuto, embora tenha, sobretudo quanto às ideias políticas os meus limites. Só não risquei do Facebook antigos colegas cujo sentido  foi noutra direcção que o meu pensamento e que são chatos, fanáticos, repetitivos. Mas não tenho nenhuma vontade de me encontrar fora do virtual. Aqui pode-se passar à frente, cara à cara é diferente.

Voltando à internet, FB e WhatsApp. Todos os dias recebo mais, filminhos, cartoons, jornais e revistas, muitos enviados pelas mesmas pessoas. Ora eu acho simpático dizer qualquer coisa de volta. Mas da maneira que é, mais do que não responder a maior parte das vezes já nem vejo mesmo acreditando que possa ficar a perder uma ou outra coisa.

Já o disse a várias pessoas que insistentemente se mantém mensageiros. 

Aquela frase da minha Mãe cai aqui que nem ginjas.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Um tiro na cabeça? Que vergonha para quem o diz!

 320º dia do recomeço do blog

O meu neto adolescente é um rapaz que precisa mesmo de movimento. Vê-se bem a diferença com que se concentra a estudar depois de vir do desporto.

Já fez vários, desde cedo, tendo-os largado ao fim de uns anos. Actualmente faz surf e skate. Teve e tem aulas de surf, o skate aprendeu com amigos.

Mora em frente ao mar, importante dizer.

Durante o outro confinamento, com aulas pela internet, levantava-se às 6h para ir para o mar e vinha a tempo de se pôr em frente do computador. Sempre com um colega, que estes desportos sendo individuais não devem ser feitos sem companhia. Uma câimbra, uma queda, tem de se ter companhia.

As pessoas não sabem ou não querem saber que esta pandemia é má. Foi com um dia de sol que o passeio junto ao mar na Costa Azul, Oeiras, Estoril e as outras se encheu de gente. Resultado, neste confinamento foi fechado.

Voltando ao meu neto, ele continua a ir fazer surf, não em magotes como se vê na televisão em Carcavelos mas com 1 amigo.

Já foi 2 vezes apanhado pela polícia. No outro dia foi para uma praia por onde só se entra por rochas. A polícia foi lá chamá-los, fizeram ouvidos de moucos, foi chamada uma lancha da marinha e ao saírem depressa o amigo até se magoou nas rochas.

Adolescência é um período de sentimentos omnipotentes, eu sou, eu posso, de experiência dos seus próprios limites e de desobediência de algumas regras. Isto é uma explicação psicodinâmica mas as neurociências comprovam que o córtex pré-frontal só aos 23/4 anos fica completo.

Concordo com o que ele faz? Claro que não!

Fiquei muito chocada ao ler pessoas que comentam as notícias e que defendem que a polícia lhes devia dar um tiro na cabeça, outro escreveu empurrá-los para o alto mar para que se afoguem. Que vergonha de ditos!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Desgastes em confinamento

 319º dia do recomeço do blog



Hoje foi dia da substituição destes.

Feitas de trapos e à mão. Super confortáveis!

O confinamento dá vários desgastes.

Outros são mais difíceis de se descolaram, entranham-se e precisariam de ar puro e vistas largas para o azul do Rio Tejo ou do mar, do verde da Serra de Sintra ou da Serra de Sto. António. Um filme no cinema, uma peça de teatro e amigos.

Aguardemos melhores dias, que com esta chuvinha permanente e fininha, molha tolos, vê-se mal ao longe, a perspectiva é curta.