domingo, 31 de janeiro de 2021

Regra da minha educação, hoje quebrei-a.

 318º dia do recomeço do blog

Hoje, sexagenária, aposentada e a viver sozinha, posso dar-me a pequenos prazeres que nunca pude porque estavam inscritos na educação que os meus Pais me deram. Coisas proibidas!  

Apesar de uma educação pró-progressista, valorizando muito a cultura e a arte, havia uma enorme preocupação com as boas maneiras, a chamada etiqueta de classe média alta.

Uma das regras era a discrição, já ontem falei nisso, não mostrar muito os seus sentimentos, nada de falar muito alto, gesticular, sentar mal, ter regras à mesa e outras habituais nalgumas famílias.

Também havia coisas proibidas, andar pela casa sem se estar arranjado, cabelo penteado e bem vestidos. Um dia uma empregada lavou a cabeça e pôs rolos e veio lá dos seus fundos assim. Lá foi a minha Mãe dizer-lhe que não andasse assim pela casa. Os rolos era uma coisa que o meu Pai não queria ver. No fundo a mulher tinha de aparecer bonita e arranjada.

Ora hoje, esquecendo tudo o que aprendi, andei todo o dia de pijama e roupão. Que bem que me soube! Não apareceu ninguém, nesta época de confinamento quem havia de aparecer? Li, acabei de ler o livro que tinha em mãos e me entusiasmou menos do que tinha suposto, ouvi música, vi televisão mas pouca, almocei e jantei, este sempre frugal. Para mim, se estivesse cá alguém, um filho, um marido, eu não seria capaz de ter ficado assim. Mas não quero que isto se torne um hábito. 

O confinamento deprime-nos um pouco e hoje de manhã fiquei triste quando soube que uma pessoa que admiro e de quem sou amiga está nos cuidados intensivos e mal.  

sábado, 30 de janeiro de 2021

Uma identidade ou será só moda?

 317º dia do recomeço do blog

Com a minha empregada em confinamento, ela quer vir mas eu não quero, passei a estar mais atenta à minha casa. Perco imensos cabelos que vou encontrando pelo chão. Noto a diferença de volume, antigamente um rabo de cavalo precisava de elástico, agora qualquer ganchito o segura. Dizem que os cabelos brancos são mais finos, serão, mas com os que caiem pergunto-me se alguma vez irei ficar careca.

A minha Mãe era muito cuidadosa com ela. Elegante, mais uns centímetros que eu, sempre de fatos novos em cada estação, sapatos de salto alto fino, 7,5 centímetros e mala a condizer. Cabelo sempre arranjado e unhas também.

Na minha adolescência, aí até aos 17 anos, para além da farda do Lycée Français de Lisbonne, que usava todos os dias, tinha cuidados comigo, ia com a minha Mãe às boutiques comprar roupa da moda. Mini saias muito curtas, com calções iguais por baixo e casaco compridos até aos pés. Adorava sapatos, sempre mocassins. Depois passei pela fase do preto, simples e discreto. Na Faculdade passei aos jeans que mantenho hoje 40 anos passados. Azul escuro e preto a mais das vezes e umas camisolas de cor no inverno e camisas brancas no verão. Hoje uso praticamente sempre ténis que tenho de várias cores. Mochila bonita às costas. Descrevo-me como o "usual chic".

Hoje vi uma fotografia de uma filha adulta com a mãe, de cabeças encostadas e a rirem. Julgo não ter nenhuma assim. Embora gostássemos muito uma da outra éramos discretas nas manifestações afectivas. 

Se tivéssemos, ela seria uma Senhora e eu uma eterna adolescente, mesmo de cabelos brancos.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Sugestão às televisões, ouçam quem lá esteve!

 317º dia do recomeço do blog

Uma sugestão, em vez de porem aqueles filminhos terríveis sobre a Covid-19, dos quais desviamos o olhar, ou repetir as regras de confinamento, distância interpessoal, higiene das mãos, máscaras, porque não fazer também diariamente um convite a uma pessoa que tenha estado internada para a ouvir?

A minha colega Isabel do Carmo passou por isso. Escreveu hoje no jornal Público e agora à noite deu uma entrevista na SIC Notícias. Foi ela, deviam ser muitos. Os depoimentos são importantes!

Vou pôr aqui o que escreveu no jornal.

Publicado no Público de hoje, 29 Jan 2020
Notícias do túnel
A médica Isabel do Carmo esteve internada dez dias com covid-19 em Santa Maria. Este é o seu testemunho, que é também um alerta e um gesto de reconhecimento.
Eu, médica, observadora diferenciada, estive internada com o diagnóstico de covid-19 durante dez dias nas enfermarias do Hospital de Santa Maria e penso que o meu testemunho pode servir de alerta e de um enorme reconhecimento. Alerta para o risco real e actual (rastrear e confinar é preciso). E dar graças à vida pela existência do nosso Serviço Nacional de Saúde.
Estive a trabalhar e a ver doentes até ao dia 23 de Dezembro, com todo o cuidado, e não foi por aí que o vírus entrou. No dia 24, juntámo-nos seis adultos e três crianças e, apesar das máscaras e das distâncias, alguma imprudência abriu por momentos a porta ao invisível. Contaminámo-nos todos e, fiados na falsa segurança do teste simples, alguns de nós multiplicaram o contágio. Os mais jovens mantiveram a sua energia transbordante, os de idade intermédia tiveram muitos sintomas, mas trataram-se em casa, os mais velhos reagiram de acordo com os factores de risco. E foi assim que ao décimo dia de febre e outras queixas o meu colega do Centro de Saúde me ordenou, e bem, que fosse à urgência covid. Se não tivesse ido tinha morrido e esse é o primeiro alerta a manifestar.
Há um momento, determinado empiricamente, em que se conclui, por estatística, que é assim. Não vale a pena correr contra as probabilidades. Claro que foi muito incómodo, muito frio, muito desaconchegado, esperar por ser chamada no pequeno telheiro improvisado no piso das entradas. Fica melhor quem está dentro das ambulâncias, que têm suporte de oxigénio e macas ou cadeiras. Esta condição de espera, este ponto de entrada, seria possível melhorar fisicamente? Talvez. Mas os doentes chegam e não podem ser mandados para trás. Seria possível desviar um meteorito que caísse em cima das nossas cabeças? Só para os encartados e teóricos comentadores, que, eles, preveriam tudo.
Resolveu-se: agora temos o hospital de campanha. Todavia, foi por ali que me salvei. Quando finalmente dei entrada no Covidário, ganhei direito a um cadeirão, a uma máscara de oxigénio e à segurança de ter entrado no circuito. Desde esse momento fui sempre a senhora Isabel, idêntica a todos os outros e nunca, e bem, a médica da casa. Algumas horas depois entrei numa box, com WC e uma porta com grande janelão de vidro. As dimensões comparei-as com outras de outras “boxes” de há muitos anos. Idênticas, mas o janelão e o calor humano pertencem a outro universo. Fiz então uma TAC num dispositivo colocado no Covidário. E é aí o extraordinário. Nunca ao longo de tantos anos de clínica tive conhecimento de tal quadro – os meus pulmões estavam infiltrados de alto a baixo e dos dois lados com múltiplos focos de inflamação, que não deixavam o oxigénio atravessar os alvéolos e passar para o sangue, onde ele é necessário à vida. Sintomas? Poucos. Mas lá estava o oxímetro a mostrar níveis baixos. Aqui reside um grande risco. Esta “hipoxemia feliz” mata. Assim morreu o pai de uma colega minha com 50% de saturação e poucos sintomas. Foi, a partir do nada ou da experiência inicial da China, que os protocolos foram sendo estabelecidos. De madrugada saí do Covidário e fui rapidamente internada nas enfermarias covid, Medicina 2C. Fizeram-me aquilo que está protocolado que se faça: oxigénio, corticóides, broncodilatadores, antibiótico se necessário. Para os meus companheiros de enfermaria, alguns hemodialisados, diabéticos, transplantados, cada protocolo era diferente. No mesmo piso, para além da porta de separação havia mais enfermaria covid, havia a zona dos intensivos e havia a zona dos intermédios com máscara permanente de oxigénio, onde ficou o Carlos Antunes e donde partiu para sempre no dia 19 de Janeiro.
Aquilo a que assisti de serenidade, de eficácia, de competência, ficará para sempre marcado como um momento muito alto da minha vida. Sei que as pessoas todas juntas não somam inteligências, multiplicam. É um fenómeno que faz parte da natureza humana, assim a humanidade sobreviveu. Observei a entrada regular e harmoniosa das assistentes operacionais, dos enfermeiros, dos fisioterapeutas, dos jovens médicos internos e das chefes seniores. Cada um sabe o gesto que tem que fazer, o equipamento em que tem que mexer, o registo necessário, a colheita de sangue a horas, a administração do medicamento. E… sabe também informar. Explica o que vai fazer e porquê.
Os meus colegas não estão desesperados, nem aflitos, estão profundamente preocupados, esgotados também. Quando lançam o alarme cá para fora não é um pedido de socorro para eles. É dizer que só o confinamento melhora o problema. E há uma linha vermelha que percorre este chão e é móvel – a das mortes evitáveis
O meu conhecimento dos espaços das urgências cresceu comigo organicamente. Fiz urgências nos bairros pobres de Lisboa, fiz no Hospital do Barreiro actos clínicos que não passavam pela cabeça de uma miúda de vinte e poucos anos, antes da classificação de Manchester andei de papel na mão a fazer triagem na sala de espera, vi crescer o Serviço de Observações das Urgências de Santa Maria com a Teresa Rodrigues a decidir os gestos urgentes. E lá continua ela a salvar gente. Sofri com os “directos” e culpabilizei-me. Vi o Carlos França instalar finalmente os Cuidados Intensivos. Vi tudo? Não. Não vi nada. Porque bastou o ano de 2020 e o inimigo ultra invisível para perceber que há uma coisa que de facto é um “milagre”: a capacidade de auto-organização, rápida, eficaz, criativa, serena. Era possível fazer tudo isto com requisição civil? Tenho dúvidas. É a cultura que está para trás que explica o “milagre”.
Com as minhas amigas enfermeiras conversávamos por vezes sobre os “territórios”. Pois o milagre também desenhou territórios. Quer isto dizer que reina a paz nos serviços de urgência do Serviço Nacional de Saúde? Não. Esta onda organizada de espaços e de recursos humanos palpita como um corpo que pede respiração. O director da Medicina, Lacerda, vai buscar enfermarias a todo o lado possível, converte serviços e adapta-os. A Sandra Brás supervisiona como um arcanjo os vários espaços e equipamentos covid-19. Os meus colegas dos Cuidados Intensivos, com 85% de lotação, estão no limite, ou seja, na zona das necessárias e rápidas escolhas. Estes doentes não são pneumonias habituais. Têm mais demora de cama (quanta?), têm uso de equipamentos que não existiam antes.
Os meus colegas não estão desesperados, nem aflitos, estão profundamente preocupados, esgotados também, a situação é dinâmica, é preciso fazer opções técnicas. Quando lançam o alarme cá para fora não é um pedido de socorro para eles. É dizer que só o confinamento melhora o problema. É explicar que quanto mais infectados, mais sintomáticos. Entre estes aumentam os de risco e quanto mais risco mais cuidados intensivos. E há uma linha vermelha que percorre este chão e é móvel – a das mortes evitáveis.
Na minha enfermaria, por sinal toda de afrodescendentes, senti no mais fundo da noite que alguém abandonava a Montanha Mágica. Com serenidade. Sem obstinação. É também uma escolha. No dia seguinte a animada Inalda, assistente operacional de São Tomé (já sou efectiva!), a enfermeira Ana, a enfermeira Marta, nos doentes o Sr. C. que ficou meu amigo e é de Cabo Verde, a Dona A., de Luanda, o Sr. D. que também é de Luanda e já venceu muitas coisas, corpos que já foram desejados, já se reproduziram, são a humanidade que ali está. A médica de Medicina Interna, Dra. Patrícia Howell Monteiro, que ainda foi contratada em exclusividade (2008/2009?), é o pilar sólido e sustentável que orienta o Henrique Barbacena, o Renato e o Francisco, que hão-de fazer o exame da especialidade proximamente. Para onde irão? O Renato está a sofrer nos cuidados intensivos, a dar o máximo. O Henrique é também professor de Farmacologia, tive o privilégio que me explicasse coisas sobre vírus. E ausculta à velha maneira, como eu. Conseguimos ter um momento para conversar e a propósito da vida e do ultra invisível contou-me como lera apaixonadamente a Estranha ordem das coisas, do Damásio, livro que a chefe Patrícia lhe ofereceu. Há muitos anos, o António Damásio também foi da nossa incubadora, o Hospital de Santa Maria. E, a propósito, eu e o Henrique conversámos sobre a dinâmica da vida, a necessidade de não fazer classificações mecanicistas. E reganhei a grande esperança do aviso da tal frase do Abel Salazar: “Um médico que só sabe Medicina, então não sabe Medicina.” Estes sabem Medicina e são uma das estruturas do SNS.
Médica, professora da Faculdade de Medicina de Lisboa, membro do grupo Estamos do Lado da Solução
Médica; professora da Faculdade de Medicina de Lisboa; activista política

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Lisboa, que saudades de ser livre!

 316º dia do recomeço do blog

Esta situação em que nos encontramos deita abaixo as nossas defesas emocionais. Acreditem, quando neste programa sobre Lisboa vi darem uma dentada num pastel de Belém caíram-me as lágrimas!

Quando vi toda a gente na rua, a passear sem preocupações de distância, sem máscaras, pensei "tão felizes que nós éramos e não sabíamos"!

É tão bonita a nossa cidade, que bom foi revisitá-la.

https://www.rtp.pt/play/p8387/e520337/cidades-secretas


quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

"Mulheres da minha Alma"

  315º dia do recomeço do blog

Iniciei hoje de manhã o 2º livro dos 4 que comprei para o confinamento. Este.



Em 2020 comprei mais livros do que noutros anos. E talvez não, comprei de forma diferente, vários de uma só vez. Alguns porque estavam na minha mira de leitura até de há anos e tive a oportunidade numa livraria solidária, como o Quarteto de Alexandria de Lawrence Durrell. Outros porque sim. Não li todos, nem pensar nisso, mas para este confinamento apeteceu-me comprar livros novos, numa livraria, e escolhendo-os por imaginar iria ter muito prazer na sua leitura. Estes tempos exigem que descubramos coisas destas.

Isabel Allende, agora quase a chegar aos 80 anos, foi uma escritora de quem devorei livros. Depois parei. Este agora que iniciei será um livro sobre algumas mulheres da sua vida, a sua relação com elas e o feminismo. Promete.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Voltaram os foguetes

 314º dia do recomeço do blog

Foguetes. Acabei agora de os ouvir, o que tem acontecido nos meses de confinamento.

Hoje tive de ir à farmácia. Aqui na minha "aldeia", a farmácia antiga tem ainda um atendimento pessoal. Não há senhas nem como é óbvio aquele som electrónico de quando muda o número, há um funcionário que conheço há dezenas de anos e uma farmacêutica jovem que veio substituir a proprietária. Hoje éramos quatro pessoas, fiquei na rua mais outro senhor, de idade como os dois que estavam lá dentro. E entrei quando me chamaram, sra. dra. faça favor, tal como tinham chamado pelo nome o que esperou como eu na rua. No meu caso despachei-me depressa, não sem que o sr. Duarte me tenho mostrado vários tipos do material que lhe pedi. O meu material foi de farmácia.

 E os foguetes são para avisar a chegada de quê?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Apanhar boleia

 313º dia do recomeço do blog

Para além da Covid-19 há todas as outras doenças que ficaram paradas na avaliação regular. Compreendo o medo das pessoas a ir aos hospitais e porque adiam a ida. Mas fazem mal, claro.

Ontem fui a uma consulta que tinha marcada há tempos. Aparentemente por uma coisa sem importância, um fungo nas unhas dos pés. À entrada mediram-me a temperatura, mandaram-me mudar a máscara, eu que tinha 2 acabadas de pôr em casa mas entendo.

Tive de esperar no corredor um bom bocado. Por mim passavam muitas pessoas, utentes, auxiliares e enfermeiras.

A consulta foi muito demorada, nunca me tinham visto a pele com tanto cuidado, lupa pequena, outra grande, dedos dos pés, plantas dos mesmos, mãos, corpo face anterior (como médica escrevo assim mas explico, barriga para cima) e todo o resto.

Nas costas, num sítio onde não me observo, tinha um sinal que foi considerado dever ser tirado e enviado para a análise. Eventualmente nada de grave mas prevenir é o melhor.

Para isso tive de ir para a sala de pequena cirurgia. Esperei à porta. E foi então que entendi que tive de esperar por uma enfermeira que tinha ido a outro andar, Covid.19. Entrei quando me mandaram e numa espaço ínfimo tirei a roupa e vesti uma bata. Foi então que me deram umas capas para vestir os meus sapatos.

Correu tudo bem. Mas toda a tarde, de humor triste, perguntava-me porque fui, porque só pus as capas dos sapatos depois de já ter atravessado a sala e outros pensamentos nada abonatórios para melhorar o meu humor.

O facto de ter várias situações preocupantes junto de mim e outras junto de todos nós, ajudou muito. Como diria uma amiga, apanhei boleia para a tristeza. 

domingo, 24 de janeiro de 2021

Hoje senti-me uma avestruz.

 312º dia do recomeço do blog

Sinto-me mais frágil do que era. Aguento pior as emoções e evito as que posso. De tarde dormi e vi mais um episódio do Comissário Montalban.

Foi dia de eleições. Às 10h da manhã já tinha votado. Ao fim da tarde resolvi não ver os canais que iam dando os resultados. Perto da meia noite fui ver. Marcelo Rebelo de Sousa ganhou como era esperado e no estado do país ainda bem. Tal como noutros países a extrema direita põe as unhas de fora. Isso é de assustar quem tem lembranças do passado. E eu tenho.

Não vi nada sobre a pandemia na televisão. Defesa minha, tal como a avestruz enterrei a cabeça na areia.

Mas tenho de acordar!

sábado, 23 de janeiro de 2021

Amigos com mais de 80 anos, a vida é para se viver!

 311º dia do recomeço do blog

Tenho bastantes amigos octogenários espectaculares. Com cerca de 20 anos a mais que eu, é com muito prazer que mantenho uma relação próxima mesmo que às vezes quase só pelo telefone, sobretudo desde o final de 2019.

Ontem recebi um telefonema de uma pessoa que tinha na sua mão uma carta a mim dirigida. Leu-me o remetente e pedi-lhe que abrisse. Era um cartão de Boas Festas que estaria há tempos na caixa do correio. Disse-me que era um cartão com um desenho, achava que não seria um original. E resolvemos o assunto deitando-o fora.

De seguida telefonei a esses meus amigos que o tinha enviado. Artistas ambos. Fiquei a saber que ela e o Pitum, o marido, continuam no Natal a fazer cartões, que desenham e imprimem para mandar aos amigos. Como há anos mudei de casa, nunca me tinham sido entregues. Curiosamente a tolerância deles é enorme e nunca falámos sobre o facto de eu nunca agradecer.

Uma graça a conversa com a Lira, de 83 anos e uma vitalidade enorme. Contou-me como há uns anos ia 2 ou 3 vezes por semana contar histórias ao lar de 3ª idade lá da terra onde mora. O estado de letargia e velhice dos utentes era enorme. Ela via-os a dormir enquanto animadamente, eu sei que ela é assim, falava. Até pensava se estariam com medicação para sedar. Alguns batiam palmas porque lhes era dada a indicação. Ao fim de 2 anos desistiu. 

E dizia-me, isto dos mortos dos lares é a selecção natural, sabe Magda, uma coisa é estarmos vivos, animados, vivermos mesmo, outra coisa é aquilo que lá via. Bom, até parece que nós aqui não somos velhos, concluiu, somos mas ainda a aproveitar a vida!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Isto está mau !!!

 310º dia do recomeço do blog




quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Confinamento para os pais e os filhos estudantes também.

 309º dia do recomeço do blog

Já sabemos, todas os alunos vão ficar em casa. Há umas excepções que não sei como essas se organizam. É o caso das crianças filhas de médicos e outros profissionais que trabalham em serviços imprescindíveis. Também não percebo como vão manter apoio às crianças e adolescentes que têm necessidades educativas especiais. Se calhar ainda não estão organizados, não deve ser fácil, cada uma na sua escola.

A mim não me custa muito o confinamento. Fico sempre bastante tempo em casa e entretenho-me muito bem. O dia às vezes é curto.

Casa grande só para mim, quentinha, confortável, frigorífico composto até de frescos ainda, mas e quando são famílias com poucas condições? Sem um espaço para ficarem "na sua", com pouca comida, e agora também com os miúdos. 

A nossa vida continua pelo que há gente que trabalha para nós e muitos vivem "apertados".

Não gosto de ouvir queixar-se demais quem tem um confinamento como eu. Só falta relação presencial. Caramba, nunca se usou tanto esta palavra! 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Notícias preocupantes por cá, Trump foi embora lá nos EUA

 308º dia do recomeço do blog

Ambivalência quanto à situação que vivemos é o que sinto.

Ouvi o telejornal da noite na RTP1. Mais de metade foi sobre a pandemia em Portugal. O jornalista fala como fez nos relatos da guerra do Golfo onde esteve. Valha-nos o infecciologista Silva Graça, o homem que explica, esclarece os riscos mas com uma voz calma, tranquila que nos transmite segurança. Mas não diminuiu a gravidade.

Já foram realizados com certeza, como diz, estudos que nos digam a situação real das escolas.

Uma coisa são uns alunos e uns professores infectados, outra coisa são surtos nas escolas, agora digo eu, sabemos o que é porque temos visto nos lares de 3a idade. 

Mas ao ler uma entrevista da responsável pelo serviço de infecto do Hospital Dona Estefânia, fica-se assustado. Ela diz que tem de se fechar tudo, não só as escolas, tudo mesmo. Fala no aumento de crianças e jovens internados. Não são muitos, diga-se perante os números que referiu. 

As medidas a tomar, saberemos dentro de pouco tempo.

E voltando ao telejornal, só depois do meio foi falado uma coisa importante, a substituição do Trump pelo Biden eleito democraticamente.

Num país onde a pandemia está ao rubro e que não tem, como nós, um Serviço Nacional de Saúde. Oxalá este dê continuidade ao Obama Care.

Nota - À hora a que acabo de escrever está a Ministra da Saúde na Grande Entrevista. 

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Aulas e ensaios. Presenciais ou à distância?

 307º dia do recomeço do blog

Acabámos agora o ensaio do coro, por Zoom, claro. Hoje foi o dia em que estivemos mais, treze coralistas, número de má fama.

Fizemos a repetição dos últimos aprendidos e iniciámos duas de Mozart. Só umas pequenas linhas de cada. Muito bonitas mas vai ser complicado assim à distância.

Isto fez-me pensar, conversa hoje na berra, se as aulas das escolas devem estar ou não abertas. Sei como foi com os meus netos no 1º confinamento e com os pais a trabalhar em casa. Complicado para todos. O adolescente, havia dias em que assistia às aulas da manhã de pijama. O outro mais pequeno ia pedir ajuda volta não volta aos pais e recusava-se a fazer a ginástica.

Valeu-lhes a continuação por WhatsApp de algumas explicações às cadeiras em que tinham mais dificuldades.

Mas estou como ontem, a pensar nos que menos têm, alguns nem computadores, ou melhor nem internet têm. Nem pais que os ajudem nem explicadores.

Por isso tenho uma enorme ambivalência quanto ao fecho ou não das escolas. Pela aprendizagem e a parte social, mesmo que alterada da normalidade, eles precisam das aulas presenciais. 

Não ouvi ainda informações dos contágios nas escolas que me esclareçam. Mas acredito que para a semana decidem fechá-las. É uma das teorias que para aí anda, o acreditismo, também chamado achamento, acho que...

Voltando ao ensaio do coro, que acabou há pouco. Ainda bem que foi em casa porque está a chover bem.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Frio nas casas, sol na rua, confinamento difícil

 306º dia do recomeço do blog

20h57 minutos, 9ºC em Lisboa

Hoje é 2a feira e desde 6af que não apanho ar de rua. Como a maioria dos portugueses e embora more num bom andar, embora já com 40 anos mas de boa construção, tenho frio. Janelas triplas, roupa dupla e algumas horas de aquecimento ligado, daqueles que por terem "pedras" ficam outras horas ou mais a deitar calor. 

Mas a grande maioria dos portugueses não tem estas condições habitacionais. Casas de construção fraca, ar que entra pelas janelas mal vedadas, e outras coisas que tornam as habitações confortáveis.

Na maior parte das casas faz mais frio do que na rua.

Sempre me meteu espécie como se consegue dormir com frio!

domingo, 17 de janeiro de 2021

O confinamento é para se cumprir! Pela saúde de todos nós.

 305º dia do recomeço do blog

Hoje peço emprestadas algumas palavras do blog "duas ou três coisas" a propósito do actual confinamento. Não conseguiria dizer melhor.

"Ontem, o anunciado confinamento claramente falhou.

Hoje, ao que consta, há imensa gente por aí a gozar o sol, “nas tintas” para a lei de exceção.

Quando um governo dramatiza uma situação - e bem, em função de uma tragédia coletiva cada vez mais evidente - e aquilo que esse governo determina não é cumprido, ao que parece por uma utilização abusiva das exceções que se pensava irem ser utilizadas com honestidade e bom senso, somos obrigados a concluir que estamos perante uma diluição perigosa da autoridade do Estado. 

Ao contrário do que se possa pensar, a democracia não concede aos cidadãos o direito individual de decidir sobre aquilo que devem cumprir, dentro daquilo que lhe é indicado como devendo ser cumprido. A lei não é “facultativa”. (...) "

Eu diria esta lei que diz respeito à saúde de todos nós. Numa altura em que os hospitais estão a romper pelas costuras e os médicos e outros profissionais de saúde, que têm dado tudo o que têm ao SNS, estão exaustos. Porque não teria havido 25 de Abril se as leis todas  tivessem sido cumpridas.

sábado, 16 de janeiro de 2021

Um dia de sol no confinamento levou muita gente esquecê-lo. Eu cumpro!

 304º dia do recomeço do blog

Confinada a ler ao sol. Em casa. 

Não pensava interessar-me tanto com o livro da Alice Caetano, Palco Sombrio. Passado na Guiné, durante a guerra colonial, acompanha-se uma companhia de militares pelas situações que foram vividas. O dia, as noites, emboscadas, perdas de vida, conversas entre os militares, a comunicação com os familiares, crenças e outras coisas. Presente sempre o capitão miliciano Carlos Nery Gomes de Araújo. 

Estou agora a chegar a  parte interessante e divertida, quando Nery resolve antes de se vir embora encenar uma peça de Ionesco, A Cantora Careca.  

Um texto, sobre a comunicação, que se insere no teatro do absurdo. É uma peça pequena, que vi encenada pelo Nery no 1º Acto de Algés, nos anos 60. Falam, mas a referência à cantora só aparece uma vez, pela boca de um bombeiro que perguntará se ela continua a usar o mesmo penteado. Só.

De facto falamos muito e nada dizemos, quantas vezes? 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Depois do barulho veio a música

 303º dia do recomeço do blog

Confinar num prédio com um andar em remodelação, onde um martelo pneumático trabalhou todo o dia, foi obra!

O som da televisão ou o do rádio não abafavam o do martelo.

O esforço de concentração na leitura foi maior. E não era trabalho mas há por cá muita gente em teletrabalho. Coitados, espero que tenham bons fones.

Finalmente às 19h pude ver e ouvir a transmissão do concerto que se realizou na Fundação Gulbenkian ontem. Orquestra e 4 solistas, cantaram áreas de ópera. Muito bom!

Esta é das minhas preferidas, aqui na voz da Maria Callas.

https://youtu.be/5oZi2fovnZQ?t=253


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Para o meu confinamento

 303º dia do recomeço do blog

Amanhã começa o novo confinamento. Apesar de achar que será um flop com tantas excepções para o poder não o cumprir.

Preveni-me:

Para me despedir fui almoçar numa esplanada à beira Rio Tejo, com sol.

Na Fnac comprei três livros apesar de ter começado um outro há poucos dias.

Comprei pilhas e já substituí as dos comandos da televisão, da Meo e da aparelhagem de som.

E haverá quem lhe vai custar muito mais do que a mim!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

A revolta do elevador.

 302º dia do recomeço do blog

O prédio tem 8 andares e um só elevador. Todas as semanas vou ao 5º andar onde moram os meus netos.

Frequentemente o elevador estava avariado e eu tinha de subir as escadas a pé. Ultimamente isso deixou de acontecer.

O elevador tem escrito 4 pessoas, 300 kg.

Acontece que no último andar mora uma família de 3, pais e 1 filho, gordíssimos. E sempre que tentavam descer, nem sei como cabiam lá dentro, o elevador parava. Insistiram muito tempo. Terão sido confrontados com a situação e depois passaram a descer só os pais. O elevador continuava a avariar. Finalmente passou a descer um de cada vez.

O elevador deixou de se revoltar.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Hoje senti-me um animal exotérmico

 301º dia do recomeço do blog

Hoje será só um apontamento curioso.

Num dia em que os números de infectados e mortes por Covid-19 nunca foram tão altos, hoje fui a uma consulta.

À entrada uma senhora fardada pediu para me tirar a temperatura e toda contente por mim e se calhar por ela disse-me que podia passar que marcava 33ºC.

Fiquei a olhar para ela. 33ºC, pode passar.

Assim nunca encontraram ninguém com febre. E se dessem umas noções básicas a quem faz este serviço? Mais um faz-de-conta?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

O frio em Lisboa durará muitos dias?

 300º dia do recomeço do blog

Está frio. Somos atravessados por temperatura baixas a que Lisboa não está habituada.

Eu que já vivi na Beira-Alta, Alto-Douro já passei por muito frio, mais frio que este. Meses seguidos.

- Os canos de manhã estavam gelados. Banho só à noite.

- As fechaduras ficavam tapadas pelo gelo. Era preciso deitar-lhes água para conseguir meter a chave.

- A pele das bochechas dos meus filhos, mesmo com o cuidado de lhes pôr creme, estavam vermelhas, como todos os miúdos das aldeias da zona.

- A água do tanque tinha uma camada de gelo. Para lavar a roupa antes de chegarem utentes - eu vivia no 1º andar do centro de saúde - tinha de a partir para então poder lavar a roupa. 

- Em Leomil, o posto de Saúde onde prestava serviço, na rua a fogueira era acesa por volta das 6 da manhã e à sua volta os doentes tentavam aquecer-se. Lá dentro, eu com duas camadas de roupa e sem aquecimento, tentava atender o observar o melhor que eu podia sem que o barulho dos dentes se ouvisse.

Em Lisboa, agora, o céu está azul, lindo! 

sábado, 9 de janeiro de 2021

A minha Mãe está nas plantas dos jardins da Gulbenkian

 299º dia do recomeço do blog

Margarida Roque Gameiro Mendo

(9 de Janeiro 1923- 7 Janeiro 2006) Cremada a 9 Janeiro 2006

Uns dias depois...

Dia de chuva fraca mas contínua, uma espécie de camada húmida que não deixava ver nada à frente.

Esta situação climatérica, em que ninguém passeava pelo jardim da Fundação Gulbenkian nem os polícias e guardas habituais, favoreceu a ilegalidade.

Com os meus dois filhos, já adultos e uma amiga, fui deitar as cinzas resultantes da cremação do corpo da minha Mãe num cantinho do jardim. Era o seu jardim preferido! 

E desde então quando por lá passo, penso sempre com ternura que ela está por ali.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Resolvido o mistério das flores!

 298º dia do recomeço do blog

Consegui ainda ontem resolver o mistério do cartão que acompanhava o bouquet e quem assinava Jardim Zoológico.

O xi coração foi fundamental, tenho poucas pessoas que se despeçam assim. Eu sou uma delas e a minha amiga Teresa também o usa.

Ela está doente e já falei nisso a propósito do internamento domiciliário do SNS. Tem uma sintomatologia semelhante à de há um ano, em que esteve internada no hospital. Mas a bactéria causadora é outra. Comentei com ela que parecia um jardim zoológico, tanta variedade de bactérias. Pelo estado não achou nenhuma graça, na altura não percebi como tinha ficado magoada. E só ontem ela me falou de como às vezes as minhas palavras não têm graça nenhuma. 

Descobri assim quem me enviou as lindas flores. Tenho de ter cuidado, quando se está mais frágil às vezes não se consegue ter humor para piadas, com ou sem  graça.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O prazer de viver depois de preencher a ausência com recordações ternas

 297º dia do recomeço do blog

7 de Janeiro é um dia em que coexistem dois acontecimentos importantes. Em 1952 nasci eu, em 2006 morreu a minha Mãe. Durante anos este dia foi vivido com sofrimento, uma mistura em que não se desligavam os acontecimentos. A ausência dela era quase mais marcada do que a minha existência. Quis compreender esta situação como a nossa grande ligação afectiva, não simbiótica mas forte. O tempo ajuda muito, é com ternura que a relembro, sem dor.

À tarde bateram à porta. Era um homem jovem, bem vestido e que com um bouquet de flores me perguntou o nome e o entregou. Lindo como se vê pela fotografia.
Trazia um envelope com o meu nome e morada. O apelido que sempre usei profissionalmente. Lá dentro, escrito à máquina mas não impresso, leio tudo em maiúsculas, MAGDA, PELO TEU DIA. XI CORAÇÃO, COM DESEJO DE SAÚDE E ALEGRIA. Assinado JARDIM ZOOLÓGICO.

Verdadeiro mistério, não faço parte dos amigos do Zoo, nem o visito há uns anos. Quem me terá enviado as flores? Uma pessoa amiga não identificada? Um urso? Será que desvendarei o caso?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Grande trumpice!

 296º dia do recomeço do blog

Estamos em vésperas de eleições presidenciais. Dia 24 de Janeiro, estaremos em medidas de "confinamento" até dia 15. Terá sido bem escolhida a data?

Tenho acompanhado os debates entre os candidatos. Mais ou menos, tenho o meu voto já definido.

Acabo de ver o que aconteceu nos EUA, com a incapacidade de compreender porque se vota, porque há um que ganha e outro que perde. Trump trabalhou para isto, a violência, a arrogância, a omnipotência, o desrespeito. Vi hoje os seus apoiantes invadirem o Capitólio, impedir o decorrer da sessão que, por votos, daria a maioria a Biden. Absolutamente incrível mas este tipo de atitude foi criada pelo perdedor ao longo da sua vigência. A palavra nojo, receio, indignação e outras serão suficientemente claras?

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

A menina voou da minha mão

  295º dia do recomeço do blog

Morreu o João Cutileiro. Este início de ano tem sido fértil em mortes de artistas importantes. Estamos a 5, já morreram 2. Gosto muito da sua obra em pedra, na mistura de pedras diferentes que fazia na mesma peça. E também dos desenhos mas não tanto.

Há talvez mais de vinte anos comprei um desenho feito por ele, um original a tinta da china. Uma menina nua, de cara pouco trabalhada, cabelo aos caracóis. Agora reparo, como os dele. Muitas meninas fez!

Comprei e ofereci. Não era dos mais bonitos mas tenho pena de não o ter. 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Visitei o Cemitério Pere-Lachaise, qualquer dia visitarei o dos Prazeres.

 294º dia do recomeço do blog

Houve uma altura em que não entendia, outra em que achei um disparate. Hoje compreendo e aplaudo a minha Mãe.

A minha Mãe, médica e com uma vida muito preenchida, tinha por vontade homenagear algumas pessoas que considerava mesmo que não as conhecesse em vida. 

Abandonada a crença da religião muitos anos atrás, era mesmo à pessoa que ela fazia.

Lembro-me bem de a acompanhar ao Cemitério dos Prazeres, aquando o funeral do Vasco Santana (1958) e do João Villaret (1961). Em qualquer um deles eu não tinha ainda 10 anos. 

Houve outros. Anos mais tarde vi-a e ao meu Pai, este já bastante doente, a seguirem a pé o funeral do Pedro Soares e da Maria Luísa Costa Dias, ela colega de curso da minha Mãe e amiga, ambos do PCP, mortos num acidente nunca completamente esclarecido o como ou se por quem foi provocado.

Ela tinha um profundo respeito pelas pessoas e reconhecia-os.

Quando morreu Joaquim Agostinho perguntou-me se a acompanharia. Não pude.

Hoje, dia do enterro do Carlos do Carmo, certamente ela iria querer prestar-lhe uma homenagem.

A homenagem que eu prestarei será ouvir os LPs que eram dos meus Pais. Felizmente mantenho os discos e o gira-discos na casa de "aldeia".

domingo, 3 de janeiro de 2021

Saudades

 292º dia do recomeço do blog

O Natal terá aumentado a pandemia. Ainda não se sabe bem os números certos, houve laboratórios que fecharam esta época, Natal e Ano Novo, mas espera-se um aumento de infectados, internados e quem sabe de mortos.

Tirando dois tios paternos e respectivos filhos, não tenho da minha família próxima, filhos, noras e netos, quem esteja longe. Mas tenho amigos com todos os filhos e netos emigrados e tenho assistido ao sofrimento pela ausência. Meses de ausência.

Não nos damos por isso, pela saudade, quando estamos juntos. Mais dia, menos dia, havemos de nos encontrar. 

Não sei pois pelos meus próximos o que são as saudades dos filhos e netos. Relembro pela a devida distância da ausência a minha Mãe, o meu Pai e a minha Avó Materna.

A minha Mãe que ficou demenciada, terá tido saudades depois desse estado? Não, o defeito da memória não lhe ter permitido lembrar-se e ter saudades. Antes sim, de muitas coisas. Mas saudades tivemos nós de quando ela estava capaz.

Ainda bem que acabaram esta época festiva mas para mim ainda haverá outras este Janeiro.


sábado, 2 de janeiro de 2021

"Só por cima do meu cadáver" com M José Morgado há 45 anos

 291º dia do recomeço do blog

0h05 minutos de hoje e no Governo Sombra havia uma convidada, Maria José Morgado, magistrada aposentada do Ministério Público português. Conhecida por ser uma lutadora contra o crime durante a sua vida profissional. É essa a ideia que se tem dela.

Mas não resisto a contar uma pequena história com pouco mais de 45 anos. 

Eu estudante de medicina, tinha depois do 25 de Abril entrado para a UEC, União dos Estudantes Comunistas. Ela, estudante de direito, militante do MRPP, Movimento Revolucionário do Partido do Povo. 

Este dois grupos frequentemente tinham guerras, mesmo fisicamente. Cozi muitas cabeças no serviço de urgência para onde acorríamos quando essas aconteciam.

Um dia, estando na sala de alunos da Faculdade, dentro do Hospital de Santa Maria em Lisboa, recebi uma ordem de uma camarada para ir despejar uma sala onde militantes do MRPP da Faculdade de Direito, ali pertinho, estavam ilegalmente.

Lá fui eu mais alguém, não me lembro quem. Sem jeito nenhum para estas coisas. Ao chegar 3 ou 4 pessoas estavam a fazer um cartaz, de joelhos no chão.

Dei o recado, a sala era dos estudantes de Medicina e não de Direito, nós íamos entrar e elas teriam de sair. Uma delas era a Maria José.

Levantou a cabeça e disse com uma convicção extrema "Só entram por cima do meu cadáver".

Não havia hipótese de conversar, só à porrada o que nunca fiz.

Voltei para cima e contei. Lá resolveram como acharam e eu não sei como foi.

Pouco tempo depois anunciei que deixaria de colaborar, não me identificava, aquilo não era para mim. E assim foi a minha breve passagem por um grupo estudantil político.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

1º dia do ano

 


290º dia do recomeço do blog

1º dia de 2021

Só não passei a meia noite a dormir porque poucos minutos antes recebi um telefonema. Acordou-me mas fiquei contente por se ter lembrado de mim.

A 1ª notícia da manhã foi a morte de Carlos do Carmo. Tenho um LP que era dos meus Pais. Apreciavam-no bastante. Tinha uma forma diferente de cantar o fado, fado-canção ou canção-fado, foi ele que introduziu o novo fado, com poesias de poetas considerados e modernos. Toda a tarde a RTP passou entrevistas, espectáculos. Gostei sempre mais de o ouvir cantar do que falar. Mas ouvi uma ou outra coisa que me ajudou a perceber como teve dificuldade em se afirmar até porque era um apoiante do PCP e isso dificultou-lhe a vida até ser inegável a sua qualidade.

Tenho pena mas não sei introduzir aqui um youtube. Mas encontra-se com facilidade.

DESEJO que 2021 seja um ano de esperança, que a vacina anti covid-19 seja um sucesso!