segunda-feira, 31 de maio de 2010

Aconteceu...que mais depressa se descobre um mentiroso do que um coxo

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Um dia destes, um jornal on line que recebo, propriedade de um laboratório da indústria farmacêutica, trazia um artigo muito superficial cujo título era "As crianças que mentem são mais inteligentes".
Encolhi-me toda. Fiquei com medo que as famílias dos mentirosos fiquem cheias de orgulho neles.
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Na infância temos de situar tudo dentro da fase do desenvolvimento em que a criança está. Há coisas que são normais em certas idades mas passam a ser patológicas noutras.
Por volta dos 3-4 anos de idade, a possibilidade do uso da palavra abre novos mundos à criança. E permite-lhe construir um imaginário, que por vezes ela pode confundir com a realidade. Embora existam várias teorias, é mais ou menos aceite que a distinção completa da fantasia e da realidade só se fará completamente mais tarde, lá para os 6-7 anos. Daí não ser correcto dizer às crianças pequenas que ela é mentirosa.
Ultrapassada esta fase, a mentira é mesmo mentira, construção voluntária de um "mundo" falso do qual se quer tirar um proveito qualquer, nem que seja para se parecer mais do que é.

Pode ser de tal modo frequente que entrará no campo do patológico.
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Que dizer de um adulto como o 1º Ministro do meu País que começa por dizer que foi convidado para estar com o Chico Buarque quando afinal foi ele que pediu para conhecer o Chico? Não, nesta idade já não se pode considerar normal. Depois admiram-se que ele apareça tantas vezes retratado com o nariz do Pinóquio.
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domingo, 30 de maio de 2010

Poema - Álvaro Feijó

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PARÁBOLA

Contei estrelas
e elas
morriam, à medida que as contava.

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E a escuridão nasceu.
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Mas fiz estrelas
e pendurei-as
na escuridão da abóbada.
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Fiquei nimbado de luz,
mas a terra era negra à minha roda...


sexta-feira, 28 de maio de 2010

Aconteceu... E dizem que investem nas crianças!

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O meu filho Duarte chamou-me a atenção para os títulos dos meus escritos, que classificou de lacónicos e pouco apelativos.
Porque o blogue é da mãe, acaba por ir ler e às vezes acha interessante o texto.
Deu-me um exemplo recente, quando falei no rapaz que foi capaz de subir o Everest, mas não parece viver de forma adequada a sua idade. O título era "Aconteceu...a propósito de uma notícia - 8". Reconheço que pelo título não se pode saber minimamente qual o assunto a tratar.
Resolvi também mudar o aspecto gráfico. Já agora...alguém me sabe explicar como alterar o tipo de letra dos títulos?
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Pois li hoje no jornal que depois de terem sido fechadas as escolas com menos de 10 crianças, o governo prepara-se para fechar as que têm menos de 20!
Podia ter posto "Aconteceu...a propósito de uma notícia - 9".
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Incomoda-me que os assuntos e medidas governamentais sejam tomadas sobretudo por pensamento economicista. É assim na saúde, na educação, áreas fundamentais.
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Não será que uma escola de pequenos efectivos pode permitir um trabalho e um investimento do professor, quer do grupo quer individual muito melhor?
Terá deixado de ser verdade que investir nas crianças é investir no homem de amanhã?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Poema - José Gomes Ferreira

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Porque é que este sonho absurdo,
A que chamam realidade,
Não me obedece, como os outros
Que trago na cabeça?

Eis a grande raiva!

Misturem-na com rosas
E chamem-lhe vida.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

Aconteceu...notícias

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1 - Há dias li no jornal que " A sala de fumo para deputados, funcionários e jornalistas já foi orçamentada e vai ser construída". O orçamento de 380 mil euros parece ter sido rejeitado.
Se em todo o sítio as pessoas vão fumar à rua porque se põe neste caso esta ideia tão dispendiosa?

2 - A Ministra da Saúde Dra. Ana Jorge, por quem tenho a maior consideração, vai querer baixar os gastos com algumas medidas. Uma delas será a de não se poder contratar novos técnicos.
No meu serviço hospitalar, há muito que não se contratam médicos, apesar de ter havido uma série deles que se reformaram. Tem havido também um emagrecimento das equipas multidisciplinares. Com franco prejuízo para as crianças e famílias que nos procuram.

3 - Amanhã, e depois de meses parada pelo meu pezinho, retomo o serviço.

4 - Já não fumo.

Nota - A fotografia do pé engessado vai-se manter. Foi ele o motivador da criação deste blogue.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Poema - Mário Henrique Leiria

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RIFÃO QUOTIDIANO

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

domingo, 23 de maio de 2010

sábado, 22 de maio de 2010

Aconteceu...a propósito de uma notícia - 8

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Romero chegou ao cimo do Pico Everest. Seria notícia ou não este feito, mas tendo Romero 13 anos, o facto muda de figura.
Aos 10 anos tinha escalado o Kilimanjaro na Tanzânia, e aos 11 o Monte McKinley no Alasca e o Aconcágua na Argentina.
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Já tinha lido há uns tempos uma breve notícia sobre este jovem, e algumas considerações sobre estes actos arriscados que desde cedo ele faz.
Não sei nada dele nem da família para poder inserir estes factos e poder compreender melhor a situação.
Dará dinheiro aos pais estas aventuras? Tal como alguns miúdos que participam em telenovelas e no mundo do espectáculo, estará ser "usado"?
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"É qualquer coisa que sempre sonhei fazer antes de morrer".
Esta frase é dele, à chegada ao cume. Aos 13 anos! Mais do que o risco, trata-se provavelmente de um rapaz que não está a viver a sua fase de crescimento de forma adequada. Espero que alguém se preocupe.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Poema - Rui Miguel Ribeiro

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AS PALAVRAS
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Escuto só as tuas palavras
Tenho o presente a partir
da minha fraqueza.
Chega até mim
quem me explica
a luz surda destes dias.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Aconteceu...1as sardinhas

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Já sentada num restaurante encostado à praia, na altura de encomendar perguntei se as sardinhas eram frescas. Que não, eram congeladas mas muito boas, esforçou-se o empregado por vender. O ano passado, também aqui no Algarve caí numa dessas e não me apanham noutra. São grandes, secas e com pouco sabor.

Como o mercado era perto, toca de ir ver as ditas. Bom aspecto, todas torcidas e com o lombo já a querer arredondar. Vamos nisso e faz-se em casa, com umas batatinhas novas, salada de tomate, cebola e orégãos, um pimento assado, "carpáccio" de pepino, azeite de Trás-os-Montes do melhor, vinagre tinto alentejano e pão algarvio. Assadas e comidas na açoteia, à sombra da buganvília, bem bom!
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Há anos, convidada por um casal de algarvios para uma sardinhada,ouvi quase um insulto da senhora, pessoa de educação pouco burilada, por me ver temperar com azeite e vinagre a sardinha, e comê-la com garfo e faca em vez de a comer em cima do pão, com os dedos a retirarem os lombinhos e a levarem-nos à boca.
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Hoje ao almoço, em conversa a propósito dum livro de Manuel Teixeira Gomes, algarvio, comentou-se que ele descrevia na sua juventude uma ida à pesca numa traineira como observador. E contava que não se podia levar muitas coisas a bordo, pelo que os pescadores só levavam pão, vinho, fogareiros e carvão. A bordo faziam a fogueira que ficava pronta para assar um peixe. Na pesca ao atum, cardumes de sardinhas vinham a fugir dos vorazes atuns, pelo que enchiam as primeiras cestas com elas. Era só içarem para bordo, atirarem-nas para cima das brasas e depois comê-las em cima do pão, que a faina tem muitos momentos mortos mas quando chegassem os atuns não havia um momento de descanso.
Pusemos então a hipótese de ser esta a razão da sardinha ser comida simples e em cima do pão pelos algarvios. Será?
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Eu cá sou alfacinha
!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Poema - Fernando da Mata

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POESIA DO DIA

De três em três dias
uma poesia
em "certos dias acontece".
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E todavia
neste dia de tanta maresia
malhas que a desinspiração tece
não há poesia do dia.
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... acontece!

domingo, 16 de maio de 2010

aconteceu... recordações despertadas por uma notícia

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Leio no Expresso que o Santini vai abrir no Chiado uma loja.
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Em certas coisas fui uma felizarda. Nunca ouvi dizer "não, que agora faz-te mal", ou "ainda ontem comeste" ou outras frases do género a propósito de sorvetes.
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O meu Pai era um amante e apreciador de sorvete de limão.
Frequentemente levava-me com ele a gelatarias italianas, ele pedia uma taça de limão, que vinha servido em taças de metal e eu um cone de morango ou framboesa, amêndoa ou pistáchio e chocolate. Acabada a sua taça e eu o cone, era suposto levantarmo-nos e irmos embora. Não sem antes ele me propor que fossemos buscar um cone para o caminho.
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Uns dias íamos à Av. da Liberdade, quem descia do lado direito em direcção aos Restauradores, e sentávamo-nos na pequena esplanada da Gelataria Veneziana, hoje já inexistente neste local. Curiosamente o meu pai defendia que sorvete não era doce de verão, ficava bem com qualquer clima.
Não sei porquê, uma vez que o gelado seria igual, raramente íamos à Veneziana dos Restauradores.
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Outras vezes era no Santini do Tamariz do Estoril, em dia que, fazendo parte do passeio maior com piscina no Verão, íamos comer os gelados (deveria sempre falar no plural, uma vez que nunca era só um). Na altura a que me refiro não havia a loja de Cascais, onde quando lá vou me "obriga" a uma enorme fila, que suporto com bonomia.
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Em noites quentes, sentados na Conchanata, da Avenida da Igreja e lá comíamos os nossos sorvetes.
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Lembrei-me agora que o meu Pai mordia o sorvete com os dentes, mastigando-o e dou-me conta que faço o mesmo com os gelados de pauzinho, quando só há destes.
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No estrangeiro, nas viagens que eu até achava, nos meus 8 ou 10 anos, bem chatas, (da minha primeira ida ao Museu do Prado só me lembro de ter vomitado à saída), o que me salvava era poder provar de quase todas as lojas de gelado tipo italiano com que nos cruzávamos.
Certas viagens em que eu não ia, não deixava de haver a descrição das provas, com um prazer que também me contagiava.
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Teria eu, não sei bem que idade, 11-12 anos, quando o West Side Story, Amor Sem Barreiras, passou no Cinema Roma, em Lisboa. Apesar de ter o tamanho que tenho hoje, não tinha a idade exigida e à entrada, houve alguma dificuldade em conseguir passar. A minha Mãe, com quem eu ia, lá conseguiu convencer o porteiro e entrei. Só que entrei mesmo para dentro do filme e quando este acabou, depois da morte do Tony, eu chorava aos soluços. Saímos, entramos no carro e a Mãe levou-me para o Monte Branco, outra gelataria italiana que havia na Praça do Saldanha. Ainda aos soluços entramos e lá comi o gelado. Um ou 2, nesse dia não me lembro, que aqui a emoção do filme deixou-me mais memórias.
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Estou a preparar-me para de vez em quando apanhar o metro e ir à Baixa comer um sorvete ao Santini. Mantenho as mesmas preferências quanto aos sabores.
Hoje? Que pena, ainda não pode ser!

sábado, 15 de maio de 2010

Poesia - Filipa Leal

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O CÍRCULO TEMPORÁRIO

I.

Na cidade não se falava de amor
mas eu amava
e resistia à cidade
porque falava de amor.

II.

Uns viviam em ruas com nome
de escultor,
outros viviam em ruas com nome
de pintor,
muito poucos viviam em ruas com nome
de gente.

III.

Na cidade tudo era circular:
terminava no mesmo ponto
em que começava.
Redondos, inúteis,
sobrevivíamos
como as montanha lá ao fundo.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Aconteceu...tolerância de ponto - paradoxal?

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Está cá o mais alto elemento da igreja católica.
Anteontem houve tolerância de ponto da parte da tarde. Hoje há outra vez durante todo o dia.
No entanto recebi uma circular que diz que os serviços marcados não poderão ser desmarcados, o que com a antecedência com que isto é dado quer dizer que as agendas estão preenchidas, e que, continuava, podendo "o gozo destes dias" ser realizado noutra data posterior a combinar com as chefias.

Desconfio que a minha direcção não concordou com a tolerância dada pelo Governo para se andar a acompanhar o Papa em Lisboa e ir à missa a Fátima.

Eu também não, e por várias e simples razões, das quais só evoco duas. Em primeiro lugar pelo estado do país, não se compreende que se possa perder trabalho assim. Em segundo lugar porque há os dias de férias que podemos pôr quando desejamos fazer qualquer coisa numa data determinada.
Desconta-se nas férias do verão? Pois, está bem, mas e daí?
Bom, também se podia fazer como com o nojo, vai-se ao funeral de parente próximo e tem de se trazer a prova que se esteve lá. Com tanta gente que se voluntariava certamente para cumprir essa função, imagino filas de pessoas, do Terreiro do Paço à Expo ou Parede, conforme o sentido e de Fátima a Minde ou Batalha.

Alguém me chamou a atenção de como há anos utilizei tão bem a vinda de outro Papa e não falei que não concordava.

A situação era outra...e a minha idade obviamente também.
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Leiam a perspicácia do Inimigos Público, escrito antes destes dias de tolerância mas a propósito do uso do tempo em certos momentos, no caso, da victória do Benfica.
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Tinham razão, mas no rescaldo do Benfica campeão e da visita do Papa, vejam lá se não foram anunciadas medidas bem difíceis.
O que é preciso é distrair o pessoal!
Tolerância de ponto e apertar o cinto. Afinal havia tolerância para descansar a atenção...
Parece-me que nem o humor nos safa!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

terça-feira, 11 de maio de 2010

Poema - David Teles Pereira

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SONHO AMERICANO
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O meu bisavô queria apenas passar por Portugal
e depois atravessar o Atlântico.
Mas teve de se contentar com chamar América à primeira filha.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Aconteceu...valores, por onde andam?

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1 - Há muitos anos, era eu miúda, uma colega de turma tinha sempre muitos lápis e borrachas que o pai lhe trazia do serviço. Era funcionário público. Como o meu também era, contei-lhe e pedi-lhe que me trouxesse lá do serviço alguns para mim. Nesse dia à tarde ele veio do serviço e levou-me à Papelaria da Moda. Aí chegados disse-me para eu escolher o que quisesse de lápis e borrachas, e folhas. Perguntei-lhe porquê, e lembrou-me do meu pedido e disse-me uma coisa que ficou dentro de mim como um valor, que os lápis e borrachas que lhe distribuíam no Ministério, eram para ele trabalhar lá. Por isso não os trazia para casa e muito menos para uso da filha.
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2 - Uma amiga minha era filha de um Director Geral de Finanças que tinha um telefone oficial em casa. Ao lado estava o telefone que ele contratualizou para uso privado, como a família fazer chamadas. Este preciosismo ainda se "usa" hoje?
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3 - Conheço quem use o carro distribuído pela função que tem, com chauffeur agregado, para fazer serviços de distribuição da família. Os "utentes do carro" nem perceberam a minha adjectivação perante o que sinto ser um abuso. É que pagamos todos. Será normal?
Quando prescrevo um medicamento e o doente não o paga na farmácia porque é comparticipado a 100%, se ele me refere que "é de borla", aproveito para lhe explicar que não, que é pago por todos nós. Esta noção não é clara para a maioria das pessoas, mas a alguns não lhes interessa ver isso.
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4 - Como escrevi há dias, os pontos escritos e os exames eram respeitados por nós e tínhamos receio perante maus resultados. Hoje, sabemos que com frequência pais vão às escolas pedir contas aos professores. É assim que se transmitem os valores? Sim, que o respeito é um valor e de pequenino se torce o pepino!
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5 - Aconselho a ler o artigo do Rui Tavares no Público de hoje. "Duas Facadas na República". Muito bem escrito! Ilustra bem com dois casos recentes, como vamos de valores!.
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Nota - sou bastante irreverente, embora alguns dos meus textos não o demonstrem. Mas é preciso indignarmo-nos com certas coisas e foi o que eu quis fazer.

domingo, 9 de maio de 2010

Poema - Vítor Nogueira


SINTAXE.
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Anda a gente um dia inteiro atrás de um verso.
Os delírios soltos, claro, não adiantam
grande coisa. É como curar maleitas
com fumos e cataplasmas. Enfim,
deve ser o nosso táxi. Na rádio (bossa nova,
cha, cha, cha, easy listening) o futebolista
fala a língua de todos os homens:
"sempre foi um treinador que no qual
adorei jogar ao lado dele". Seja como for,
nunca o venceremos com palavras.
No campo, escusado dizer, pior ainda.

sábado, 8 de maio de 2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Aconteceu...vídeo

Aconteceu...a propósito de uma notícia - 7

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Li no jornal que começaram as provas de aferição dos alunos. Já depois de ter publicado este pequeno texto leio na televisão (sem som) que os alunos foram testados.
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"As Provas de Aferição de Língua Portuguesa e de Matemática dos 1.º e 2.º Ciclos do Ensino Básico visam avaliar o modo como os objectivos e as competências essenciais de cada ciclo estão a ser alcançados pelo sistema de ensino. A informação que os resultados destas provas fornecem mostra-se relevante para todos os intervenientes no sistema educativo, alunos, pais, encarregados de educação, professores, administração e para os cidadãos em geral. Estes resultados permitem uma monitorização da eficácia do sistema de ensino, devendo ser objecto de uma reflexão ao nível de escola que contribua para alterar práticas em sala de aula, que assim podem e devem ser ajustadas de modo sustentado." in Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério de Educação".
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Portanto sem stress, o aluno faz as provas de aferição e pronto, estão feitas, acabadas. São informativas. Violinos!
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Comecei a pensar nos meus tempos de escola, que por acaso avaliava os alunos e tinha instituído o direito a estar no Quadro de Honra, mensalmente, e ter as Félicitations du Conseil de Discipline, se tinha durante um trimestre estado sempre no Quadro de Honra. E no fim do ano tinha uma cerimónia pomposa, com direito a cantar o Hino, a chamada Distribuição dos Prémios, em que os melhores alunos eram chamados ao palco para premiar o seu esforço e sucesso, o melhor tinha o chamado Prix d´Excellence. Recebiam-se livros, bons livros. Os nomes dos outros alunos, por disciplina mas também por certas aptidões eram citados e tambéns inscritos num livro distribuído anualmente. Nunca fui ao palco mas tive várias citações. Recebi vários livros que pela nacionalidade da escola, eram sempre em francês.
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Na minha vida de estudante tive várias fases, de boa aluna, com direito a Félicitations, a aluna irregular, um Quadro de Honra de vez em quando, e mesmo a aluna cábula.
Mas uma coisa eu sei, é que mesmo nos meus piores momentos o motor era o receio dos resultados dos testes. O que fazia com que, tivesse metas organizadas para estudar...para os ditos. Porque eles valiam de facto, eu sabia que testes fracos ou negativos eram dificuldades acrescidas para mim, na família, na escola e havia o risco real de reprovação em qualquer ano.
Não me fez nenhum mal, não fiquei traumatizada como está na moda dizer-se. Criou-me pelo contrário hábitos de trabalho, metas a cumprir, respeito pelas obrigações, e até entusiasmo pelo sucesso do trabalho que realizamos.
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A função da escola parece estar a falhar. Deve ensinar e fazer com que os alunos aprendam e fiquem a saber. Adquiram hábitos de trabalho e de curiosidade intelectual. Os pontos escritos com valor a sério serão uma das vertentes? Eu cá acho que ajudaria. E dever-se-iam chamar de avaliação, porque não?
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Não, não, não estou a esquecer as crianças com necessidades educativas especiais, mas não estou de acordo que seja facilitando que elas se fortalecerão, há que preparar intervenções específicas para elas, na escola, fora dela e muitas vezes noutras escolas especialmente preparadas. Mas este tema que já abordei um dia ainda que de forma breve, poderá ficar para outro dia.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Poema - Nuno Júdice

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NATUREZA MORTA COM PARADOXOS
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Se tivesse um copo para encher,
Dá-lo-ia ao verso que se estende pela sede de o beber.
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Se tivesse uma faca para abrir uma romã,
Trocá-la-ia pela serpente que preferiu a maçã.
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Se tivesse um vaso onde plantar as flores,
Enchê-lo-ia com a terra que o céu vestiu com as suas cores.
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Assim, poderia beber-se o poema
Pelo copo do verso.
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Cortar a fruta
Com a lâmina da serpente
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E pisar o céu
À luz da terra.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Aconteceu...vídeo

Obrigada por me teres enviado o vídeo por mail, D.
Como sabes tenho (temos) amigos de grande categoria humana e cultural que moram alguns até cresceram na Margem Sul. Serão excepções? Felizmente há muitas.
Mas também há muito do que está bem caracterizado aqui.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Aconteceu...com o meu neto mais novo

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Está tudo tão calmo! Embora espaçadamente se oiça passar o comboio, crianças a brincar no jardim, o vento a bater nas árvores faz uma música que lembra a água do mar calmo quando vai e vem já na areia.
Está tudo tão calmo! O sol entra pela janela e ilumina esta sala. Ainda tentei escrever na mesa da varanda, mas a luz intensa impedia-me de ver o écran.
O canto dos passarinhos é suave e alegre.
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Hoje foi a primeira vez que fui buscar o meu neto mais novo à creche. Faz hoje 5 meses e começou ontem a ficar na casa-dos-bebés-dos-pais-que-trabalham.
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Cheguei à sala e vi-o logo, refastelado numa espreguiçadeira olhava, com aquele ar atento que tem, à sua roda. Outros bebés lá estavam, como ele.
Chamei-o pelo nome, olhou para mim e sorriu.
Só quem já viveu um momento destes, de se ser reconhecido por um neto, pode perceber a emoção que isto causa.
Pois digam-me lá que com os seus 5 meses não me pode ter reconhecido, que sorriria para qualquer pessoa. É que hoje mando as teorias à fava, e digo-vos que estão todas erradas, ele sorriu mesmo para mim, eu sei, eu senti!
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Está tudo tão calmo aqui! É que depois de alguma aventura para trazer a tralha toda que hoje os bebés carregam atrás de si, acabou por adormecer ainda no carro.
E depois foi só mudá-lo para o berço e ficar a olhá-lo a dormir.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Poema - Rui Pires Cabral

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"NUNCA SE SABE."

Papéis velhos com poemas: são o joio
das gavetas. Relê-los causa aversão
e uma espécie de tristeza arrependida -
são tão nossos como as más recordações
e ainda vemos a circunstância precisa,
a causa, a ferida, por dentro de cada um.
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Mas na altura havia esperança: é isso
que representam. Não pelas coisas que
dizem - é só descrença e fastio - mas
pela simples razão de termos querido
guardá-los. Com um pouco mais de alento,
de inspiração e trabalho, ainda se endireita
isto. Ou seja, os versos. E até a vida.

sábado, 1 de maio de 2010

Aconteceu em viagem - 8 - Nelas

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(...) Quando se entrava na loja dele e se perguntava, por exemplo, se tinha sal, ou outra coisa qualquer, cera, ele dizia: "Não há sal. Há muito tempo que dei para isso do sal". Ou então: "não, mas o que é que julga? Cera, eu? Há muito tempo que dei para isso da cera." (...)
Esta conversa refere-se ao merceeiro e passa-se no livro de Margueritte Duras, "Os Cavalos De Tarquínia".
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Associei com uma cena hilariante passada há anos em Nelas, num café do largo principal. Esplanada de mesas postas, empregados vestidos a preceito, de avental muito comprido branco sobre roupa preta e colarinhos engomados brancos. Na parede um quadro de ardósia onde escrito a giz imensos petiscos eram anunciados.
O empregado chega e pedimos um deles, não sei qual. Ele vai lá dentro, volta e comunica-nos que aquele não havia. Escolhemos outro e a situação repete-se. A certa altura, entre o irritados e o perdidos de riso pedimos-lhe então que vá lá dentro se faz favor, saber o que há, o que o empregado cumpre e volta dizendo que não há nada, que o restaurante era novo e só abriria no dia seguinte.
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Rimos a bom rir! E começamos a olhar para os lados supondo ser uma situação para apanhados e descobrirmos uma câmara de filmar.
Mas não, era mesmo a sério, e tivemos de nos levantar e procurar outra que servisse alguma coisa.