segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Poema - Maria do Rosário Pedreira

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Nada entre nós tem o nome da pressa.
Conhecemo-nos assim, devagar, o cuidado
Traçou os seus próprios labirintos. Sobre a pele
É sempre a primeira vez que os gestos acontecem. Porém,

Se se abrir uma porta para o verão, vemos as mesmas coisas –
o que fica para além da planície e da falésia; a ilha,
um rebanho, um barco à espera de partir, uma palavra
que nunca escreveremos. Entre nós

o tempo desenha-se assim, devagar.
Daríamos sempre pelo mais pequeno engano.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Aconteceu...que o avô era cego!

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Da janela da minha sala vejo nuvens brancas, espessas. Se olhar pela outra janela, mais para nordeste, as nuvens são uma mistura de branco e cinzento. De ambos os lados se vê um azul muito bonito que fica por cima delas. Algumas estão tão ligadas entre si, que fazem grandes corredores, deuses e figuras da mitologia. Ali mais longe, está uma que é claramente um castelo. Tem ameias e torreões nas extremidades. Não consigo ver guardas, princesas, príncipes, rainhas ou reis, mas posso imaginá-los. E poderia deixar-me voar por entre elas, entrar e tomar conhecimento com os seus habitantes. Depois contava-vos a história "verdadeira" da minha viagem.
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Aprendi muito cedo com a minha Mãe este jogo de inventar. Deitadas no chão em cima das ervas ou na areia da praia, viajávamos ambas pelo céu fora. Aprendi também a fixar um ponto e deixar-me ser atraída por ele, como se uma força me elevasse do chão. Disto, embora me tenha acontecido nunca gostei, era uma espécie de vertigem que eu não comandava.
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Estes jogos simples e criativos, muitos miúdos de hoje nunca fizeram. As maquinetas electrónicas não os têm.
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Um dia conversava eu com o João de 7 anos, quando ele gritou apontando para o céu "Olha ali, é mesmo um carneiro!". E era, sem dúvida nenhuma, mais uma ovelha, mais outra, e outra, lá veio o cão e incrível, por fim até vimos o pastor. O João olhava e criava cenários que ia completando. E conversando foi-me contando que era brincadeira frequente lá em casa.
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Até aqui tudo normal. Mas quando percebi que era o avô o promotor do jogo, emocionei-me. É que o avô era cego!

sábado, 29 de janeiro de 2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Poema - Sophia de Mello Breyner Andressen

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INTERVALO I
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Eu só quero silêncio neste porto
Do mar vermelho, do mar morto
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Perdida, baloiçar
No ritmo das águas cheias
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Quero ficar sozinha neste espanto
Dum tempo que perdeu a sua forma
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Quero ficar sozinha nesta tarde
Em que as árvores verdes me abandonam
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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Aconteceu...que os médicos, para além de profissionais, são pessoas

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Ouço frequentemente falar da frieza dos médicos. Pessoas que se queixam da pouca ternura e simpatia que sentem vinda dos médicos, quando estão doentes ou têm familiares doentes.
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Não que não os haja. Há de tudo como em todas as profissões, uns simpáticos, educados, competentes, outros bruscos, frios, demasiado calados, ou faladores. Podia enumerar imensas outras hipóteses. Cada pessoa é diferente e o curso de medicina não altera as pessoas.
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Ouvi recentemente uma pessoa que tem uma filha com doença grave, queixar-se que não conseguia saber ao certo o estado dela, o curso da doença, a resposta aos tratamentos. Quando se aproximavam do médico e lhe diziam que gostariam de de ser esclarecidos nalgumas coisas, ele respondia invariavelmente que teria de ficar para o dia seguinte.
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No entanto e como comecei por dizer, os médicos são pessoas, todas diferentes.
Perante a dor dos outros, há alguns que ficam tão aflitos que reagem pela fuga, evitam confrontar-se com os doentes e famílias. Parecem frios e se calhar o que são é demasiadamente frágeis.
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Numa das primeiras vezes que fiz urgência, assisti à morte de um rapaz de 20 anos, vítima de um acidente de viação. Ainda esteve umas horas em coma. Uma colega, jovem como eu, foi encontrada a chorar agarrada ao doente que ela não conhecia. Foram-na buscar e é uma imagem que me acompanhou sempre. A sua sensibilidade teria impedido qualquer eficácia, caso tivesse sido preciso. Não sei se "ganhou calo" ou se desistiu da profissão.
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Há dias em que perante certas situações, a consulta acaba e o doente fica cá dentro. Depositam em nós o seu sofrimento. Bem queremos pensar noutra coisa, mas voltamos sempre a pensar nele.
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Nestas situações, não há "frieza" que resista!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Aconteceu...é Lisboa!

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..................................Foto - Magda

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Poema - Adília Lopes

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Minha mãe era uma pessoa
tão poupada
que as tias do meu pai
diziam a minha mãe
ó Maria Adelaide!
esse teu vestido!
já tinha idade para ir à escola

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Aconteceu...que curou a bebedeira aos espirros

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Recebi um e-mail com nomes e fotos de “remédios de antigamente”.
Conheço muitos, tomei alguns e prescrevi outros. Mas não me sinto assim tão "do antigamente".
Aliás alguns desses medicamentos continuam à venda.
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Mas recordei uma história passada poucos anos depois do 25 de Abril.
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Na urgência do Hospital de S. José entram dois militares fardados, soldados rasos do exército. Um amparava o outro, que vinha a cair de bêbado.
O lúcido contou a história seguinte: estavam ambos de serviço. Um deles numa guarida estava de vigia e não podia dormir. De vez em quando, tempo que não sei determinar, uma ronda passava e para conferir a situação perguntava gritando "Sentinela alerta?" e o da guarida tinha de responder "Alerta está", e a ronda continuava.
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Estes dois soldados eram amigos e o que fazia a ronda não obteve resposta. Chamou uma segunda vez e silêncio. Pelo que foi ele que respondeu pelo amigo e no fim do seu trabalho foi lá ver e encontrou o amigo caído no chão, a curtir uma enorme bebedeira.
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Agarrou no amigo e levou-o às escondidas ao banco de urgência, onde eu e outros colegas (todos jovens) ouvimos a sua história.
E explicou que ia ser muito grave se na próxima ronda, em que ele já não estaria presente, o amigo não respondesse e continuasse naquele estado. Levaria uma "grande pilada", talvez mesmo uns dias de prisão. Será que nós médicos poderíamos fazer alguma coisa?
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E nós fizemos, demos-lhe uma injecção de Coramina, um medicamento estimulador usado na depressão respiratória. Quase de imediato o doente espirrava sem parar umas largas dezenas de vezes, era impressionante ver. Os meus colegas iam-se divertindo, é pá, parece que te constipaste e outras coisas assim, sempre atentos e preparados para intervir se fosse necessário. No fim dos espirros, o álcool tinha desaparecido do organismo e o soldado estava fino, pronto para pegar o serviço e sei lá se outra bebedeira.
Levou um sermão e lá foi.
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Teve sorte naquele dia, safou-se de um bom castigo.
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Éramos muito jovens e fomos solidários com a prevaricação. Hoje seríamos capazes da mesma cumplicidade?

domingo, 23 de janeiro de 2011

sábado, 22 de janeiro de 2011

Poema - Vítor Nogueira

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De negro vermelho
Em campo aberto mal fechado
pela paz em construção
pelo pão que se não faz
pela liberdade sem caridade ...
Coisas belas só de vê-las
uma criança em contradança
com imaginação no coração
esperança e alegria
pedra a pedra no dia-a-dia
da cidade em democracia.
Não há criação sem mim, diz o patrão
amigo da servidão
de porrete na mão !
Quem assola o sossego de quem teme o povo demente
seja ou não terra-tenente
com o zé povão em baraço ?
Mas poderá haver outra inspiração
poderá um homem dizer sim ou não
deixando de ser solidário
com quem tem mau solário
quando lhe pesam a fome
a sede e
a opressão
de quem não tem pão no meio da escuridão ?!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Aconteceu...ler sobre a criança que faz batota

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Nem sempre os técnicos de saúde mental e desenvolvimento estão de acordo. Acontece que há várias correntes teóricas em todas as ciências humanas, o que pode dar várias formas de ver e de intervir.

Por isso é frequente alguma desorganização junto dos pais que não confiam no técnico que escolheram e procuram ouvir várias opiniões. Arriscam-se a ouvir opiniões absolutamente contrárias.
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Li hoje um pequeno texto numa revista cor-de-rosa sobre as crianças e a batota.
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O normal e o patológico só podem ser vistos à luz do desenvolvimento. Alguém dirá que uma criança que ainda não mastiga tem um problema, se souber que a criança tem 6 meses? E que ainda não usa o bacio se tiver 1 ano? Ou que mente se tiver 2 anos? Tudo tem de ser visto à luz do esperado, conforme a idade e o desenvolvimento conseguido.
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Ora nesse texto, a fase do desenvolvimento não era referida e a batota era considerada de forma geral como qualquer coisa que tinha de ser corrigida, até mesmo com castigos.
Mas há crianças que ainda não sabem que para jogar há regras. Também podem não as cumprir sem ser com a finalidade de fazer batota.
A batota só poderá ser considerada na criança já com idade para saber isso que a está a praticar. Aí deve-se ensinar, brincar sobre o não gostar de perder, e ir corrigindo a batota, voltando atrás ou mesmo parar, se não conseguirmos que a criança cumpra.
Ninguém gosta de perder, e há que perceber porque algumas conseguem aguentar esse "desgosto" e outros não.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Poema - Ruy Belo

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O VALOR DO VENTO
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Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz
a música que jaz à beira-mar em agosto
Mas hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Aconteceu...na rua

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Os meus olhos pousaram nela.
Tal como um metal a ser atraído pelo íman, assim me senti. O meu olhar não descolava.

Levava um casacão com os botões apertados. Junto ao pescoço uma enorme flor vermelha, redonda como um cravo gigante, que abanava discretamente, movimentando-se em sintonia com ela.

Não olhei a cara da pessoa, atenta a tal pregadeira.

Eis que nos cruzámos, e pude ver que a dita flor era uma cabeça de bebé com um carapuço vermelho (passe-montagne?) que a mãe, encostando a si, protegia do frio e cobria com o casaco.

Bendito é o fruto do seu ventre... Mãe, linda é a flor ao teu colo!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Aconteceu...Foto - A ver o que lá se passa

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......................................................Foto - Magda

domingo, 16 de janeiro de 2011

Poema - Alberto de Lacerda

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Inventaste-me
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Uma vez mais
Deixei-me ser inventado
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Só os teus lábios
Verdadeiramente suspensos
Dos meus
Me restituiriam
A quem eu fui
Antes do labirinto ardente de palavras
Onde me inventas
E onde me abandonas consecutivamente
Coberto de sangue
Sem dares por isso.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Aconteceu...Foto

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.......................................................Foto - Magda

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Poema - Manuel de Freitas

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ODE À NOITE (INTEIRA)
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Gosto do momento, exacto ou nem por isso,
em que se torna possível colar cartazes
nas paredes ao lado dos meus ombros (espero
o autocarro, vejo devagar, sorrio). Mas
gosto, sobretudo, dos cães quase sem dono
que roçam as esquinas, pisando restos de garrafas
– ou das pessoas que desconheço
e das bebidas todas que ignoro
(porque me matam menos e se chamam
– como eu – insónia, pesadelo, golpe baixo).
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Existem, claro, raparigas louras um tanto
heterodoxas que não te apetece beijar
(a forca do bâton, perfeita – o cigarro aceso
pedindo outro lume). Essas mesmas que hão-de
um dia procriar com zelo, evitando rugas,
tumores e o mundo como representação misógina.
Mais lírica, sem dúvida, é a lavagem das ruas,
com a cerveja a premiar a farda
demasiado verde e os bigodes de serviço.
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Outros, alguns, tornam concreto o torpor
de um charro e pedem-te em crioulo básico
um cigarro português que tu vais dar,
sem esforço nem palavras. Entre shots, piercings,
t-shirts de Guevara e gel, podes não acreditar
por algumas horas no axioma frágil do teu corpo.
Esfumas-te, como eles, no espelho de um bar
qualquer, país de enganos e baratas. E
quase gostas disso, quase: a música de punhais,
servil, um certo e procurado desencontro.
Um táxi te ensinará depois o caminho de casa
– ou o seu contrário, pois só ali (anónimo
e desfocado) eras finalmente tu, ou podias ser.
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O resto, a vida, fica para outra vez.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Aconteceu...O menino deprimido que queria morrer na arena

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Conheci há muito tempo um miúdo, teria ele uns 9 anos. Franzino, ar pouco cuidado, aluno com grandes dificuldades, tinha poucos interesses, envolvia-se pouco em qualquer coisa que lhe fizesse lembrar a escola. Tinha amigos, e gostava de brincar. Gostava-se dele pelo ar carente e triste que sentíamos como um apelo para estabelecêssemos uma relação com ele.
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Mas havia um assunto que o transformava: cavalos, touros e touradas. Parecia outro. Os olhos brilhavam, sabia muita coisa e estava sempre apto a ouvir falar e aprender se os assuntos versassem touradas.
Conversando com a família, e também porque eram da zona dos campinos e familiarizados com este meio, fácil foi a aceitação do pedido que um dia o miúdo, a medo, lhes fez: entrar para uma escola de toureio.
Entusiasmado, chegava antes e saía depois da hora. Queria fazer o que lhe pediam e mais, adorava limpar os cavalos, dar-lhes de comer, toda e qualquer tarefa de lá era bem aceite e feita com perfeição.
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Claro que com a melhoria do humor, também na outra escola, a escola habitual das crianças, foi melhorando na aprendizagem, ganhando interesse, capacidade de investir, de se interessar e ganhar conhecimento.
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Conversávamos nós um dia, quando ele me disse que um dos seus grandes desejos era morrer na arena em plena tourada. Apesar de ter ficado gelada por dentro, tentei conversar e perceber o porquê desse desejo. Começou a ser claro mesmo antes dele o dizer. Morrer na arena era ficar mais conhecido, falado pelos outros, admirado pela sua bravura e coragem. Seria, segundo ele, uma forma de perpetuar o seu nome, sair nos jornais com fotografia e quem sabe, um dia ter uma praça ou uma escola de toureio com o seu nome.

Perdi-lhe o rasto. Cresceu e deixou de ser preciso conversarmos. Seguiu a sua vida e não sei se se fez toureiro ou bandarilheiro.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Poema - Sophia de Mello Breyner Andresen

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TEJO
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Aqui e ali em Lisboa - quando vamos
Com pressa ou distraídos pelas ruas
Ao virar da esquina de súbito avistamos
Irisado o Tejo:
Então se tornam
Leve o nosso corpo e a alma alada.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Aconteceu...que ao domingo os museus são gratuitos

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Domingo de manhã em Lisboa é uma óptima oportunidade para se visitar um museu. Ainda mais se o dia está de chuva. Quase todos são de entrada gratuita. No entanto têm muito menos visitas que qualquer centro comercial.
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Curiosamente muitas pessoas, nunca entraram num museu. Vivem em Lisboa ou arredores, conhecem todos os centros comerciais, mas museus, nada. Aliás, quando abriu o Colombo, cuja propaganda focava ser o maior centro comercial da Europa, havia camionetas de excursão cheias que paravam à porta para que as pessoas o fossem visitar.
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De inverno, frio ou chuvoso, são inúmeras as pessoas que por lá andam, ou ficam sentadas nos bancos existentes, a ver passar gente, olhar umas montras, e podem passar lá o dia todo sem gastar dinheiro.
Tal como nos museus. No entanto as pessoas têm ideia que os museus são chatos e desinteressam-se completamente por esse tipo de destino.
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Agora que as escolas, infantários e tempos livres têm como hábito que faz quase parte do programa levar as crianças a museus, há imensos pais que não se interessam por isso. Conheço-os, os filhos vão, eles sabem e quando regressam a casa não lhes perguntam o que viram. O que, de certa maneira, é uma desvalorização dessa actividade escolar dos filhos.
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Esperemos que estas crianças, um dia adultos, sejam curiosos, mantenham interesse por ver, saber, conhecer, e possam transmitir isso aos seus filhos.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Aconteceu...Foto - Toc, toc, mora alguém?

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..................................Foto - Magda

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Poema - Maria Eugénia Cunhal

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Se eu conseguisse vencer a banalidade das palavras
Fazê-las falar com a mesma intensidade com que sinto
Se elas pudessem ter a pureza de um gesto
E a profundidade quente dum olhar
Talvez que este pudor de as empregar
Desaparecesse.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Aconteceu...um grito de indignação, mais um!

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Reunião de serviço num hospital público. A equipa reúne-se, discute os novos pedidos de consulta que foram feitos para crianças. As famílias já foram acolhidas por um técnico que nos expõe a situação. Pretende-se com isso perspectivar a melhor intervenção na próxima vinda ao serviço.
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A técnica do serviço social expõe a situação socio económica das famílias, impressiona a quantidade de família em que pelo menos um dos elementos que se encontra desocupado. Em muitas, pai e mãe no desemprego, a receber subsídio de desemprego, rendimento social de inserção, dependentes de apoio familiar e vivem no fio da navalha. Este é o quadro frequente com que nos deparamos nos utentes que nos procuram. O desemprego dos pais, o baixo nível socio-económico familiar são factores de risco (acrescido) para as crianças.
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À nossa frente temos as agendas para poder ir fazendo as marcações dos casos que nos vão sendo distribuídos. Agendas que o hospital nos fornece no início de cada ano. Aparentemente agendas vulgares, com os calendários do ano anterior, do actual e do próximo ano, com cada dia a ocupar uma página, enfim como qualquer agenda.
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E de repente ouve-se um berro de alguém que diz "Espanha!". Faz-se um silêncio. Todos se olham, tentam perceber. E de repente fica claro, é que uma agenda colocada de costas sobre a secretária, mostrava a marca de origem, fabricada em Espanha. Confirmo, o dia de 6 de Janeiro, hoje, vem marcado no calendário como feriado.
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Tanto desemprego e o Estado compra produto espanhol!! Não haverá agendas fabricadas em Portugal? Será que os papel timbrados, envelopes e outras coisas que qualquer serviço estatal usa, também ablam espanhol? Não se poderia dar trabalho a uma tipografia portuguesa?
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Comentários para quê?
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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Aconteceu...Foto num dia de chuva



...........................................Fotos - Magda

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Poema - Pedro Tamen

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E ao fim do meu dia
a matéria de que se faz a minha vida
de novo abandonada
de novo de novo abandonada
pergunta-me silenciosa
se ao apagar da luz
a vida terá princípio.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Aconteceu...Que o grosso da coluna anda cá fora

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Antigamente, quando havia hospitais psiquiátricos com funcionamento por vezes asilar, as pessoas estavam habituadas a ver pelas ruas que ficavam perto, doentes com ar abandónico, a pedir esmola para um café ou um cigarrinho.
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"De médico e de louco todos temos um pouco", diz o provérbio, sendo que a verdadeira essência do assunto, é que todos gostaríamos de ser um pouco médicos e todos temos um enorme medo de ser um pouco loucos.
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Em frente do antigo Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, havia uma papelaria que também vendia outros objectos que serviam para resolver uma prenda de última hora.
Há bastantes anos, uma médica desse hospital, bem arranjada e com bom aspecto, foi lá comprar um objecto qualquer que precisava de um embrulho bonito para ser oferecido. A funcionária atendeu a cliente muito atenciosamente, e estava a começar a embrulhar o objecto escolhido, quando lhe entra pela loja dentro um residente do hospital para comprar um maço de tabaco. Aflita largou tudo da mão e apressou-se a atender o homem. Quando recomeçou o embrulho, a cliente perguntou-lhe o porquê da aflição, de ter largado tudo e passado o outro à frente, ao que ela respondeu que era preciso porque ele era do hospital. Com voz calma a cliente-médica respondeu-lhe que também ela era, sem dar mais explicações. O susto da caixeira foi tão grande, que deixou sair um pequeno grito e largou o embrulho que caiu ao chão.
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Lembro-me de vez em quando desta história verídica.
Todos os dias ouvimos e lemos nos jornais notícias de decisões que mais parecem saídas de malucos, elaboradas por gente com postos importantes e que por vezes até mandam em nós.
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Dos doentes “encartados” não há normalmente que ter medo, mas como alguém dizia, "O que as pessoas não sabem é que o grosso da coluna anda cá fora!".

domingo, 2 de janeiro de 2011

sábado, 1 de janeiro de 2011

Poema - Nuno Rocha Morais

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Deveria ser dado que morrêssemos
Com um amor ainda vivo em nós,
Como deveria ser dado a um pássaro
Morrer naturalmente em pleno voo.