domingo, 31 de maio de 2020



79º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Hoje é domingo e o sol está a aparecer. São 16h23. Estão 23ºC. 
O sol já desapareceu, são 16h30.
Que dia!

Desconfinada. Sim, isolada e com todos os cuidados. 
Mais assustada do que quando estávamos em confinamento. 
São múltiplas as informações e contraditórias. Mesmo as das autoridades.

Há dias apareceram focos de infectados na grande Lisboa. Em gente jovem e trabalhadores com más condições sociais. Há bairros que, embora conhecesse de nome, não imaginava como eram.
Margem sul de Lisboa.












Somos Europa! E tratamos assim algumas bolsas de pessoas?

Os trabalhadores, que se não ganham não comem, têm de andar nas camionetes e comboios cheios que os levam da periferia para o seu trabalho. Mais bolsa desta vez nos concelhos de Sintra, Amadora, Loures e Cascais. Margem norte de Lisboa.

E os parvalhões que cheios de saudades do sol se espetam todos nas praias à volta de Lisboa? 

E os jovens que se julgam imortais? Normalmente não têm formas graves de covid-19 mas ficam infectados e transmitem!












Os bares estão fechados? Não faz mal, "vamos abastecer de bebidas à bomba de gasolina".

Pois hoje é domingo, e o que isso interessa? 

sábado, 30 de maio de 2020



78º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Tenho pena mas tenho vergonha. Não fosse o respeito pelos outros e já teria um conjunto de fotografias de pessoas com máscara a tapar a boca e o queixo. Nariz de fora, claro.


Hoje fui buscar o almoço a um take away perto de mim. Tira-se a senha cá fora, pede-se à porta e só se entra para levantar a comida e pagar. Mesmo assim através de um buraco num acrílico que separa o balcão do público.

Enquanto esperava que fritassem os linguadinhos que pedi, bem distanciados na rua estávamos umas 8 pessoas.
Dois tinham a máscara na mão como quem leva as chaves do carro mas sem fazer o tlim-tlim. Os outros estavam com elas postas mas só uma senhora e eu própria tínhamos a máscara bem posta. Os outros seis, tinham o nariz bem de fora! Incrível!

Chegaram os peixinhos com o arroz de tomate.
Que bom que estavam!



sexta-feira, 29 de maio de 2020



77º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Cada maluco tem a sua mania, diriam.
Pode parecer ridículo mas em adolescente/adulta jovem, não tendo orelhas de abanico, dizia a brincar, ter medo que o vento as levasse. 

Detestava vento! Se fosse passear, na mochila tinha sempre um lenço de cabeça não fosse levantar-se alguma ventania. 

Dito assim parecia uma patetice. 
Mas há pessoas com maior sensibilidade a certos estímulos que outras pessoas. 

E só mais tarde percebi que o vento nos ouvidos me era muito incómodo, causava mesmo uma dor que se mantinha durante um bocado.


Ontem e hoje tem estado um bocado de vento. As árvores mexem. Aragem dirão alguns mas eu não concordo. Por isso tenho aguardado que, com o avançar da tarde ele diminua.

Parece que é agora, vou sair!







quinta-feira, 28 de maio de 2020



76º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Há meses que ando a pagar uma viagem em prestações.
Desde que começou a pandemia comecei a desconfiar que não iria. Mas continuei a querer acreditar.

Recebi agora a confirmação que a viagem não se irá realizar e foi adiada para o ano. 


A propósito ...




quarta-feira, 27 de maio de 2020



75º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Isolada? Distância regulamentar de 2 metros entre as pessoas? 

Abriram há poucos dias as feiras, "desconfinaram".
Vi na televisão uma reportagem da Feira da Ladra, em Lisboa. Menos gente e só os vendedores residentes. 
Também na televisão vi uma reportagem da Feira do Relógio, também em Lisboa. Gente e vendedores talvez em menor número que o habitual.

Destas reportagens chamou-me a atenção a quantidade de gente que põe a máscara mas deixa o nariz de fora. Deveria haver mais anúncios na televisão de como se põe uma máscara para ela ser eficaz...para os outros.

Hoje, 4a feira abriu a feira de frutas, legumes e flores da terra onde estou a desconfinar. Fui, dei uma volta rápida, comprei em 3 bancas. Frutas da época irresistíveis.
Impossível manter a distância adequada, embora julgo que não toquei em ninguém.
Acho que toda a gente tinha máscara mas a querer demorar pouco não reparei nos narizes.


terça-feira, 26 de maio de 2020



74º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Ainda não abriu a época balnear e já morreram 40 pessoas afogadas! É impressionante, com o Oceano Atlântico não se brinca! Nem com rios caudalosos nem albufeiras profundas.
Neste período de pandemia deixou de haver aulas presenciais. Foram suspensas todas as actividades livres, desporto, artes plásticas, música. Foi o confinamento. 
Desde há alguns anos, as crianças de algumas escolas públicas passaram a frequentar aulas de natação em piscinas. Não em todas as escolas e só durante por um período insuficiente para que aprendessem a nadar. Julgo que um trimestre.
Saber nadar bem não devia ser considerada uma competência essencial a ser desenvolvida?

Hoje um homem com cerca de 60 anos foi ao banho e pouco tempo depois começou a pedir socorro. Um jovem de 25 anos atirou-se à água para o salvar. Morreram os dois. O jovem não sabia nadar!

segunda-feira, 25 de maio de 2020



73º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


De manhã cedinho, como começa a ser hábito, fui dar o longo passeio pela praia. Calor bom e água boa. Pelo caminho tomei 3 banhos, ondas pequenas mas fortes, vindas de leste. Entrei no sítio e saí mais longe. Uma maravilha!

Não, hoje não encontrei nada interessante para trazer para casa.
Também não tenho nenhuma inspiração para escrever hoje.

De tarde desconfinei com máscara e fui a uma grande superfície. Tinha 3 cadeiras partidas no terraço. Encontrei exactamente iguais às que cá tenho. Mas foi épico enfiá-las no carro. Confortáveis, sólidas e largas, vi-me e desejei-me. Tentei de várias maneiras, até que tive de desmontar os bancos. Depois disso entraram.

Mas é nestas alturas que penso que devia estar acompanhada. Uma companhia funcional. Não tenho muita força e tento fazer pelo mais fácil. Se tivesse desmontado logo os bancos não tinha custado nada.
Ainda olhei à volta, algum funcionário, não havia. Procurei algum homem jovem com ar simpático mas não me atrevi. Lá se resolveu.

Trazê-las do carro até casa é uma distância razoável. No condomínio os carros ficam no parqueamento. Lá consegui também.


Fiquei fula quando descobri que tenho mais uma partida. Terei de lá voltar.

E vou ali tomar um anti-inflamatório e relaxante muscular que já me dói tudo. 


domingo, 24 de maio de 2020



72º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada




Um destes dias falava com um amigo por mensagem. Quando lhe contei que faço uns quilómetros a andar na praia, perguntou-me se eu era uma pessoa solitária.

Fiquei a pensar na pergunta. Solitário, pode ler-se no Dicionário Primberan "Que vive no ermo, que foge da convivência, que vive longe, abandonado por todos=só".  Não, não me reconheço.

Nas minhas passeatas estou comigo, por isso acompanhada. 
O meu pensamento voa, livre, já houve assuntos que tratei comigo. Penso imenso e isso descontrai-me.
Outras alturas fico contemplativa. Olho o que me rodeia, são as cores, as ondas, as conchas e até o movimento da água quando chega junto de mim. Há outras coisas que vejo e algumas trago para casa, sempre a pensar em que as posso transformar. Dar outro sentido diferente daquele que qualquer coisa teve dá uma enorme satisfação.
Ontem trouxe um bocado de cano de ferro amolgado e com muito tempo de água. Hoje um bocado de ferro dobrado em quadrado e com umas peças nas bordas. De alguma armação de pesca? 



Mas às vezes olho as pessoas. Faço muitos metros sem ver nenhuma mas ontem vi as costas de um homem   com algumas tatuagens como se vê por aí. Mas esta era diferente. Como se a cintura onde acabam os calções fosse o chão. Para cima mais de uma mão-travessa de desenhos, horríveis, incómodos. O que terá acontecido àquele homem para tatuar um cemitério, cheio de campas e cruzes? E lá fui eu, pensamento a girar, a imaginar a vida de um homem que não conheço, que nem a cara vi mas cuja tatuagem me impressionou.

Pensando bem, solitária por vezes mas não sozinha.



sábado, 23 de maio de 2020



71º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Estive alguns dias com medo de sair de casa. Não por causa do Covid-19 mas por causa da porta. Emperrou, descaiu e por 2 vezes tive de chamar alguém para me ajudar, com jeitinho ou força, a deixar-me entrar.

Numa zona onde é difícil arranjar alguém, hoje tive toda a manhã o sr. Ioan, que já me fez vários trabalhos de construção civil.

Oriundo de leste, deve andar pelos 60 anos e tem uma grande barriga. Sabe fazer todas as coisas da construção, inclusive electricidade e águas. E, claro, tem sempre clientes à espera.

Neste dois meses de confinamento esteve em casa com a mulher a protegerem-se da doença. Quando retomou o trabalho e porque no sítio onde estou só se podem fazer obras, leia-se barulho de obras, até final de Maio, não aceitou nada de demorado. Só uns biscates soltos.

Foi assim que a sorte me bafejou. A porta, azulejos que se tinham solto, pinturas pequenas, umas torneiras, uns quadros para pôr na parede mas que exigem buraco feito com máquina, e mais uns cem números de pequenos arranjos. Esteve hoje e continuará na 2ª feira.

Entretanto já posso sair. Sábados e domingos são dias que evito mas só saber que posso e a porta se abrirá à minha chegada é um alívio.

Já estive confinada que baste, agora presa era demais. 

sexta-feira, 22 de maio de 2020



70º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Estava há pouco a ver televisão, coisa que raramente vejo de tarde. 

E tomei conhecimento que um jovem de 13 anos foi internado nas urgências após ter sofrido violentos maus tratos pelo pai. 
Foram ouvir uma tia paterna.
E aqui começa o curioso. Este sobrinho desde pequeno que passa férias com a tia. A tia nunca desconfiou de maus tratos.
No entanto referiu duas coisas importantes:
1 - Ao falar do irmão descreveu-o como um alcoólico que fica muito violento quando bêbado.
2 - Ao falar do sobrinho descreveu como ele resiste e se manifesta, no terminar os dias de férias, em voltar para casa dos pais. (Percebi que a mãe também lá vive).

O triste é que aquela tia que agora se prontifica para ficar com o sobrinho, nunca se interrogou sobre a recusa dele de voltar à casa dos pais.

Sei e tenho conhecimento de inúmeras situações em que a leitura dos comportamentos, dos afectos, não é feita. Diria mesmo mais, é evitada se por acaso aflora ao pensamento.

Podemos pensar que é falta de treino de pensar, falta de tempo, falta de empatia. Ou medo! Ditados antigo dizem que entre marido e mulher não metas a colher, e pai que bate educa.

O termos vivido tantos anos debaixo de um regime que se manteve também através do medo, da queixas que os funcionários da PIDE transmitiam, com as graves consequências que sabemos, contribuirá para as poucas denúncias que existem nos casos de maus tratos? Nem Um vizinho que nunca ouve nada! Às vezes o professor mas com o confinamento nem aulas tem havido! 


Será possível que o caso da morte da Valentina tenha contribuído para que esta situação viesse a ver a luz do dia?

quinta-feira, 21 de maio de 2020



69º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Com um blog iniciado em 2009 embora interrompido, não sei se me repito. De qualquer modo e felizmente continuamos vivos e o dia repete-se.


Fotografia retirada da net

Hoje é 5a feira da Ascenção, Dia da Espiga. Na rua mulheres com cestos de verga vendiam raminhos que, imaginei, apanhavam cedo pelos campos. Papoila, espigas, raminho de oliveira e outras flores silvestres. Era um hino à fertilidade e à primavera. Só quando as vias me lembrava do dia. 

O Dr. João dos Santos, pedopsiquiatra, psicanalista e pedagogo nunca se esquecia. E no colégio lá estava sempre uma cesta de raminhos para os técnicos que ali trabalhavam.

Agora com as ruas com menos gente, essas mulheres ainda por aí andam a vender? 

quarta-feira, 20 de maio de 2020



68º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada

Um tempo esplêndido, sol, calor quanto baste, água do mar de boa temperatura.

Pelo areal fora, marcha para lá, marcha para cá, bastantes pessoas, em pequenos grupos.

"Habitués" de todos os anos, o norte gosta imenso de vir para o Algarve. Nesta praia são tios e tias, que se tratam por você, com aquele sotaque portuense ou mesmo mais nortenho.
Eles de calções caros, alguma barriguinha e sempre um cordão de ouro, com ou sem crucifixo. Elas, loiras ou com madeixas embora o cabelo branco esteja na moda. Frequentemente de bikini a mostrar alguma gordurinha num corpo que sofreu no ginásio e nas massagens.

Mas este ano as fotografias vão ficar estragadas, é que andam todos de máscara. Ao tirá-las ficaram com parte da cara branca. Será que se torna moda?

terça-feira, 19 de maio de 2020



67º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Que bem fiz em vir ontem! Temperatura q.b., praia enorme quase deserta, passeata com banho a meio, ida e volta uns kms.


Kit de praia, o costume mais a máscara, não na cara mas na bolsa.

À vinda passagem pelo mercado e o almoço foi um luxo!


RECEITA DE AMEIJOAS - Sem cebola, sem refogado, sem sal nem pimenta, vinho ou outro líquido. Tudo natural e simples. 

Passe por um mercado de praia e compre ameijoas "boa", é o nome delas. No mercado vão lhe colocar as ditas em água do mar. À chegada a casa verta tudo num alguidar enquanto prepara a mesa.
Usei uma wok com tampa. Muito importante a tampa, porque deve ficar vedada.
No fundo pus um dente de alho a que dei um murro, esmagando parcialmente
Azeite a tapar o fundo
Um pouco de coentros cortados com a tesoura
E ao mesmo tempo as ameijoas que se tiram da água.
Tapa-se e deixa-se estar em lume forte poucos minutos (no meu fogão estava no nº 9)
Logo que estiverem abertas, tira-se do lume.
Por cima mais um pouco de coentros também picados e limão.

Acompanhe com pão alentejano ou algarvio. Molhe-o no molho.
Bebida branca a gosto.



segunda-feira, 18 de maio de 2020



66º dia de isolamento social (COVID-19)


"Mais uma desconfinadela"

A facilidade com que inventamos palavras é extraordinária. Língua viva não morre. 


Lamentei quando ontem li um artigo sobre a diminuição de galegos que falam a língua galega. Das duas línguas obrigatórias para os estudantes, o galego é cada vez menos escolhido. Estudam castelhano, o dito espanhol como por cá é ensinado, e muitos escolhem línguas de outros países, como o inglês, o alemão, o francês ou o mandarim, muito em voga.

No meu tempo estudava-se francês e inglês. Hoje são poucos os que ficam a saber francês. 

Desconfinei cedo, rumo ao Algarve. O tempo promete, casa por casa aqui tenho terraço onde já apanhei um pouco de sol.

À hora combinada liguei skype, o pedido do meu neto veio de quase de imediato. Mostra lá como está isso aí fora se fazes o favor, s´il te plaît. Et le ciel, s´il te plaît. O resto foi todo em francês. Nada como a conversação, mês e meio de conversa e já está muito melhor.


domingo, 17 de maio de 2020



65º dia de isolamento social (COVID-19)


Há 2 dias "desconfinei". No carro, sozinha, foram 110 kms para lá e outros tantos para voltar.
Há pessoas que julgam ter sorte por receberem umas heranças mas há algumas que são prendas envenenadas. Na terra da minha Avó, eu e as minhas primas temos uma pequena pipa de terrenos, alguns bonitos, mas que não só não nos servem para nada, como ninguém os quer comprar.
E têm de ser limpos por causa dos incêndios.
Ainda o ano passado foram cartas para a GNR e para a Câmara que me diziam que um terreno não estava limpo. Ora pelo telefone eu tinha mandado limpar e por transferência tinha pago. E embora tenha pedido expressamente ao vereador da Câmara que me desse resposta à minha carta explicativa, nunca recebi resposta nem mesmo uma multa.
No dia da minha saída fui ver o terreno. Terá sido limpo o ano passado? Custa a crer! Pinheiros encostados uns aos outros, enormes, copas a entrecruzarem-se, tudo o que não é permitido e não é seguro em caso de incêndio. Lá conversei com uma pequena empresa que irá fazer a limpeza. Parece que devia ter procurado vender a madeira mas não o soube fazer.
Quando estiver limpo vou desafiar a família a fazer um picnic com as devidas distância, claro.
Mas agora pergunto eu, que limpeza teremos andado a pagar estes últimos anos? 




sábado, 16 de maio de 2020



64º dia de isolamento social (COVID-19)

Ontem passou na RTP2 o filme Laranja Mecânica de Stanley Kubrick.
Um filme que foca um grupo de adolescentes marginais que pratica actos de grande barbaridade, pura violência gratuita. Vê-se como atacam 2 vivendas isoladas, pedindo para fazer uma chamada telefónica de socorro. Lá dentro destroem, violam, matam os proprietários. 
Trata também de outros aspectos sociológicos e psiquiátricos mas que salto.

Vi-o em 1973 em Londres, com a minha Mãe. 

Saímos do cinema de coração apertado.
Compreendo que estávamos fragilizadas, estávamos lá para diagnóstico por suspeita de doença incapacitante da minha Mãe. 

Os meus Pais  tinham uma casa linda, num terreno muito grande, maioria pinhal, perto de Lisboa e perto de uma praia, onde só íamos aos fins de semana e nas férias. Isolada com nenhuma casa em redor. Só pinhal. 
O filme preocupou-nos tanto que à chegada mandou-se logo instalar uma tomada de telefone na entrada para que se alguém que pedisse socorro não tivesse de entrar. Obviamente que fomos impregnadas emocionalmente pelo filme.
Mas houve sempre algum incómodo que ficou.

A casa foi vendida em 1980.

Como eu gostava de a ter hoje! 

sexta-feira, 15 de maio de 2020



63º dia de isolamento social (COVID-19)



Só mais uma vez sobre o problema da miúda assassinada pelo pai e depois não digo mais nada.

Está tudo muito preocupado de quem vai ficar a tomar conta das 3 crianças sobrantes, 1 filho da madrasta e duas filhas do casal, uma com menos de 2 anos e outra de 4 anos.
O que não ouvi ainda falar é de como vão ficar estas crianças com esta história traumática na sua vida.

Mesmo a mais novinha! 
Todos terão ouvido barulhos, tareias, gritos e mesmo agressões que também havia entre o casal.

A do meio certamente também viu e ouviu muitas coisas.
O mais velho ouviu as agressões na casa de banho, e foi ele que notou que a miúda, deitada num sofá não reagia às suas palavras e quando a viu a espumar, foi ainda ele que telefonou à mãe a avisar. 

Estas crianças têm de ser acompanhadas psicologicamente. Têm de ser ajudadas a elaborar este traumatismo. E esse apoio psicológico deveria ser durante anos, que estas crianças nas tarefas que a adolescência vão ter novamente esta situação para "trabalhar", reorganizar.

Sim, que saber que o pai e a mãe foram assassinos,  frios e sem arrependimento na altura, como se pode pensar nisso?
Esperemos que os técnicos não queiram fazer já uma reparação da imagem dos pais, têm direito a ficar zangados.

E acabei por aqui este assunto.

quinta-feira, 14 de maio de 2020



62º dia de isolamento social (COVID-19)


Abril foi o mês da Prevenção dos Maus-Tratos na Infância. Terá servido para alguma coisa? A menina morreu em Maio às mãos do pai e perante nenhuma intervenção de socorro por parte da madrasta e até com alguma colaboração.


A infância é um conceito relativamente recente, historicamente falando. 
Só em 1959 foi criada a Declaração dos Direitos das Crianças. Portugal ratificou-a em 2000.

"É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança."
A miúda nunca terá tido. A família nuclear e alargada é um dos vectores da "aldeia". O Centro de Saúde e @ médic@ seria outro, médic@s especialistas a que tenham recorrido. A escola, @s professores, as colegas, vizinhos atentos e amigos (não com funcionamento policial) etc, etc, etc. 
Quando tudo isto falha as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo ou Risco alertadas e por último os Tribunais de Família e Menores. 

Tudo isto falhou, e só a morte e a descoberta do cadáver nos abriu os olhos para a desgraça desta criança.




terça-feira, 12 de maio de 2020



61º dia de isolamento social (COVID-19)

Obviamente que a criança morta às mãos do pai continua na ordem do dia. Pelo facto em si e pela má consciência que todos temos com os actos que assistimos neste mundo.

Segui algumas crianças famílias em que a violência era a linguagem. Contra elas mas também por assistirem à violência entre os pais. Muito mais frequente do pai contra a mãe mas também em menor grau da mãe contra o pai.

As crianças assistem... lembro-me de algumas delas que me falavam de como se escondiam, tapavam-se com almofadas para não ouvirem as discussões, o medo das agressões que podiam levar a ferimentos graves e até a morte e a enorme culpabilidade por não poderem fazer nada. Outros tentavam meter-se no meio dos pais, separá-los, com gritos ou gestos, ficando muito inquietos e raivosos. Os pais que os deviam proteger, afinal desprotegiam.

Só segui um que viu o pai matar a mãe. Vimos que depois de ter assistido a muita violência. Não me esqueço do rapaz, aí com uns 8-10 anos, bonito, pele e cabelo claros, aloirado e olhos parados, olhar murcho, movimentos lentos e quase só se por insistência. Metido num mundo seu, qual não sabemos, apesar de todos os esforços terapêuticos que foram feitos, mais tarde ficou com um quadro de psicose esquizofrénica com deterioração cognitiva.
Há experiências traumática da infância que podem deixar marcas irreparáveis.
Uma pessoa viva mas perdida para a vida.

Portanto a prevenção é que tem de estar presente, ser desenvolvida, aumentados os técnicos e a sua formação nesta área trabalham.
O que teria acontecido à miúda assassinada se pequenos aspectos tivessem chamado a atenção estudados e tomadas medidas efectivas de afastamento e protecção?





60º dia de isolamento social (COVID-19)

Há uma percentagem razoável de pessoas não muito espertas, para não dizer com debilidade ligeira, mas que fazem a sua vida normal. Normalmente trabalhos manuais, sem grande necessidades cognitivas, tarefas definidas, como limpeza, serventia de pedreiro etc. 

Lembrei-me disto quando ontem ouvi na entrevista a familiar da mãe da menina assassinada.
A pergunta da jornalista foi completamente parva.
- "E como estava a mãe quando soube?"
Resposta da senhora:
- "Estava sentada".

Por vezes têm treino social e pode até, à primeira vista passar despercebido.
Uma colega cuja mãe lhe tinha descrito a maravilhosa evolução de uma criança débil depois de um tratamento de origem brasileira, pediu-me para a observar no meu consultório. De início parecia muito bem, regras sociais, cumprimentos, forma de se sentar, onde pôr as mãos, a bolsa que trazia. Na conversa fiquei a saber que seguia uma telenovela que eu também conhecia, pedi-lhe para falar dela. Era uma compreensão muito superficial, não fazia relacionamentos das personagens, nem compreendia os não ditos e perdia-se na história. Mas sempre com um ar seguro, sem dúvidas. Simpática e boa pessoa com certeza. 
Pena que o tal tratamento só a tinha ensinado a estar.






segunda-feira, 11 de maio de 2020



59º dia de isolamento social (COVID-19)

Mais uma criança foi morta!

Desaparecida há 4 dias, uma menina de 9 anos  apareceu ontem mas morta. Foi o pai que acabou por confessar ter sido ele, com uma explicação inacreditável, ela ter caído na banheira e ele a madrasta da miúda terem ido esconder o corpo e tapá-lo com ramos.

Sabe-se ainda pouco, não há ainda o resultado da autópsia e o casal continua preso a aguardar ser ouvido pelo juiz.


Só vou falar numa entrevista ao tio materno. Entrevista longa e péssima! Há cada jornalista! Merece este nome?

Rapidamente, a miúda estava em casa do pai, onde há mais crianças, meios irmãos. Guarda partilhada, parece. Os pais da criança coabitaram ou nem isso.
O tio, irmão da mãe, está de candeias às avessas com a irmã, nunca conheceu o pai da criança, terá visto poucas vezes a sobrinha.
Ficamos a saber isto logo no princípio. Mas a jornalista insistiu, tornou a insistir, como se não tivesse ouvido, qual a impressão que ele tinha do pai, da relação dos pais da miúda, da relação da mãe com a criança, o que ele acha que a mãe estaria a sentir, etc. Não contei mas foram largos minutos.

Que a entrevistadora não sabe entrevistar fica provado. Mas e porque é que o tio não se veio embora? Aquilo para ele estar a ser transmitido pela televisão também eram uns minutos de glória?