terça-feira, 29 de maio de 2012

domingo, 27 de maio de 2012

Poema - Ruy Belo

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E TUDO ERA POSSÍVEL
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Na minha juventude antes de ter saído
de casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
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Chegava o mês de Maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela tivesse acontecido
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E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
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Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer

domingo, 20 de maio de 2012

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Poema - Gastão Cruz

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E-MAIL
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Está sob o vidro a pele
é um suor de sílabas
de músculos pulsando
na primavera física
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Queria fazê-la
sair do vidro e simples
atravessar as nuvens
como um calor longínquo
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subitamente perto
com mãos e lábios vindo
encostar-se ao meu corpo
como o ramo do símbolo

domingo, 13 de maio de 2012

Aconteceu...o tempo, esse escultor

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Quando eu olhava para as fotos das comemorações dos antigos combatentes da 1ª guerra, pensava para mim que eram muito velhos, será que ainda se reconheceriam?
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Vem isto a propósito de um almoço a que fui recentemente, para festejar os 35 anos de licenciatura. Embora não estivéssemos todos, o curso era muito grande, lá nos encontrámos perto de 200. A verdade seja dita, há os que reconhecemos e os que não reconhecemos. E teremos conhecido alguma vez?
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Logo à entrada para os jardins, prévios ao salão onde seria servida a refeição, muitos abraços, beijos, muitas perguntas como há quanto tempo não nos víamos, onde estás colocada, ainda trabalhas?
E alguma admiração e um pouco de comiseração perante a minha resposta afirmativa.
Com a minha idade muitos estão reformados do serviço público - médico raramente se reforma do trabalho.
E claro, as perguntas que não podem falhar sobre os filhos e netos.
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À entrada uma colega muito simpática agarra-se a mim, contente, efusiva, beijos e abraços. Eu não me lembrava nada dela mas lá correspondi embora de forma mais discreta.
Quando os cumprimentos amainaram, optei por uma parcial sinceridade, dizendo lhe que lhe reconhecia a cara mas os nomes, sou péssima, já me é mais difícil de fazer a ligação, qual era o seu perguntei. Ela lá me disse, um nome que não me fez tocar nenhum sininho na memória. E perguntei-lhe para confirmar, se ela sabia o meu. Claro! disse sorridente, tu és a Zé!
Podia ter deixado a coisa por ali, mas, com um sorriso nos lábios, não sei porque o fiz, disse-lhe do seu engano.
Talvez pudesse não o ter feito, ela estava tão feliz de "me" rever.
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Assim que nós estamos 35 anos depois de acabarmos o curso, aproximando-nos a passos largos do que imagino serem os encontros dos veteranos de algum feito longínquo.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

sábado, 5 de maio de 2012

Poema - Alberto Caeiro

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Quando tornar a vir a primavera
Talvez já não  me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a primavera nem sequer é uma coisa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.