terça-feira, 31 de agosto de 2010

Poema - Magda

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PARA TI, PARA VOCÊS............................ Pa
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Iam à minha frente, corredor fora.
Ele tinha o braço por cima dos ombros dela.
Iam calados e os movimentos eram lentos.
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Vi-os de frente.
Olheiras e ar triste.
Solidários, apoiavam-se.
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Como se tivessem levado um murro
Tinham ouvido a sentença do médico
A vossa filha está muito doente.
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Quiseram pouca comida no prato.
Sem apetite e ar cansado
Espelhavam bem a preocupação.
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Comeram pouco, levantaram-se
E apoiados um no outro
Lá partiram para ao pé dela.
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Mais uma noite, mais um dia,
O futuro hoje tem outra dimensão
Mas a esperança tem de existir!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Aconteceu...síndrome do fim das férias- uma entidade nosológica?

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Achei mesmo graça ao ler ontem que tinha sido descrito um síndrome do qual se pode sofrer quando acabam as férias e temos de recomeçar o trabalho. O que eles inventam, para tentar organizar por sintomas, que é o que está a dar, versus compreender os fenómenos.

Para quem o trabalho é uma necessidade económica, de onde não se tira prazer, do qual nos sentimos pouco gratificados e reconhecidos, com cujos colegas não temos nenhuma relação afectiva, será esquisito gostar das férias e sentir o trabalho como um fardo que obrigatóriamente temos de carregar?

Nas situações actuais, a grande maioria das pessoas não faz o que gosta. Uns não estudaram, outros entraram para onde as notas lhes permitiu. E fora do horário de trabalho há outro, o de casa, da família, para quem às vezes já pouca disponibilidade sobra.

Luísa sobe,/sobe a calçada,/sobe e não pode,/que vai cansada.
Saiu de casa/de madrugada;/regressa a casa/é já noite fechada.
Na mão grosseira,/de pele queimada, leva a lancheira/desengonçada.
(...)
Chegou a casa/não disse nada./Pegou na filha,/deu-lhe a mamada;
/bebeu a sopa/numa golada;/lavou a loiça,/varreu a escada;/deu jeito à casa/desarranjada;/ coseu a roupa/já remendada; despiu-se à pressa,/desinteressada;/caiu na cama de uma assentada;/chegou o homem,/viu-a deitada;/serviu-se dela,/não deu por nada.
(...)
in Calçada de Carriche, de António Gedeão.

Duvido que algumas Luísas alguma vez tenham sido crianças, tido e vivido uma infância que seja digna desse nome. Duvido que alguma vez tenham tido férias, mas se as tivessem tido, seria estranho terem o tal síndrome e custar-lhe trabalhar de novo? Ah, mas que se fique descansado, parece que é de curta duração. Pudera, a pessoa habitua-se!

domingo, 29 de agosto de 2010

sábado, 28 de agosto de 2010

Poema - Sophia de Mello Breyner Andresen

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RETRATO DE UMA PRINCESA DESCONHECIDA

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Aconteceu...que é muito bom tirar prazer da vida!

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Ouvimos frequentemente falar de pessoas sempre insatisfeitas, que nunca tiram prazer de nada, sejam coisas simples, coisas especialmente raras, preparadas para despertar prazer, seja o que fôr, o resultado é nada. Há muitos factores para que isso aconteça.
Pode ser sinal de "depressão", ok, mas é sobretudo uma coisa muito chata, porque por mais que se tenha, nunca se está satisfeito. Aliás, aquele ditado que "a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha" é bem elucidativo disso embora seja frequentemente ligado à inveja. Pois, mas também é verdade que estas pessoas nunca tiram partido do que têm, sonhando sempre com o que está longe. Dito de forma simples, têm uma bóia ao pé mas não a vêem, só procuram ao largo desprezando o que está perto.
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Também há pessoas que destroem tudo o que têm à mão ou à sua volta. Hoje ao passear-me por uma terra algarvia, de uma casa a 200 metros da praia saía uma gritaria de voz de homem que dizia mais ou menos isto "praia, praia, praia, é de manhã, é de tarde, e ainda sais à noite, ou me engano muito ou vais dar em puta". Estes vozeirão saía de uma casa que tinha o letreiro "aluga-se para férias". Ricas férias, se esta berraria é sempre assim!
Fiquei a pensar de quem e para quem seria aquilo, de pai para filha/o adolescente? marido para mulher? haveria outras pessoas dentro de casa? crianças a assistir a isto?
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O Pedro tem 4 anos e foi ver um filme do Shrek. Desde esse dia passou a dizer, volta não volta "chiça-penico". Viu uma vez o filme mas apanhou logo aquilo. Quem é criado num caldo de gritos, palavrões, como ficará? Não, não vou falar de imitação, identificação ou alterações hormonais precoces! Não, vou ficar por aqui!
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Estou de fim-de-semana, tive ontem um óptimo fim de tarde, com um lindíssimo pôr-do-sol, hoje uma hora deliciosa de piscina, umas amêijoas de gritos, e deu-me para vir aqui falar nos que não conseguem ter prazer! Ora bolas!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Poema - Manuel de Freitas

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SUB ROSA
................................Para o Herberto Helder
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Não somos os últimos, pois se
há coisa que o mundo sempre fez bem
foi acabar. De novo e sempre acabar
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Mas já não trabalhamos com ouro
e temos um certo pudor tardio
em falar de deus, do amor ou até do corpo.
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As metáforas arrefecem, talvez contrariadas.
São casas devolutas, mães risonhas
ou sombrias cujo grito deixámos de escutar.
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Do lixo, porém, temos um vasto
e inútil conhecimento. Possa
ele servir de rosa triste aos
que não cantam sequer, por delicadeza.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Aconteceu...carta a uma amiga "mãe" e educadora de dois gatinhos

Cara amiga,
Desculpa estar-me a rir, tu dormiste mal e dizes que tens a casa quase toda "destruída"...
Os teus dois gatos estiveram agora quase um mês fora da tua casa e fora da tua companhia.
Regressados, talvez tenham estranhado, ou se calhar de tão contentes, estão excitados e cheios de vida. Estão a reconhecer o território. Os gatos são curiosos como sabes. Os teus são gatos novos, nem seis meses têm.

Feitas as contas pelas tabelas correspondem a crianças de 2 anos, idade de autonomia motora, e muita aventura, para alguns sem cálculo de perigo.

Sabes, fizeste-me pensar naquelas mães que vêm-se queixar dos filhos e pedir um remédiozito para os acalmar.
E quando eu tento perceber se houve alguma alteração recente na vida deles, dizem que não, tudo igual. A consulta continua e a certa altura falam do marido que ficou desempregado há 15 dias, preocupado e deprimido passa metade do tempo na cama, da mudança de escola com novos colegas e professora que vai ser já daqui a uns dias, da avó que por rotatividade entre os filhos, agora lhes calhou a eles e... tinham-me dito que nada tinha mudado na vida familiar onde a criança está inserida. Ninguém me queria enganar, eles é que não tinham valorizado esses eventuais factores de stress.

No caso dos teus gatos, também eles tiveram mudanças. Conhecem-te, à tua casa, os seus cheiros, mas esqueceram algumas regras.
Com as férias lá no teu paraíso, também tu estás desabituada deles.
Todos os gatos de noite fazem caçadas, sobem paredes, saltam. Eu já me habituei com o meu e durmo que nem uma justa.

Talvez tenhas de lhes "lembrar" o que não podem subir, esgadanhar. Há quem os treine com uma esguichadela de água no focinho na altura certa, (técnica de condicionamento) ou pôr daquele papel que cola dos 2 lados nos sítios que consideras proibidos. A pouco e pouco vão aprender.

Também as crianças que precisam de afecto, precisam de organização, conhecer os limites, ouvir dizer um não. E de coerência. Só que com elas, o aprender deve ser na base da relação, do prazer de se sentir amado e de poder agradar também ao outro.

Quanto à valeriana que falaste, ah, ah, olha, toma-a tu...

Não te esqueças, de pequenino se torce o pepino...e o destino muitas vezes.
Um beijo e bom trabalho!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

domingo, 22 de agosto de 2010

Poema - Adília Lopes

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OUT OF THE PAST
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A minha vida
foi um mau sonho
mas agora é minha
eu sou eu

sábado, 21 de agosto de 2010

Aconteceu...que é feito da relação médico-doente numa consulta on line?

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A arte médica está muito diferente do que era quando eu aprendi. Para além da relação que se estabelecia com os doentes, eram as queixas (sintomas) e a observação directa do doente que muitas vezes dava a "chave" da doença.
Aprendi a olhar a pele, a palpar, a percutir para obter sons, a cheirar que o hálito dava algumas indicações, etc.
Nas grávidas usava-se uma espécie de funil sem bico, achatado e que se apoiava na barriga da paciente, e, onde a partir das 18-20semanas se conseguia ouvir o leve bater de coração do bebé.
Tínhamos análises clínicas, radiografias, EEG, ECG, e alguns outros exames. Mas eram poucos e não estavam disponíveis em todos os hospitais do país, pelo que só se pediam mesmo se necessários.
Felizmente a técnica foi evoluindo, e aparecendo outros exames, TACs, ECOs, Ressonâncias magnéticas, análises específicas.

E o que aconteceu? Com frequência, os exames tomaram o lugar da observação directa. Perante os sintomas pedem-se os exames, alguns caríssimos.
Muitas vezes inúteis mas algumas vezes úteis. É hoje possível, sem dúvida, descobrir certos tipos de doenças e agir com maior rapidez. Estava a pensar nos tumores, por exemplo.

Mas esta conversa veio-me à cabeça porque li que abriu ou vai abrir um site português para consultas on line, dizem os promotores que serve para se obter uma 2ª opinião.
Enviam-se os exames scanados, os sintomas e obtém-se uma resposta. Não fala em vídeo conferência, em que as pessoas se podiam ver e ser vistas. Fala-se em páginas electrónicas.

E isto é a anulação de uma parte fundamental da consulta, o estabelecimento de uma relação privilegiada entre um doente e o seu médico.
Também lá está a especialidade de pedopsiquiatria, em que a relação da criança com a família é de primordial importância para compreender e intervir.

Há qualquer coisa que não me parece bem!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Poema - Maria do Rosário Pedreira

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São horas de voltar. Tu já não vens, e a espera
gastou a luz de mais um dia. Agora, quem passar
trará um corpo incerto dentro do nevoeiro,
mas terá outro nome e outro perfume. Eu volto

à casa onde contigo se demorou o verão e arrumo
os livros, escondo as cartas, viro os retratos
para a mesa. Sei que o tempo se magoou de nós,
sei que não voltas, e ouço dizer que as aves
partem sempre assim, subitamente. Outras virão

em março, apago as luzes do quarto, nunca as mesmas.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Aconteceu...que atrás de uma ilegalidade se descobrem outras neste nosso país!

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A situação de Portugal quanto ao número de médicos e a sua distribuição pelo país é inquietante. Depois de um boum de recém formados nos anos 70, seguiu-se uma restrição de formandos.
Actualmente, os originários desse quase excesso (não era, não!), estão em condições de deixarem de fazer urgências, de se reformarem ou escolherem quem lhes dê melhores condições de trabalho ou de remuneração.

Há falta de médicos em várias zonas do país.
No Algarve, como noutras zonas, há vários concursos para especialistas sem concorrentes.
A clínica clandestina de Lagos que existia sem existência e que a autoridade reguladora da saúde "desconhecia", faz parte dos recursos supletivos. É indecente? Claro que sim, e é necessário que seja reposta a legalidade e a garantia de qualidade.
E a este propósito, li que quem era o ajudante do oftalmologista lá dessa clínica era um psicólogo. Ajudava às operações e nos dias seguintes era ele quem fazia os tratamentos!

E isto será o quê? A poli funcionalidade tão em voga em contratos de trabalho? Ou neste caso um crime? Um falso médico é julgado e um falso enfermeiro? Sim, que o curso de psicologia não dá formação para estas funções!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Poema - Fernando Pinto do Amaral

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AGENDA
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Chegas de novo a casa. Reconheces
no fogo mais antigo
dos dias tão mortais as cicatrizes
voláteis do passado
essa caligrafia pouco a pouco
ilegível. No tempo que te cabe
folheias essas páginas percorres
a tua nova agenda
marcas ainda encontros assinalas
os meses as semanas tão vorazes
os dias que te faltam nesse livro finito
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Marcas de novo os dias mas ignoras
as leis dessa contagem regressiva
Hoje sabes apenas que nenhuma
agenda te dirá qual a exacta
data do decisivo derradeiro
encontro. Desconheces
que páginas futuras deixarás
em branco

domingo, 15 de agosto de 2010

Aconteceu...que a maré se atrasa todos os dias

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Foi com um enorme entusiasmo que ele gozou as férias de verão no Algarve.
Ainda não sabe nadar mas desenvolveu muito as suas aptidões na praia e na piscina. Mergulhos, carreirinhas, covas na areia para ver aparecer a água, túneis, colecção de conchas, pedrinhas, e ondas, que o acompanham mesmo em casa com o som e movimentos de mãos. Uma imensidade de actividades qual delas mais interessante e divertida.

Gosta muito mais da maré vazia, em que a praia fica maior e as ondinhas estão mais dimensionadas para ele, pequeno de 5 anos.
E como tem curiosidade de perceber as coisas, tentava inteirar-se dos porquês. Porque o mar cresce e diminui? hoje estará como a maré? a que horas é a preia-mar? sempre a pensar no prazer que depois iria ter quando lá chegasse.
Foram-lhe explicadas algumas coisas, que foi aprendendo sobre a terra e a lua, que todos os dias a maré não é sempre à mesma hora, que se ontem a maré baixa era às tantas horas, hoje iria ser, cerca de 1 hora mais tarde.
E ele lá estava sempre atento.

Ontem a caminho de uma praia diferente, e com viagem de carro maior, perguntou, : Papá, achas que hoje a maré também vai chegar atrasada?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Aconteceu...gato preto, monstros e sexta-feira 13

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De forma perfeitamente involuntária, ontem pus um poema em que entra um gato preto e hoje outro com monstros.
Já repararam que hoje é sexta-feira 13?

Poema - José Carlos Barros

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OS MONSTROS
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Nos pesadelos
os monstros às vezes temem que os olhemos de frente
que possamos apagar-lhes a sombra
ou acordá-los a meio da tarde
abrindo as portadas dos seus refúgios
deixando a luz avassaladora a cobrir-lhes o corpo
a queimar-lhes as pupilas remanescentes
como se fôssemos nós
os monstros
deles.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Poema - Eugénio de Andrade

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ACERCA DE GATOS
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Contigo chegam os gatos: à frente
o mais antigo, eu tinha
dez anos ou nem isso,
um pequeno tigre que nunca se habituou
às areias do caixote, mas foi quem
primeiro me tomou o coração de assalto.
Veio depois, já em Coimbra, uma gata
que não parava em casa: fornicava
e paria no pinhal, não lhe tive
afeição que durasse, nem ela merecia,
de tão puta. Só muitos anos
depois entrou em casa, para ser
senhor dela, o pequeno persa
azul. A beleza vira-nos a alma
do avesso e vai-se embora.
Por isso, quem me lambe a ferida
aberta que me deixou a sua morte
é uma gatita rafeira e negra
com três ou quatro borradelas de cal
na barriga. É ao sol dos seus olhos
que talvez aqueça as mãos, e partilhe
a leitura do Público ao domingo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Aconteceu...Lisboa em Agosto

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Uma amiga minha, dizia-me um destes dias, que não se nota nenhuma diferença de movimento este mês em Lisboa. Achei estranho, pensei, será que com a crise o pessoal ficou todo cá? Ou saíram alguns mas os de fora vieram à capital e mantém-se a população e o trânsito?
Cheguei de férias e constatei logo que não era bem assim. Há gente, mas nas ruas por onde me movo há muito menos que o habitual e nos parqueamentos há muitos lugares vagos
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Mas ela tem razão numa coisa, se compararmos com há vinte anos atrás, a sensação de cidade deserta que tinhamos desapareceu.
Eu escolhia sempre trabalhar em Agosto, era um sossego a cidade livre.

Ainda não tinham instituído os horários escolares europeus, e por isso os rapazes ainda tinham o mês de Setembro livre. Era esse tempo que aproveitávamos para sair até porque nos livrávamos de uma feira que se faz à porta de nossa casa durante todo o mês.

Mas ao contrário de antigamente, a cidade de hoje fervilha de acontecimentos.
Estive a pesquisar na internet e vi que seria quase impossível seguir todos os eventos, concertos, teatros de rua, exposições. Nisto, estamos à nossa escala, a caminho de uma capital europeia.

No domingo andei à procura de restaurante aberto aqui na minha zona. A maior parte fecha nesta altura do ano!

Mas continua a ser muito agradável este mês em Lisboa...apesar das altas temperaturas que têm estado.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Poema - A. M. Pires Cabral

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DEGRADAÇÃO

Toda a gente foi domingo
alguma vez.
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Depois nas fezes aparecem
sinais de sangue, ou na urina.
Declaram-se abcessos,
coágulos, tumores.
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Passam então a ser uma sombria,
pesada, intransitiva
segunda-feira

domingo, 8 de agosto de 2010

Aconteceu...que as férias de verão acabaram

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1 - Ontem ao jantar perguntei se alguém sabia se os consultórios e as clínicas a que recorrem, estão licenciadas.
Claro que ninguém tinha pensado nisso, e eu também não. Mas existem entre 200 e 300 clínicas não legalizadas segundo a ERS (Entidade Regularizadora da Saúde). Depois é um ai Jesus, que incrível! quando acontece algum problema grave com um doente, como recentemente aqui no Algarve. Mas afinal, quem, senão as autoridades, para pensar e actuar rápido quando sabe da existência de alguma? A bem da nossa segurança! Parece que não, porque nós é que devemos ver se está afixado o certificado na parede, nós é que devemos perguntar se há livro de reclamações, nós é que podemos ir à net ver no portal da Entidade como está a situação da clínica onde pensamos ir, segundo afirmou o presidente da ERS!

2 - Alguns bocados dispersos de conversas de vizinhos da praia:
Entre adolescentes crescidos: "Ele - então tu és a favor do casamento entre gays?" Ela - " Claro que sim, qual o problema?" Ele " E a adopção por gays?" Ela - "Claro que sim!" Ele - "E coitado do puto, chega ao 1º ano e perguntam-lhe o nome do pai José e o da mãe António, já viste o que vai ser?" Ela -" Não achas que ser maltratado por hetero pode ser terrível?" E diz ele que deve viver noutro planeta "Ora, isso é raro!" e eu sigo que já estou de saída.

Entre jovens adultas - "Ela - Ontem foi giro! Eles não tinham dinheiro, paguei a todos a entrada, éramos seis, foram só 60€ e assim bebi a bebida de todos" Outra - "E depois?" Ela - "Sei lá, não me lembro de nada!", e eu sigo que vou dar um mergulho.

3 - É assim, as férias acabaram 6ª feira, este fim de semana é bónus.
Cá estou, de novo, em Lisboa.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Poema - Ana Hatherly

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OS GUMES DA PALAVRA
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A fala
dá a conhecer
o ardor da palavra
o frio fio de seus gumes

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A palavra percorre o ar
entra em nosso peito docemente
ou então agudamente
ferindo
agredindo
destruindo tudo

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A palavra é
uma vertigem de espuma
mas quando quer
penetra a fractura íntima do sentir
desvenda o imenso mal
o puro escândalo de existir

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Aconteceu...rixa na praia, com agressão, por causa de uma bola. E já agora, pode-se ou não jogar à bola "devagarinho"?

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Ontem na praia de Vilamoura, na chamada Rocha Baixinha, uma bola de futebol veio parar perto do meu pé. Segurei-a e um homem jovem que jogava com um grupo de amigos veio buscá-la pedindo desculpa. Perguntei-lhe se podiam jogar ali, na parte concessionada, e ele disse que tinham ido perguntar ao banheiro que lhe teria dito que sim, mas "devagarinho". Ok, devagarinho disse eu, sorri e ele lá foi continuar a jogatana; houve várias bolas perdidas que, por acaso não acertaram em ninguém.

Jogar à bola remete-me sempre para a infância e adolescência dos meus filhos na praia do Sulférias - Manta Rôta, com um enorme areal e que tinha um banheiro nadador salva-vidas que era rigidíssimo e os chateava imenso, a eles e ao grupo de amigos que jogavam, mesmo que houvesse pouca gente e um enorme areal largo. Era o Xibalulo, nome que por eles foi baptizado, que "odiavam" mas respeitavam quando interpelados por ele.

Ontem li no jornal, que uns jovens jogavam à bola na praia da Quarteira, incomodando quase de propósito as pessoas. O concessionário foi-lhes chamar a atenção e acabou no chão pontapeado. Meteu muita gente, GNR, Polícia Marítima. O pai de um deles terá intervindo exigindo a devolução da bola, talvez apoiando também a sova que o homem, de mais de 60 anos estava a levar. A Polícia Marítima retirou para lugar sossegado os intervenientes e tomou nota da ocorrência e do nome deles.
No dia a seguir, o pai do jovem de 18 anos, principal causador, foi apresentar queixa no posto da polícia.

Associei esta situação com certos pais que vão às escolas bater aos professores que admoestaram os filhos, desautorizando o professor, situação mais frequente em crianças e jovens que apresentam alterações de comportamento. Mesmo que o filho tenha feito algo que quebra as regras instituídas, o desrespeito pela autoridade é assim transmitido aos filhos. E diga-se que estes miúdos não respeitam a autoridade parental, têm é medo deles.

E não é aos 18 anos, não se atinge a maioridade?

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Poema - Filipa Leal

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SE AO MENOS A MORTE
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Ela morria tantas vezes
em tiroteios à porta de casa
que já não sabia morrer para sempre
assim
de uma só vez.
Se ao menos marcasse um dia
para a morte, uma hora certa
como no dentista
que apesar de tudo nos faz esperar
onde apesar de tudo
não sabemos quando será a nossa vez.
Se ao menos a morte tivesse revistas
e gente na sala de espera
não estaríamos tão sós
tão vivos nessa ideia final
nesse desconforto.
Poríamos o nome na lista
quando estivéssemos prontos
sabendo que seria facil desmarcar
marcar para outro dia
ou simplesmente
não comparecer.
Depois, ficaríamos com a dor,
com o terror
de passar sequer naquela rua
como ela à porta de casa.
Ela que morria tantas vezes
porque morria de medo de morrer.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Aconteceu...2666 de R. Bolano é um minúsculo livro de bolso quando comparado com o acordão do caso Casa Pia

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Peço desculpa se alguém já leu o post de hoje. De facto comecei a escrevê-lo ontem, e não estava pronto. Por nabice minha, em vez de o deixar gravado em rascunho deixei-o publicado. Como não era assim que o queria, retirei-o e vou postar a versão final.

Só este mês a leitura da sentença do processo Casa Pia foi adiada por duas vezes. Foi alegada falta de tempo para escrever o acórdão.
" A elaboração do acórdão "pressupõe a avaliação, a valoração e a decisão quanto à prova. E a prova está reunida em 66 mil páginas e 570 apensos, alguns dos quais com mais de dez volumes. O despacho de pronúncia tem cerca de 200 páginas e as contestações cerca de 1300" afirmou o Conselho Superior da Magistratura.

Na piscina, e debaixo de um pinheiro, uma senhora debatia-se com o 2666 do Roberto Bolãno, com que há meses me aventurei, faltando-me só um restinho, que por cansaço ficará para outra altura.
O 2666, constituído por 5 grandes capítulos, foi editado num só livro, por desejo da família, após morte do escritor. Na verdade são 5 livros que podiam ter sido editados em separado, embora haja elos de ligação entre eles. Centenas de crimes de morte sobre mulheres. Nunca se acusa ninguém de culpado.

O 2666, será um pequeno livro de bolso ao pé do citado acórdão.
Não sei de quem foi o interesse em que o processo Casa Pia fosse um único e não fossem realizados vários processos. Acredito que teria sido mais célere e a leitura das sentenças mais rápida.

E qual será o fim? Como acabará a história do processo da Casa Pia?