terça-feira, 30 de junho de 2020



109º dia de recomeço do blog

Hoje é domingo
Pede cachimbo
Galo montês
Pica na rês
A rés é de barro
Pica no adro
o adro é fino
Pica no sino
O sino é de ouro
Pica no touro
O touro é bravo
Mata o fidalgo
E chora o menino 
que é pequenino.

Não, não é domingo. Hoje é 3a feira.
Foi um serão delicioso, eu e o meu primo Paulo, de quem sou muito amiga. 
Estivemos a recordar situações familiares, algumas hilariantes e acabámos a relembrar lenga lengas que nos contavam. Ramo da família de Trás-os-Montes.


Esta é com os nós dos dedos, ritmicamente a bater na mesa, toc, toc-toc, toc, toc--toc

Nós queremos
Nozes e figos e marmelada
Queijo londrino 
E vitela assada.

Televisão para quê, hoje nem olhamos.

segunda-feira, 29 de junho de 2020



108º dia de recomeço do blog


Gosto muito de guiar, viagens por boas estradas e em que ver a paisagem não é essencial. Nada melhor do que uma autoestrada sem muito movimento.
Neste momento de covid-19 ando sozinha, desde que comecei a mudar de casa volta não volta para desenjoar do sítio. 

Vou sempre de rádio ligado, sobretudo na antena 2, mudando para a 1 ou a TSF na hora dos noticiários.

Para além de música, a 2 tem programas de palavras que são muito interessantes.

Hoje, nos quase 400 kms que fiz, ouvi pela 1ª vez um programa do Martim Sousa Tavares.

Lira de Orfeu, eram 17 horas quando o ouvi. E começou de uma forma muito curiosa. Ele explicou que no período de pandemia em que não podiam ir para o estúdio gravar, ele descobriu que o carro, num sítio isolado era o ambiente mais insonorizado que arranjava. Então todos os programas destes meses têm sido feitos lá. E fez aquele que ouvi hoje, permitindo-se não regravar quando algum som não desejado acontecia. E aconteceu, um cão a ladrar.

O programa, cultural, de música, histórias relacionadas, tem uma característica interessante, aparentemente realizado por associação livre. As coisas aparecem e depois conseguimos perceber o fio condutor. Da importância da rádio desde o seu aparecimento, Pablo Casales, o seu esconderijo em Espanha no tempo da 2ª guerra, o 1º concerto que deu em Londres, e ouvimos parte do concerto, ou uma rádio norueguesa quase no pólo norte que ninguém sabe de quem é mas que tocou uma música do Mário Laginha e pôs uns milhares de pessoas a sintonizar, ou a música E depois do Adeus tocada pelo Laginha e o Bernardo Sassetti que faleceu fez agora anos, etc. 

A rádio e os programas que ouvi fizeram-me uma excelente companhia na viagem. Obrigada à rádio que em casa tantas vezes é escondida pela televisão.

domingo, 28 de junho de 2020



107º dia de recomeço do blog






Estas são Mantas de Minde. São muito bonitas, de lã e cardadas. Podem ter vários tamanhos e há quem as ponha como colcha, na parede e até no chão. 
Quando eu era pequena e ia passar uns dias de férias a esta terra, que carinhosamente chamo aldeia, o barulho dos teares ouvia-se por todo o lado. Muitos eram manuais, há quem tivesse um em casa, ou vários em fábricas.
O barulho das lançadeiras a irem de um lado ao outro do tear com a lã era uma companhia. E riqueza, Minde tinha muita gente de fora que ali morava por causa do trabalho. Depois... hoje é uma terra mais vazia.

Agora fazem-se poucas mas ainda há quem as faça.  O CAORG, Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro tem aberta uma oficina onde, além de as ver fazer, podem-se comprar.

E resolveu inscrever-las num concurso "Maravilhas da Cultura Popular". Já passaram muitos patamares e neste momento é um dos 10 finalistas, as mantas a representar o Distrito de Santarém. Um concorrente por distrito.

Querem votar? 760 207 754. Só telefones portugueses, faz parte do regulamento. Preço da chamada 0,60€ mais o IVA. É até dia de 15 de Julho.

sábado, 27 de junho de 2020



106º dia de recomeço do blog



Um engano num cruzamento de estradas pode acontecer. Mas a situação que este veio a criar foi estranha.

Numa zona de plantações de laranjas é costume haver produtores a venderem-nas em bancas à porta de casa.Costumamos repetir as mesmas quando saímos contentes com as compras.

Descobri uma vez que em duas estradas diferentes havia uma banca do mesmo homem inesquecível pelas suas características físicas, enorme em altura e largura, patologicamente disforme.

O engano levou-me àquela que vou menos vezes.
Paro o carro e um homem que desconheço aproxima-se. Cumprimento e pergunto-lhe se não é ali que costuma estar um homem forte, ele depois de um silêncio diz-me que essa pessoa até é meu filho mas não tem nada a ver comigo. Nesta casa não existe. Aliás para mim é como se não existisse.

Fico atrapalhada. Uma zanga enorme devia estar ali. Mas incomodada não perguntei mais nada.
Nem comprei nada que não gostei dos produtos...ou foi pela forma despudorada como falou do filho, a mim uma desconhecida?
E quando me dirijo para o carro ele ainda disse, ai vai comprar lá, olhe que a banca a seguir é doutro filho, esse todo meu.

Procurei a outra estrada e a banca que eu queria. Laranjas com muito bom aspecto, comprei uns sacos.

Quase 300 kms pela frente deu para pensar o acontecido. 
Também se terá zangado com a mulher?


sexta-feira, 26 de junho de 2020



105º dia de recomeço do blog


#Dica sobre como poupar dinheiro#

Notícia de telejornal hoje - Aumentaram os depósitos  bancários durante a pandemia. 

Em Março uma notícia chamava a atenção para a possibilidade do dinheiro ser um transmissor do vírus Covid-19. 

Durante o confinamento muitos ficaram em casa por terem sido despedidos, por terem ficado em layout com ordenados reduzidos e portanto sem dinheiro. Outros ficaram em casa com os ordenados mantidos mas sem ter, para além dos supermercados e algum take away, onde gastar o dinheiro. Claro que há as compras pela internet mas nem todos os fizeram, a maior razão por falta de utilidade ou utilização.

Até a droga teve dificuldade de chegar a Portugal, visto os aviões e comboios internacionais terem sido suspensos!

E se houve pessoas que para não serem contaminados não mexeram nas notas?

quinta-feira, 25 de junho de 2020



104º dia de recomeço do blog



Da série #deixei isto mesmo para o fim# 

Estamos novamente com o covid-19 em grande, em Portugal sobretudo na zona de Lisboa e concelhos limítrofes. Mas voltou a subir em todo o Portugal e muitos países da Europa.

Está o país dividido em três fatias. Cada uma tem as suas regras.



Todos os dias há novos locais com um surto. Não, não é por se fazerem muitos testes, é porque o vírus anda por aí. Depois com os testes contabiliza-se.

Mas acho estas medidas uma hipocrisia!

É a classe que tem piores condições de trabalho e de habitação que mais se infecta. São problemas que já existiam antes do vírus. 
Eu não sabia que Portugal continuava com tantos problemas sociais!

"Mantenham as distâncias" diz quem manda.




Quem tem de usar transportes vai que nem sardinha em lata. Mostraram hoje na televisão uma carruagem à cunha!

O governo decidiu que a partir do dia 1 de Julho, daqui a quase uma semana aumentam o número de transportes, camionetes e comboios. 


Esta semana continuem a infectar-se! 



quarta-feira, 24 de junho de 2020



103º dia de recomeço do blog


Falei há dias do VW da minha Mãe.
E uma história me veio à cabeça.

Nascida em 1923 a minha Mãe foi uma pioneira.
1ª mulher médica pedopsiquiatra portuguesa, e pelo que vou contar a 1ª mulher a guiar um carro em Minde. Anos 50.

Eu costumava em pequena ir passar uns tempos de férias a casa da minha Avó Elvira. Ela morava em Lisboa mas no tempo da ameixas, dos figos e do azeite passava lá umas temporadas. 
Talvez eu fosse em Setembro, época dos figos, porque quando as aulas acabavam eu fazia praia em São Pedro do Estoril, e em Agosto fazia com os meus pais.


Este acontecimento em que a minha Mãe deve ter sido pioneira, passou-se, teria eu uns 5 ou 6 anos, já a minha Mãe tinha o carro.
E de vez em quando ia-me visitar. Hoje é a 1h de Lisboa porque tem autoestrada mas na altura era muito mais demorado.

Eu aguardava a minha Mãe e começo a ouvir muitas vozes de miúdos. Fui com a minha Avó à porta e o que era? A minha Mãe ao volante e muitas crianças atrás dela a gritarem contentes "Olha uma chófera, olha uma chófera"!

Terá sido a 1ª mulher que ali apareceu a guiar um carro! 

terça-feira, 23 de junho de 2020



102º dia de recomeço do blog

23 de Junho, véspera de São João.

Em muitas terras portuguesas se festeja o São João, talvez nenhuma tanto como o Porto. 
Este ano, tal como o Santo António de Lisboa, por causa do Covid-19 não haverá festejos de rua.


 Foto que tirei em Minde este mês.

Este é um alho porroNunca vivi o São João no Porto, mas vi muitas filmagens e li muitas descrições. Multidões na rua, música e alegria, que tantas vezes escondem tristezas e misérias. Com um alho porro na mão metiam-se com conhecidos e desconhecidos, passando-o pela cara como uma festinha ou dando com o alho na cabeça. Até às tantas da madrugada.

Mais tarde, e não sei o porquê, o alho porro foi substituído por uns martelinhos de plástico, que fazem um barulho que acho irritante.

Sou e sempre vivi em Lisboa embora a família do meu Pai seja do Porto. Porque não fui nunca, tendo passado tantos São João em casa dos meus avós?
O que me diziam é que era uma festa popular, do povo e não para meninas como eu. Subentendido que eu era doutra classe? Superior de certeza...

Hoje sexagenária, como leio o impedimento?
O meu avô morreu quando eu tinha 14 anos e nunca mais fui lá para casa passar dias. Portanto eu era muito novinha. Não sei com quem poderia ter ido, certamente não com eles e não me lembro de tio ou primos me terem convidado para ir. Essa deve ter sido a razão principal, não poder ir sozinha. Mas foi o preconceito que me ficou muito tempo na cabeça.

segunda-feira, 22 de junho de 2020



101º dia de recomeço do blog


Nada está resolvido mas alguma coisa há-de mudar, nem que seja o calendário que criei.

Morreu um artista português de 49 anos. Parece que foi suicídio. O FB e outros órgãos de comunicação escrevem, escrevem.  
Deixem-no em paz mais à família.

Não vejo normalmente telenovelas, onde trabalhou muito e pouco no teatro de onde o conhecia. Vi-o actuar umas duas vezes, em companhias de teatro diferentes. Era um bom actor.

Tenho lido tanta coisa no FB sobre depressão e suicídio. Não de médicos especialistas nem psicólogos. Esta morte desencadeou nas pessoas vontade de dizer o que julgam saber mas também o que dizem sentir. Tanta gente medicada há anos, que afirma que será até ao fim da vida.

Depressão é um nome muito geral e pode equivaler a casos muito diferentes na sua gravidade e etiologia.

Nem todos respeitam por não o compreenderem o sofrimento do outro e a psiquiatria e a pedopsiquiatria sempre foram os parentes pobres das especialidades médicas. Mesmo os médicos em geral não têm noção do sofrimento que as pessoas podem ter.

Estava eu de urgência há uns anos e a meio da noite apareceu uma adolescente jovem com um braço ligado. Em mutismo inicial, chorou depois  antes de conseguir falar. Tinha-se automutilado no braço depois de uma situação de conflito familiar. 

Lá estivemos a conversar, eu mais a ouvir, até que lhe pedi que me mostrasse os cortes. Recusou, continuei a ouvi-la, deixando-a deitar a sua zanga para fora e ajudando-a a pensar. Sem estar à espera, o meu colega da cirurgia pediátrica aparece à porta e digo-lhe que não sei ainda se precisarei dele mas que ainda não tinha visto os tais golpes. Ela estava bem e eu desconfiava que não seriam graves.

Mas ele aproximou-se, agarrou-lhe o braço com força e disse que era o que faltava, que não era da pedo, não tinha essas paciências, era para ver então via-se e arrancou-lhe a ligadura. Os golpes não eram muito profundos e umas gotas de bétadine resolveram a coisa. Mas não o sofrimento.

As automutilações acontecem em pessoas cujo sofrimento psíquico é tal que a dor física é a tentativa de "distrair" do sofrimento mental. Momentaneamente pode aliviar, como eles dizem mas depois recomeçarão se não forem ajudadas por técnicos experientes.


O actor em questão,  sozinho numa praia, automutilou-se fatalmente. Com que sofrimento psíquico andaria!!!



domingo, 21 de junho de 2020



100º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



100 dias, são muitos dias!
Amanhã começará outra série. Ainda não sei que nome lhe dar.

100 e sem são palavras homófonas, e tão diferentes no sentido.
Por acaso, aqui para a minha vida desde o início desta quarentena são quase sinónimos. Não fosse o telemóvel era mesmo sozinha.

Li algures que o viver só, se a princípio custa depois torna-se um vício. Tal e qual! Quem me aturaria com os meus horários? Comida quando apetece, sair de casa para andar na areia da praia quando acordo, normalmente entre as 8 e as 9h, ver tudo o que me apetece na televisão, quase só RTP2, e tantas outras coisas. Será vício ou egoísmo?


Estas páginas, as fotos das minhas refeições, dos sítios por onde me confino, tudo isto são marcas. As marcas do tempo servem para nos organizar. E tenho conseguido!

sábado, 20 de junho de 2020



99º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Solstício de verão. Hoje. Por isso ou não está um dia maravilhoso! 
Como é sábado, não fui à praia. 




Ler na açoteia, com o CD de Bill Evans a tocar, ficar em casa custa alguma coisa?

O Fim da Aventura, de Graham Greene, um livro que nos prende com prazer. A tradução e o prefácio são de Jorge de Sena. Boa literatura (esteve nomeado para Nobel), aventura, policial, perseguições, com profundo interesse sobre as pessoas, as relações, as crenças.
Vou continuar!

sexta-feira, 19 de junho de 2020



98º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Morreu ontem o primeiro médico infectado com covid-19 no exercício da sua profissão. 

Trabalhava na linha da frente. Esteve 40 dias internado e não tinha factores de risco. 
Sabemos a dedicação dos médicos, ainda mais neste período de pandemia. Não suficientemente reconhecido. Profissão de risco! O estado paga pouco e não lhes faz seguro de vida. 
Era da minha idade, não sei se do mesmo curso. 


Na interior da loja use máscara.

Num pequeno supermercado de onde gasto e me conhecem bem, três funcionárias estavam a falar entre elas. 
Mal me viram vieram logo contar que uma senhora, com muitos maus modos, recusou pôr a máscara quando a funcionária a foi interpelar como é das regras.
O marido veio em "socorro" da mulher, também agressivo verbalmente para com a funcionária, afirmando que a mulher não tinha nada que pôr, ele era médico e sabia do que falava.

Eu ainda tenho a ilusão que os médicos são gente decente. Elas a acabar de contar e eu a afirmar que ele não podia ser médico! Seria?


quinta-feira, 18 de junho de 2020



97º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Vi hoje uma foto de Lisboa dos anos 60 do século passado. Quem publicou escreveu década de 60 mas observando os carros que lá se viam terá de ser finais dos anos 60.

Tinha eu uns 4 anos quando a minha Mãe tirou a carta. Acompanhei-a muitas vezes nas aulas. Eu atrás e ela ao volante com o instrutor a seu lado mas também com um volante para emendar o que fosse preciso. Julgo hoje a pensar nisto que talvez também tivesse pedais, pelo menos travão. 
Estudei o código com ela e fiquei a sabe-lo todo!

Depois a minha Mãe comprou um carro, cinzento prata e anos mais tarde outro verde escuro.




O carro era um VW carocha, não sei se na altura se chamava assim.

Imagem tirada da net.

O Voxinho, nome próprio como era tratado em casa, tinha os meus apelidos. Era pois uma "espécie" de irmão.
Tal como uma boneca minha, também com nome próprio e os meus apelidos. Uma "espécie" de irmã. Ah, essa "tinha nascido" a 18 de Junho, dia em que me foi dada. Faz hoje 60 anos!
As coisas que os filhos únicos arranjam para terem mais família e se sentirem acompanhados!

Voltando ao princípio deste escrito, na foto que alguém publicou tinha 5 VW carocha. Pelo vidro traseiro dos carros ali visíveis, grande e rectangular, pude com a lembrança do "meu" precisar melhor a data da imagem.



quarta-feira, 17 de junho de 2020



96º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada




Igor Stravinsky nasceu a 17 de Junho 1882. Comemora-se o seu nascimento hoje. Onde não sei. Eu vou fazê-lo aqui.

A fazer contas fiquei agora admirada! Ainda o Festival Gulbenkian de Música se realizava no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, quando Stravinsky veio a Lisboa e como maestro dirigiu parte de um concerto onde foi tocada a Sagração da Primavera. Fui com os meus Pais.

O que me lembro melhor é que ele era pequenino,  idoso e com ar frágil nos seus 82 anos. Quando acabou de reger foram-lhe levar ao palco uma toalha branca para limpar o suor da cara e pescoço. Estava muito cansado.

E o que me causou admiração? É que eu também pensava que era muito pequena quando o ouvi e vi! Hoje olho para uma miúda de 13 anos com outros olhos, uma adolescente e não uma criança como me estava a ver.

A música de Stravinsky é muito diferente das músicas clássicas até então. Numa 1ª audição soa quase estranha. 

Walt Disney realizou um filme de animação feito de quadros e usou música clássica. Usou parte da Sagração da Primavera para ilustrar o nascimento da terra, de células, animais pré históricos. Maravilhosa junção daquelas imagens com a música e que muitas crianças viram e gostaram.




terça-feira, 16 de junho de 2020



95º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada




Mãe!
Que verdade linda
O nascer encerra:
Eu nasci de ti,
Como a flor da terra
Matilde Rosa Araújo


Há 41 anos nasceu o meu filho mais novo. 
Como uma pequena erva 
Hoje é uma árvore. 

segunda-feira, 15 de junho de 2020



94º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Desconfinei para a cidade que agora tem a maior quantidade de sujeitos positivos.

Os boletins informativos da Direcção Geral de Saúde (DGS), todos os dias uma mesa muito comprida para que os técnicos e políticos se sentassem à distância de segurança. Atrás o tradutor de língua gestual portuguesa. Com voz monocórdica a Ministra ou o Secretário de Estado da Saúde dizia os números de novos infectados, internados, mortos (sem esquecer os pêsames) etc. No fim jornalistas faziam perguntas que a médica directora da DGS respondia.

Que pensar, numa altura em que novamente os números estão a subir, o político informou no fim que as informações deixariam de ser diárias e passariam a ser três vezes por semana.

Estou desconfiada, insegura e zangada com esta forma de lidar com as pessoas. Como raio estamos nós?

domingo, 14 de junho de 2020



93º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Aqui na "aldeia" a minha casa é rente ao chão. A rua onde antigamente não passava carro nenhum tem hoje muito pouco movimento. E quando passa um, temos de nos encostar à parede. As crianças brincam na rua como antigamente.

Ouvi gritaria, é costume nestas terras falar-se alto e as mães gritarem pelos filhos. Ouvi, oh Fábio, oh Diego anda cá, em brasileiro. 

Pouco depois uma algazarra e fui ouvir, atrás das tabuinhas que me deixam ver para fora mas o inverso não se consegue...

Os gatos...matou...e uma voz frágil de mulher a defender-se, eles a acusá-la. Percebi ser uma vizinha idosa, abri a porta e a algazarra parou. A senhora estava desorganizada, nem sabia onde era  a casa dela, duas à frente da minha, que não via nada. À janela de um 1º andar a brasileira assistia.

Conheço a vizinha desde sempre. Pessoa complicada, hoje trôpega e quase cega. Salvei-a daquilo e mandei-a entrar. Ups, esqueci-me do Covid 19... Contou-me uma história confusa de uns gatinhos recém nascidos que estavam no quintal dela e que ela pôs num canto para a mãe os ir buscar.

Rua calma, encaminhei-a para casa. Aparecem então uns miúdos a querer contar a história. "Ela se os quisesse salvar não os tinha atirado assim", e com um gesto um deles explica que os atirou, dizia um com dificuldades articulatórias e dentes mal implantados. A miúda que o acompanhava explicou-me que a Cátia, namorada do Manel, desconheço qualquer um, tinha-os levado e ia tratar deles. O Fábio insistia que se ela os quisesse ter ajudado tinha-lhes posto ração ao pé. 
Bom, lá conversamos um pouco, contentes pela história ter um "bom" fim.

Quanto aos gatinhos...

sábado, 13 de junho de 2020



92º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Carta ao Pai de Franz Kafka, o livro que estou mesmo a acabar de ler, trata da relação de um filho com o seu pai. Péssima!
O livro foi publicado depois da morte de Kafka,  carta de 100 páginas que escreveu mas nunca enviou.

O escrever é uma forma de expor de forma organizada pensamentos, sentimentos, situações vividas ou inventadas. Perante a folha em branco, antes de qualquer palavra, quem escreve deverá ter já uma ideia? 

Hoje eu não tinha nenhuma. Lamento.



sexta-feira, 12 de junho de 2020




91º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada




Hoje é véspera de Sto. António.
Dia de arraial popular.
Música e sardinhas assadas na rua.

Este ano não há arraiais, nem grupos de mais de 10 pessoas. Regras de saúde pública.

Também não iria, outros prazeres me definiram, mais sossegados.
Amanhã compro um manjerico!




quinta-feira, 11 de junho de 2020



90º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Acordar com o tempo virado, pouca chuva, miúda, céu cinzento. Depois parou. O sol espreita envergonhado mas logo se vai embora. Há pouco as cadeiras no pátio ainda estavam molhadas. 

Hoje era dia do terreno que foi limpo mas onde deixaram as ramadas de pinheiro em montes. Considerei perigoso.
Queixei-me ao trabalhador e ele já me avisou que foi lá resolver a situação e que já está pronto.

Fui ver.

Com uma máquina terá desfeito folhas e outros restos que ficaram espalhados pelo terreno. Mas há uns montes de onde sai fumo. A arder lentamente.

Ainda bem que choveu e está previsto continuar a chover. 

quarta-feira, 10 de junho de 2020



89º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada

O jardim da casa é pequeno. O que lá plantámos há 40 anos foi mal dimensionado. O pinheiro, era um pinhão, e o cipreste coube no meu Honda 600. Agora ambos mais altos que a casa, quase se abraçam lá em cima. Perigosamente perto dos telhados.

Os muros estão cobertos de heras. Os passarinhos, numa casa não vividas vivem felizes, várias gerações e espécies pela forma de cantar.  
                                                                    Quando me aproximo são muitos os que voam, saindo das árvores ou das paredes forradas de folhas. Voltam quando me afasto.

Mal eles sabem que este paraíso está prestes a acabar. Só aguardam que os trabalhadores humanos venham deitar isto tudo abaixo. Questão de risco, assim como está é muito perigoso para nós.
Quanto a eles...  
                      

terça-feira, 9 de junho de 2020



88º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Saí de casa máquina de fotografar ao pescoço. 
Oiço alguém dizer, a Dra. vai tirar fotografias.

Como disse ontem, só no meu pátio interior fico anónima.

Com o calor de Maio os oregãos ficaram grossos mais cedo.
Apanhar oregãos é como na praia andar à conquilha, há sempre mais uma que não nos deixa vir embora.

segunda-feira, 8 de junho de 2020



87º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Estive quase todo a tarde a ler. É fascinante o livro a que me referi ontem, não tendo referido o humor delicioso que certas páginas contêm.

Li meio ao sol meio à sombra no pátio interior que esta casa tem. Só com um drone podia ser vista.

Vem isto a propósito de uma história que a minha Avó Elvira contava imitando o sotaque desta gente.

Parece que alguém cá da terra lia muito. E era visto com os livros para onde quer que fosse. E um comentário que correu, foi..."o home tanto lê que hádes tresler".
Delicioso!

domingo, 7 de junho de 2020




86º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Como não escrevo só pelos acontecimentos do dia, notícias, política mas também coisas passadas de que me vou lembrando, tenho por vezes receio de me repetir. 

E resolvi reler uma ou outra coisa escrita em 2010. Reparei que publicava poesia, não minha que não a escrevo. Mas de poetas, alguns muito conhecidos outros de quem não voltei a ler.

Sim, leio muito menos poesia que antigamente. 
Mas quando leio é em voz alta que continuo a ler.

O que me acontece agora, sem ser poesia, é ler em voz alta para não me desconcentrar. Tem dias e se calhar textos.

Ontem comecei a ler um livro do José Rodrigues Miguéis, Uma Aventura Inquietante, que comprei por 3€ numa livraria solidária de livros usados. Há muito tempo que não lia este autor. Inesquecível A Escola do Paraíso! Este é um policial e agarrou-me desde o início mesmo a ler para mim, como é mais habitual. Bem escrito, como era de esperar e com a história a deixar-nos sempre curiosos e como diz o título inquietos.

Não, isto nunca tinha escrito, posso ficar descansada.


sábado, 6 de junho de 2020



85º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Mudei de terra e de casa, novamente. Promovida a vila já há umas décadas, pelo seu então desenvolvimento industrial, continuo sempre a dizer a aldeia.

Os Pais da minha Avó nasceram cá, assim como a minha Avó Elvira. A casa que herdei fica na parte antiga e ela própria é antiga. 

Durante anos vim passar alguns fins de semana aqui.
À hora do café, no meu serviço, sempre falei da aldeia. Todos os meus colegas sabiam qual era e onde. Vários deles já cá tinham vindo.

E um dia soube que uma das técnicas era de cá e a mãe dela uma das professoras da escola. 

Quando soube confesso que fiquei atrapalhada. Então ela, ali a ouvir-me falar da "aldeia" e nunca se "denunciou" até ao dia em que me fez a emenda. Só podia ser algum complexo, pensei eu, de ser daqui e eu denegrir, com muita ternura, a terra dela.

Convidei-a então para vir a minha casa lanchar. Ambas tínhamos filhos entre os 12 e os 9 anos, que também vieram. A padaria a lenha é quase em frente, fomos buscar pão quente. Na lareira de chão, fumeiro como deveria dizer, assamos chouriço e febras de porco no chão numa grelha de pés colocada em cima das brasas nas brasas. 
Os rapazes dela adoraram, que maravilha de chouriço, ai as febras e ai o pão quente, enfim fizeram as honras da casa.

Uns tempos depois convidou-me para ir lanchar a casa da Mãe dela. Queijos franceses, sanduíches de  fiambre em pão de forma e bolo. 

O que me deu azo a que lhe dissesse assim como a pacificar as diferentes perspectivas que ambas tínhamos razão na classificação da terra, na minha casa era na aldeia e a dela fomos recebidos à vila.