segunda-feira, 22 de junho de 2020



101º dia de recomeço do blog


Nada está resolvido mas alguma coisa há-de mudar, nem que seja o calendário que criei.

Morreu um artista português de 49 anos. Parece que foi suicídio. O FB e outros órgãos de comunicação escrevem, escrevem.  
Deixem-no em paz mais à família.

Não vejo normalmente telenovelas, onde trabalhou muito e pouco no teatro de onde o conhecia. Vi-o actuar umas duas vezes, em companhias de teatro diferentes. Era um bom actor.

Tenho lido tanta coisa no FB sobre depressão e suicídio. Não de médicos especialistas nem psicólogos. Esta morte desencadeou nas pessoas vontade de dizer o que julgam saber mas também o que dizem sentir. Tanta gente medicada há anos, que afirma que será até ao fim da vida.

Depressão é um nome muito geral e pode equivaler a casos muito diferentes na sua gravidade e etiologia.

Nem todos respeitam por não o compreenderem o sofrimento do outro e a psiquiatria e a pedopsiquiatria sempre foram os parentes pobres das especialidades médicas. Mesmo os médicos em geral não têm noção do sofrimento que as pessoas podem ter.

Estava eu de urgência há uns anos e a meio da noite apareceu uma adolescente jovem com um braço ligado. Em mutismo inicial, chorou depois  antes de conseguir falar. Tinha-se automutilado no braço depois de uma situação de conflito familiar. 

Lá estivemos a conversar, eu mais a ouvir, até que lhe pedi que me mostrasse os cortes. Recusou, continuei a ouvi-la, deixando-a deitar a sua zanga para fora e ajudando-a a pensar. Sem estar à espera, o meu colega da cirurgia pediátrica aparece à porta e digo-lhe que não sei ainda se precisarei dele mas que ainda não tinha visto os tais golpes. Ela estava bem e eu desconfiava que não seriam graves.

Mas ele aproximou-se, agarrou-lhe o braço com força e disse que era o que faltava, que não era da pedo, não tinha essas paciências, era para ver então via-se e arrancou-lhe a ligadura. Os golpes não eram muito profundos e umas gotas de bétadine resolveram a coisa. Mas não o sofrimento.

As automutilações acontecem em pessoas cujo sofrimento psíquico é tal que a dor física é a tentativa de "distrair" do sofrimento mental. Momentaneamente pode aliviar, como eles dizem mas depois recomeçarão se não forem ajudadas por técnicos experientes.


O actor em questão,  sozinho numa praia, automutilou-se fatalmente. Com que sofrimento psíquico andaria!!!