domingo, 20 de novembro de 2016

Humor negro?

No Instituto Português de Oncologia.
Estamos três pesssoas dentro de um elevador com uma capacidade para muitas mais. Chegam mais duas,  é a hora da visita e entram. Um do homens que já lá estava comentou que se calhar já não cabiam. A mais pequena das que tinham entrado saiu-se com esta: Ai cabemos claro, que qualquer dia até num espaço pequeno caberemos e não nos vamos poder queixar.
Ninguém comentou e o elevador subiu.

domingo, 13 de novembro de 2016

Passear a trela



A minha vizinha continua a passear a trela, não sei se várias vezes ao dia que só a vejo à noite.
Pára, faz festas e chora sempre que encontra um cão. Os donos parecem incomodados, como eu.
Como reagiria se se deixasse um caozinho num cesto à sua porta? 

terça-feira, 1 de novembro de 2016

O luto...pelo cão



Já tinha sabido há uns dias, morreu o cão dos meus vizinhos.
Todos os dias à noite via o casal, já perto da 4ª idade, e o seu cão, até altas horas, sentados num parapeito em frente ao prédio. Nunca vi o cão no chão, estava sempre ao colo da dona. Ao lado, uns sacos, comida e água para ele beber. No bolso da senhora sempre uma doçura para os cães que lá queriam meter o focinho e que ficavam sempre a ganhar.
Tinham-me contado que agora sem cão, continuava a passear a trela.
Hoje à noite, ao entrar para a garagem lá estava ela. Sòzinha, com a trela na mão. Por impulso parei o carro na rampa e saí. Dei-lhe um abraço e beijei-a, disse-lhe umas palavras de conforto, como quem conforta quem perdeu um ente querido. Sim, habitualmente uma pessoa.
Ela chorou, disse-me que está a ser muito difícil, que o marido não tinha vindo porque ela tinha-lhe pedido, parece que se sentia mais perto do cão se passeasse sòzinha.
Um idiota qualquer, saiu com o carro da garagem sem respeito por aquele momento e tive de a deixar, ali, só, com a trela vazia.
E subi o elevador com a tristeza colada a mim.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Quando a boca da Mãe abre sem pensar no que diz



Ontem, uma mãe a falar para o filho de 9 ou 10 anos:

Ah, meu grande filho da puta, vem cá já para a minha beira.
Tu devias era magoares-te muito gravemente para veres como é.


terça-feira, 6 de setembro de 2016

É Setembro e a noite está quente


3 da manhã. Acordo. Não estou bem, não sei precisar o que sinto mas ainda nem tentei perceber.
Aborrece acordar assim, cedo na noite, inquieta-me pensar quanto tempo ficarei acordada. 
Na mesa pequena a meu lado tenho uma banana, como-a, a casca cheia de pintas castanhas como gosto, está madura e doce,  sabe bem sentir o estômago aconchegado, mesmo que não seja o mais indicado em termos de saúde, preparo-me para ler e ligo o rádio.
Do outro lado ouço: Lisboa a esta hora com 27ºC.
Não preciso de mais nada para entender porque acordei. Ligo a ventoinha e leio umas páginas e pouco depois estou a dormir.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Não, não era o termostato avariado...


Ai que frio, tanto vento! diz a mulher que espera o sinal verde na mesma passadeira que eu.
Já passava das 14 horas, o ar era bastante quente e a aragem também.
Continuei o meu caminho mas a pensar na solidão de algumas pessoas que dizem qualquer coisa só para não se sentirem tão sós. 

quinta-feira, 28 de julho de 2016

E ainda, diagnóstico de uma mulher sujeita a violência doméstica


Numa consulta de um colega meu:
Sr. Dr. acho que o meu marido tem uma outra. O médico pergunta-lhe porque pensa isso ao que ela responde sem hesitar: porque deixou de me bater.

Tanto que há para fazer!

terça-feira, 26 de julho de 2016

Amor, quanto mais me bates mais eu gosto de ti?


Leio com frequencia relatórios sobre crianças, jovens e suas famílias.
Hoje li mais um. Jovem com problemas de comportamento.
Familia que sempre viveu na miséria, desemprego, subsídios eles também miseráveis, o pai com alcoolismo crónico, discussões frequentes assim como violência física exercida pelo pai à mãe, desorganização e falta de capacidades para orientar o filho desde tenra data. Tudo ingredientes para dificultar o crescimento harmonioso!
Eis que finalmente, mais de uma década de vida em comum, os pais separam-se.
Finalmente! digo eu, porque no relatório o que estava escrito é "ponto final no relacionamento amoroso"! Tanto amor!




segunda-feira, 18 de julho de 2016

A viagem de comboio e a criança que gostaria de passear lá dentro


Vou no comboio. Um pouco à frente uma criança dormia. Só lhe via a cabecinha. Quando acordou o pai passou-a para a mãe que lhe deu a mama.
Agora vejo bem a criança. É um rapazinho vestido à rapaz, jeans compridos e camisa embora talvez não tenha ainda 2 anos.
Acabada a mamada (quantos dentes terá?), inicia um período de queixume, choro, ao colo da mãe pontapeia o banco da frente com as suas "crocs", vigorosamente. Da mãe passa para o pai, do pai para a mãe e até para a avó. A família ocupa três bancos duplos, uns em frente dos outros. 
De repente faz-se silêncio. Olho e ele está sorridente de pé. Vejo que até anda sozinho, mas a mãe tem-no seguro pelo pulso como se de uma coleira de braço se tratasse. Quando tenta andar e não consegue recomeça o choro, protesto com sons e gritos.
A mãe põe-no ao colo e segura o telemóvel para ele ver um filme de desenho animado. Ele cala-se um bom bocado. Depois recomeça querendo ir para o chão.
Sempre gostei das viagens de comboio precisamente por me poder levantar e dar um passeio, da carruagem ao bar ou da minha a outra carruagem.
Tenho a certeza que o puto teria adorado passear, apeteceu-me lembrar isso à mãe mas por pudor não o fiz. 

terça-feira, 12 de julho de 2016

Há encenadores corajosos ou público paciente?



No Festival de Teatro de Avignon, Julien Gosselin encena um espectáculo descrito nos jornais como "excepcional", 2666, uma adaptação do romance do mesmo nome de Roberto Bolano.
Li o livro há uns anos, uma exploração do mal na viragem do século. Tem mais de mil páginas e divide-se em 5 partes. Publicado depois da sua morte, morreu com pouco mais de 50 anos, a família decidiu publicar tudo num só livro. Podiam ter sido cinco.
Em palco será a música e o vídeo, sempre presentes, a dar a continuidade. A peça dura onze horas com 2 intervalos. Dizem que o tempo passa depressa.
Teria eu hoje coragem de ir ver a peça?  


quinta-feira, 9 de junho de 2016

Estou a pensar, dizia ela


Quando a minha Mãe estava sentada na sala, no seu maple de orelhas, aparentemente sem fazer nada, em resposta à minha pergunta respondia frequentemente "estou a pensar". 

Estes últimos dias cruzei-me na rua com várias pessoas, de pescoço dobrado, a rirem. Iam sozinhas.
Umas no passeio, outras a atravessarem as passadeiras descuidadamente e rindo.
Olhavam todas para o telemóvel e, suponho, viam um vídeo ou anedota no Facebook.

Cada vez menos as pessoas são capazes de ficar sós, acompanhadas por si próprias. Nem na rua, nem nos transportes públicos nem em sítio nenhum.
Também por isso encontro cada vez mais crianças, adolescentes e adultos com manifestações patológicas externalizadas, como as perturbações do comportamento.
Um dia falarei mais sobre isto.


domingo, 29 de maio de 2016

Amigos virtuais


Sabe-se que se comunica hoje mais do que antigamente, mas não daquela forma, cara a cara, pessoa a pessoa.
Aliás, se alguém me está a ler aqui, não será bem um amigo, mas um leitor/seguidor virtual deste blog. E que se quiser até pode deixar comentários, ou seja responder à minha comunicação.

Às vezes acontecem situações caricatas como esta que se segue.

Uma rede social, enviou uma mensagem ajudante da memória, avisando que hoje é o aniversário de uma colega minha de liceu. Por acaso morreu há 3 anos.

Mas há quem cumpra como se de uma ordem se tratasse e dois colegas nossos assim fizeram sem se lembrar do facto final. Um singelo "parabéns, um bj".
Mas uma pessoa, imagino que amiga virtual que escreveu esta ridícula mensagem "Parabéns! Estás cada vez mais nova! Beijinhos".

Apesar de tudo, saiu-me uma boa gargalhada!

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Fruta importada


O título é literal. No Algarve entro num "armazém de fruta", assim diz o letreiro.
Para meu espanto constato que quase toda a fruta é importada. Umas de África, já agora, onde fica este país? Maçãs, peras, laranjas, meloas, uvas, morangos etc. Acreditam que até a pera rocha era importada?
Vou parar, a indignação enjoa-me! com tanta fruta portuguesa e boa! Que fazer?

sábado, 21 de maio de 2016

Onde dormir???


Esta semana houve mais um encontro da APPIA*, associação científica a que pertenço. Podia ocupar este espaço a falar na persistencia anual do encontro, com convites e apresentações de portugueses e estrangeiros, da Revista bianual e outras. Fica quem sabe para outra vez.
Porque hoje, só vou contar o insólito.
Tendo sido marcado quartos num hotel novo da cidade para um grupo de nós, os primeiros a chegarem encontraram o hotel ainda francamente em obras, material, operários, mesas de pernas para o ar, tomadas electricas de fios à mostra e um cheiro a pó e tintas insuportável. É que o hotel não tinha ficado pronto a horas, nem àquelas nem nas dos próximos dias!
Alguns colegas já se tinham instalado, tomado duche (nem todas as torneiras tinham água) quando a empresa que nos tinha levado considerou isso insuportável e tentou encaixar-nos noutros hoteis da cidade. Eram 23h quando soube para qual ia e instalei-me numa bruta suite, quase tão grande ou maior que muitos apartamentos. Dormi maravilhosamente e isto, para mim, foi só mais uma história a juntar a outras que já vivi.
E porque conto? Porque esse tal hotel parece-me diferente e bonito. Inserido e respeitando o urbanismo da cidade, casas baixas de 1 ou 2 andares, logo à entrada tem uma lindíssima escada em espiral que não resisti a fotografar. Aqui fica.

*  Associação Portuguesa da Psiquiatria da Infância e da Adolescência


domingo, 15 de maio de 2016

Que falta de jeito, postura, precisa-se!


Ontem fui ao Festival de Arte Urbana, em Lisboa. Passei pelas ruas, tirei fotografias, vi o entusiasmo de quem lá investe.
Entidades oficiais fizeram uma visita, muitos beijinhos do presidente M.R. Na sua comitiva um representante da Casa Militar, homem grande atende o TM e  diz que está num "bairro pobre". Falta de jeito! A meu lado, algumas habitantes ficaram muito ofendidas, pobre, diziam com mágoa, social é o que somos.
O bairro Padre Cruz, da freguesia de Carnide, é o maior bairro social da Europa. 


sábado, 7 de maio de 2016

História entre putos


Um miúdo de 9 anos com quem conversei esta semana, tentava explicar-me que bate nos outros rapazes quando lhe chamam preto. Ele é castanho disse-me. 
E continuou falando do seu amigo a quem lá na escola chamam cigano.
Ambos ficam furiosos e partem para a porrada.
É que ele até nem é cigano, os pais é que são. Tento compreender a lógica...os ciganos estão sempre cheios de cicatrizes na cara e o meu amigo não. Por isso não é.

domingo, 1 de maio de 2016

3 em 1


Domingo, Dia do Trabalhador e Dia da Mãe
Muita coisa num só dia, assim não tem graça. Domingo já é de qualquer maneira, Dia do Trabalhador ao domingo é menos um feriado.
Mãe, já não tenho.

sábado, 30 de abril de 2016

Rídiculas figuras para quem as faz mas ainda mais ridículas para quem nunca as fez




Olá, olá, olá, bebé, olá. Seguiram-se sons de beijinhos e novamente olá, querida, é a avó!

Olhei para trás, e numa mesa do restaurante, um casal da minha idade talvez, ele comia e ela agarrada ao telemóvel falaria penso que com uma neta.
Também já fiz destas figuras? Quem sabe, são sempre ridículas, tal como as cartas de amor.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

25 de Abril, nem me fale neste dia! disse ele



Amanheceu com sol o 25 de Abril e lá vou com uma amiga, cravo vermelho ao peito para o Marquês de Pombal. Passeamos, procuramos caras conhecidas, grupos, grande cumplicidade na satisfação da Liberdade quando encontramos alguém, e lá vamos descendo a avenida, ora integradas na manifestação ora pelo passeio lateral.

Está calor, precisamos de procurar uma sombra, o corpo está cansado, não teve tempo de se adaptar a estas mudanças bruscas de temperatura, têm sido dias frios ou chuvosos e de repente fica assim, quente. À nossa volta alguns já se sentem em pleno verão, calções e chinelas, fatos de alcinhas, eu ainda não, um polo e à cintura um casaco vela vermelho, a cor do dia, receosa da quebra de temperatura do fim do dia.

A descida é lenta e a tarde vai avançada, há muita gente, parece bem mais que o ano passado e  a sede começa a apertar, que tal uma tulipa e um croquete, sabiam bem, boa, vamos. E entramos no Gambrinus, um restaurante de Lisboa ali perto do Rossio, diz-se restaurante de luxo, os croquetes são um luxo de facto, os melhores de Lisboa, sempre quentes quando chegam à mesa, sentamo-nos num dos bancos altos do balcão da entrada. Fazemos os pedidos e vamos lavar as mãos. Na volta ouve-se uma das clientes comentar que hoje é o 25 de Abril, certamente inspirada no cravo vermelho da minha amiga, ao que o maître disse nem me fale nesse dia! Trocam umas palavras e ele disse que só foi bom por ter acabado a guerra, ah pois, o senhor esteve em África, diz ela, não, nunca fui, explica ele, fiz 33 meses de tropa mas não saí de cá, foi em meados dos anos 60 esclarece.

A tulipa mista veio preta, pensei que a culpa era do cravo, mas o resto veio bem e como é habitual muito bom.

De novo apanhamos o metro a caminho de casa. Para o ano haverá mais e esperemos que com o ar aliviado deste ano.
Abaixo a crispação!
25 de Abril, sempre!