terça-feira, 5 de maio de 2020


53º dia de isolamento social (COVID-19)


Ontem abriram um pouco as portas e bastante gente saiu para o trabalho, livrarias, barbeiros. 
No entanto ainda não há turistas e os transportes públicos, autocarros, eléctricos e comboios andam meios vazios.
Nem vai haver a peregrinação no 13 de Maio em Fátima!

Há muitos anos cruzei-me ,para azar meu, com um par de jeitosos num autocarro. Avô e um neto, homem jovem. O velhote, sentado, a meter conversa comigo sobre um hipotético cancro que teria e o neto, de pé atrás de mim  a levar-me a carteira dos cartões e dinheiro. Eu julgo ter sentido, virei-me e olhei-o e nunca mais esqueci o olhar penetrante com que me olhou, quase paralisante para mim. Quando saíram e fiquei mais à larga percebi logo que a minha mala pesava menos.

O negócio não corria mal. O Vitor, assim se chamava o neto, conseguiu convencer a jovem que com ele casou a aprender a arte de furtar carteiras. Também ela, por sorte, tinha os dedos indicadores e médios quase do mesmo tamanho o que ajuda muito no ofício. E mais tarde ensinaram os filhos. Ao fim do dia juntavam o dinheiro. Ao fim do mês verificavam que ganhavam mais que um médico interno da especialidade.
Viviam razoavelmente à larga, não tinham hábitos de leitura, nem de cinema, nem outros assim burgueses.
Este Corona vírus veio lixá-los! Nunca tinham descontado para a segurança social,  nunca tinham feito poupanças, nem nunca tinham pensado nisso.
São uns grandes prejudicados com esta situação. 

Recém crentes convictos, antigamente não ligavam a essas coisas, todos os dias rezam para que o Covid-19 vá embora e os turistas voltem.