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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Aconteceu...água mole em pedra dura fura sempre?

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Numa certa fase da minha vida, no antigo 7º ano, tive umas explicações de física. Uma professora certamente sabedora, cumpridora e exigente. Mas quanto a psicologia, achei eu na altura, era péssima. Ou seria realista? pergunto-me eu agora. E ter-me-à feito algum mal o que me disse?
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Eu conto. Nessa altura da minha adolescência tive um período de grande interesse por muitas coisas. A aprendizagem escolar não fazia parte dos meus principais interesses dessa época. Havia outras tão mais importantes...
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Com o intuito de me ajudarem, puseram-me com explicações de física, matemática, e geometria descritiva.
Época de muita displicência, pouco empenho e responsabilidade, reconheço.
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Na véspera do exame de física, não sei bem como se passou a conversa, só que quando eu disse à explicadora que depois passava por lá para lhe mostrar o que tinha feito no exame, ela desatou-se a rir às gargalhadas e comentou:  " Mas a Magda vai ao exame? Não tem consciência de saber pouquíssimo?"
Podem imaginar como saí dali raivosa, e furiosa por me ter criado tal desânimo. Sim, porque certamente eu não queria reconhecer que não era eu que não sabia muito, era muito mais fácil pensar que a explicadora é que era bruta!
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Bom, exame feito tive nota muito pequena, exigindo a minha ida à oral. Não me vou alongar, dizer que o examinador foi o professor Rómulo de Carvalho, também poeta António Gedeão, a quem eu responderia muito melhor se  me tivesse mandado recitar e até cantar alguns dos seus poemas que eu tinha musicado. Mas não, o exame era de física e  saí com uma reprovação muito merecida.
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Talvez esteja aqui a contar este episódio, preocupada com a estratégia que o Ministério da Educação parece estar a perspectivar. Corre por aí que querem acabar com as actividades extra-escolares do ensino básico para encher as crianças com mais estudo.
Não saberão que há imensas razões para uma criança não aprender? Que no ensino básico muitas crianças apresentam falhas que são melhor colmatadas com actividades de grupo, expressivas e lúdicas paralelamente ao estudo, o qual tem de ter um tempo definido e adaptado, do que com explicações, aulas e insistência da matéria? Alguns miúdos vão aguentar, assim como aguentam bons e maus professores. Outros não. Alguma vez a imaturidade psico-afectiva se curou com explicações? As depressões infantis? As irrequietudes, os deficits de atenção?
Sinto que estamos em muitas coisas a retroceder. Preocupante!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Aconteceu...carta a uma amiga "mãe" e educadora de dois gatinhos

Cara amiga,
Desculpa estar-me a rir, tu dormiste mal e dizes que tens a casa quase toda "destruída"...
Os teus dois gatos estiveram agora quase um mês fora da tua casa e fora da tua companhia.
Regressados, talvez tenham estranhado, ou se calhar de tão contentes, estão excitados e cheios de vida. Estão a reconhecer o território. Os gatos são curiosos como sabes. Os teus são gatos novos, nem seis meses têm.

Feitas as contas pelas tabelas correspondem a crianças de 2 anos, idade de autonomia motora, e muita aventura, para alguns sem cálculo de perigo.

Sabes, fizeste-me pensar naquelas mães que vêm-se queixar dos filhos e pedir um remédiozito para os acalmar.
E quando eu tento perceber se houve alguma alteração recente na vida deles, dizem que não, tudo igual. A consulta continua e a certa altura falam do marido que ficou desempregado há 15 dias, preocupado e deprimido passa metade do tempo na cama, da mudança de escola com novos colegas e professora que vai ser já daqui a uns dias, da avó que por rotatividade entre os filhos, agora lhes calhou a eles e... tinham-me dito que nada tinha mudado na vida familiar onde a criança está inserida. Ninguém me queria enganar, eles é que não tinham valorizado esses eventuais factores de stress.

No caso dos teus gatos, também eles tiveram mudanças. Conhecem-te, à tua casa, os seus cheiros, mas esqueceram algumas regras.
Com as férias lá no teu paraíso, também tu estás desabituada deles.
Todos os gatos de noite fazem caçadas, sobem paredes, saltam. Eu já me habituei com o meu e durmo que nem uma justa.

Talvez tenhas de lhes "lembrar" o que não podem subir, esgadanhar. Há quem os treine com uma esguichadela de água no focinho na altura certa, (técnica de condicionamento) ou pôr daquele papel que cola dos 2 lados nos sítios que consideras proibidos. A pouco e pouco vão aprender.

Também as crianças que precisam de afecto, precisam de organização, conhecer os limites, ouvir dizer um não. E de coerência. Só que com elas, o aprender deve ser na base da relação, do prazer de se sentir amado e de poder agradar também ao outro.

Quanto à valeriana que falaste, ah, ah, olha, toma-a tu...

Não te esqueças, de pequenino se torce o pepino...e o destino muitas vezes.
Um beijo e bom trabalho!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Aconteceu...a história da Carochinha e do João Ratão

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Como muito bem explicou Bruno Betthelheim (B.B.) no seu livro "Psicanálise de Contos de Fadas", os contos tradicionais com fadas, madrastas, abandonos, morte das pessoas significativas para as crianças são extraordinariamente importantes para elas. Abordam de forma indirecta e fora de nós, através das personagens das histórias, emoções e angustias frequentes e sempre presentes no desenvolvimento infantil. Abordam, libertam e ajudam a elaborar. "Facilitam as mudanças de identificações de acordo com os problemas com que a crianças lida" (B.B.).
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Hoje verifico que muitas vezes as histórias são alteradas por quem as conta, nos jardins de infância por exemplo, aplainando alguns aspectos por forma a torná-las menos violentas, explicava-me uma educadora.
Discordo completamente. Muitas das histórias e filmes que hoje se fazem e passam na televisão têm aspectos de violência gratuita no sentido que não são úteis para ajudar as crianças a "pensarem" em si.
"O conto de fadas é a cartilha onde a criança aprende a ler o que se passa no seu espírito, na linguagem das imagens, a única linguagem que permite a compreensão antes de se conseguir a maturidade intelectual" (B.B.).
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De vez em quando conto uma história tradicional ao Vicente, o meu neto de 5 anos. Ele tem uma enorme capacidade de atenção e uma muito boa memória.
Ontem foi a História da Carochinha e do João Ratão. No original a carochinha encontra uma moeda de 5 reis e eu contei que ela tinha encontrado uma nota de 5 Euros. Conhecedor da história, saltou logo perguntando o que aconteceu à moeda de 5 reis, coisa que obviamente nem do meu tempo é.
Depois, por engano saltei o primeiro pretendente a casamento ele chamou-me a atenção. Lá tive de tentar ser mais fiel. Abri o computador, procurei e fui dando uma mirada no texto enquanto procurava contar com enfâse e a mímica adaptada. Neste em particular, a entrada de vários animais permitem-nos uma teatralização ruidosa e onomatopaica. Ele fica fascinado, a beber tudo o que ouve e vê, o que dá muito prazer aos contadores.
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É muito interessante esta necessidade que os miúdos têm de manter o texto. Às vezes para adormecerem, as crianças mais pequenas querem a mesma história, contada com as mesmas palavras, sem variação. É que isso acalma-os e vai contribuindo para a construção da segurança.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Aconteceu... E dizem que investem nas crianças!

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O meu filho Duarte chamou-me a atenção para os títulos dos meus escritos, que classificou de lacónicos e pouco apelativos.
Porque o blogue é da mãe, acaba por ir ler e às vezes acha interessante o texto.
Deu-me um exemplo recente, quando falei no rapaz que foi capaz de subir o Everest, mas não parece viver de forma adequada a sua idade. O título era "Aconteceu...a propósito de uma notícia - 8". Reconheço que pelo título não se pode saber minimamente qual o assunto a tratar.
Resolvi também mudar o aspecto gráfico. Já agora...alguém me sabe explicar como alterar o tipo de letra dos títulos?
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Pois li hoje no jornal que depois de terem sido fechadas as escolas com menos de 10 crianças, o governo prepara-se para fechar as que têm menos de 20!
Podia ter posto "Aconteceu...a propósito de uma notícia - 9".
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Incomoda-me que os assuntos e medidas governamentais sejam tomadas sobretudo por pensamento economicista. É assim na saúde, na educação, áreas fundamentais.
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Não será que uma escola de pequenos efectivos pode permitir um trabalho e um investimento do professor, quer do grupo quer individual muito melhor?
Terá deixado de ser verdade que investir nas crianças é investir no homem de amanhã?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Aconteceu...excesso de zelo?

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Chamava-se Benfica, e era vagabundo. Andava de terra em terra, com uma sacola de pano na ponta de um pau que trazia ao ombro. Lá dentro todos os seus pertençes. Esmolava sempre bêbado. Pedia comida e sítio para dormir. No cabelo mal amanhado e cinzento, havia restos de palha e de erva que eram marcas da cama da véspera. Enquanto se aguentava em pé era divertido, fazia macacadas que punham as crianças a rir. Em bando corriam atrás dele, imitavam-lhe os gestos. E ele gritava de vez em quando Benfica! E todos se riam.
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Passava pela aldeia da minha Avó e o Quintal de São João que era propriedade dela, era um dos seus poisos. Tinha uma ruína do que em tempos teria sido uma casa e o Benfica achava o espaço muito aprazível.
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Na época, há uns 50 anos, na casa da minha família dava-se comida no prato a quem pedia. Um prato de sopa, algum conduto como se dizia, pão e até vinho e fruta. A loiça usada pelos pobres era depois desinfectada pelas "criadas" com água a ferver. Era assim na aldeia mas também em Lisboa, onde os cegos ainda cantavam na rua e o acompanhante, habitualmente um coxo, apanhava as moedas que lá de cima, do 3º, 4º ou 5º andar se mandavam embrulhadas num papelinho.
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O Benfica aparecia, ficava um ou dois dias e seguia viagem. Sempre bêbado e aparentemente bem disposto. Ou a cair para o lado e a adormecer. Depois ficava-se sem saber dele. Nunca soube se ele tinha uma rota fixa, ou era ao sabor das curvas etílicas que seguia. Sei que voltava sempre e atrevo-me a dizer, era esperado. Ninguém o enxotava, fazia parte da vida da aldeia, onde a passagem de um carro ainda era notícia.
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Teria eu 4 anos quando a minha Mãe tirou a carta e comprou um carocha, DD-38-19, cinzento prateado. Quando falávamos dele dizíamos o Voxinho, como se de uma pessoa se tratasse. Até tinha apelido também, por acaso os meus. Era um personagem importante na nossa família. Estando eu de férias com a minha Avó lá na aldeia, a minha Mãe apareceu de surpresa e sozinha a guiar o carro. Sozinha lá dentro porque atrás do carro eram bandos de miúdos a gritarem "é uma chófera, é uma chófera", correndo pelas ruas de pedra até à nossa porta.
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Um dia o Benfica foi apanhado nas malhas de um médico que resolveu reabilitá-lo, fazê-lo deixar o álcool. Enviado para Lisboa, foi internado no serviço que tratava dos alcoólicos. Tiraram-lhe o vício. Deixou de beber.
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Depois disso passou pela aldeia uma só vez. Numa árvore pendurou uma corda enforcou-se. Tinham-lhe tirado a única coisa que tinha e não lhe tinham dado nada em troca. No dia em que se soube da notícia, ficamos todos mais tristes.

domingo, 27 de dezembro de 2009

aconteceu ... a propósito de uma notícia - 1


Título num jornal de ontem: “Educar as crianças como cães é um alívio para muitos pais”.

“Não esquecer que todos os mamíferos têm uma matriz de funcionamento semelhante", afirma um pediatra muito conceituado.

"É difícil admitir, mas a verdade é que muitas vezes só funcionamos com a cenoura à frente do nariz", afirma uma psicóloga.

A Mãe da uma amiga minha tentou pôr-lhe uma trela-para-crianças quando andavam na rua. Tinha medo que ela fugisse.


E ela ela investiu tão bem o papel que mordeu a perna de uma senhora!