quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Para fantasiar não é preciso ver com os olhos.

 343º dia do recomeço do blog

Está a ficar mais escuro, nuvens cinzentas começam a tapar o céu azul.

Lembro-me com a minha Mãe de fazer um jogo de fantasia, certamente no verão porque estávamos deitadas no chão. 

Olhávamos então para as nuvens brancas do céu e imaginávamos formas conhecidas. Muitas vezes de animais e até dinossauros voadores. Era muito divertido e riamos imenso. Muitas vezes tínhamos de explicar a forma que nos tinha motivado e se havia vento as nuvens mudavam rapidamente de forma.

Ela de vez em quando dava um grito de prazer e exclamava, olha, olha, estou a ser puxada. Uma espécie de sucção que o céu exercia sobre ela mas nunca o fazia a mim. Tirando a identificação das formas não me permitia mais nada.

Um dia numa consulta um miúdo falou-me neste jogo das nuvens. Que fazia com o avô, ele tinha-lhe ensinado isso e ele tinha gostado muito. Conhecedora da família, sabia que ele já só tinha um avô, com quem passava muitas tardes. Só que o avô era cego, não de nascença mas há já muitos anos.

Fiquei emocionada na altura. Foi quase como ter acabado de ouvir um poema bonito.