sexta-feira, 4 de setembro de 2020



174º dia de recomeço do blog

Deve ser da idade, revisito coisas do passado com alguma frequência.

Ontem dei por mim a pensar em várias empregadas domésticas que viveram em casa dos meus Pais.

Uma de quem tenho muita pena de lhe ter perdido o rasto foi a Ana Maria. Era natural do distrito de Sátão.

Eu já era uma adolescente crescida quando foi lá para casa. Casou de lá, como muitas vezes acontecia, com o Manel um Cabo Verdiano muito simpático. Fui ao casamento na Casa de Cabo Verde.
Já depois de casada convidou o meu filho mais velho, com uns 2 anos, para ir passar um fim de semana à casa dela.
Julgo que alguma intriguice esteja na base do afastamento.

Mas o que me levou a pensar nela(s) era as condições de vida que levavam enquanto trabalhadoras.

A casa dos meus Pais tinha, a seguir ao hall, um corredor que ía dar à cozinha, seguida de um quarto e uma casa de banho para as criadas como então se dizia.
Interna, vivia ali connosco mas a vida dela era lá dentro. Vinha a este lado dos patrões para limpar, arrumar e servir à mesa. Uma espécie de campainha suave tocava para a chamar.

Não havia televisão, não sei se tinha rádio. Fazia muita renda, bordados, ia construindo assim o seu enxoval.

Era uma solidão, digo eu aos olhos de hoje. Lia muito pouco embora soubesse, era uma condição de admissão na casa dos meus Pais.

Sei que teve filhas. Não as conheço. Oxalá tenham conseguido ter uma vida melhor que a Mãe e a auxiliem naquilo que ela precisar. 
E, claro, que ela esteja bem.