sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

O copo

 

269º dia do recomeço do blog

Não sei há quantas décadas estarias ali fechado, numa escuridão total onde nenhum ponto de luz conseguia entrar. Frio quando te toquei, estavas sujo por fora e muito por dentro. O teu fundo era preto, em camadas. Tinhas companhia, naquela prisão estava outro aparentemente igual. Seria? Do lado de fora tens gravada uma data, numa letra pequena e tombada. 21-4-935. Data que a mim nada me diz. E o outro, teria a mesma gravação? Não olhei, imagino que não, qual de vós seria o mais velho? Fiz mal em trazer-te? Não, tu não sentes nada. Eu sim, eu vou-te sentir nos meus lábios, algumas vezes por dia. Mas antes ficarás todo limpo, brilhante mas continuarás duro e frio como és. Mas como o metal é bom condutor quando estiveres cheio de água quente também tu terás outro calor que eu sentirei. 21-4-935, que terá acontecido nessa data? Nunca irei saber. Talvez amanhã ou depois, recuperado devesse gravar a data de agora, em que vais voltar a ter uso. Vou tratar de ti que no fundo é também tratar de mim, durante umas boas horas.