quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Com poema de Herberto Helder

 

268º dia do recomeço do blog

Estamos a ficar doentes. Os horizontes curtos que a pandemia permite estão a bloquear a nossa criatividade e a limitar o pensamento. Quando há dois dias escrevi sobre o estar "covitada", estou mesmo. Tudo o que é de novo, parece que não aprendo, não me lembro, esqueço, confundo. Quase me admiro como é possível que há pouco mais de ano e meio eu trabalhava, tentava resolver os problemas dos outros, pensando, escrevendo sobre eles, apresentando em público, sabendo discutir. Mexer nos materiais com que brinco, criar objectos de adorno, desenhar. Tudo parou. Ficou e de forma quase obsessiva a leitura da prosa, que por contínua faz com que me admire por serem 18h ou outras mais tardias. Elas passaram sem dar por isso. A leitura que faço enrola-me, adormece-me e quando acordo tenho consciência que não dormi, mais como se tivesse estado num estado de alheamento.  Acordo por vezes para uma actividade esporádica. Gostava de dizer que amanhã será diferente, um dia novo, mas será?

"Eles estão a morrer de todas as maneiras 

mas diga-me: não há apenas uma só maneira:

a maneira cega?"

Herberto Helder