sexta-feira, 28 de agosto de 2020




168º dia de recomeço do blog

Dizem que desde que estou mais velha falo com mais facilidade qualquer pessoa que não conheço, até chego a meto conversa. Tenho quem avalie isso positiva e simpaticamente e quem, especialmente uma grande amiga que me critica.
Estou-me mais ou menos nas tintas. 

Dois homens com máquinas fotográficas banais tiraram uma fotografia a um desgraçado de um velho (se calhar mais novo que eu), que estava sentado numa bancada. Sujo, andrajoso, sem dentes, sorria com um ar idiota na direcção dos homens. Os braços estavam esticados para a frente e os dedos indicador e polegar das mãos tocavam-se fazendo uma argola.

Sem pensar duas vezes passei por eles e disse-lhes em francês que deviam ter vergonha de tirar uma foto ao senhor, afinal eram portugueses, repeti em português e um deles zangado, perguntou-me se eu sabia quem ele era, não sabia? Claro que não e afastei-me para o lado Rossio e eles 1º de Dezembro.

E lembrei-me do Fouard, nosso guia em Marrocos, numa maravilhosa e bem organizada viagem que fiz há uns anos.
Íamos na camioneta quando vi que à frente ía uma carroça puxada por um burro, carregada de objectos, caixas, embrulhos e por cima e pelos lados, agarrados como podiam, iam imensas pessoas.
Saltei do meu banco e corri para a frente para junto ao vidro tirar uma foto àquela pobreza toda. Fouard pôs-se à minha frente e impediu-me. Não foram precisas muitas palavras para eu entender que ele estava a proteger o seu país, não deixando mostrar miséria como se fosse típico.

Julgo que foi qualquer coisa parecida que me fez interpelar os homens, desgostada que a nossa pobreza fosse fotografada.

A minha amiga, claro, criticou-me.