terça-feira, 11 de maio de 2021

3 histórias -A relação com os animais e a estrutura psíquica de quem se relaciona com eles

 1 - A mais antiga

Estava de partida de férias e tive de deixar um passarito que encontrei na rua, certamente caído do ninho, em casa da minha avó. Dias depois, eu com os meus 10 anos, recebi uma caixinha pelo correio com o passarinho morto e as palavras dela "para que lhe possas fazer um enterro". Grande sábia, como ela teve a intuição que isso seria importante para o meu luto.

2 - Recebi na consulta um rapaz de 12 anos com um passarinho também caído do ninho na mão. O miúdo era o mais velho de três irmãos acolhidos numa instituição, depois de anos de maus tratos e negligência parental. Iniciei a consulta com a psicóloga que o acompanhava e quando saí para o ir buscar o passarinho estava desfeito, literalmente, na sua mão. Tinha-o esborrachado. Crianças que matam ou maltratam animais têm como diagnóstico possível a psicopatia. Juntando ao seu passado, aos seus outros comportamentos, a previsão foi preocupante. 

3 - O meu filho de 41 anos apanhou ontem um pardalito recém nascido acabado de cair do ninho e levado pelo vento e chuva. Apanhou-o, tirou foto que postou no grupo família do WhatsApp e fomos acompanhando como o tentou salvar. Sobrinho de 16 anos pôs vídeo sobre como fazer, o que lhe dar de alimento e perante uma frase minha sem esperança escreveu como se de um grito se tratasse "Salva-o Martim!!!". Este lá fez o que pôde mas o pardalito morreu. Soube hoje que foi fazer-lhe uma covinha nas terras lá perto e aí o enterrou.