terça-feira, 31 de março de 2020


17º dia de isolamento social (COVID-19)


Acordei às 5 horas da manhã. Mas para quê? Que tenho eu de fazer nesta situação de isolamento? 5 horas, madrugada, deve estar tudo escuro.

Como não conseguia adormecer, nem mesmo ficar na cama, levantei-me. Abri a persiana e um céu azul com um sol imenso do lado de lá do vidro estava ali. Da janela ao lado apareceu a minha vizinha, olá, olá, já viu isto como está hoje, disse toda animada. Eu ainda estava estranha.
Olhei em frente, as janelas estavam todas abertas e algumas pessoas gritavam "festejemos!". No terraço do prédio as crianças jogavam à bola, andavam de bicicleta enquanto os pais falavam entre si.
Toca o telefone, era o meu neto Vicente a dizer-me todo animado, avó vou para Carcavelos fazer surf!  Pouco depois o telefone torna a tocar, a minha amiga Zé a lembrar-me que tínhamos hoje o teatro às 19 horas, a "A Reconquista de Olivenza" e até podíamos ir antes ao Gambrinos lanchar aqueles croquetes maravilhosos e beber uma cerveja.
Acertámos tudo. Há quanto tempo eu não ia ao teatro? Hum depois de pensar situei que o último tinha sido no Teatro Aberto, "A Criada Zerlina" de Hermann Broch, um monólogo muito interessante, que nos levava para tempos em que ainda havia criadas, aquelas que viviam nas casas, sabiam tudo mas faziam que não sabiam nada. E eram pau para toda a colher...

E acordei. Tinha sido um sonho, eu que digo que este isolamento não custa muito, mas o meu inconsciente desmentiu-me.
Virei-me de lado e adormeci.