quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O prazer de viver depois de preencher a ausência com recordações ternas

 297º dia do recomeço do blog

7 de Janeiro é um dia em que coexistem dois acontecimentos importantes. Em 1952 nasci eu, em 2006 morreu a minha Mãe. Durante anos este dia foi vivido com sofrimento, uma mistura em que não se desligavam os acontecimentos. A ausência dela era quase mais marcada do que a minha existência. Quis compreender esta situação como a nossa grande ligação afectiva, não simbiótica mas forte. O tempo ajuda muito, é com ternura que a relembro, sem dor.

À tarde bateram à porta. Era um homem jovem, bem vestido e que com um bouquet de flores me perguntou o nome e o entregou. Lindo como se vê pela fotografia.
Trazia um envelope com o meu nome e morada. O apelido que sempre usei profissionalmente. Lá dentro, escrito à máquina mas não impresso, leio tudo em maiúsculas, MAGDA, PELO TEU DIA. XI CORAÇÃO, COM DESEJO DE SAÚDE E ALEGRIA. Assinado JARDIM ZOOLÓGICO.

Verdadeiro mistério, não faço parte dos amigos do Zoo, nem o visito há uns anos. Quem me terá enviado as flores? Uma pessoa amiga não identificada? Um urso? Será que desvendarei o caso?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Grande trumpice!

 296º dia do recomeço do blog

Estamos em vésperas de eleições presidenciais. Dia 24 de Janeiro, estaremos em medidas de "confinamento" até dia 15. Terá sido bem escolhida a data?

Tenho acompanhado os debates entre os candidatos. Mais ou menos, tenho o meu voto já definido.

Acabo de ver o que aconteceu nos EUA, com a incapacidade de compreender porque se vota, porque há um que ganha e outro que perde. Trump trabalhou para isto, a violência, a arrogância, a omnipotência, o desrespeito. Vi hoje os seus apoiantes invadirem o Capitólio, impedir o decorrer da sessão que, por votos, daria a maioria a Biden. Absolutamente incrível mas este tipo de atitude foi criada pelo perdedor ao longo da sua vigência. A palavra nojo, receio, indignação e outras serão suficientemente claras?

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

A menina voou da minha mão

  295º dia do recomeço do blog

Morreu o João Cutileiro. Este início de ano tem sido fértil em mortes de artistas importantes. Estamos a 5, já morreram 2. Gosto muito da sua obra em pedra, na mistura de pedras diferentes que fazia na mesma peça. E também dos desenhos mas não tanto.

Há talvez mais de vinte anos comprei um desenho feito por ele, um original a tinta da china. Uma menina nua, de cara pouco trabalhada, cabelo aos caracóis. Agora reparo, como os dele. Muitas meninas fez!

Comprei e ofereci. Não era dos mais bonitos mas tenho pena de não o ter. 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Visitei o Cemitério Pere-Lachaise, qualquer dia visitarei o dos Prazeres.

 294º dia do recomeço do blog

Houve uma altura em que não entendia, outra em que achei um disparate. Hoje compreendo e aplaudo a minha Mãe.

A minha Mãe, médica e com uma vida muito preenchida, tinha por vontade homenagear algumas pessoas que considerava mesmo que não as conhecesse em vida. 

Abandonada a crença da religião muitos anos atrás, era mesmo à pessoa que ela fazia.

Lembro-me bem de a acompanhar ao Cemitério dos Prazeres, aquando o funeral do Vasco Santana (1958) e do João Villaret (1961). Em qualquer um deles eu não tinha ainda 10 anos. 

Houve outros. Anos mais tarde vi-a e ao meu Pai, este já bastante doente, a seguirem a pé o funeral do Pedro Soares e da Maria Luísa Costa Dias, ela colega de curso da minha Mãe e amiga, ambos do PCP, mortos num acidente nunca completamente esclarecido o como ou se por quem foi provocado.

Ela tinha um profundo respeito pelas pessoas e reconhecia-os.

Quando morreu Joaquim Agostinho perguntou-me se a acompanharia. Não pude.

Hoje, dia do enterro do Carlos do Carmo, certamente ela iria querer prestar-lhe uma homenagem.

A homenagem que eu prestarei será ouvir os LPs que eram dos meus Pais. Felizmente mantenho os discos e o gira-discos na casa de "aldeia".

domingo, 3 de janeiro de 2021

Saudades

 292º dia do recomeço do blog

O Natal terá aumentado a pandemia. Ainda não se sabe bem os números certos, houve laboratórios que fecharam esta época, Natal e Ano Novo, mas espera-se um aumento de infectados, internados e quem sabe de mortos.

Tirando dois tios paternos e respectivos filhos, não tenho da minha família próxima, filhos, noras e netos, quem esteja longe. Mas tenho amigos com todos os filhos e netos emigrados e tenho assistido ao sofrimento pela ausência. Meses de ausência.

Não nos damos por isso, pela saudade, quando estamos juntos. Mais dia, menos dia, havemos de nos encontrar. 

Não sei pois pelos meus próximos o que são as saudades dos filhos e netos. Relembro pela a devida distância da ausência a minha Mãe, o meu Pai e a minha Avó Materna.

A minha Mãe que ficou demenciada, terá tido saudades depois desse estado? Não, o defeito da memória não lhe ter permitido lembrar-se e ter saudades. Antes sim, de muitas coisas. Mas saudades tivemos nós de quando ela estava capaz.

Ainda bem que acabaram esta época festiva mas para mim ainda haverá outras este Janeiro.


sábado, 2 de janeiro de 2021

"Só por cima do meu cadáver" com M José Morgado há 45 anos

 291º dia do recomeço do blog

0h05 minutos de hoje e no Governo Sombra havia uma convidada, Maria José Morgado, magistrada aposentada do Ministério Público português. Conhecida por ser uma lutadora contra o crime durante a sua vida profissional. É essa a ideia que se tem dela.

Mas não resisto a contar uma pequena história com pouco mais de 45 anos. 

Eu estudante de medicina, tinha depois do 25 de Abril entrado para a UEC, União dos Estudantes Comunistas. Ela, estudante de direito, militante do MRPP, Movimento Revolucionário do Partido do Povo. 

Este dois grupos frequentemente tinham guerras, mesmo fisicamente. Cozi muitas cabeças no serviço de urgência para onde acorríamos quando essas aconteciam.

Um dia, estando na sala de alunos da Faculdade, dentro do Hospital de Santa Maria em Lisboa, recebi uma ordem de uma camarada para ir despejar uma sala onde militantes do MRPP da Faculdade de Direito, ali pertinho, estavam ilegalmente.

Lá fui eu mais alguém, não me lembro quem. Sem jeito nenhum para estas coisas. Ao chegar 3 ou 4 pessoas estavam a fazer um cartaz, de joelhos no chão.

Dei o recado, a sala era dos estudantes de Medicina e não de Direito, nós íamos entrar e elas teriam de sair. Uma delas era a Maria José.

Levantou a cabeça e disse com uma convicção extrema "Só entram por cima do meu cadáver".

Não havia hipótese de conversar, só à porrada o que nunca fiz.

Voltei para cima e contei. Lá resolveram como acharam e eu não sei como foi.

Pouco tempo depois anunciei que deixaria de colaborar, não me identificava, aquilo não era para mim. E assim foi a minha breve passagem por um grupo estudantil político.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

1º dia do ano

 


290º dia do recomeço do blog

1º dia de 2021

Só não passei a meia noite a dormir porque poucos minutos antes recebi um telefonema. Acordou-me mas fiquei contente por se ter lembrado de mim.

A 1ª notícia da manhã foi a morte de Carlos do Carmo. Tenho um LP que era dos meus Pais. Apreciavam-no bastante. Tinha uma forma diferente de cantar o fado, fado-canção ou canção-fado, foi ele que introduziu o novo fado, com poesias de poetas considerados e modernos. Toda a tarde a RTP passou entrevistas, espectáculos. Gostei sempre mais de o ouvir cantar do que falar. Mas ouvi uma ou outra coisa que me ajudou a perceber como teve dificuldade em se afirmar até porque era um apoiante do PCP e isso dificultou-lhe a vida até ser inegável a sua qualidade.

Tenho pena mas não sei introduzir aqui um youtube. Mas encontra-se com facilidade.

DESEJO que 2021 seja um ano de esperança, que a vacina anti covid-19 seja um sucesso!