segunda-feira, 25 de maio de 2020



73º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


De manhã cedinho, como começa a ser hábito, fui dar o longo passeio pela praia. Calor bom e água boa. Pelo caminho tomei 3 banhos, ondas pequenas mas fortes, vindas de leste. Entrei no sítio e saí mais longe. Uma maravilha!

Não, hoje não encontrei nada interessante para trazer para casa.
Também não tenho nenhuma inspiração para escrever hoje.

De tarde desconfinei com máscara e fui a uma grande superfície. Tinha 3 cadeiras partidas no terraço. Encontrei exactamente iguais às que cá tenho. Mas foi épico enfiá-las no carro. Confortáveis, sólidas e largas, vi-me e desejei-me. Tentei de várias maneiras, até que tive de desmontar os bancos. Depois disso entraram.

Mas é nestas alturas que penso que devia estar acompanhada. Uma companhia funcional. Não tenho muita força e tento fazer pelo mais fácil. Se tivesse desmontado logo os bancos não tinha custado nada.
Ainda olhei à volta, algum funcionário, não havia. Procurei algum homem jovem com ar simpático mas não me atrevi. Lá se resolveu.

Trazê-las do carro até casa é uma distância razoável. No condomínio os carros ficam no parqueamento. Lá consegui também.


Fiquei fula quando descobri que tenho mais uma partida. Terei de lá voltar.

E vou ali tomar um anti-inflamatório e relaxante muscular que já me dói tudo. 


domingo, 24 de maio de 2020



72º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada




Um destes dias falava com um amigo por mensagem. Quando lhe contei que faço uns quilómetros a andar na praia, perguntou-me se eu era uma pessoa solitária.

Fiquei a pensar na pergunta. Solitário, pode ler-se no Dicionário Primberan "Que vive no ermo, que foge da convivência, que vive longe, abandonado por todos=só".  Não, não me reconheço.

Nas minhas passeatas estou comigo, por isso acompanhada. 
O meu pensamento voa, livre, já houve assuntos que tratei comigo. Penso imenso e isso descontrai-me.
Outras alturas fico contemplativa. Olho o que me rodeia, são as cores, as ondas, as conchas e até o movimento da água quando chega junto de mim. Há outras coisas que vejo e algumas trago para casa, sempre a pensar em que as posso transformar. Dar outro sentido diferente daquele que qualquer coisa teve dá uma enorme satisfação.
Ontem trouxe um bocado de cano de ferro amolgado e com muito tempo de água. Hoje um bocado de ferro dobrado em quadrado e com umas peças nas bordas. De alguma armação de pesca? 



Mas às vezes olho as pessoas. Faço muitos metros sem ver nenhuma mas ontem vi as costas de um homem   com algumas tatuagens como se vê por aí. Mas esta era diferente. Como se a cintura onde acabam os calções fosse o chão. Para cima mais de uma mão-travessa de desenhos, horríveis, incómodos. O que terá acontecido àquele homem para tatuar um cemitério, cheio de campas e cruzes? E lá fui eu, pensamento a girar, a imaginar a vida de um homem que não conheço, que nem a cara vi mas cuja tatuagem me impressionou.

Pensando bem, solitária por vezes mas não sozinha.



sábado, 23 de maio de 2020



71º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Estive alguns dias com medo de sair de casa. Não por causa do Covid-19 mas por causa da porta. Emperrou, descaiu e por 2 vezes tive de chamar alguém para me ajudar, com jeitinho ou força, a deixar-me entrar.

Numa zona onde é difícil arranjar alguém, hoje tive toda a manhã o sr. Ioan, que já me fez vários trabalhos de construção civil.

Oriundo de leste, deve andar pelos 60 anos e tem uma grande barriga. Sabe fazer todas as coisas da construção, inclusive electricidade e águas. E, claro, tem sempre clientes à espera.

Neste dois meses de confinamento esteve em casa com a mulher a protegerem-se da doença. Quando retomou o trabalho e porque no sítio onde estou só se podem fazer obras, leia-se barulho de obras, até final de Maio, não aceitou nada de demorado. Só uns biscates soltos.

Foi assim que a sorte me bafejou. A porta, azulejos que se tinham solto, pinturas pequenas, umas torneiras, uns quadros para pôr na parede mas que exigem buraco feito com máquina, e mais uns cem números de pequenos arranjos. Esteve hoje e continuará na 2ª feira.

Entretanto já posso sair. Sábados e domingos são dias que evito mas só saber que posso e a porta se abrirá à minha chegada é um alívio.

Já estive confinada que baste, agora presa era demais. 

sexta-feira, 22 de maio de 2020



70º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Estava há pouco a ver televisão, coisa que raramente vejo de tarde. 

E tomei conhecimento que um jovem de 13 anos foi internado nas urgências após ter sofrido violentos maus tratos pelo pai. 
Foram ouvir uma tia paterna.
E aqui começa o curioso. Este sobrinho desde pequeno que passa férias com a tia. A tia nunca desconfiou de maus tratos.
No entanto referiu duas coisas importantes:
1 - Ao falar do irmão descreveu-o como um alcoólico que fica muito violento quando bêbado.
2 - Ao falar do sobrinho descreveu como ele resiste e se manifesta, no terminar os dias de férias, em voltar para casa dos pais. (Percebi que a mãe também lá vive).

O triste é que aquela tia que agora se prontifica para ficar com o sobrinho, nunca se interrogou sobre a recusa dele de voltar à casa dos pais.

Sei e tenho conhecimento de inúmeras situações em que a leitura dos comportamentos, dos afectos, não é feita. Diria mesmo mais, é evitada se por acaso aflora ao pensamento.

Podemos pensar que é falta de treino de pensar, falta de tempo, falta de empatia. Ou medo! Ditados antigo dizem que entre marido e mulher não metas a colher, e pai que bate educa.

O termos vivido tantos anos debaixo de um regime que se manteve também através do medo, da queixas que os funcionários da PIDE transmitiam, com as graves consequências que sabemos, contribuirá para as poucas denúncias que existem nos casos de maus tratos? Nem Um vizinho que nunca ouve nada! Às vezes o professor mas com o confinamento nem aulas tem havido! 


Será possível que o caso da morte da Valentina tenha contribuído para que esta situação viesse a ver a luz do dia?

quinta-feira, 21 de maio de 2020



69º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Com um blog iniciado em 2009 embora interrompido, não sei se me repito. De qualquer modo e felizmente continuamos vivos e o dia repete-se.


Fotografia retirada da net

Hoje é 5a feira da Ascenção, Dia da Espiga. Na rua mulheres com cestos de verga vendiam raminhos que, imaginei, apanhavam cedo pelos campos. Papoila, espigas, raminho de oliveira e outras flores silvestres. Era um hino à fertilidade e à primavera. Só quando as vias me lembrava do dia. 

O Dr. João dos Santos, pedopsiquiatra, psicanalista e pedagogo nunca se esquecia. E no colégio lá estava sempre uma cesta de raminhos para os técnicos que ali trabalhavam.

Agora com as ruas com menos gente, essas mulheres ainda por aí andam a vender? 

quarta-feira, 20 de maio de 2020



68º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada

Um tempo esplêndido, sol, calor quanto baste, água do mar de boa temperatura.

Pelo areal fora, marcha para lá, marcha para cá, bastantes pessoas, em pequenos grupos.

"Habitués" de todos os anos, o norte gosta imenso de vir para o Algarve. Nesta praia são tios e tias, que se tratam por você, com aquele sotaque portuense ou mesmo mais nortenho.
Eles de calções caros, alguma barriguinha e sempre um cordão de ouro, com ou sem crucifixo. Elas, loiras ou com madeixas embora o cabelo branco esteja na moda. Frequentemente de bikini a mostrar alguma gordurinha num corpo que sofreu no ginásio e nas massagens.

Mas este ano as fotografias vão ficar estragadas, é que andam todos de máscara. Ao tirá-las ficaram com parte da cara branca. Será que se torna moda?

terça-feira, 19 de maio de 2020



67º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Que bem fiz em vir ontem! Temperatura q.b., praia enorme quase deserta, passeata com banho a meio, ida e volta uns kms.


Kit de praia, o costume mais a máscara, não na cara mas na bolsa.

À vinda passagem pelo mercado e o almoço foi um luxo!


RECEITA DE AMEIJOAS - Sem cebola, sem refogado, sem sal nem pimenta, vinho ou outro líquido. Tudo natural e simples. 

Passe por um mercado de praia e compre ameijoas "boa", é o nome delas. No mercado vão lhe colocar as ditas em água do mar. À chegada a casa verta tudo num alguidar enquanto prepara a mesa.
Usei uma wok com tampa. Muito importante a tampa, porque deve ficar vedada.
No fundo pus um dente de alho a que dei um murro, esmagando parcialmente
Azeite a tapar o fundo
Um pouco de coentros cortados com a tesoura
E ao mesmo tempo as ameijoas que se tiram da água.
Tapa-se e deixa-se estar em lume forte poucos minutos (no meu fogão estava no nº 9)
Logo que estiverem abertas, tira-se do lume.
Por cima mais um pouco de coentros também picados e limão.

Acompanhe com pão alentejano ou algarvio. Molhe-o no molho.
Bebida branca a gosto.