sábado, 7 de novembro de 2020

 

237º dia do recomeço do blog


Muito bom poder ver sentada no sofá um concerto em directo da Fundação Calouste Gulbenkian. Pela internet.

Foi o meu fim de tarde, o prazer de ouvir uma obra em estreia, baseada nas Cartas de Soror Mariana. Orquestra com uma excelente soprano, e um coro de três outras, tapadas como as freiras. Ah, e a orquestra e o maestro de máscara na cara excepto os sopros. Muito bom!

A 2ª parte foi a 2ª Sinfonia de Beethoven. 

Depois do jantar televisão. Assisti ao debate entre Mário Soares e Álvaro Cunhal, realizado em Junho 1975 na Antène 2. Nunca tinha passado cá. De facto, uma categoria de homens. Os 2. Mário Soares enunciou os seus desejos, assim como Álvaro Cunhal. Meses depois deste debate dá-se o 25 de Novembro 1975 e o país dá uma volta à direita. Falaram em francês, correcto, Mário Soares com a pronúncia que lhe conhecíamos "mô ami miterã". Álvaro Cunhal com uma melhor pronúncia e uma rapidez de TGV. Que domínio da língua francesa. 

Embora Portugal tenha feito evolução mantém-se os grandes grupos económicos, os muito ricos, ricos, pobres e muito pobres, a viver abaixo do limiar de pobreza. Classe média perdeu bastante.

E hoje até se assiste a um partido extrema direita, fascistoide, a coligar-se com um partido social democrata! 

Não resisto a publicar a carta aberta de Gaelle Becker Silva Marques. Sim, o teu pai ia gostar de a ler. 

CARTA ABERTA AO actual PSD
A coligação do PSD Açores com o Chega é reveladora de uma grande enfermidade!
Enquanto filha de um ex-deputado do PSD, não posso deixar de manifestar um profundo desprezo pela decisão política dos actuais dirigentes deste partido.
Enquanto filha de um ex-Presidente da Bancada Parlamentar do PSD, não posso ficar calada perante esta assombrosa decisão.
Enquanto filha de um dissidente do Estado novo, de um grande lutador pela Democracia em Portugal, sinto-me na obrigação de denunciar o inimaginável e de acusar o actual PSD Açores de defraudar os ideias democráticos que o fizeram nascer e crescer enquanto partido. Acusar o actual PSD Açores de defraudar os portugueses que nele votaram, acreditando que os princípios fundadores do partido continuariam a ser os mesmos princípios de sempre e, por isso, os de respeito, de diálogo, de defesa da Democracia e de combate em prol da Democracia. Acusar o actual PSD Açores de defraudar os seus eleitores, que se reviram naqueles princípios e que deram o seu voto para que esses fossem firmemente aplicados em nome da Democracia. Acusar o actual PSD de defraudar, sem o mínimo sentido crítico, sem a mínima consciência histórica e partidária, de forma deliberada, oportunista e desonesta, o seu próprio partido. Acusar o actual PSD Açores de defraudar a memória dos seus fundadores, a memória de Francisco Sá Carneiro que acreditou que a reconstrução política através do diálogo era não só possível, mas louvável.
Também é como filha de um pai resiliente e lutador que denuncio. A que presenciou a uma realidade perturbante. A que cresceu ao lado de um pai que foi preso, perseguido, torturado e obrigado a viver no exílio porque acreditava no Ideal Democrático. A que soube o quão devastador foi para ele o afastamento com a sua família. A que soube como se acentuaram as complicações que os anos de Clandestinidade provocaram no seio familiar: ameaças de morte, rusgas, pilhagem. A que o viu abraçar-se ao seu próprio pai, bafejado pelas lágrimas, que o julgara morto e que por isso demorou a desculpá-lo. A que pressentiu e presenciou: as suas angústias, os seus terrores nocturnos, as suas cicatrizes no corpo, as suas tensões e crispações, os seus sobressaltos, a sua revolta contra a injustiça, a sua luta na defesa do oprimido, da dignidade humana, do direito das mulheres e de todos os direitos que um regime totalitário pretende à força, a ferro, a tiro e a sangue abafar e anular
Esta coligação não só ataca a Democracia, como também ataca directamente as famílias nos seus lares. Ataca o que de mais precioso se exala: o livre Pensamento, a Liberdade em si, a Humanidade, o direito à Escolha, mas também a Responsabilidade.
A política existe, antes de mais, para servir o eleitor. Jamais deve obstruir a livre circulação da democracia. Jamais deve pactuar com a gangrena que se queira instalar.
E é em nome de todos os cidadãos que acreditam nos valores da Democracia, mas também em nome do meu Pai, que hoje denuncio:
Acuso! Acuso o actual PSD de fragilizar a via democrática e de empurrar, mesmo que a longo prazo, a nação portuguesa para a via totalitária!
Não à gangrena!
A gangrena, Nunca Mais! Nem a da Esquerda, nem a da Direita!
E que o medo nunca nos cale!
Gaëlle Silva Marques
Hoje, no dia 7 de Novembro de 2020, dia em que o meu Pai faria anos, denuncio o que ele próprio denunciaria se ainda estivesse vivo.

Lá nos EUA continuam a contar os votos!