segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Escrever como terapia?

 

272º dia do recomeço do blog

Porque escrevo desde há 272 dias sem interrupção? Já me fiz a pergunta várias vezes e pensei sobre isso.

O número de pessoas que passam por aqui é ínfimo, não será pois para ser lida pelos outros.

Recomecei a escrever a 15 de Março, altura do confinamento, alteração da minha vida. Sem destino nem assunto fixo, escrever é uma forma de pensar comigo. Tem dias em que não falo com ninguém, podia pensar para dentro, mas esta escrita no blog tem uma espécie de obrigatoriedade, "escreve Magda para pensares contigo própria". E faz-me pensar mais e tentar organizar o pensamento. Acho que se não o fizesse ia empobrecendo e destreinando o meu discurso.

As palavras, quando não usadas, vão desaparecendo da nossa memória. Temos de fazer um esforço para as encontrar, e se falarmos com alguém, procuramos as palavras e podemos não as encontramos. E o pensamento pouco fluido pode até ficar perdido na lógica.

Por isso continuarei a escrever, sem qualidade literária mas com uma finalidade, quase me atrevo a dizer, terapêutica.

domingo, 13 de dezembro de 2020

a morte decretada

 

271º dia do recomeço do blog


Hoje dois homens foram mortos por estarem condenados pelos Tribunais à pena de morte, um no Irão, por razões políticas outro nos EUA por homicídio. Seja qual fosse a razão, a pena de morte é inadmissível!

Um nojo estas situações.

Desde que me lembro procuro nos jornais a área da necrologia. Tem a sua razão mas passo agora ao lado dela. Vejo o nome e quem participa. Marido ou mulher, filhos, netos e às vezes bisnetos. E hoje tive um pensamento novo, fiz contas à minha idade para ver se posso viver o suficiente para ainda ter bisnetos. Um pensamento positivo.

sábado, 12 de dezembro de 2020

O dia acaba quando se põe o Sol?

 

270º dia do recomeço do blog

Umas horas a ver um filme português que foi muito falado mas que eu não tinha visto "A Herdade". Muito comprido, e nem sempre conseguido. É cinema e com bons planos mas tem cenas de autêntico teatro. Estas pareceram-me falhadas. Seria uma cena dramática de quatro personagens ao jantar. Família nuclear onde pensamos que será desvendado um segredo, um filho bastardo que está apaixonado pela filha do casal. No fundo e tal como nos Maias do Eça de Queirós amor proibidos. Mas nesta cena a emoção do drama que se está a viver não passou. 

Natal conjuga com circo. E lá fico eu a ver, Monte Carlo como todos os anos. Tem sempre uns números espantosos! Tão diferente dos circos pobres que eu vi quando era novinha, pobres mesmo, até nos collans delas com buracos e nos trapezistas sem rede. 

E assim se chega ao fim do dia.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

O copo

 

269º dia do recomeço do blog

Não sei há quantas décadas estarias ali fechado, numa escuridão total onde nenhum ponto de luz conseguia entrar. Frio quando te toquei, estavas sujo por fora e muito por dentro. O teu fundo era preto, em camadas. Tinhas companhia, naquela prisão estava outro aparentemente igual. Seria? Do lado de fora tens gravada uma data, numa letra pequena e tombada. 21-4-935. Data que a mim nada me diz. E o outro, teria a mesma gravação? Não olhei, imagino que não, qual de vós seria o mais velho? Fiz mal em trazer-te? Não, tu não sentes nada. Eu sim, eu vou-te sentir nos meus lábios, algumas vezes por dia. Mas antes ficarás todo limpo, brilhante mas continuarás duro e frio como és. Mas como o metal é bom condutor quando estiveres cheio de água quente também tu terás outro calor que eu sentirei. 21-4-935, que terá acontecido nessa data? Nunca irei saber. Talvez amanhã ou depois, recuperado devesse gravar a data de agora, em que vais voltar a ter uso. Vou tratar de ti que no fundo é também tratar de mim, durante umas boas horas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Com poema de Herberto Helder

 

268º dia do recomeço do blog

Estamos a ficar doentes. Os horizontes curtos que a pandemia permite estão a bloquear a nossa criatividade e a limitar o pensamento. Quando há dois dias escrevi sobre o estar "covitada", estou mesmo. Tudo o que é de novo, parece que não aprendo, não me lembro, esqueço, confundo. Quase me admiro como é possível que há pouco mais de ano e meio eu trabalhava, tentava resolver os problemas dos outros, pensando, escrevendo sobre eles, apresentando em público, sabendo discutir. Mexer nos materiais com que brinco, criar objectos de adorno, desenhar. Tudo parou. Ficou e de forma quase obsessiva a leitura da prosa, que por contínua faz com que me admire por serem 18h ou outras mais tardias. Elas passaram sem dar por isso. A leitura que faço enrola-me, adormece-me e quando acordo tenho consciência que não dormi, mais como se tivesse estado num estado de alheamento.  Acordo por vezes para uma actividade esporádica. Gostava de dizer que amanhã será diferente, um dia novo, mas será?

"Eles estão a morrer de todas as maneiras 

mas diga-me: não há apenas uma só maneira:

a maneira cega?"

Herberto Helder


quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

São bestas, senhores, são bestas!

 

267º dia do recomeço do blog

Um cidadão ucraniano veio de avião para Portugal. No aeroporto é morto à pancada por inspectores do SEF. Maltratado e deixado a morrer num sofrimento de horas. 

Já tinham morrido dois aspirantes a militares em treinos de recruta. Maltratados pelos formadores militares, desumanamente,  desidratados, tardiamente levados para o hospital. Vem-se agora a saber que em cursos anteriores aconteceram episódios semelhantes, sem mortes mas com jovens homens a ficarem dependentes de hemodiálise. 

Foram vários os inspectores do SEF que assistiram, souberam e nada fizeram. 

Foram vários os instrutores militares que assistiram, participaram ou silenciaram.

São bestas, senhores, são bestas! 

Oxalá seja feita justiça. Os pides salvaram-se, somos um país de brandos costumes. 

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Uma cabeça covitada-19

 

267º dia do recomeço do blog

Ontem passou na televisão o filme "O Labirinto da Saudade", sobre a obra e pessoa de Eduardo Lourenço falecido esta semana, conforme aqui disse a 2 de Dezembro.

Nunca tinha visto o filme que achei muito interessante. Várias pessoas da cultura portuguesa com excepção do Gregório Dudivir (brasileiro) falam com ele e perguntam-lhe alguma coisa sobre a qual ele discorre o seu pensamento. Ele vai andando pelas salas de um edifício lindo, como se andasse pelo seu pensamento multifacetado ou as salas da vida, onde em cada uma está uma dessas pessoas. É bonito o filme, na imagem e música e pelo discurso dele.

Um dos que lhe perguntam a opinião é Siza Vieira, sempre de cigarro na boca, sobre a morte, o que será. E deu a sua própria opinião, ele que fazia obras de arquitectura, tem filhos, a vida terá uma continuidade que fica. Ao que ele retorquiu que Hiroxima em poucos minutos foi destruída, já ninguém sabe quem tinha construído mas todos sabem quem a destruiu. De facto neste exemplo é verdade mas não será uma resposta um pouco agressiva, ou destrutiva? Ou para nos pôr a pensar? Não é por acaso que a fixei.

É um filme de 2018. E hoje quis de revê-lo. Porque...imaginem que ouvi falar na Covid, o que me pareceu impossível porque ainda não existia nessa altura. Daí que hoje fui revê-lo. Claro que ninguém falou, a minha cabeça é que está covitada!