sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Poema - Maria Eugénia Cunhal

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Se eu conseguisse vencer a banalidade das palavras
Fazê-las falar com a mesma intensidade com que sinto
Se elas pudessem ter a pureza de um gesto
E a profundidade quente dum olhar
Talvez que este pudor de as empregar
Desaparecesse.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Aconteceu...um grito de indignação, mais um!

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Reunião de serviço num hospital público. A equipa reúne-se, discute os novos pedidos de consulta que foram feitos para crianças. As famílias já foram acolhidas por um técnico que nos expõe a situação. Pretende-se com isso perspectivar a melhor intervenção na próxima vinda ao serviço.
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A técnica do serviço social expõe a situação socio económica das famílias, impressiona a quantidade de família em que pelo menos um dos elementos que se encontra desocupado. Em muitas, pai e mãe no desemprego, a receber subsídio de desemprego, rendimento social de inserção, dependentes de apoio familiar e vivem no fio da navalha. Este é o quadro frequente com que nos deparamos nos utentes que nos procuram. O desemprego dos pais, o baixo nível socio-económico familiar são factores de risco (acrescido) para as crianças.
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À nossa frente temos as agendas para poder ir fazendo as marcações dos casos que nos vão sendo distribuídos. Agendas que o hospital nos fornece no início de cada ano. Aparentemente agendas vulgares, com os calendários do ano anterior, do actual e do próximo ano, com cada dia a ocupar uma página, enfim como qualquer agenda.
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E de repente ouve-se um berro de alguém que diz "Espanha!". Faz-se um silêncio. Todos se olham, tentam perceber. E de repente fica claro, é que uma agenda colocada de costas sobre a secretária, mostrava a marca de origem, fabricada em Espanha. Confirmo, o dia de 6 de Janeiro, hoje, vem marcado no calendário como feriado.
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Tanto desemprego e o Estado compra produto espanhol!! Não haverá agendas fabricadas em Portugal? Será que os papel timbrados, envelopes e outras coisas que qualquer serviço estatal usa, também ablam espanhol? Não se poderia dar trabalho a uma tipografia portuguesa?
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Comentários para quê?
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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Aconteceu...Foto num dia de chuva



...........................................Fotos - Magda

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Poema - Pedro Tamen

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E ao fim do meu dia
a matéria de que se faz a minha vida
de novo abandonada
de novo de novo abandonada
pergunta-me silenciosa
se ao apagar da luz
a vida terá princípio.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Aconteceu...Que o grosso da coluna anda cá fora

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Antigamente, quando havia hospitais psiquiátricos com funcionamento por vezes asilar, as pessoas estavam habituadas a ver pelas ruas que ficavam perto, doentes com ar abandónico, a pedir esmola para um café ou um cigarrinho.
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"De médico e de louco todos temos um pouco", diz o provérbio, sendo que a verdadeira essência do assunto, é que todos gostaríamos de ser um pouco médicos e todos temos um enorme medo de ser um pouco loucos.
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Em frente do antigo Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, havia uma papelaria que também vendia outros objectos que serviam para resolver uma prenda de última hora.
Há bastantes anos, uma médica desse hospital, bem arranjada e com bom aspecto, foi lá comprar um objecto qualquer que precisava de um embrulho bonito para ser oferecido. A funcionária atendeu a cliente muito atenciosamente, e estava a começar a embrulhar o objecto escolhido, quando lhe entra pela loja dentro um residente do hospital para comprar um maço de tabaco. Aflita largou tudo da mão e apressou-se a atender o homem. Quando recomeçou o embrulho, a cliente perguntou-lhe o porquê da aflição, de ter largado tudo e passado o outro à frente, ao que ela respondeu que era preciso porque ele era do hospital. Com voz calma a cliente-médica respondeu-lhe que também ela era, sem dar mais explicações. O susto da caixeira foi tão grande, que deixou sair um pequeno grito e largou o embrulho que caiu ao chão.
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Lembro-me de vez em quando desta história verídica.
Todos os dias ouvimos e lemos nos jornais notícias de decisões que mais parecem saídas de malucos, elaboradas por gente com postos importantes e que por vezes até mandam em nós.
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Dos doentes “encartados” não há normalmente que ter medo, mas como alguém dizia, "O que as pessoas não sabem é que o grosso da coluna anda cá fora!".

domingo, 2 de janeiro de 2011

sábado, 1 de janeiro de 2011

Poema - Nuno Rocha Morais

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Deveria ser dado que morrêssemos
Com um amor ainda vivo em nós,
Como deveria ser dado a um pássaro
Morrer naturalmente em pleno voo.