segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

O frio em Lisboa durará muitos dias?

 300º dia do recomeço do blog

Está frio. Somos atravessados por temperatura baixas a que Lisboa não está habituada.

Eu que já vivi na Beira-Alta, Alto-Douro já passei por muito frio, mais frio que este. Meses seguidos.

- Os canos de manhã estavam gelados. Banho só à noite.

- As fechaduras ficavam tapadas pelo gelo. Era preciso deitar-lhes água para conseguir meter a chave.

- A pele das bochechas dos meus filhos, mesmo com o cuidado de lhes pôr creme, estavam vermelhas, como todos os miúdos das aldeias da zona.

- A água do tanque tinha uma camada de gelo. Para lavar a roupa antes de chegarem utentes - eu vivia no 1º andar do centro de saúde - tinha de a partir para então poder lavar a roupa. 

- Em Leomil, o posto de Saúde onde prestava serviço, na rua a fogueira era acesa por volta das 6 da manhã e à sua volta os doentes tentavam aquecer-se. Lá dentro, eu com duas camadas de roupa e sem aquecimento, tentava atender o observar o melhor que eu podia sem que o barulho dos dentes se ouvisse.

Em Lisboa, agora, o céu está azul, lindo! 

sábado, 9 de janeiro de 2021

A minha Mãe está nas plantas dos jardins da Gulbenkian

 299º dia do recomeço do blog

Margarida Roque Gameiro Mendo

(9 de Janeiro 1923- 7 Janeiro 2006) Cremada a 9 Janeiro 2006

Uns dias depois...

Dia de chuva fraca mas contínua, uma espécie de camada húmida que não deixava ver nada à frente.

Esta situação climatérica, em que ninguém passeava pelo jardim da Fundação Gulbenkian nem os polícias e guardas habituais, favoreceu a ilegalidade.

Com os meus dois filhos, já adultos e uma amiga, fui deitar as cinzas resultantes da cremação do corpo da minha Mãe num cantinho do jardim. Era o seu jardim preferido! 

E desde então quando por lá passo, penso sempre com ternura que ela está por ali.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Resolvido o mistério das flores!

 298º dia do recomeço do blog

Consegui ainda ontem resolver o mistério do cartão que acompanhava o bouquet e quem assinava Jardim Zoológico.

O xi coração foi fundamental, tenho poucas pessoas que se despeçam assim. Eu sou uma delas e a minha amiga Teresa também o usa.

Ela está doente e já falei nisso a propósito do internamento domiciliário do SNS. Tem uma sintomatologia semelhante à de há um ano, em que esteve internada no hospital. Mas a bactéria causadora é outra. Comentei com ela que parecia um jardim zoológico, tanta variedade de bactérias. Pelo estado não achou nenhuma graça, na altura não percebi como tinha ficado magoada. E só ontem ela me falou de como às vezes as minhas palavras não têm graça nenhuma. 

Descobri assim quem me enviou as lindas flores. Tenho de ter cuidado, quando se está mais frágil às vezes não se consegue ter humor para piadas, com ou sem  graça.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O prazer de viver depois de preencher a ausência com recordações ternas

 297º dia do recomeço do blog

7 de Janeiro é um dia em que coexistem dois acontecimentos importantes. Em 1952 nasci eu, em 2006 morreu a minha Mãe. Durante anos este dia foi vivido com sofrimento, uma mistura em que não se desligavam os acontecimentos. A ausência dela era quase mais marcada do que a minha existência. Quis compreender esta situação como a nossa grande ligação afectiva, não simbiótica mas forte. O tempo ajuda muito, é com ternura que a relembro, sem dor.

À tarde bateram à porta. Era um homem jovem, bem vestido e que com um bouquet de flores me perguntou o nome e o entregou. Lindo como se vê pela fotografia.
Trazia um envelope com o meu nome e morada. O apelido que sempre usei profissionalmente. Lá dentro, escrito à máquina mas não impresso, leio tudo em maiúsculas, MAGDA, PELO TEU DIA. XI CORAÇÃO, COM DESEJO DE SAÚDE E ALEGRIA. Assinado JARDIM ZOOLÓGICO.

Verdadeiro mistério, não faço parte dos amigos do Zoo, nem o visito há uns anos. Quem me terá enviado as flores? Uma pessoa amiga não identificada? Um urso? Será que desvendarei o caso?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Grande trumpice!

 296º dia do recomeço do blog

Estamos em vésperas de eleições presidenciais. Dia 24 de Janeiro, estaremos em medidas de "confinamento" até dia 15. Terá sido bem escolhida a data?

Tenho acompanhado os debates entre os candidatos. Mais ou menos, tenho o meu voto já definido.

Acabo de ver o que aconteceu nos EUA, com a incapacidade de compreender porque se vota, porque há um que ganha e outro que perde. Trump trabalhou para isto, a violência, a arrogância, a omnipotência, o desrespeito. Vi hoje os seus apoiantes invadirem o Capitólio, impedir o decorrer da sessão que, por votos, daria a maioria a Biden. Absolutamente incrível mas este tipo de atitude foi criada pelo perdedor ao longo da sua vigência. A palavra nojo, receio, indignação e outras serão suficientemente claras?

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

A menina voou da minha mão

  295º dia do recomeço do blog

Morreu o João Cutileiro. Este início de ano tem sido fértil em mortes de artistas importantes. Estamos a 5, já morreram 2. Gosto muito da sua obra em pedra, na mistura de pedras diferentes que fazia na mesma peça. E também dos desenhos mas não tanto.

Há talvez mais de vinte anos comprei um desenho feito por ele, um original a tinta da china. Uma menina nua, de cara pouco trabalhada, cabelo aos caracóis. Agora reparo, como os dele. Muitas meninas fez!

Comprei e ofereci. Não era dos mais bonitos mas tenho pena de não o ter. 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Visitei o Cemitério Pere-Lachaise, qualquer dia visitarei o dos Prazeres.

 294º dia do recomeço do blog

Houve uma altura em que não entendia, outra em que achei um disparate. Hoje compreendo e aplaudo a minha Mãe.

A minha Mãe, médica e com uma vida muito preenchida, tinha por vontade homenagear algumas pessoas que considerava mesmo que não as conhecesse em vida. 

Abandonada a crença da religião muitos anos atrás, era mesmo à pessoa que ela fazia.

Lembro-me bem de a acompanhar ao Cemitério dos Prazeres, aquando o funeral do Vasco Santana (1958) e do João Villaret (1961). Em qualquer um deles eu não tinha ainda 10 anos. 

Houve outros. Anos mais tarde vi-a e ao meu Pai, este já bastante doente, a seguirem a pé o funeral do Pedro Soares e da Maria Luísa Costa Dias, ela colega de curso da minha Mãe e amiga, ambos do PCP, mortos num acidente nunca completamente esclarecido o como ou se por quem foi provocado.

Ela tinha um profundo respeito pelas pessoas e reconhecia-os.

Quando morreu Joaquim Agostinho perguntou-me se a acompanharia. Não pude.

Hoje, dia do enterro do Carlos do Carmo, certamente ela iria querer prestar-lhe uma homenagem.

A homenagem que eu prestarei será ouvir os LPs que eram dos meus Pais. Felizmente mantenho os discos e o gira-discos na casa de "aldeia".