domingo, 7 de junho de 2020




86º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Como não escrevo só pelos acontecimentos do dia, notícias, política mas também coisas passadas de que me vou lembrando, tenho por vezes receio de me repetir. 

E resolvi reler uma ou outra coisa escrita em 2010. Reparei que publicava poesia, não minha que não a escrevo. Mas de poetas, alguns muito conhecidos outros de quem não voltei a ler.

Sim, leio muito menos poesia que antigamente. 
Mas quando leio é em voz alta que continuo a ler.

O que me acontece agora, sem ser poesia, é ler em voz alta para não me desconcentrar. Tem dias e se calhar textos.

Ontem comecei a ler um livro do José Rodrigues Miguéis, Uma Aventura Inquietante, que comprei por 3€ numa livraria solidária de livros usados. Há muito tempo que não lia este autor. Inesquecível A Escola do Paraíso! Este é um policial e agarrou-me desde o início mesmo a ler para mim, como é mais habitual. Bem escrito, como era de esperar e com a história a deixar-nos sempre curiosos e como diz o título inquietos.

Não, isto nunca tinha escrito, posso ficar descansada.


sábado, 6 de junho de 2020



85º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Mudei de terra e de casa, novamente. Promovida a vila já há umas décadas, pelo seu então desenvolvimento industrial, continuo sempre a dizer a aldeia.

Os Pais da minha Avó nasceram cá, assim como a minha Avó Elvira. A casa que herdei fica na parte antiga e ela própria é antiga. 

Durante anos vim passar alguns fins de semana aqui.
À hora do café, no meu serviço, sempre falei da aldeia. Todos os meus colegas sabiam qual era e onde. Vários deles já cá tinham vindo.

E um dia soube que uma das técnicas era de cá e a mãe dela uma das professoras da escola. 

Quando soube confesso que fiquei atrapalhada. Então ela, ali a ouvir-me falar da "aldeia" e nunca se "denunciou" até ao dia em que me fez a emenda. Só podia ser algum complexo, pensei eu, de ser daqui e eu denegrir, com muita ternura, a terra dela.

Convidei-a então para vir a minha casa lanchar. Ambas tínhamos filhos entre os 12 e os 9 anos, que também vieram. A padaria a lenha é quase em frente, fomos buscar pão quente. Na lareira de chão, fumeiro como deveria dizer, assamos chouriço e febras de porco no chão numa grelha de pés colocada em cima das brasas nas brasas. 
Os rapazes dela adoraram, que maravilha de chouriço, ai as febras e ai o pão quente, enfim fizeram as honras da casa.

Uns tempos depois convidou-me para ir lanchar a casa da Mãe dela. Queijos franceses, sanduíches de  fiambre em pão de forma e bolo. 

O que me deu azo a que lhe dissesse assim como a pacificar as diferentes perspectivas que ambas tínhamos razão na classificação da terra, na minha casa era na aldeia e a dela fomos recebidos à vila. 

sexta-feira, 5 de junho de 2020



84º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Isolada? Fiz um pequeno intervalo. 

Estava a sentir uma dor dentro de mim. Quando desconfinei, mudei para as buganvílias, a areia e os passeios longos pela areia. Sozinha, isolada é certo. Mas era uma novidade, e durante dias esqueci a dor. 
Com o skype falava com os meus netos, com o WhatsApp escrevia com os filhos, frases curtas, fotografias, pequenos acontecimentos.

Mas os dias foram ficando todos iguais e a dor voltou.

Regressei à minha casa. E foi com prazer que contemplei os meus objectos, me sentei no meu sofá, meu, meus, ser filha única mantém-se nesta pertença.

E eis que o meu filho Martim me desafia para jantar, numa esplanada ou em casa. Não aguentei. Tinha mesmo de ir, sem abraços nem beijos, mas foi tão bom!

E hoje fui almoçar com os meus netos a uma esplanada. Foi o Duarte, o meu outro filho que sugeriu.
O primeiro momento senti-me uma emigrante que regressa a casa ao fim de quase 3 meses. Tinham crescido, o mais novo com a cara mais redonda, o mais velho mais alto. Contentes, simpáticos. Verbalizaram que tinham saudades minhas, rimos bastante mas também falámos do que passámos no confinamento.

Acabámos com um gelado, comido pela rua fora, com o prazer da boca a confundir-se com o do coração.

Agora recomeço outro período de maior isolamento. Mas para já, a dor desapareceu.

quinta-feira, 4 de junho de 2020



83º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



No Algarve estive com as buganvílias.












Em Lisboa, nesta altura do ano, estão lindos os jacarandás.
Cheguei. Fui cortar o cabelo e a rua estava assim. Lindos!





quarta-feira, 3 de junho de 2020



82º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


"É preciso ter estomago para estar numa linha SOS a ouvir pessoas que ligam a falar dos seus problemas", ouvi dizer a propósito da saúde mental em tempo de pandemia.

Fiquei a pensar. 

Quando se fala de problemas psicológicos, psiquiátricos ou familiares, nós os técnicos da área até podemos falar de forma simples e clara, tornando as coisas claras, compreensivas e até simples. 
Isto é o que pode parecer, lógico e simples dirá quem ouve.
Quanto mais se sabe mais fácil é traduzir para linguagem percebível.

Dei formação a médicos, psicólogos, professores e pessoas com outras formações. Se o assunto em questão podia ser o mesmo, a linguagem não o era.

Paralelamente à nossa formação quase todos de nós fizemos outra, a pessoas, que nos permitiu entendermos-nos a nós próprios como aos outros.
Foram longos anos que isso demorou.

Não sei quem esteve por detrás das linhas SOS. Idealmente deveriam ter sido pessoas com formação sólida, que possam compreender o outro sem se deixar destruído pelos problemas que lhe expõem.

Não seria para estas pessoas das linhas de apoio o estomago mas o saber que as protegia. Oxalá. 

segunda-feira, 1 de junho de 2020



81º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Locutores, animadores, gente conhecida da televisão, passam na RTP a dizer que quando isto acabar vão a correr abraçar a família, comer percebes, ou ainda encher a casa de amigos... Deve ser para animar a malta mas discordo. Não sei quando iremos abraçar alguém, dar beijinhos e juntar muita gente em casa. Acredito que vamos manter regras de distanciamento muito mais tempo.
Não seria muito mais útil se fizessem demonstrações do que fazer ou não com as máscaras?

Hoje na praça havia sardinhas. A pesca começou ontem. Brilhantes, curvadas de fresco mas pequenas e para o magro.

Havia algumas pessoas a comprar, caixas de esferovite cheias. Seria para um grupo de amigos ou para algum tasco? Não entrei no mercado, só vi pelas portas abertas e nem a que preço estavam a ser vendidas.

Eu estava à porta da venda do pão, mesmo ao lado do mercado. Um casal estava a seguir a mim na pequena fila, todos de máscara tal como a padeira. Falavam na broa. Se ali haveria, e a mulher disse ao homem para ir comprar o pimento. Pelos vistos já tinham sardinhas.

Já aviada de pão alentejano, segui o meu caminho. Tal como a maioria de pessoas com a máscara posta.

Mais à frente, a sair do mercado dos legumes estava o homem, o tal marido que tinha ido fazer o recado. Numa mão um saco de plástico e com a outra... levantou a máscara e espirrou para o ar.

Fiquei sem palavras!



80º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


1 de Junho, Dia da Criança

A Junta da Freguesia de Carnide faz sempre no Jardim da Luz uma Feira das Expressões Artísticas, dedicada às crianças. Dura 3 dias, incluindo o dia da Criança. Este ano seria a 20ª edição! As instituições existentes nos vários bairros, jardins infantis, pré primárias, escolas e famílias com crianças costumam ir e são uns dias muito ricos e divertidos para elas. 
















Hoje vi um vídeo em directo da junta. Uma carrinha de caixa aberta, rodeada de balões, emitindo música, umas raparigas em cima a agitar balões. Ia devagar pelas ruas do bairro. 
Demorei uns segundos a entender. Sim, as escolas e as actividades de tempos livres estão fechadas. A escola é dada pela televisão ou pelo computador, se as crianças o tiverem. Os miúdos estão todos fechados em casa!!! Quando muito, chamados pelo barulho que se pretende que seja alegre, talvez venham à janela.
É a pandemia em que vivemos. Tive uma enorme tristeza dentro de mim.