sexta-feira, 3 de abril de 2020
quinta-feira, 2 de abril de 2020
19º dia de isolamento social (COVID-19)
2 de Abril 2010
O Hospital Júlio de Matos, hospital psiquiátrico em Lisboa, iniciou o seu funcionamento em 2 de Abril 1942. Faz hoje anos.
E lembrei-me desta história lá passada e comigo.
Aluna de Medicina da Faculdade de Medicina do Hospital de Sta Maria, tinha lá algumas aulas práticas a que se seguia uma discussão do caso.
Abro aqui um parêntesis, a minha Mãe era médica psiquiatra e pedopsiquiatra, directora da "Clínica Infantil", que se situava lá dentro do enorme e lindo parque que aquele hospital tem.
Um dia, quase no fim de num prolongamento de uma aula, disse ao meu colega e amigo Manel que estava sentado a meu lado qualquer coisa como "vou ver a minha mãe que já não a vejo há uns dias".
A seu lado estava uma colega de turma que não faço a mais pequena ideia quem era. E perante a minha frase e saída da sala ela perguntou ao Manel se a minha mãe estava no Júlio de Matos. Maroto, respondeu-lhe que sim. E ela insistiu, há muito tempo? E ele disse-lhe que desde que eu era pequenina.
A colega, contaram-me, ficou muito impressionada, e com tristeza referiu-se a mim, coitadinha, que sofrimento deve ter com esta situação.
Já disse que não sei quem foi a colega, sei que essa situação nunca terá sido clarificada.
Acho que se tivesse sido num hospital geral ela teria perguntado que doença eu teria para estar internada. Ou se teria ido a uma consulta, e até de quê.
Mas a doença mental, estávamos num hospital psiquiátrico relembro, tem um estigma tramado, onde o medo mas também a vergonha predominam. Parou o pensamento da colega e construiu a tragédia sem hesitar.
Quem seria ela?
quarta-feira, 1 de abril de 2020
18º dia de isolamento social (COVID-19)
1 de Abril 2020
"Levanta-te Magda, passa depressa para a casa de banho que vem aí o homem arranjar o estore", disse o meu Pai ao acordar-me.
Entre o meu quarto e a casa de banho havia um hall quadrado e grande, forrado de prateleiras cheias de livros e um móvel antigo em cima do qual estava o telefone. Naquela altura as chamadas eram para ser breves e estar ali em pé nem apetecia falar muito.
Acordei estremunhada e lá fui, tomar banho e arranjar-me. Sem pensar em nada
Quando saí a casa era um sossego, a luz que vinha da sala não era clara e a porta do quarto dos meus Pais estava fechada. Silêncio total.
Não havia homem nenhum nem estore que precisasse de arranjo.
Mentira de 1º de Abril, teria eu uns 12 anos.
terça-feira, 31 de março de 2020
17º dia de isolamento social (COVID-19)
Acordei às 5 horas da manhã. Mas para quê? Que tenho eu de fazer nesta situação de isolamento? 5 horas, madrugada, deve estar tudo escuro.
Como não conseguia adormecer, nem mesmo ficar na cama, levantei-me. Abri a persiana e um céu azul com um sol imenso do lado de lá do vidro estava ali. Da janela ao lado apareceu a minha vizinha, olá, olá, já viu isto como está hoje, disse toda animada. Eu ainda estava estranha.
Olhei em frente, as janelas estavam todas abertas e algumas pessoas gritavam "festejemos!". No terraço do prédio as crianças jogavam à bola, andavam de bicicleta enquanto os pais falavam entre si.
Toca o telefone, era o meu neto Vicente a dizer-me todo animado, avó vou para Carcavelos fazer surf! Pouco depois o telefone torna a tocar, a minha amiga Zé a lembrar-me que tínhamos hoje o teatro às 19 horas, a "A Reconquista de Olivenza" e até podíamos ir antes ao Gambrinos lanchar aqueles croquetes maravilhosos e beber uma cerveja.
Acertámos tudo. Há quanto tempo eu não ia ao teatro? Hum depois de pensar situei que o último tinha sido no Teatro Aberto, "A Criada Zerlina" de Hermann Broch, um monólogo muito interessante, que nos levava para tempos em que ainda havia criadas, aquelas que viviam nas casas, sabiam tudo mas faziam que não sabiam nada. E eram pau para toda a colher...
Acertámos tudo. Há quanto tempo eu não ia ao teatro? Hum depois de pensar situei que o último tinha sido no Teatro Aberto, "A Criada Zerlina" de Hermann Broch, um monólogo muito interessante, que nos levava para tempos em que ainda havia criadas, aquelas que viviam nas casas, sabiam tudo mas faziam que não sabiam nada. E eram pau para toda a colher...
E acordei. Tinha sido um sonho, eu que digo que este isolamento não custa muito, mas o meu inconsciente desmentiu-me.
Virei-me de lado e adormeci.
segunda-feira, 30 de março de 2020
16º dia de isolamento social (COVID-19)
Já contei mas há muito tempo que sou médica. Trabalhei 40 anos e reformei-me em Julho de 2018.
Especialista, com várias formações de trabalho relacional, muito treino clínico, houve duas funções que me foram distribuídas uns anos antes de sair.
Só me vou referir a uma, ser a responsável pelos pedidos de consulta enviados por outros médicos, maioritariamente de medicina interna e familiar dos centros de saúde, mas também de outras especialidades.
Eles enviavam uma pequena história clínica para avaliar, aceitar ou devolver com uma explicação e eventual orientação.
Reformei-me e ao contrário da maioria dos médicos decidi que me iria dedicar a outras coisas que não a medicina, como tem acontecido.
E eis que agora, perante esta pandemia, resolvi que tinha de ter alguma acção. Ofereci-me quando a Ordem dos Médicos pediu colaboração de reformados mas ainda não fui chamada. Com a minha idade não admira.
Mas sentia desejo de intervir, ajudar de alguma maneira.
E no Facebook abriu um grupo chamado "Covid-19, dúvidas respondidas por profissionais de saúde". Aderi. É viciante, ler as perguntas das pessoas, responder, acalmá-las quando é possível, orientá-las se for caso disso.
Sinto-me útil, a ansiedade das pessoas é tão grande que um espirro pensam logo ser sinal de Covid 19.
Novamente a ter contacto com a doença mas também a parte social.
Continuarei um destes dias este assunto.
domingo, 29 de março de 2020
15º dia de isolamento social (COVID-19)
Como distinguir os dias agora que me encontro dentro de casa com a recomendação de não sair?
Domingo sem despertador. É logo uma diferença. Mas acordar à mesma hora de semana para quê?
Procuro marcas, balizas, coisas que me possam organizar. É que já passaram 15 dias ... quem diria!
Lembrei-me de Mário Quintana
SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
A vida é um dos deveres que nós trouxemos para fazer em casa
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade.
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
sábado, 28 de março de 2020
14º dia de isolamento social (COVID-19)
É preciso dar a volta por cima e ser feliz com as pequenas coisas.
Hoje, por exemplo, recebi uma mensagem que dizia " Às 17h concerto de piano via skype pelo Francisco".
É o meu neto mais novo, 10 anos, que aprende música há algum tempo e desde Setembro integra o Ensino Articulado de Música numa escola pública perto dele.
À hora lá estávamos 7 agregados familiares com laços de proximidade a olhar para o écran, . Algum atraso que isto das novas tecnologias e a 3ª idade nem sempre funcionam rapidamente.
Tocou bem, compenetrado como se estivesse numa audição, todos gostamos, batemos palmas, no fim falámos uns por cima dos outros. Foi a primeira reunião familiar desde este isolamento.
Que bem que soube!
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