segunda-feira, 7 de setembro de 2020



178º dia de recomeço do blog

As escolas vão abrir. Estiveram fechadas durante meses, durante o confinamento, só tendo aberto perto do fim do ano para os mais velhos e os exames do último ano.

Os colégios particulares já abriram esta semana. 70 alunos do colégio alemão já estão de quarentena.

A escola não é só para aprender as matérias. Se calhar esta é aquela que melhor se pode fazer em casa, com ensino à distância via net ou Tv.

Mas em casa há muitas coisas que não se podem fazer. E das mais importantes! A socialização, aprender a fazer relações, brincar em grupo, e tantas outras.

Hoje encontrei uma mãe de um jovem que conheci nas minhas lides profissionais. Toda contente de me ver disse-me logo que o filho tinha tido o melhor resultado, leia-se notas, de sempre durante a pandemia. Que ou ela ou o marido estavam sempre com ele em casa pelo que estudou sempre acompanhado. E acrescentou que assim é que era bom para ele.

Inutilmente, por experiência da situação, ainda arrisquei outras funções da escola mas logo que calei. Apesar de já ter deixado de trabalhar há 2 anos ela disse-me saber muito bem a minha opinião. Minha mas não a dela.

domingo, 6 de setembro de 2020



177º dia de recomeço do blog

A Festa do Avante, organização do Partido Comunista Português, existe desde 1976. É uma reunião gigante de várias actividades, políticas, culturais, exposições, concertos etc. 

Este ano foi motivo de campanha anti-PCP, que ocupou todos os jornais, telejornais, programas de debate etc. Quase ocupou os assuntos importantes de Portugal, anulando-o. À boleia da Covid-19 a direita portuguesa fez propaganda demolidora, levando atrás de si muita gente que não acreditou que o PCP conseguisse organizar com todos os efes e erres, salvaguardando a pandemia.

Na realidade lixaram a Festa. Com um espaço enorme que normalmente recebe 100 mil pessoas, a autoridade de saúde só autorizou 16500. 

Vi fotografias. Tudo muito organizado, cadeiras geometricamente dispostas. Houve de todas as actividades mas em menos quantidade.

Foi uma prova contra o medo. O que nos limita há meses e não sabemos até quando.
Não sei se na Festa estiveram todos os que podiam ir ou se foram menos.

Eu não fui. Não sou regular mas já fui várias vezes.

Temos de vencer o medo!

sábado, 5 de setembro de 2020



176º dia de recomeço do blog

Hoje é sábado mas até meio da tarde pensei que era domingo. Irrita-me andar assim na maionese como dizia uma colega minha das pessoas aéreas.

Vi um programa de televisão sobre as gaivotas que invadem as cidades (neste caso Porto) à procura de comida, um nojo, e algum perigo, quer pelas doenças, contaminação e violência, há casos de ataques a crianças em terraços. Que fazer mais incisivo?

Merece a pena ver.

https://www.rtp.pt/play/p6595/linha-da-frente

sexta-feira, 4 de setembro de 2020



175º dia de recomeço do blog


Hoje aqui em Lisboa esteve muito quente! Desagradável para mim e brisa não a houve.

"Quando o Verão me passa pela cara

A mão leve e quente da sua brisa,

Só tenho que sentir agrado porque é brisa

Ou que sentir desagrado porque é quente"

Alberto Caeiro


174º dia de recomeço do blog

Deve ser da idade, revisito coisas do passado com alguma frequência.

Ontem dei por mim a pensar em várias empregadas domésticas que viveram em casa dos meus Pais.

Uma de quem tenho muita pena de lhe ter perdido o rasto foi a Ana Maria. Era natural do distrito de Sátão.

Eu já era uma adolescente crescida quando foi lá para casa. Casou de lá, como muitas vezes acontecia, com o Manel um Cabo Verdiano muito simpático. Fui ao casamento na Casa de Cabo Verde.
Já depois de casada convidou o meu filho mais velho, com uns 2 anos, para ir passar um fim de semana à casa dela.
Julgo que alguma intriguice esteja na base do afastamento.

Mas o que me levou a pensar nela(s) era as condições de vida que levavam enquanto trabalhadoras.

A casa dos meus Pais tinha, a seguir ao hall, um corredor que ía dar à cozinha, seguida de um quarto e uma casa de banho para as criadas como então se dizia.
Interna, vivia ali connosco mas a vida dela era lá dentro. Vinha a este lado dos patrões para limpar, arrumar e servir à mesa. Uma espécie de campainha suave tocava para a chamar.

Não havia televisão, não sei se tinha rádio. Fazia muita renda, bordados, ia construindo assim o seu enxoval.

Era uma solidão, digo eu aos olhos de hoje. Lia muito pouco embora soubesse, era uma condição de admissão na casa dos meus Pais.

Sei que teve filhas. Não as conheço. Oxalá tenham conseguido ter uma vida melhor que a Mãe e a auxiliem naquilo que ela precisar. 
E, claro, que ela esteja bem.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020



173º dia de recomeço do blog

Antigamente, quando eu era pequena, em casa dos meus pais havia rádio e gira-discos. A televisão só entrou depois do 25 de Abril já eu morava na minha casa.

E de tempos em tempos compravam um disco. O meu pai chegava a casa por volta das 18 horas e ficava no seu maple (o mesmo onde estou sentada) a ler, fazer as suas esculturas ou ouvir música. Esta não era ruído de fundo, era para se ouvir. Ele fazia-o muitas vezes de olhos fechados e com a mão frequentemente os dedos marcavam o ritmo nos braços do sofá. E o disco tocava e voltava a tocar, dias e meses até entrar outro.

Julgo que os meus pais conversariam sobre a música e os compositores porque a primeira palavra difícil que eu disse terá sido Rimsky-Korsakov, certamente por a ter ouvido e dar-me gozo o exercício que a boca tinha de fazer para dizer essa palavra.

O disco em questão era a Xerazade. Esta interpretação é retirada do youtube. O disco dos meus pais, onde estará ele?

  

terça-feira, 1 de setembro de 2020



172º dia de recomeço do blog

Situação complicada ver uma pessoa de quem gostamos perder as suas capacidades, ter momentos de desorganização e de explosão. No entanto ter outras alturas em que quase consegue recuperar algumas coisas e quase ficarmos esperançadas.

Mas a vida do idoso sem a autonomia que o fazia viver é o quê?

Dei por mim a pensar na minha avó materna. Sentada num maple e embrulhada numa pashmina de lã. Hoje a imagem que tenho é da solidão. Já não lia nem escrevia como até aí que enchia agendas de acontecimentos e pensamentos.Não me lembro se tinha televisão. Nunca a ouvi queixar-se. Ficava muito contente quando tinha uma visita, o meu tio que ia tocar piano, a minha Mãe ou eu. Tinha uma senhora sempre com ela, talvez conversassem às vezes. Um dia um AVC pô-la na cama e em estado comatoso. Foi esperar a morte. Tinha mais de 80 anos.

Depois pensei na minha Mãe, a quem uma demência  tirou a companhia da memória. Nunca se esqueceu de quem eu e os meus filhos éramos. Tinha duas empregadas permanentes, ambas pessoas com formação escolar e de vivência acima do habitual que iam falando com ela. Eu todos os fins de semana. Mas a partir de certa altura obtínhamos resposta se provocada, espontaneamente ficava naquele mundo vazio. Uns anos. Tinha pouco mais de 80 anos.

Complicado responder à pergunta que me fiz no início. Tentar estar presente, relacional, dar prazer enquanto se pode. Falar/ouvir, ouvir/falar. Nem sempre é possível ...