sexta-feira, 29 de maio de 2020



77º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Cada maluco tem a sua mania, diriam.
Pode parecer ridículo mas em adolescente/adulta jovem, não tendo orelhas de abanico, dizia a brincar, ter medo que o vento as levasse. 

Detestava vento! Se fosse passear, na mochila tinha sempre um lenço de cabeça não fosse levantar-se alguma ventania. 

Dito assim parecia uma patetice. 
Mas há pessoas com maior sensibilidade a certos estímulos que outras pessoas. 

E só mais tarde percebi que o vento nos ouvidos me era muito incómodo, causava mesmo uma dor que se mantinha durante um bocado.


Ontem e hoje tem estado um bocado de vento. As árvores mexem. Aragem dirão alguns mas eu não concordo. Por isso tenho aguardado que, com o avançar da tarde ele diminua.

Parece que é agora, vou sair!







quinta-feira, 28 de maio de 2020



76º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Há meses que ando a pagar uma viagem em prestações.
Desde que começou a pandemia comecei a desconfiar que não iria. Mas continuei a querer acreditar.

Recebi agora a confirmação que a viagem não se irá realizar e foi adiada para o ano. 


A propósito ...




quarta-feira, 27 de maio de 2020



75º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Isolada? Distância regulamentar de 2 metros entre as pessoas? 

Abriram há poucos dias as feiras, "desconfinaram".
Vi na televisão uma reportagem da Feira da Ladra, em Lisboa. Menos gente e só os vendedores residentes. 
Também na televisão vi uma reportagem da Feira do Relógio, também em Lisboa. Gente e vendedores talvez em menor número que o habitual.

Destas reportagens chamou-me a atenção a quantidade de gente que põe a máscara mas deixa o nariz de fora. Deveria haver mais anúncios na televisão de como se põe uma máscara para ela ser eficaz...para os outros.

Hoje, 4a feira abriu a feira de frutas, legumes e flores da terra onde estou a desconfinar. Fui, dei uma volta rápida, comprei em 3 bancas. Frutas da época irresistíveis.
Impossível manter a distância adequada, embora julgo que não toquei em ninguém.
Acho que toda a gente tinha máscara mas a querer demorar pouco não reparei nos narizes.


terça-feira, 26 de maio de 2020



74º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada



Ainda não abriu a época balnear e já morreram 40 pessoas afogadas! É impressionante, com o Oceano Atlântico não se brinca! Nem com rios caudalosos nem albufeiras profundas.
Neste período de pandemia deixou de haver aulas presenciais. Foram suspensas todas as actividades livres, desporto, artes plásticas, música. Foi o confinamento. 
Desde há alguns anos, as crianças de algumas escolas públicas passaram a frequentar aulas de natação em piscinas. Não em todas as escolas e só durante por um período insuficiente para que aprendessem a nadar. Julgo que um trimestre.
Saber nadar bem não devia ser considerada uma competência essencial a ser desenvolvida?

Hoje um homem com cerca de 60 anos foi ao banho e pouco tempo depois começou a pedir socorro. Um jovem de 25 anos atirou-se à água para o salvar. Morreram os dois. O jovem não sabia nadar!

segunda-feira, 25 de maio de 2020



73º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


De manhã cedinho, como começa a ser hábito, fui dar o longo passeio pela praia. Calor bom e água boa. Pelo caminho tomei 3 banhos, ondas pequenas mas fortes, vindas de leste. Entrei no sítio e saí mais longe. Uma maravilha!

Não, hoje não encontrei nada interessante para trazer para casa.
Também não tenho nenhuma inspiração para escrever hoje.

De tarde desconfinei com máscara e fui a uma grande superfície. Tinha 3 cadeiras partidas no terraço. Encontrei exactamente iguais às que cá tenho. Mas foi épico enfiá-las no carro. Confortáveis, sólidas e largas, vi-me e desejei-me. Tentei de várias maneiras, até que tive de desmontar os bancos. Depois disso entraram.

Mas é nestas alturas que penso que devia estar acompanhada. Uma companhia funcional. Não tenho muita força e tento fazer pelo mais fácil. Se tivesse desmontado logo os bancos não tinha custado nada.
Ainda olhei à volta, algum funcionário, não havia. Procurei algum homem jovem com ar simpático mas não me atrevi. Lá se resolveu.

Trazê-las do carro até casa é uma distância razoável. No condomínio os carros ficam no parqueamento. Lá consegui também.


Fiquei fula quando descobri que tenho mais uma partida. Terei de lá voltar.

E vou ali tomar um anti-inflamatório e relaxante muscular que já me dói tudo. 


domingo, 24 de maio de 2020



72º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada




Um destes dias falava com um amigo por mensagem. Quando lhe contei que faço uns quilómetros a andar na praia, perguntou-me se eu era uma pessoa solitária.

Fiquei a pensar na pergunta. Solitário, pode ler-se no Dicionário Primberan "Que vive no ermo, que foge da convivência, que vive longe, abandonado por todos=só".  Não, não me reconheço.

Nas minhas passeatas estou comigo, por isso acompanhada. 
O meu pensamento voa, livre, já houve assuntos que tratei comigo. Penso imenso e isso descontrai-me.
Outras alturas fico contemplativa. Olho o que me rodeia, são as cores, as ondas, as conchas e até o movimento da água quando chega junto de mim. Há outras coisas que vejo e algumas trago para casa, sempre a pensar em que as posso transformar. Dar outro sentido diferente daquele que qualquer coisa teve dá uma enorme satisfação.
Ontem trouxe um bocado de cano de ferro amolgado e com muito tempo de água. Hoje um bocado de ferro dobrado em quadrado e com umas peças nas bordas. De alguma armação de pesca? 



Mas às vezes olho as pessoas. Faço muitos metros sem ver nenhuma mas ontem vi as costas de um homem   com algumas tatuagens como se vê por aí. Mas esta era diferente. Como se a cintura onde acabam os calções fosse o chão. Para cima mais de uma mão-travessa de desenhos, horríveis, incómodos. O que terá acontecido àquele homem para tatuar um cemitério, cheio de campas e cruzes? E lá fui eu, pensamento a girar, a imaginar a vida de um homem que não conheço, que nem a cara vi mas cuja tatuagem me impressionou.

Pensando bem, solitária por vezes mas não sozinha.



sábado, 23 de maio de 2020



71º dia de isolamento social (COVID-19)

Desconfinada mas isolada


Estive alguns dias com medo de sair de casa. Não por causa do Covid-19 mas por causa da porta. Emperrou, descaiu e por 2 vezes tive de chamar alguém para me ajudar, com jeitinho ou força, a deixar-me entrar.

Numa zona onde é difícil arranjar alguém, hoje tive toda a manhã o sr. Ioan, que já me fez vários trabalhos de construção civil.

Oriundo de leste, deve andar pelos 60 anos e tem uma grande barriga. Sabe fazer todas as coisas da construção, inclusive electricidade e águas. E, claro, tem sempre clientes à espera.

Neste dois meses de confinamento esteve em casa com a mulher a protegerem-se da doença. Quando retomou o trabalho e porque no sítio onde estou só se podem fazer obras, leia-se barulho de obras, até final de Maio, não aceitou nada de demorado. Só uns biscates soltos.

Foi assim que a sorte me bafejou. A porta, azulejos que se tinham solto, pinturas pequenas, umas torneiras, uns quadros para pôr na parede mas que exigem buraco feito com máquina, e mais uns cem números de pequenos arranjos. Esteve hoje e continuará na 2ª feira.

Entretanto já posso sair. Sábados e domingos são dias que evito mas só saber que posso e a porta se abrirá à minha chegada é um alívio.

Já estive confinada que baste, agora presa era demais.