quarta-feira, 9 de novembro de 2011

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Poema - Ricardo Reis

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Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

domingo, 6 de novembro de 2011

Aconteceu...táxi já em Lisboa

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Aterro logo de manhãzinha no aeroporto da Portela, Lisboa.
Táxi! a fila, palavra brasileira que veio preencher a nossa bicha, maricas para eles, era pequena. Dou de caras com um taxista japonês mas alto. Bolas, que coisa mais estranha, japonês , taxista em Lisboa?!!
Digo a morada e ele não reconhece a rua. Percebe-se pelo sotaque que é brasileiro. Conversa-se um pouco, tanto quanto o cansaço permite. Que lá e cá é tudo uma questão de sorte, diz, e conta uma história dum cunhado que com o 12º ano conseguiu lá no Brasil um emprego muito bem pago. Mas que às vezes é preciso mudar de emprego, de terra, é preciso ir à procura, diz.
Eu já sabia. E só para falar de táxis, lá no Rio, um dos motoristas tinha sido chefe de cabine da Varig, outro topógrafo, outro tradutor. O trabalho tinha acabado e trabalhar como chaffeur de táxi tinha sido a saída.
É complicado, sim, a estabilidade já era. Há que descobrir novos modelos.

sábado, 5 de novembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Poema - Manoel de Barros - Parrrede!

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Quando eu estudava no colégio, interno,
Eu fazia pecado solitário.
Um padre me pegou fazendo.
- Corrumbá, no parrrede!
Meu castigo era ficar em pé defronte a uma parede e
decorar 50 linhas de um livro.
O padre me deu pra decorar o Sermão da Sexagésima
de Vieira.
- Decorrrar 50 linhas, o padre repetiu.
O que eu lera por antes naquele colégio eram romances
de aventura, mal traduzidos e que me davam tédio.
Ao ler e decorar 50 linhas da Sexagésima fiquei
embevecido.
E li o Sermão inteiro.
Meu Deus, agora eu precisava fazer mais pecado solitário!
E fiz de montão.
- Corumbá, no parrrede!
Era a glória.
Eu ia fascinado pra parede.
Desta vez o padre me deu o Sermão do Mandato.
Decorei e li o livro alcandorado.
Aprendi a gostar do equilíbrio sonoro das frases.
Gostar quase até do cheiro das letras.
Fiquei fraco de tanto cometer pecado solitário.
Ficar no parrrede era uma glória.
Tomei um vidro de fortificante e fiquei bom.
A esse tempo também eu aprendi a escutar o silêncio
das paredes.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Aconteceu...menino da rua

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Já tive oportunidade de falar nisto noutra altura, mas cá vai um breve apontamento, e uma nova história de vida.

Resiliência, cada vez mais se aplica este termo da física ao desenvolvimento psicológico. Trata-se, na física, da capacidade que um metal apresenta de voltar ao seu estado anterior depois daquele ter sido alterado. Ou, na outra perspectiva, de uma criança poder ir superando os "azares" da vida e crescendo adequadamente.

" Face au malheur, un choix s'offre à nous. Ou bien nous retourner sur notre passé, et le sel des larmes alors nous pétrifie. Ou bien aller vers l'aventure de la vie", afirmou Boris Cyrulnik, médico e resiliente que se tem debruçado sobre a sua vida e esta característica/competência salvadora.

Ao passarmos em frente a Copacabana, o António, um negrão grande e gordo guia turístico brasileiro, diz que foi ali que cresceu. A volta seguiu, com muitas referências positivas aos portugueses, a quem para ele, o Brasil deve quase tudo. Mais para o fim da viagem, com muita conversa e aumento de confiança, ele conta-nos que foi um menino da rua. E que foi muito ajudado pelos portugueses, uma vez que havia um restaurante de portugueses que o alimentaram, nunca como esmola mas ensinando-lhe que o trabalho merece ser pago. E assim, em troca de uma varridela do chão, de um recado, a refeição era-lhe dada. Era o salário justo, dizia ele. 

António é um resiliente. Inteligente, com vontade de aprender e estudar, aprendeu linguas estrangeiras e acabou como guia a mostrar a cidade que ele conhece tão bem como cada pedra da rua.