quinta-feira, 20 de maio de 2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Aconteceu...1as sardinhas

.
Já sentada num restaurante encostado à praia, na altura de encomendar perguntei se as sardinhas eram frescas. Que não, eram congeladas mas muito boas, esforçou-se o empregado por vender. O ano passado, também aqui no Algarve caí numa dessas e não me apanham noutra. São grandes, secas e com pouco sabor.

Como o mercado era perto, toca de ir ver as ditas. Bom aspecto, todas torcidas e com o lombo já a querer arredondar. Vamos nisso e faz-se em casa, com umas batatinhas novas, salada de tomate, cebola e orégãos, um pimento assado, "carpáccio" de pepino, azeite de Trás-os-Montes do melhor, vinagre tinto alentejano e pão algarvio. Assadas e comidas na açoteia, à sombra da buganvília, bem bom!
.
Há anos, convidada por um casal de algarvios para uma sardinhada,ouvi quase um insulto da senhora, pessoa de educação pouco burilada, por me ver temperar com azeite e vinagre a sardinha, e comê-la com garfo e faca em vez de a comer em cima do pão, com os dedos a retirarem os lombinhos e a levarem-nos à boca.
.
Hoje ao almoço, em conversa a propósito dum livro de Manuel Teixeira Gomes, algarvio, comentou-se que ele descrevia na sua juventude uma ida à pesca numa traineira como observador. E contava que não se podia levar muitas coisas a bordo, pelo que os pescadores só levavam pão, vinho, fogareiros e carvão. A bordo faziam a fogueira que ficava pronta para assar um peixe. Na pesca ao atum, cardumes de sardinhas vinham a fugir dos vorazes atuns, pelo que enchiam as primeiras cestas com elas. Era só içarem para bordo, atirarem-nas para cima das brasas e depois comê-las em cima do pão, que a faina tem muitos momentos mortos mas quando chegassem os atuns não havia um momento de descanso.
Pusemos então a hipótese de ser esta a razão da sardinha ser comida simples e em cima do pão pelos algarvios. Será?
.
Eu cá sou alfacinha
!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Poema - Fernando da Mata

.
POESIA DO DIA

De três em três dias
uma poesia
em "certos dias acontece".
.
E todavia
neste dia de tanta maresia
malhas que a desinspiração tece
não há poesia do dia.
.
... acontece!

domingo, 16 de maio de 2010

aconteceu... recordações despertadas por uma notícia

.
Leio no Expresso que o Santini vai abrir no Chiado uma loja.
.
Em certas coisas fui uma felizarda. Nunca ouvi dizer "não, que agora faz-te mal", ou "ainda ontem comeste" ou outras frases do género a propósito de sorvetes.
.
O meu Pai era um amante e apreciador de sorvete de limão.
Frequentemente levava-me com ele a gelatarias italianas, ele pedia uma taça de limão, que vinha servido em taças de metal e eu um cone de morango ou framboesa, amêndoa ou pistáchio e chocolate. Acabada a sua taça e eu o cone, era suposto levantarmo-nos e irmos embora. Não sem antes ele me propor que fossemos buscar um cone para o caminho.
.
Uns dias íamos à Av. da Liberdade, quem descia do lado direito em direcção aos Restauradores, e sentávamo-nos na pequena esplanada da Gelataria Veneziana, hoje já inexistente neste local. Curiosamente o meu pai defendia que sorvete não era doce de verão, ficava bem com qualquer clima.
Não sei porquê, uma vez que o gelado seria igual, raramente íamos à Veneziana dos Restauradores.
.
Outras vezes era no Santini do Tamariz do Estoril, em dia que, fazendo parte do passeio maior com piscina no Verão, íamos comer os gelados (deveria sempre falar no plural, uma vez que nunca era só um). Na altura a que me refiro não havia a loja de Cascais, onde quando lá vou me "obriga" a uma enorme fila, que suporto com bonomia.
.
Em noites quentes, sentados na Conchanata, da Avenida da Igreja e lá comíamos os nossos sorvetes.
.
Lembrei-me agora que o meu Pai mordia o sorvete com os dentes, mastigando-o e dou-me conta que faço o mesmo com os gelados de pauzinho, quando só há destes.
.
No estrangeiro, nas viagens que eu até achava, nos meus 8 ou 10 anos, bem chatas, (da minha primeira ida ao Museu do Prado só me lembro de ter vomitado à saída), o que me salvava era poder provar de quase todas as lojas de gelado tipo italiano com que nos cruzávamos.
Certas viagens em que eu não ia, não deixava de haver a descrição das provas, com um prazer que também me contagiava.
.
Teria eu, não sei bem que idade, 11-12 anos, quando o West Side Story, Amor Sem Barreiras, passou no Cinema Roma, em Lisboa. Apesar de ter o tamanho que tenho hoje, não tinha a idade exigida e à entrada, houve alguma dificuldade em conseguir passar. A minha Mãe, com quem eu ia, lá conseguiu convencer o porteiro e entrei. Só que entrei mesmo para dentro do filme e quando este acabou, depois da morte do Tony, eu chorava aos soluços. Saímos, entramos no carro e a Mãe levou-me para o Monte Branco, outra gelataria italiana que havia na Praça do Saldanha. Ainda aos soluços entramos e lá comi o gelado. Um ou 2, nesse dia não me lembro, que aqui a emoção do filme deixou-me mais memórias.
..
Estou a preparar-me para de vez em quando apanhar o metro e ir à Baixa comer um sorvete ao Santini. Mantenho as mesmas preferências quanto aos sabores.
Hoje? Que pena, ainda não pode ser!

sábado, 15 de maio de 2010

Poesia - Filipa Leal

.
O CÍRCULO TEMPORÁRIO

I.

Na cidade não se falava de amor
mas eu amava
e resistia à cidade
porque falava de amor.

II.

Uns viviam em ruas com nome
de escultor,
outros viviam em ruas com nome
de pintor,
muito poucos viviam em ruas com nome
de gente.

III.

Na cidade tudo era circular:
terminava no mesmo ponto
em que começava.
Redondos, inúteis,
sobrevivíamos
como as montanha lá ao fundo.