quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Dois pontos actuais e uma lembrança

 329º dia do recomeço do blog

Acabei de ver imagens do lixo nas ruas de Luanda, aos montes, depois do governo ter deixado de pagar a seis empresas por falta de verbas. Uma tristeza, riachos cheios de lixo e crianças a brincar por cima, avenidas largas com lixo no meio, com partes a arder e ruas ainda mais estreitas nos bairros mais pobres. Pensávamos que em 1975 com o fim da guerra colonial e a independência a vida daquelas gentes ficaria melhor. Mas têm sofrido tanto! 

Hoje recebi um WhatsApp com uma anedota que não me permito reproduzir. Mas lembrou-me um episódio que se passou estava eu de urgência. No internamento de pedopsiquiatria estava internado um rapaz de uns 12 anos, muito perturbado psiquicamente e com pouca capacidade cognitiva. Todos os dias arranjava maneira de engolir qualquer peça não comestíveis. Todos os dias era enviado para fazer rx e ver como e por onde andava o objecto. Podiam ser facas, colheres, borrachas e material de desenho, peças de jogos, o que estivesse à mão. Era uma situação perigosa por risco de rotura de alguma parte do trato digestivo ou mesmo de ficar por lá preso. Havia o cuidado no internamento, com o sentido óbvio de o proteger, de não deixar à mão dele quase nada. No meu dia foi uma pilha do comando da televisão que ele engoliu. Objecto perigoso até pelas substâncias que contêm. Enviei-o para fazer um Rx e o radiologista de serviço já o devia conhecer de ginjeira. Depois da situação resolvida enviou um breve relatório que dizia unicamente "Pronto a recarregar". 

A bast@nária d@ ordem dos enfermeir@s tem sido notícia pela declarações incríveis que tem dito. As "coisas" são da maior falta de educação, dignas da pior estirpe existente. Só razões políticas, chegam para isto? A anterior, Enfermeira Maria Augusta Sousa,  pessoa com dignidade, veio publicamente pedir desculpa por se sentir envergonhada pelo comportamento da que nem o nome me apetece escrever. 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Ao sabor da tarde. Più non si trovano (alto)


328º dia do recomeço do blog

Os ensaios de coro por ZOOM exigem técnicas diferentes dos presenciais. Logo à noite teremos um e de tarde vou ensaiando sozinha por karaok.

Piú no trovato de W. A. Mozart. Contralto.

Vi agora o Vice-Almirante Gouveia de Melo, ramo marinha, a prestar declarações sobre a vacinação, posto de organização para o qual foi nomeado. Vestido de camuflado tons verdes. Fiquei baralhada, camuflado de mato? Estamos na guerra numa selva? Poupem-me, já basta de disparates!

Fernando Tordo internado por Covid-19 desde Janeiro. Adolescente ainda, conheci-o em Sesimbra. Ele na tropa ficou amigo de um Sesimbrense de gema, o Cagica e com ele ia passar dias, melhor fins de tarde e noites para lá. No Tony da Marisqueira nos encontrávamos, com conversa e música. Nunca mais o vi desde então mas ouvi sempre que possível. Músicas, poesias e voz maravilhosas!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Vacina não tem acento no "a"!

 327º dia do recomeço do blog

Estes dias de chuva nem dão para o passeio higiénico autorizado. Tenho usado pouco esta licença. 

Ia muito ao cinema, agora vejo na televisão. Costumo ver na RTP2 mas ontem vi na RTP Memória um filme espantoso mas muito impressionante. Do realizador húngaro László Nemes, são filmados no campo de concentração de Auchwitz dois dias da vida de um judeu Sonderkomando , obrigado a fazer os trabalhos que os alemães não queriam fazer. Uma filmagem interessantíssima, quase sempre debaixo de fumo, quase sempre o rosto do protagonista, corpos só filmados por inteiro no fim, ao ar livre. Um homem que quer fazer um enterro a um jovem que iria ser autopsiado para estudo e depois cremado. Diz ser seu filho mas os amigos diziam que não tinha nenhum, pelo que dar um enterro decente, com os rituais próprios, será uma metáfora. O futuro tem de ser melhor.

Livros, tantos que tenho na estante que não li ou que li mas já poderei ler de novo.

Música, esta semana o Teatro Nacional de São Carlos passou um concerto de música de Câmara e canto.

São tantas as coisas possíveis que chego ao fim da noite e tenho de obrigar-me a ir para a cama dormir.

Neste momento na televisão Daniel Deusdado fala das vácinas. Tal como o Bastonário dos Médicos, será que eles já leram a palavra vacina escrita? Tem acento no "a" ?

Há tanto tempo que não via tanta gente. Lembrei-me das esplanadas.

 326º dia do recomeço do blog

1h30 passadas numa sala de espera de um hospital. Nada de grave, esta minha ida, só para tirar uns pontos postos há 15 dias.

Que fazer inicialmente senão estar atenta ao ambiente? ​Fui olhando, vendo e ouvido. Sala grande onde nunca estiveram mais de 5 pessoas. Volta não volta ouve-se chamar pelo microfone o número de uma senha. Ou pessoalmente entram as auxiliares de acção médica para buscar e encaminhar. Os administrativos estão depois da porta que dá acesso ao corredor.

Lá da zona dos guichets ouço uma senhora a falar em voz alta.

Estou isenta minha senhora, tantos anos a trabalhar e agora recebo umas migalhas. Para que trabalhei tanto?
Mandei por correio normal, sempre é mais baratinho.

Os restaurantes, ouvi dizer, só abrem lá para Maio.

Na fila para entrar uma sra de muletas comenta, nem sei quais são as prioridades. Varias pessoas dizem-lhe para passar à frente mas ela recusa. Acabará por passar ficando trás de mim, que sou a 1a. Na minha altura de entrar ia dar-lhe a minha vez mas o porteiro foi firme, era eu em 1o lugar. Pelos meus cabelos brancos? A outra tinha-os pintados mas acho que teria mais anos que eu. 

Sr. José Manuel, faça favor de entrar, ou seja passar para o lado dos gabinetes.

Uma auxiliar chama D. Elisa Silva, repete sem que ninguém se acuse. Repete de novo mas agora com os apelidos todos. Uma jovem com uns ferros circulares na junção da perna com o pé pergunta, é Elisa ou Elsa. Era Elsa mas a funcionária tinha lido mal. E lá vai ela com duas muletas e um pé no ar como os flamingos.

E tentei com sucesso concentrar-me no livro que trouxe para aguentar a espera de mais de 1h30 na sala de espera.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Este tempo que me vai fazer falta.

 325º dia do recomeço do blog

Este tempos confinados, este ano com limitações de movimentos, e o mais que aí virá, vai-me fazer falta. Que saudades eu tenho de passear, viajar, conhecer terras, pessoas, histórias novas. A viagem ao Peru que era para outubro passado foi adiada para abril de este ano e vai ser novamente adiada.

E eu mais velha, este tempo vai fazer-me falta.


A ideia de viajar nauseia-me.
Já vi tudo que nunca tinha visto.
Já vi tudo que ainda não vi. 

Bernardo Soares in Livro do desassossego

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Quem tem uma espada em cima da cabeça tem medo.

 324º dia do recomeço do blog

1 - Hoje perdi-me no corredor da minha casa. É pequeno, tem a porta do meu quarto, a do outro, a da casa de banho e ao fundo, poucos passos a porta de acesso às outras partes da casa.

Tinha fechado a porta de acesso à sala. A casa de banho não tem janela e ambos os quartos tinham as persianas corridas e nenhuma luz acesa.

Saí do meu quarto para ir jantar. Não sei explicar como não dei com o caminho. Com as mãos nas paredes à procura de um interruptor que não encontrei, deixei de perceber onde estava. Não sei quanto tempo demorou, um ou dois minutos talvez, mas foi o suficiente para perceber que estava perdida. Perdida nuns 3 metros quadrados!

De repente lembrei-me do telemóvel. Abri-o mas não deu para me orientar. Por acaso tenho instalada a lanterna, liguei-a e fez-se luz. Percebi que estava junto da porta do meu quarto, virada para ele, de onde tinha saído.

Provavelmente isto para qualquer pessoa não teria importância. Para mim, por razões familiares, foi preocupante.

2. Apanhei num canal da tv por cabo o filme do Woody Allen "Meia Noite Em Paris". Estava convencida que tinha visto os três filmes, Nova York, Roma e este que vi hoje. Pois se vi, e eu acho que sim, não me lembrava de nada. terei visto ou foi esquecimento? Mais um motivo de inquietação.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Médicos brasileiros e venezuelanos querem trabalhar

 323º dia do recomeço do blog

Neste estado de calamidade em que estamos, ouvem-se vozes dizer que há muitos médicos e enfermeiros que querem trabalhar e não os deixam. Só me vou referir aos médicos.

Vejamos, portugueses houve quem se oferecesse. Eu fi-lo em Março. Iria como voluntária, não remunerada. Nunca fui chamada. Li colegas que foram mas a obrigatoriedade de cumprir  o horário que tinham antes de se aposentarem fê-los não aceitar. Teriam outros compromissos em horário parcial, por exemplo. Outros foram contactados mas o valor que lhes queriam pagar era tão baixo, quase indecente. Não aceitaram.

Há pouco tempo houve outra lista para saber da disponibilidade de médicos. Tanto esta como a de Março foram organizadas pela Ordem dos Médicos. Desta vez não me ofereci.

Agora ouve-se que há muitos médicos brasileiros e venezuelanos que desejam trabalhar. E que não os deixam. Ora vamos a ver, o acordo entre países para as licenciaturas é dentro da UE. 

As universidades, os currículos da América do Sul, não são semelhantes aos nossos. Por isso terão de prestar provas, de língua portuguesa e de conhecimentos. Estará o processo a ser demorado, sim, acho que sim. Mas é absolutamente normal que seja exigido.

Ouvi uma médica venezuelana dizer que era incrível um dos exames constar de uma prova escrita com 100 perguntas num tempo que está determinado nos países europeus. Eu fiz em 1981/2 e é obviamente difícil. Mas são as regras de confirmação científica e eu o meu curso já tínhamos 4 anos de prática. 

Temos de ter confiança em quem nos assiste, não é?