sábado, 12 de novembro de 2011

Poema - Sophia de Mello Breyner Andressen

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O Velho abutre

O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Aconteceu... aventuras e desventuras de uma avó com os netos

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A chegada de uma avó do estrangeiro, neste caso eu,  mesmo que lá tenha estado só uns dias, é sempre motivo de grande expectativa. Trouxeste-nos alguma coisa? 
Os meus netos entusiasmados, foram saboreando antecipadamente a minha chegada. Ao telefone, o mais velho pergunta ansioso quando vou lá a casa. Será um dinossauro? Uma bola de futebol? uns cubos para fazer torres? 
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Não sendo uma consumista, há sempre qualquer coisa que trago. E tento sempre o que não há por cá, mesmo que insignificante, o que com isto da globalização é cada vez mais difícil. Mas tenta-se.
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Apesar de ter chovido durante parte do dia, e perante uma acalmia,  ao fim de tarde lá fomos nós à praia para tentar lançar um papagaio. Simples, um triângulo riscado com fitas coloridas que tinha visto esvoaçarem no ar quando puxado pelo vendedor. Com muito entusiasmo rodearam-me, suspensos no momento. Eis que devo ter sido enganada, ou será mesmo assim, não trazia fio para poder voar e ficar bem preso nas mãozinhas pequenas dos miúdos. Toca a guardar no saco e o lançamento ficou adiado.
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Vamos para casa. Novo entusiasmo, o DVD com o filme de animação Rio, giríssimo, que me encantou quando o vi durante a viagem de avião.
Para o comprar corri muitas lojas, parecia esgotado; e eis quando a descoberta de uns últimos exemplares me fizeram ficar contente.
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Os netos de banho tomado, cabelo penteado e trabalhos de casa feitos, e sentámo-nos frente à televisão para ver o vídeo. E eis que no écran aparece escrito "Fora da Região". Bolas!
Na loja nem me lembrei de ver se aquela gravação impedia que o DVD fosse universalmente visionado. Lá prometi aos miúdos que haveríamos de descobrir como resolver este problema, e passamos à descoberta da última lembrança.
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 Tinha-o visto ser lançado na rua. Trata-se de uma fisga que atira para o ar um led, que sobe brilhando na noite escura, quase chegando à altura de um 2º andar. Mas os pijamas vestidos já não davam para ir à rua, e lançámos a engenhoca mesmo ali na sala. O resultado foi mais um falhanço, o tecto é baixo e o efeito não teve graça nenhuma.
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Foi então que sorrateiramente desci ao supermercado que fica no prédio mesmo ao lado.
Que bem lhes soube aquela tablette de chocolate!
E ficou salva a minha honra perante os netos. 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Poema - Ricardo Reis

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Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

domingo, 6 de novembro de 2011

Aconteceu...táxi já em Lisboa

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Aterro logo de manhãzinha no aeroporto da Portela, Lisboa.
Táxi! a fila, palavra brasileira que veio preencher a nossa bicha, maricas para eles, era pequena. Dou de caras com um taxista japonês mas alto. Bolas, que coisa mais estranha, japonês , taxista em Lisboa?!!
Digo a morada e ele não reconhece a rua. Percebe-se pelo sotaque que é brasileiro. Conversa-se um pouco, tanto quanto o cansaço permite. Que lá e cá é tudo uma questão de sorte, diz, e conta uma história dum cunhado que com o 12º ano conseguiu lá no Brasil um emprego muito bem pago. Mas que às vezes é preciso mudar de emprego, de terra, é preciso ir à procura, diz.
Eu já sabia. E só para falar de táxis, lá no Rio, um dos motoristas tinha sido chefe de cabine da Varig, outro topógrafo, outro tradutor. O trabalho tinha acabado e trabalhar como chaffeur de táxi tinha sido a saída.
É complicado, sim, a estabilidade já era. Há que descobrir novos modelos.

sábado, 5 de novembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Poema - Manoel de Barros - Parrrede!

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Quando eu estudava no colégio, interno,
Eu fazia pecado solitário.
Um padre me pegou fazendo.
- Corrumbá, no parrrede!
Meu castigo era ficar em pé defronte a uma parede e
decorar 50 linhas de um livro.
O padre me deu pra decorar o Sermão da Sexagésima
de Vieira.
- Decorrrar 50 linhas, o padre repetiu.
O que eu lera por antes naquele colégio eram romances
de aventura, mal traduzidos e que me davam tédio.
Ao ler e decorar 50 linhas da Sexagésima fiquei
embevecido.
E li o Sermão inteiro.
Meu Deus, agora eu precisava fazer mais pecado solitário!
E fiz de montão.
- Corumbá, no parrrede!
Era a glória.
Eu ia fascinado pra parede.
Desta vez o padre me deu o Sermão do Mandato.
Decorei e li o livro alcandorado.
Aprendi a gostar do equilíbrio sonoro das frases.
Gostar quase até do cheiro das letras.
Fiquei fraco de tanto cometer pecado solitário.
Ficar no parrrede era uma glória.
Tomei um vidro de fortificante e fiquei bom.
A esse tempo também eu aprendi a escutar o silêncio
das paredes.