domingo, 27 de junho de 2010

Aconteceu...que detesto vento

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"(...) Há um vento impetuosamente solto na noite da minha vida(...)"
Ruy Belo
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Ouço nos noticiários que este vai ser o Verão mais quente dos últimos anos.
Não o tenho sentido. Aqui em Lisboa, um vento permanente e desagradável, empurra não sei para onde o calor.

Será a crise, o vento ou ambos que fazem com que as esplanadas antigamente cheias estejam agora vazias?
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Nunca gostei de vento. Como se imaginasse que se com força raspasse o meu corpo me levasse partes salientes, quem sabe se as orelhas. E ficando os orifícios bem à vista entrasse dentro de mim e pudesse, com as ondas que provocaria, baralhar o meu interior.

Mas se ficar um verão com muito calor, com as temperaturas mais altas dos últimos anos, vejo-me a gritar pela sua filha, Ó Aragem, vem cá!

sábado, 26 de junho de 2010

Poema - Luís Filipe Parrado

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NATUREZA MORTA COM MAÇÃS
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É triste
o espectáculo do amor
apodrecendo aos poucos
na fruteira
as maçãs que te trouxe
têm agora a pele seca e enrugada.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Aconteceu...que brincar é coisa muito séria.

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Fui à praia com o Vicente que tem 5 anos feitos recentemente. Maré baixa, ficamos na areia seca, bem longe da água que nestas marés não chegará certamente ali.
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Num afã enorme vai construíndo um buraco, que me explica ser uma represa para prender a água. À volta em círculo, envolvendo esse buraco vai construindo uma muralha. Eu estou sentada e vou ajudando a juntar a areia com uns empurrões que vou fazendo com os pés. Não contente com a segurança, diz-me que vai fazer um muro por fora. Tem torreões, que já alguma criança tinha construído com um balde e ali tinham ficado. No meio dos dois muros um espaço por onde a água poderá circular se vier.
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Lembro-me dos fossos dos castelos e pergunto-lhe se uns crocodilos ficarão bem ali no fosso como guardiões. Recusa a ideia, não aqui não vai haver crocodilos diz-me muito sério. A brincadeira-construção continua.
No filme do Shrek havia um dragão que prende a Fiona. Será que poderia haver ali um, talvez em cima de um torreão?
O Vicente pára, olha para mim e diz-me, Ó Avó Magda, nós não estamos a brincar, isto é a sério!
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Brincar e jogar são coisas muito diferentes. O jogo implica regras, nele pode-se perder ou ganhar. Mas antes de jogar, todas as crianças deviam ter tido oportunidade de brincar.
Brincar, que a história que contei ilustra bem, é uma construção saída da conjugação da realidade externa e da interna, sem ser uma nem outra. É uma actividade criativa completamente necessária ao desenvolvimento.
Que bom que certos adultos conseguem manter viva a criança que existe dentro de si!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Poema - Fernando Luís Sampaio

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Hoje, como ontem, duvido de anteontem,
e nisto arrasto a minha vida
entre manhã e noite,
passado e futuro.
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Mesmo que fuja de ti, sei sem saber
que serei uma volátil substância
no rasto demente da fantasia.

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Portanto, ou se calhar, até ver,
nestas ondas sou verdade inteira,
breve herói,
voo intocável,
falso humano.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Aconteceu...granizada nos pomares e recordações do odor das maçãs de Moimenta da Beira

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Já aqui contei várias histórias do meu Serviço Médico à Periferia, em Moimenta da Beira.
O Centro de Saúde ocupava o rés do chão de uma moradia grande, antiga prisão desactivada. Como habitação, foi-nos distribuído o 1º andar, antiga casa do carcereiro. Da prisão restava dentro de nossa casa, um antigo quadro eléctrico com muitos botões, campainhas e luzes das celas, essas já transformadas.
Entravamos por uma porta, a que se seguia um corredor pequeno, e depois havia as escadas. Por baixo das escadas uma pequena divisão, aproveitamento do espaço, sem janelas.
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Poucos dias depois de ocuparmos a casa, várias pessoas nos vieram oferecer caixas de maçãs. Uns peros amarelos e umas maçãs vermelhas com o melhor cheiro que queiram imaginar.
Ensinaram-nos a forrar o chão daquele espaço que se transformou em arracadação de maçãs com cartões, e depois sem que elas se tocassem, dispô-las, lado a lado, no chão. E assim ficaram um ano, sem apodrecerem nem um bocadinho. E ainda vieram em caixotes para Lisboa para acabarem em compota.
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Mas, o que é inesquecível, é o maravilhoso cheiro a maçã que nos acompanhou durante esse ano pela casa toda, mal se transpunha a porta da rua.
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Esta semana durante 1 hora caiu uma granizada em 10 freguesias de Moimenta da Beira. As maçãs que se salvarem vão ser um bem precioso.