segunda-feira, 21 de junho de 2010

Aconteceu...granizada nos pomares e recordações do odor das maçãs de Moimenta da Beira

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Já aqui contei várias histórias do meu Serviço Médico à Periferia, em Moimenta da Beira.
O Centro de Saúde ocupava o rés do chão de uma moradia grande, antiga prisão desactivada. Como habitação, foi-nos distribuído o 1º andar, antiga casa do carcereiro. Da prisão restava dentro de nossa casa, um antigo quadro eléctrico com muitos botões, campainhas e luzes das celas, essas já transformadas.
Entravamos por uma porta, a que se seguia um corredor pequeno, e depois havia as escadas. Por baixo das escadas uma pequena divisão, aproveitamento do espaço, sem janelas.
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Poucos dias depois de ocuparmos a casa, várias pessoas nos vieram oferecer caixas de maçãs. Uns peros amarelos e umas maçãs vermelhas com o melhor cheiro que queiram imaginar.
Ensinaram-nos a forrar o chão daquele espaço que se transformou em arracadação de maçãs com cartões, e depois sem que elas se tocassem, dispô-las, lado a lado, no chão. E assim ficaram um ano, sem apodrecerem nem um bocadinho. E ainda vieram em caixotes para Lisboa para acabarem em compota.
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Mas, o que é inesquecível, é o maravilhoso cheiro a maçã que nos acompanhou durante esse ano pela casa toda, mal se transpunha a porta da rua.
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Esta semana durante 1 hora caiu uma granizada em 10 freguesias de Moimenta da Beira. As maçãs que se salvarem vão ser um bem precioso.

2 comentários:

  1. Nem me fales dessas maçãs e desses ôdores.
    São sensações inéditas que da minha caixinha de Pandora jamais permiti que fugissem. Mas era tudo aqui por Sintra, perto do mar. Trata-se da escuridão, da madeira, dos patamares e do gesto cuidado como elas se colocam. Uma coisa sensorial, dos tempos e das estações. Quando as frutas se ligavam, ao Verão, ao Outono,ao Inverno e à Primavera.As uvas de Setembro penduravam-se nos sotãos para no Natal, serem uva-passa, ou passas como lhes chamávamos. Apetece ir aproveitar as maçãs, a Moimenta.

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  2. Se fosse a falar dos cheiros...muita tecla bateria. Cheiros associados a sítios, a casas, pessoas que cheiram a terra e flores, cheiros de comidas, shiii, um nunca acabar.
    Um dia perguntei ao professor de filosofia qual o mecanismo pelo qual podiamos associar cheiros a gostos de coisas que nunca provámos. Ele ficou silencioso, ar de gozo e mandou-me explicitar. Citei os cigarros franceses Gauloises que sabiam a mijo de gato, coisa que eu nunca tinha provado. Perguntou-me se eu continuava interessada em estudar medicina e psiquiatria, disse-lhe que sim, continuou que então seria boa ideia, talvez lá me curasse. A pergunta tinha resposta, mais médica que psicológica.
    Se calhar pensou que eu estava a gozar com ele, mas foi é uma forma de bullying de professor! Sim, a sala toda veio abaixo com gargalhadas...mas não me importei muito e não teve consequências.

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