terça-feira, 11 de maio de 2010

Poema - David Teles Pereira

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SONHO AMERICANO
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O meu bisavô queria apenas passar por Portugal
e depois atravessar o Atlântico.
Mas teve de se contentar com chamar América à primeira filha.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Aconteceu...valores, por onde andam?

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1 - Há muitos anos, era eu miúda, uma colega de turma tinha sempre muitos lápis e borrachas que o pai lhe trazia do serviço. Era funcionário público. Como o meu também era, contei-lhe e pedi-lhe que me trouxesse lá do serviço alguns para mim. Nesse dia à tarde ele veio do serviço e levou-me à Papelaria da Moda. Aí chegados disse-me para eu escolher o que quisesse de lápis e borrachas, e folhas. Perguntei-lhe porquê, e lembrou-me do meu pedido e disse-me uma coisa que ficou dentro de mim como um valor, que os lápis e borrachas que lhe distribuíam no Ministério, eram para ele trabalhar lá. Por isso não os trazia para casa e muito menos para uso da filha.
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2 - Uma amiga minha era filha de um Director Geral de Finanças que tinha um telefone oficial em casa. Ao lado estava o telefone que ele contratualizou para uso privado, como a família fazer chamadas. Este preciosismo ainda se "usa" hoje?
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3 - Conheço quem use o carro distribuído pela função que tem, com chauffeur agregado, para fazer serviços de distribuição da família. Os "utentes do carro" nem perceberam a minha adjectivação perante o que sinto ser um abuso. É que pagamos todos. Será normal?
Quando prescrevo um medicamento e o doente não o paga na farmácia porque é comparticipado a 100%, se ele me refere que "é de borla", aproveito para lhe explicar que não, que é pago por todos nós. Esta noção não é clara para a maioria das pessoas, mas a alguns não lhes interessa ver isso.
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4 - Como escrevi há dias, os pontos escritos e os exames eram respeitados por nós e tínhamos receio perante maus resultados. Hoje, sabemos que com frequência pais vão às escolas pedir contas aos professores. É assim que se transmitem os valores? Sim, que o respeito é um valor e de pequenino se torce o pepino!
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5 - Aconselho a ler o artigo do Rui Tavares no Público de hoje. "Duas Facadas na República". Muito bem escrito! Ilustra bem com dois casos recentes, como vamos de valores!.
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Nota - sou bastante irreverente, embora alguns dos meus textos não o demonstrem. Mas é preciso indignarmo-nos com certas coisas e foi o que eu quis fazer.

domingo, 9 de maio de 2010

Poema - Vítor Nogueira


SINTAXE.
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Anda a gente um dia inteiro atrás de um verso.
Os delírios soltos, claro, não adiantam
grande coisa. É como curar maleitas
com fumos e cataplasmas. Enfim,
deve ser o nosso táxi. Na rádio (bossa nova,
cha, cha, cha, easy listening) o futebolista
fala a língua de todos os homens:
"sempre foi um treinador que no qual
adorei jogar ao lado dele". Seja como for,
nunca o venceremos com palavras.
No campo, escusado dizer, pior ainda.

sábado, 8 de maio de 2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Aconteceu...vídeo

Aconteceu...a propósito de uma notícia - 7

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Li no jornal que começaram as provas de aferição dos alunos. Já depois de ter publicado este pequeno texto leio na televisão (sem som) que os alunos foram testados.
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"As Provas de Aferição de Língua Portuguesa e de Matemática dos 1.º e 2.º Ciclos do Ensino Básico visam avaliar o modo como os objectivos e as competências essenciais de cada ciclo estão a ser alcançados pelo sistema de ensino. A informação que os resultados destas provas fornecem mostra-se relevante para todos os intervenientes no sistema educativo, alunos, pais, encarregados de educação, professores, administração e para os cidadãos em geral. Estes resultados permitem uma monitorização da eficácia do sistema de ensino, devendo ser objecto de uma reflexão ao nível de escola que contribua para alterar práticas em sala de aula, que assim podem e devem ser ajustadas de modo sustentado." in Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério de Educação".
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Portanto sem stress, o aluno faz as provas de aferição e pronto, estão feitas, acabadas. São informativas. Violinos!
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Comecei a pensar nos meus tempos de escola, que por acaso avaliava os alunos e tinha instituído o direito a estar no Quadro de Honra, mensalmente, e ter as Félicitations du Conseil de Discipline, se tinha durante um trimestre estado sempre no Quadro de Honra. E no fim do ano tinha uma cerimónia pomposa, com direito a cantar o Hino, a chamada Distribuição dos Prémios, em que os melhores alunos eram chamados ao palco para premiar o seu esforço e sucesso, o melhor tinha o chamado Prix d´Excellence. Recebiam-se livros, bons livros. Os nomes dos outros alunos, por disciplina mas também por certas aptidões eram citados e tambéns inscritos num livro distribuído anualmente. Nunca fui ao palco mas tive várias citações. Recebi vários livros que pela nacionalidade da escola, eram sempre em francês.
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Na minha vida de estudante tive várias fases, de boa aluna, com direito a Félicitations, a aluna irregular, um Quadro de Honra de vez em quando, e mesmo a aluna cábula.
Mas uma coisa eu sei, é que mesmo nos meus piores momentos o motor era o receio dos resultados dos testes. O que fazia com que, tivesse metas organizadas para estudar...para os ditos. Porque eles valiam de facto, eu sabia que testes fracos ou negativos eram dificuldades acrescidas para mim, na família, na escola e havia o risco real de reprovação em qualquer ano.
Não me fez nenhum mal, não fiquei traumatizada como está na moda dizer-se. Criou-me pelo contrário hábitos de trabalho, metas a cumprir, respeito pelas obrigações, e até entusiasmo pelo sucesso do trabalho que realizamos.
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A função da escola parece estar a falhar. Deve ensinar e fazer com que os alunos aprendam e fiquem a saber. Adquiram hábitos de trabalho e de curiosidade intelectual. Os pontos escritos com valor a sério serão uma das vertentes? Eu cá acho que ajudaria. E dever-se-iam chamar de avaliação, porque não?
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Não, não, não estou a esquecer as crianças com necessidades educativas especiais, mas não estou de acordo que seja facilitando que elas se fortalecerão, há que preparar intervenções específicas para elas, na escola, fora dela e muitas vezes noutras escolas especialmente preparadas. Mas este tema que já abordei um dia ainda que de forma breve, poderá ficar para outro dia.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Poema - Nuno Júdice

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NATUREZA MORTA COM PARADOXOS
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Se tivesse um copo para encher,
Dá-lo-ia ao verso que se estende pela sede de o beber.
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Se tivesse uma faca para abrir uma romã,
Trocá-la-ia pela serpente que preferiu a maçã.
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Se tivesse um vaso onde plantar as flores,
Enchê-lo-ia com a terra que o céu vestiu com as suas cores.
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Assim, poderia beber-se o poema
Pelo copo do verso.
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Cortar a fruta
Com a lâmina da serpente
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E pisar o céu
À luz da terra.