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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Aconteceu...que ela precisava de falar para alguém

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Acontece-me frequentemente receber fora do contexto profissional as mágoas dos outros, mesmo sem eles saberem que isso é uma parte do meu trabalho.

Olhou para mim, com um ar desolado. Os olhos húmidos, à beira das lágrimas. Ela atrás do balcão, eu sentada num maple de uma sala de espera reservada de um aeroporto. Em frente, a televisão falava da morte do Angélico. O olhar dela saltava do écran para mim, e bastou um minuto de cruzamento dos nossos olhares para ela para ela começar a falar do que lhe ia. Emocionadíssima, falava dele, da vida dele, do destino. Não, não o conhecia pessoalmente, nem revivia drama pessoal. Era mesmo por ele. E assim foi até à chamada do meu avião, que se atrasou imenso.

A televisão torna conhecido quem não nos conhece. Fala-se de locutores, actores, como se de familiares fossem. Vivem as alegrias e os dramas deles como se fossem os seus. As alegrias por vezes partilham-nas no próprio écran, como a quantidade de mães e avós que gostam do Malato.
As tristes não suportam vivê-los sozinhas, precisam de despejar ou partilhar, arranjar quem seja receptor, contentor para si.

E era eu quem lá estava.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Aconteceu...Há afogados que não descobrem bóias que estão perto, só olham para longe.

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Francisca parou, demorou uns largos segundos a reagir, e depois sorriu-nos.
Estava lenta, faltavam-lhe as palavras no discurso, tanto o tempo de silêncio. Depois foi acordando e horas mais tarde falava como sempre a conhecemos.
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Estar sozinha custa mas foi a sua opção. Quase por obrigação. Ficar com quem?
Tem muita gente próxima, mas são todos distantes uns dos outros. Cada um na sua, uns zangados, outros oportunistas seguem o lema do aproveita o que pode e segue.
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Sobra a Maria que está mais presente e é a que se preocupa mais. Mas juntas fazem faísca.
O que faz com que ela não conte com essa, vê-a até só com um olho, quero dizer, só vê as partes negativas. E porque é um bocado instável, di-lo a quem aparece. Cria um péssimo clima.
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Há um que nunca telefona nem aparece. Esse é o óptimo!
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Quem dizia "Plus je connais les hommes, plus j'aime les chiens"?

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Aconteceu...ser mãe é...?

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"Sou muito amiga deles, eles sabem que faço tudo por eles, vivo por eles, para mim não quero nada, modéstia à parte não podiam ter melhor mãe."
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"Menina, então e tu não me ajudas? Vá lá, anda para aqui, não saias, o teu pai não está e eu fico sozinha."
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"O quê, então estas notas nos testes? Fazes-me isso, a mim, tua mãe, a tua maior amiga?! És um bocado ingrata!"
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"Não, não a prendo, mas não acha que me devia fazer um bocado de companhia? É que eu vivo para ela!"
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"Com o pai ela quer pouca coisa, é tudo mãe, mãe, mãe. Mas ele também não sabe ser pai, pensa mais nele que em nós. Eu cá por mim aguento, tenho-os a eles!"
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É difícil aguentar tanta frase de auto-elogio, de dádiva, de sofrimento, de culpabilização de certas mães.
Comportamentos de oposição, até mesmo de agressividade poderão, em certos casos, ser compreendidos nestas situações como tentativas de certos jovens de se separarem psíquicamente dos pais, crescer para a autonomia. Trabalho acrescido!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

aconteceu no taxi - 1 Barro à parede?

Entro no taxi e ele nem se vira. Apercebo um boné à Americana, um cabelo pouco espontado, homem muito magro.
Sou eu que tenho de meter conversa, a propósito do trânsito, cansaço de guiar na cidade. Não foi necessário mais, daí e ficar conhecedora de muitos factos da sua vida, emigração nos EUA, no Canadá, todos os irmãos com cursos mas ele que nunca gostou de estudar, as suas dificuldades de adaptação aos vários sítios, enfim, pouco mais tive de intervir.
Mas dois apontamentos vos deixo.Conta-me que de dia é motorista de taxi, de noite vigilante no Ministério da Educação. Comento "Então, não dorme?" "Claro que sim, acha que os 500€ que recebo como segurança é para estar acordado? Para isso tinham de me pagar muito mais!"
Explica-me que não tem casa. A mulher não o quis mais e pô-lo na rua.
Estamos a chegar ao meu prédio. Pára o carro, vira-se para trás e diz-me "sabe minha senhora, o que me faz falta? Arranjar uma senhora para me fazer companhia".

Aqui há tempos conheci 2 crianças com o pai e a madrasta. Fiquei a saber que a mãe das crianças abandonou o marido e os filhos. O homem, taxista, é dias depois mandado parar por uma senhora que lhe pede para o levar à rua X; só que antes de lá chegar conta-lhe que está a vir de assinar o divórcio e pede-lhe que páre o carro e beba um café com ela antes do fim da viagem, que ela precisa de se acalmar. Bebem o café e ele cumpre o resto da viagem. Chegados à morada do destino ele sobe com ela e nunca mais de lá sai. Foi esse casal que tive à minha frente.

E eu pago e saio apressadamente, não vá o diabo tecê-las!