segunda-feira, 25 de abril de 2016

25 de Abril, nem me fale neste dia! disse ele



Amanheceu com sol o 25 de Abril e lá vou com uma amiga, cravo vermelho ao peito para o Marquês de Pombal. Passeamos, procuramos caras conhecidas, grupos, grande cumplicidade na satisfação da Liberdade quando encontramos alguém, e lá vamos descendo a avenida, ora integradas na manifestação ora pelo passeio lateral.

Está calor, precisamos de procurar uma sombra, o corpo está cansado, não teve tempo de se adaptar a estas mudanças bruscas de temperatura, têm sido dias frios ou chuvosos e de repente fica assim, quente. À nossa volta alguns já se sentem em pleno verão, calções e chinelas, fatos de alcinhas, eu ainda não, um polo e à cintura um casaco vela vermelho, a cor do dia, receosa da quebra de temperatura do fim do dia.

A descida é lenta e a tarde vai avançada, há muita gente, parece bem mais que o ano passado e  a sede começa a apertar, que tal uma tulipa e um croquete, sabiam bem, boa, vamos. E entramos no Gambrinus, um restaurante de Lisboa ali perto do Rossio, diz-se restaurante de luxo, os croquetes são um luxo de facto, os melhores de Lisboa, sempre quentes quando chegam à mesa, sentamo-nos num dos bancos altos do balcão da entrada. Fazemos os pedidos e vamos lavar as mãos. Na volta ouve-se uma das clientes comentar que hoje é o 25 de Abril, certamente inspirada no cravo vermelho da minha amiga, ao que o maître disse nem me fale nesse dia! Trocam umas palavras e ele disse que só foi bom por ter acabado a guerra, ah pois, o senhor esteve em África, diz ela, não, nunca fui, explica ele, fiz 33 meses de tropa mas não saí de cá, foi em meados dos anos 60 esclarece.

A tulipa mista veio preta, pensei que a culpa era do cravo, mas o resto veio bem e como é habitual muito bom.

De novo apanhamos o metro a caminho de casa. Para o ano haverá mais e esperemos que com o ar aliviado deste ano.
Abaixo a crispação!
25 de Abril, sempre! 

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O perigo de noticiar os suicídios na comunicação social



Ouvi há tempos uma história de alguém que estando à varanda numa rua estreita e íngreme, assistiu à descida de uma camionete que por falta de travões passou a ferro vários carros estacionados até se imobilizar. Telefonou para uma televisão a avisar do sucedido e de lá perguntaram se havia mortos,  e feridos. Desiludidos terão respondido que então não merecia uma reportagem.

Vem isto às notícias que nos últimos tempos têm sido dadas de forma repetida e com pormenores sobre a morte de dois actores americanos bem conhecidos. Ambos por suicídio.
As situações foram descritas, repetidas até à exaustão em todos os telejornais e noticiários incluíndo as formas usadas para morrer. Deste último caso até  a posição do cinto e a técnica usada para o enforcamento foi explicitada!

Tanto quanto julgo saber, qualquer jornalista já foi informado do risco de divulgação destas situações.
Jovens e adultos mais fragilizados são frequentemente influenciados por estas notícias. Uma espécie de "infecção contagiosa", pode provocar suicídios e tentativas de suicídio por imitação.

Numa escola, num lar de jovens onde acontece uma situação destas é quase obrigatório um trabalho de intervenção como acção preventiva. Sabe-se do risco.

Na televisão, quem vê? Muitos e de forma anónima! É um enorme risco público!

Tal como na história com que comecei, desconfio que o fazem pelo "sucesso" do choque e o aumento da audição!
A ética, por onde anda, senhores jornalistas e cadeias de televisão? 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Aconteceu num voo da TAP

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No passado domingo apanhei o voo da TAP em direcção à Horta. Faço-o com alguma regularidade, a última vez foi em Julho. E nunca tal me tinha acontecido!

O avião parte cedo, às 8 h da manhã. Mesmo com o check-in feito pela internet, tem de se acordar por volta das 6h da manhã, para dar tempo ao caminho e a despachar a mala.

Terá sido por volta das 6h30 que tomei um copo de leite e uma pequena banana. Àquela hora não é facil ter apetite e seria o suficiente até a "refeição ligeira" como agora lhe chamam que é servida dentro do avião durante o voo.

Pouco depois de se iniciar a viagem, com os cumprimentos e avisos que são dados pelo microfone, ouvi com espanto que atendendo ao número insuficiente da tripulação de bordo nada seria servido durante o voo.

A meio da viagem, o leite "já era" como dizem os jovens e um ligeiro enjoo fruto de alguma hipoglicémia começou a sentir-se. Não, não sou diabética, mas é normal ter-se fraqueza quando se comeu há umas horas.

Levantei-me, fui ao fim da cabine, lá estava uma hospedeira a quem expus a situação. Com um tom um bocado arrogante perguntou-me com ar admirado se eu não sabia que nada seria servido. Não, eu não sabia. Mas os colegas de terra deviam ter dito. Muitas pessoas tinham vindo prevenidas, disse, como a reforçar a minha falha. Insisti e ofereceu-me uns amendoins.

Bom, o problema que ponho é este: quando entrei no avião da TAP para a viagem, não fazia a mínima ideia que tinha iniciado uma viagem low cost. Tanto quanto sei o preço do bilhete não foi mais barato do que quando a refeição é servida.

Cortes na qualidade pagando o mesmo? Haverá quem protesta ou o receio de ficar fechado na ilha cala as bocas?


domingo, 29 de setembro de 2013

Aconteceu...o voto, uma conquista de Abril. "Pormenor" esquecido?

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Eleições autárquicas, hoje.

Depois de votar no edifício bonito da Junta da minha freguesia, passei pelo Largo do Coreto e comprei um cravo vermelho à Maria do Céu, a florista de rua cá do bairro. É que a possibilidade de votar é uma conquista do 25 de Abril! Há quem se esqueça disso. Gostariam de ter quem pensasse por eles sem direito a expressar a opinião como umas décadas atrás?
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Há gente muito esquecida, mas também mal esclarecida. Todos os que se recusaram a votar com destruição de urnas, roubo de boletins de voto, devido às alterações nas freguesias, esquecem-se que houve entre os partidos quem não concordasse e votasse contra. Não fazia mais sentido votar nesses e dar uma coça aos que estiveram a favor? Desconfio que sei porquê...

sábado, 31 de agosto de 2013

Aconteceu...Ai os médicos é que são os cabrões?? Também os há mas não generalizemos.

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Descia eu ontem a Avenida da Liberdade a pé, quando vejo um homem que vem em sentido contrário aos gritos "Quem me ajuda, quem me dá alguma coisa para comer!".
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Era um homem com ar de velho, talvez envelhecido precocemente, pernas arqueadas, grande papada de bócio e vinha apoiado numa bengala tipo cajado. 
Ao passar por mim pára e pede ajuda para comer. Prontifiquei-me a puxar do porta-moedas e ele vai falando. Ainda não comi, explica-me, venho agora de uma consulta no hospital. Grandes cabrões, acrescenta.
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Eu ainda não tinha tirado o dinheiro para fora e pergunto-lhe, cabrões? quem ? Resposta rápida, os médicos... só sabem passar receitas. Não resisti e disse-lhe, ó senhor, olhe que eu sou médica.
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Pronto, pensarão, lá usei um truque baixo, o poder médico, a autoridade habitual da minha corporação. 
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Ele ficou muito atrapalhado e disse-me "Ah, mas a sra não é com certeza!".
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Mas eu resolvi continuar a conversa, concordei com ele que havia por aí muitos cabrões, o sr anda aqui a pedir na rua, o que, se as coisas estivessem diferentes podia não estar, ter a ajuda do estado.
E perguntei-lhe onde ele achava que havia cabrões neste país. Ficou a olhar para mim, não sei, disse. Expliquei-lhe onde estavam, no governo que o deixa desamparado, nas políticas sociais e de saúde que desprotegem as pessoas e acabei por lhe dizer, no governo. Olhou para mim como quem não me entendeu. 
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Dei-lhe a moeda e segui, sem saber se havia de me entristecer ou de rir com esta cena.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Acontece que há um risco de epidemia de incendiários

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Apaguei a televisão há pouco. Nos telejornais, em todos, grandes notícias sobre os incêndios, focados daqui, daqui e de acolá. Por cima e por baixo. Saltam de um para outro, entrevistas, gritos e choros. E as chamas, enormes labaredas de uma cor espantosa, brilham no dia ou na noite. É um espectáculo de horror.
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Vai-se ao facebook e são inúmeras as pessoas que publicam os seus próprios vídeos, sempre de forma a focar o ângulo mais impressionante. Põe um, põe um segundo aprimorado e um terceiro, upgrade com mais imagens. 
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Tem havido muitas desgraças e muitos heróis.
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Será que já pensaram o que estas imagens passadas vezes sem conta podem provocar? Sim, quantas pessoas não ficam excitadas com o fogo? Quantas não gostam de admirar o trabalho dos bombeiros? E o risco de aumentar o número de incendiários, pelo prazer da emoção? 
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Na minha opinião, estas situações deviam ser transmitidas cirugicamente, só mesmo o necessário.
Haja tento, cadeias televisivas, não deitem mais achas para a fogueira! Isto pode ser epidémico!

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Os canalizadores serão todos gordos?

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Devia ser uma obrigação da escola ensinar umas coisas importantes para a vida.
Voto numa cadeira obrigatória de canalização desde o 5º ano até ao 9º, podendo-se continuar se o aluno assim desejasse.
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Há alguns anos em Lisboa indicaram-me um. O sifão do lava-loiça ou coisa parecida deixava pingar água. É com o credo na boca que ao telefone pedimos os serviços. E se ele não puder? 
Veio. À porta apareceu um grande obeso e um problema respiratório que se detectava facilmente pela inspiração e expiração ruidosas. Deitado no chão, de cabeça mal metida no armário, ele lá tentou desmontar os canos. Foi um processo demorado porque os braços gordos não se movimentavam no espaço exíguo. Horas mais tarde lá conseguiu e eu respirei fundo. Receei que durante aquele espaço de tempo o homem se apagasse ali em casa.
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Há dias encontrei os armários que ficam por baixo do lava loiça cheios de água, as loiças todas molhadas e sujas. Pedi que me indicassem alguém e esperei ansiosamente, com uma tijela a aparar as gotas que se viam cair dos canos. Apareceu hoje. Não direi que deparei com um grande obeso, mas um homem gordo com uma enorme barriga, que transformavam a figura do Ché na camisola reconhecível sobretudo pela boina e pela estrela.
Bom, não arfava, mas o resto foi quase igual à experiência que já tinha tido. Este dizia que os tubos eram tão finos que os dedos não entravam (pudera!) e não conseguia chegar aos parafusos. Foram algumas horas de manhã e outras da parte da tarde. 

Depois de várias peripécias, como de peças novas avariadas e a terem de ser trocadas na drogaria do Largo 1º de Maio onde tinham sido compradas, perante o protesto da senhora do balcão, a coisa ficou resolvida.
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Perante estas experiências pergunto-me se os canalizadores serão todos gordos?