domingo, 12 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Poema - Manuel António Pina

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RESPOSTA
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Algo mais elementar que o espaço e o tempo,
e a escuridão luminosa do Areopagita,
uma hipótese ilegível, antes do pensamento,
uma sílaba só de uma palavra não dita,
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sem sentido e sem finalidade, apenas uma ocasião,
como um olho único e cego que vê
do fundo da sepultura da razão,
vaste comme la nuit et comme la clarté.
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Um sonho
de uma sombra de quê?

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Acontece...que estamos mais pobres no bolso e no património

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Desde que começaram estes tempos difíceis, tem sido impressionante a quantidade de lojas de compra de ouro que têm aberto.
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No sábado, indo de táxi, pude olhar despreocupada que estava da condução, e num muito curto percurso, nada menos que 4 lojas. 
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Comentei isso com o taxista que remeteu logo para o Salazar, que só queria barras de ouro e as pessoas viviam na miséria.
Não contestei mas não era esse o meu incómodo no momento.
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Praticante amadora de joalharia que sou, é uma arte a que estou razoavelmente atenta.
A parte reservada a jóias que existem nos museus faz parte dos meus roteiros.
Jóias desde os primórdios dos tempos até aos nossos, passando pelos vários séculos que se intervalam, mostram-nos aspectos muito interessantes e esclarecedores desta arte.
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Esta semana, estando numa aula de um curso livre de História da Joalharia, dei por mim a beber com olhos e ouvidos, os ensinamentos do professor e as imagens projectadas de objectos artísticos de há muitos séculos.
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Tal como qualquer arte, também a joalharia tem modas, o que permite classificá-las e compreendê-las atendendo à sua época.
Os metais nobres são materiais com qualidades especiais, nomeadamente a capacidade de serem fundidos e  transformados em matéria original para serem reconstruídos mais ao sabor da moda. Assim muitas coisas se perderam. Mas não todas, felizmente.
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Não sabemos o que está a ser vendido nesta época de crise. Eventualmente muitas peças representativas de épocas, estilos, estéticas. Penso sabermos que quase tudo é fundido e transformado em lingotes, transportados para países compradores.
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Não sabemos que património português se está a perder.
As autoridades deveriam estar atentas. Todos os dias ficamos mais pobres, nos bolsos e no património.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Poema - José Carlos Barros

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NOS PAÍSES DEMOCRÁTICOS
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nos países democráticos
a cultura levou a
que os jogos substituíssem as guerras

os danos
hoje
são irrisórios
a propagação da estupidez quase não tem efeitos
colaterais

também por isso
o futebol é um dos melhores exemplos
do avanço
da civilização

no iraque morreram milhares de homens
na líbia é o que estamos vendo

hoje
na luz
deu-se a ocorrência em relatório de oito detenções
e parece que não mais de catorze ou
quinze adeptos
foram parar às urgências
do santa maria
com escoriações

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

sábado, 21 de janeiro de 2012

Aconteceu...que ainda há quem queira ser perfeito, ou o taxista neurótico

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Mal entrei no táxi e disse numa voz quase sem som onde queria ir, ele comentou o meu estado lamentando-me. É que ele precisava de falar, mas comigo assim...
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Pedi-lhe que me levasse a uma rua antiga, num bairro popular de Lisboa. Ele conhecia-a de nome mas não tinha a certeza qual era. Eu não sabia mesmo, excepto que ficava entre a Graça e as traseiras do Castelo de S. Jorge. Estávamos relativamente perto.
Lá me explicou que apesar dos seus vinte oito anos de profissão nesta cidade, há muitas ruas para as quais tem dúvidas sobre a sua localização e que gostava de ter certezas.
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Quase afónica, eu não estava muito faladora. Lá emiti uns sons pouco satisfatórios de compreensão, não lhe dizendo no entanto que aprecio mais quem tem dúvidas do que quem não as tem e afirma que raramente se engana.
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Mas ele precisava mesmo de falar. Assim, teve de deitar os foguetes, fazer o barulho do rebentamento e apanhar as canas.
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Pelo caminho foi parando e perguntou a seis pessoas o caminho, sim seis, sempre com a mesma fórmula, fosse a taxistas ou a peões, novos ou velhos, ó jovem, sabe-me dizer onde é a rua de São Tomé? Dois dedos de conversa, um agradecimento, e lá repetia a pergunta uns poucos metros mais à frente.
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Sim, porque não gosto de andar a passear os clientes sem saber o caminho certo, explicava-me de cada vez.
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Para mim foi um trajecto muito curioso. Pelos bairros onde os mouros deixaram a traça, ruas e vielas estreitas, prédios finos e estreitos, becos. Algumas casas restauradas mas muitas esventradas, mal tratadas, vidros partidos. Mas muita vida, muitas lojinhas, cafés, tascas, pessoas na rua.
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À chegada rematou, sabe, é que eu não sou perfeito!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Poema - José Tolentino Mendonça

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UM PORMENOR DE PIERO DELLA FRANCESCA
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A forma de sinceridade requerida
é a mais extrema pobreza:
pela neve sem vincar rasto
sempre caminhou
aquele que busca um amor