terça-feira, 6 de setembro de 2011

Poema - António Dacosta

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Tuas coisas de mulher
O pente
Os sapatos
A escova
As meias naturais
A camisa ingénua
Os seios despertos
A desordem dos restos fúteis
Do teu corpo nu

domingo, 4 de setembro de 2011

Acontece...que também detesto o cheiro dos coiratos!

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Eu até gosto de feiras. Mas ter uma perto de casa durante um mês tira todo o gosto. Ele é barulho, cheiros, engarrafamentos, gente...

Mesmo assim, hoje à hora do almoço, hora morta para uma que abriu ontem, lá fui eu, mais duas amigas dar uma volta. 
Ocupa um jardim e algumas barracas tapam a via ciclável despudoradamente.
Este ano houve uniformização das tendas. Já estão montadas mas ainda não todas ocupadas, do lado dos ciganos da roupa ainda estão vazias. Talvez ainda estejam numa feira de Cascais, ou outra parecida.

Não sei porque não lhe mudam o nome. Devia passar a chamar-se Feiras das Farturas, já noutros anos tem sido assim, haverá clientes para tanta barraca? Farturas e churros, recheados de cremes coloridos, que dão a volta à barriga só de olhar!

Mas o pior de tudo são os coiratos! Grelhados, são de vómitos. Coiratos é a pele do porco, retirada da entremeada, assim uma coisa que se põe na brasa com sal, larga muita gordura, fica à mesma muito gorda, mas encaracolada, com uma côr clara e translúcida. Tem ar de ser mole e raimosa. Retirada do grelhador é servida em sanduiche, enfiada numa carcaça aberta ao meio.

Terá apreciadores, encontrei no Facebook uma página que lhe é dedicada. Mas pelo número de aderentes, desconfio que o grosso dos coirateiros é infoescluído.

Fumos saem das brasas das sardinhas, dos frangos e dos coiratos coiratos, dos fritos de farturas e dos churros, um minuto que vou ali fechar as janelas!

sábado, 3 de setembro de 2011

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Poema - Adília Lopes

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A tua carta
é palpável
cheirável
e beijável
tu não
porque estás
muito longe
de mim
(tenho pena
que seja
assim)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Aconteceu...que com o olhar fiquei mais rica

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Faz parte da colecção do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, um tríptico "As Tentações de Santo Antão" de J. Bosch, que é uma obra interessantíssima. Povoado de figuras estranhas, "o monstruoso, o grotesco, o demoníaco, o escatológico, através de um reportório iconográfico dominante na sua pintura, profundamente religiosa e moralizante (não "herética" nem "surrealista"), dedicada à exploração dos exemplos morais da vida penitencial dos eremitas ou aos fins últimos da humanidade, como o de uma ideia, doutrinal, para o fim dos tempos."  

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Agora estão em exposição, até 25 de Setembro, mais dois trípticos da mesma escola que pertencem ao Museu de Bruges. Lado a lado, estão todos na mesma sala.

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A  exposição chama-se Confrontos, Bosch e o seu Círculo.




Já tinha tido a ocasião de ver os quadros agora expostos, quer o "nosso", quer os outros numa viagem há bastantes anos a Bruges.
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Mas nesta há a possibilidade de se ver um vídeo, com os pormenores aumentados. Nunca os tinha visto assim tão bem. São tão interessantes!

O que me aconteceu? É que chegada aos quadros, eles parecem pequenos. Como tinha sido possível nunca ter visto de forma tão clara, aquele mundo imaginário, visionário e onírico como o designam também? Honra seja feita às novas tecnologias.

Uma visita a não perder.
Ou melhor, duas, a exposição e a vista linda sobre o rio Tejo!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

sábado, 27 de agosto de 2011

Poema - Jorge de Sena

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CADASTRADO
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Uma vez, aos sete anos,
partiu à pedrada a lanterna da porta da igreja.
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Dez anos depois, conduzindo um carro,
não parou num cruzamento de rua
onde havia um sinal de stop.
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Dois anos depois, teve uma briga
num bar, e partiu a cabeça de uma amigo
com uma garrafa de cerveja.
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Quando se recusou a combater no Viet-Nam,
o seu cadastro provava desde a infância
sempre manifestara sentimentos
nitidamente de traidor à pátria.