quinta-feira, 16 de junho de 2011

Aconteceu... ceifa embalada - arte no campo

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...............................Foto - Magda

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Poema - José António Almeida

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FLOR
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Algures por esses campos em volta
desta mesquinha vila da província
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deve haver ao menos uma flor.
Agora vou falar acerca dela:
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não é necessário ter muita fé
para saber que essa pequena planta
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existe, tem o caule débil, pétalas
de vermelho, mede poucos centímetros.
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É mais do que provável que no vento
ondule sob o sol cor de açafrão.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Aconteceu...Inês, um dois três, ou as semelhanças iludem

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Outro dia, outro local e ouço a mesma frase, Inês, um dois três!
Estava numa piscina e vejo uma miúda de uns 7 ou 8 anos dentro de água, as braçadeiras poisadas na borda e uma mãe a mandá-la sair. A Inês não ligou patavina à mãe, mantendo-se na sua.
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Não sei se a minha escrita consegue descrever a cena. A Inês não sabia nadar. Deixava-se ir ao fundo e dava impulsão com as pernas, vinha à superfície e repetia a ginástica. "Nadava" assim aos saltos de canguru. Só que cada vez se afastava mais da borda e assim ia ficando cada vez com menos pé. A cabeça vinha ao de cima mas já não completamente. Ora se aproximava da borda ora se afastava e perdia mais o pé, de forma perfeitamente aleatória. A continuar assim, tinha grandes riscos de se afogar.
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A mãe chamava-a, ela não obedecia. Até que a mãe agarrá-a por um braço, e zanga-se por ela ter tirado as braçadeiras. Ela teima que é assim que quer. Um braço de ferro instala-se entre as duas, a mãe obriga-a a sair da água, tentando puxá-la para fora. Nessa altura e percebendo que está a perder o round a Inês afirma que quer pôr as braçadeiras. Nessa altura a mãe foi firme, retirou-a da água. De castigo a Inês foi para casa e acabou dessa forma o dia de piscina.
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Imagino que este tipo de "guerra" da Inês com a mãe e eventualmente com outras pessoas é frequente. Nesta idade e fase do desenvolvimento, estamos perante uma situação mais complicada que a da criança de 2 anos. Estruturou-se um modo de funcionamento em que a criança não aceita a sua insuficiência infantil, não reconhece uma escala geracional, os pais como coordenadores dos filhos, os pais que sabem mais. Esta situação pode-se repetir na escola, com os professores e noutros meios. Mas muitas vezes é mais marcado na família nuclear. .
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E novamente reparo, Inês rima mesmo com um dois três.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Poema - David Mourão Ferreira

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PRAIA DO ESQUECIMENTO
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Fujo da sombra; cerro os olhos:não há nada.
A minha vida nem consente
rumor de gente
na praia desolada.
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Apenas decisão de esquecimento:
mas só neste momento eu a descubro
como a um fruto rubro
de que, sem já sabê-lo, me sustento.
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E do sol amarelo que há no céu
somente sei que me queimou a pele.
Juro: nem dei por ele
quando nasceu.

domingo, 12 de junho de 2011

sábado, 11 de junho de 2011

Poema - Jorge Sousa Braga

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INCUBADORA
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Era tão pequena a mão que
Nem o seu dedo mendinho
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Conseguia agarrar. Pesava
Quinhentos gramas e respirava
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Sem ajuda do ventilador
O coração da sua mãe quase
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Que não batia com receio de
Que ele sufocasse sob o peso
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Do seu amor

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Inês! Ai, ai, um, dois e três!

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Inês! A miúda terá uns 2 anos, e finge não ouvir.  Inês! torna a chamar a mãe, e a miúda nada. Já com voz mais forte e com uma musicalidade meiga, a mãe diz "Inês, um, dois, três! E eis que a criança vem a correr embora, de forma bem afirmativamente vá dizendo "Não!".
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Sentaram-se perto de mim na praia, pelo que vou mesmo sem querer, escutando e observando.
Primeiro foi para pôr creme de proteção solar. A mãe a chamar e a criança a ignorar, depois para vir descansar na toalha e mais tarde para deixar de ter os pés na água.
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E a boa da Inês, com a tal frase mágica, ameaçadora e indiciadora de qualquer coisa acordada com a mãe, lá vem vindo, mas mantendo sempre um "Não" verbal e bem afirmado.
Ao chegar perto da mãe, ouve dela a explicação porque tinha de vir, numa voz suave e meiga.
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René Sptiz, nascido no século XIX e que morreu no dia e ano da Revolução dos Cravos, foi um psicanalista que observou o desenvolvimento de crianças na relação com as mães, comparando com crianças em orfanatos. Determinou nos primeiros anos de vida da criança, pontos cruciais do desenvolvimento do Eu, os organizadores psíquicos, que correspondem a patamares de novos funcionamentos mentais.

Por volta dos 15-18 meses, a criança começa a dizer "Não" abanando a cabeça. O 3º organizador de Sptiz, o "Não",  com vários sentidos, como explicitar a sua vontade mas também iníciando a sua capacidade de se reconhecer enquanto diferente do outro.
A mãe, com as suas regras, lembrava-lhe que o princípio do prazer não pode levar a sua sempre avante.

E assim se cresce.