segunda-feira, 14 de março de 2011

Poema - Fernando Assis Pacheco

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AFONSO PRAÇA
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Estes são os amigos verdadeiros
o que numa casa há de mais simples
cântaro de água para matar a sede
brasa viva ardendo na camilha.
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muito antes de nos conhecermos
já fazia parte da família
somente não davam era connosco
por morarem noutras geografias
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como o rancho que entra no pátio
depois de um dia de vindima
chegam cantando e batendo palmas
com um fundo ingénuo de concertina
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brindo ao dilecto e bom Afonso
pelo muito que repartiu comigo
o seu calor em horas frias
a sua paciência de moringa

domingo, 13 de março de 2011

Aconteceu...que uma rede dá um grande conforto

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Ouvi hoje alguém dizer que a sua família é muito importante, mas que se lhe morressem os amigos a vida deixava de fazer sentido.
Já todos ouvimos dizer que a família não se escolhe, mas os amigos sim.
Portanto os amigos são também a nossa família.
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A relação com os familiares (de sangue e amigos) é necessariamente muito diferente quando se mora numa pequena terra, onde todos se conhecem, e mais ou menos "tomam" conta de nós ou numa cidade, feita de prédios de portas fechadas.
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Fala-se hoje na importância da construção de uma rede de apoio onde nos integramos. Estabelecer fios de ligação variados, que nos façam sentir mais seguros. Que nos permitam construir na cidade a nossa pequena aldeia...que "tome" conta de nós.
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É que pode-se viver sozinho sem os perigos do isolamento.

sábado, 12 de março de 2011

Aconteceu...foto - gatos ocuparam o território

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..................................Fotos - Magda

sexta-feira, 11 de março de 2011

Poema - Eugénio de Andrade

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Das coisas que menos esperava
num hotel de cinco estrelas
era encontrar um gato
no meu prato de torradas.
Como num dos poemas últimos de Montale
enquanto o chá arrefecia
foi-se arrastando pelo muro do terraço
em leves e femininos passos de dança,
como faria Nureiev se tivesse
tomado comigo o pequeno almoço.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Aconteceu...que nesta época os gatos são os donos

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Alguns aldeamentos no Algarve quase só têm habitantes no verão. Começa o tempo quente e aos fins-de-semana começam a ver-se algumas pessoas, uns feriados que fazem ponte; mas em Julho e Agosto é que todas as casas ficam cheias.
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Há no entanto uma ou outra casa habitada, muitas vezes por estrangeiros que fogem para a terra deles no verão. Fazem bem, no sossego é que isto é simpático.
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Mas hoje percebi que há outros habitantes que se apropriam dos espaços.
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Preto, muito preto, estava um gato deitado na grelha superior do barbecue. O sol batia-lhe de chapa, e eu imaginei como se devia estar ali bem.
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Sem me pedir licença, eis que pela porta que dá para a açoteia, vulgo terraço noutras paragens, um gato tigrado cinzento olha-me lá de fora com curiosidade. Levanto-me para pegar na máquina fotográfica e o bichano, naturalmente fugiu. Segui-o. Com um salto enfia-se pela buganvília e meio escondido pára e olha-me virando a cabeça para mim. Tiro-lhe umas fotos e recolho-me à sala. E eis, que atrevimento e que confiança, o vejo à porta de casa e se propõe entrar. Está magrito coitado, e é novo. Olha para a sala, uns passos e está no quarto, mas quando me aproximo sai a correr e foge pelos telhados.
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Olho mais longe, e lá está mais um, deitado num terraço, ao sol.
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São eles os donos do aldeamento nesta época do ano. O espaço é deles. Pouco exigentes, procurando o calorzinho e se lá ficam a espreguiçar-se. Esperava-os mais ariscos.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Aconteceu...Fotos de desenhos nos passeios

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...................................Fotos - Magda

terça-feira, 8 de março de 2011

Poema - José Tolentino Mendonça

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PARA LER AOS NOVIÇOS
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Deus não aparece no poema
apenas escutamos a sua voz de cinza
e assistimos sem compreender
a escuras perícias
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A vida reclama inventários e detalhes
não a oiças
quando inutilmente perscruta as sequências
do seu trânsito
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Só há um modo verdadeiro de rezar:
estende o teu corpo ao longo do barco
que desce silencioso o canal
e deixa que as folhas mortas dos bosques
te cubram