domingo, 31 de janeiro de 2010

Poema - Maria Eugénia Cunhal

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Prefiro
As flores que nascem ao acaso
Ao perfume das rosas
Que se mandam comprar porque é domingo.

sábado, 30 de janeiro de 2010

aconteceu...histórias com médicos

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Contaram-me hoje esta história, atendendo ao meu pèzinho. Achei-a deliciosa.
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Havia um médico de aldeia, que perante perguntas que lhe faziam sobre as doenças contagiosas, "ó doutor, isso pega-se?", costumava responder que a única certeza que tinha é que as fracturas não se pegavam.
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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

aconteceu...um filme - 1

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Para ir ver "O Laço Branco", é melhor estar preparado para sair de lá com um murro no estomago.
É um filme a preto e branco e a fotografia é muito bonita.
Mais do que diálogos entre pais e filhos, ouvimos ordens, certezas, juízos e punições. Há uma enorme rigidez, as emoções são contidas e os silêncios pesados. Assistimos a violência verbal, agida e preversidades.
É interessante e rico do ponto de vista psicológico e sociológico.

A história passa-se numa aldeia do Norte da Alemanha, no período imediatamente anterior à 1ª grande guerra.
As crianças que vemos retratadas no filme serão mais tarde os adultos da geração nazi

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

2 Poemas - Adília Lopes

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1 -
Quando estou contente
amo toda a gente
quando estou triste
tudo me resiste
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2 -
Escrevia
porque estava sozinha
e queria estar
com pessoas.
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Depois
estava com pessoas
e queria estar sozinha
para escrever.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Aconteceu em viagem - 7 - Douro Internacional

Foto - Magda
Freixo-de-Espada-à-Cinta foi um nome que desde miúda me divertiu..

Mantenho nas viagens a mania de ir anotando nomes de terras por onde vou passando, pelo som estranho de algumas palavras. Foi o caso de Caçarelhos, Palaçolo, Palancar, Ifanes, Constantim, Sonhoanes, Variz, Ventozelo e Zafa. Tudo à volta da mesma zona, do Douro Internacional.

Onde nasceu a senhora? Na Variz, diz ela. Sorrisos de quem ouve.
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Para além da sonoridade das palavras há os sítios, a paisagem, os sons.
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Que paz se sente lá do cimo do Penedo Durão! Vista larga sobre o Douro, aves de rapina com as suas grandes asas a voar bem lá no cimo. Um grande silêncio faz-nos companhia.

Contaram-me que o compositor Eurico Carapatoso vai para lá sentar-se nas férias. Aquele lugar mágico, acredito, pode permitir inspirar-se.

Parece que nasceu ali perto, numa terra também de nome engraçado, Escalhão. Eu nunca tinha ouvido falar.
Maior que a avaliação que fiz à chegada, com alguns edifícios interessantes, calhou estar quase sem gasolina e cheia de fraqueza. Já era tarde para almoçar, tive receio de ter me ficar por uma sanduiche. Mas eis que na bomba de gasolina me apontam um restaurante numa rua sem outras construções.
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Situado onde antes foi um lagar de vinho, as paredes de pedra estão enfeitadas com objectos de lagar. Alguns recortes de jornal emoldurados dão conta de, por várias vezes ter sido citado e elogiado.
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Estava um dia muito solarengo. Da parte de trás, um pequeno quintal e duas mesas debaixo de um telheiro. Por aí fiquei, com uma música de fundo, portuguesa, muito bem escolhida, Zé Mário Branco, Sérgio Godinho e outros companheiros destes. .

Na extremidade do quintal uma casa pequena com um letreiro à porta dizia "massagens de azeite", restos de uma feira. Explicaram-me que foi uma ucraniana quem teve a ideia e montou o "stand"..

A comida da região faz parte das minhas viagens.
Não como em quantidade mas sou apreciadora da boa comida e dos bons vinhos. E neste restaurante tudo isso havia.

Entrada de farinheira assada com pão torrado com flôr de sal e fundo de azeite. Um arroz de carne muito bem feito e uma boa sobremesa. Vinho engarrafado da região, muito bom, que me penitencio de não me lembrar do nome.

A comida é parte integrante da cultura e somos surpreendidos quando menos se espera...como naquele dia.
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Lagar de nome, este não tinha nada de insólito.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Poema - Maria Eugénia Cunhal

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Deixa ficar a cinza nos cinzeiros
E as flores murchas nas jarras.
Não dês ordem às coisas.
A cinza ainda é um resto de presença
E as flores recordação.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Aconteceu...a propósito de uma notícia - 5

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"Médicos recusam que enfermeiros possam prescrever medicamentos, como em Espanha", pode-se ler no jornal de hoje.
Seguem-se afirmações dos bastonários das respectivas ordens. E no jornal on-line comentários vários dos leitores contra os médicos, coisas que estamos habituados.
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Essa notícia, fez-me lembrar um episódio da minha infância.
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Quando eu era miúda não havia máquinas de lavar roupa. Havia umas lavadeiras que, de burro ou carroça, percorriam certas zonas de Lisboa para ir buscar às casas a trouxa das roupas, depois de escrito o rol.
Levavam a roupa, tratavam de a lavar, corar, secar e traziam-na de volta por passar a ferro. Conferido o rol, as nossas criadas, hoje empregadas domésticas, passavam-na a ferro.
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A nossa lavadeira era a D. Maria. Vivia na zona de Sintra, e dizia que a correnteza de água onde a nossa roupa era lavada era a melhor de todas. Nunca nos queixamos.
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Era uma mulher simples, tratava a nossa porteira por D. Emíla, e a Viscondessa do 5º direito por D. Amála. Não dava importância aos iis. Não me lembro como tratava a minha mãe, que era médica, mas veremos que a tinha em consideração para usar em parceria, alguns dos seus conhecimentos.
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Um dia, a D. Maria chega com um panarício num dedo. Pede para falar com a minha mãe e queixa-se-lhe que já fez o que era habitual, umas rezas à meia noite, ao luar, com duas penas de galo cruzadas em cima do dedo doente. Só que não estava a evoluir tão bem como o esperado. Queria a ajuda dela, para lhe receitar um besunto (vulgo pomada), para ajudar às rezas.
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A minha mâe não se fez rogada e lá lhe deu o que ela pediu.
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Quando a roupa voltou lavadinha e a cheirar a sabão, agradeceu a receita, porque tinha começado a pôr a pomada e repetido as rezas e a situação tinha-se resolvido. Ou como ela disse, o besunto ajudou muito às rezas.
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A notícia que enfermeiros possam prescrever medicamentos tal como em Espanha, assim como nos EUA os psicólogos já o fazem, inquieta-me.
Para além de diluir as várias competências de uma equipa, receio que não prescrevam só penas de galo.