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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Aconteceu...a cultura serve para alguma coisa?

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Escrevi eu a 9 de Janeiro deste ano que "Ao domingo os museus são gratuitos". São, ainda, mas parece que vão deixar de ser.
Sei, a crise. Mas receio que com o pagamento do bilhete, muita gente altere o programa e deixe de ir "passear" pelos museus, criar proximidade com eles e com as obras de arte.
Mais tarde haverá mais gente menos sensibilizada, mais bruta, analfabeta e outras coisas que só empobrecem um povo.

Não tenho a certeza de qual o país em que estive e cujos museus visitei, em que os visitantes do país tinham entrada grátis. É chato, também achei isso uma vez que paguei, mas é uma defesa dos seus habitantes e do seu nível cultural.
É só uma sugestão, ok?

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Aconteceu...serão as catedrais do nosso tempo?

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Quando abriu o Centro Comercial Colombo, grupos excursionistas vinham de todo o Portugal e eram ali depositados. O local e as suas lojas eram visitadas quase com o mesmo respeito e atenção que outras pessoas dedicam à "Galleria degli Uffizi" em Florença.

Na Marina de Vilamoura, grupos de estrangeiros são despejados para visitarem o "Sete Café", bar do Figo e China. De forma ordeira, alinhados como se fossem alunos na forma para entrarem na aula, entram e lá ficam a admirar. As paredes cobertas de fotografias de gente do futebol e do espectáculo internacional funcionam são olhados como se de um quadro de Botticelli se tratassem.

Um pouco mais adiante, eis que param na CR7.  Olham, miram, (terão reparado nos bodies para bebés que dizem I love Cristiano Ronaldo?), e acabam no exterior, a posar para as fotos tendo como fundo a imagem de corpo inteiro do dono da loja.

Que tem de estranho? Não há quem tire foto de braço estendido como se a segurar a Torre de Pisa? Ou junto da varanda de Romeu e Julieta em Verona? 
Há quem visite em Paris a frutaria "Au marché de la Butte", um dos locais que serviu de cenário no filme "O Destino de Amélie Poulain". 
Quem vá beber um Mojito à "La Bodeguita del Medio" em Havana, numa peregrinação aos lugares de Hemingway, ou beber um copo no "Les deux Magots", em Paris, pensando em Sartre, Simone de Beauvoir e outros intelectuais marcantes da cultura francesa. 

"À Chacun Sa Vérité", escreveu Pirandello. A mim apetece-me escrever "Cada Qual Com a Sua Cultura".

sábado, 19 de março de 2011

Aconteceu...emoções e pudor

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Cada cultura tem a sua forma de expressar as emoções. Esses comportamentos fazem parte dos códigos que são transmitidos pelas famílias de geração para geração e ensinados nas escolas desde a mais tenra idade.
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Os povos latinos são explícitos a transmitir emoções, usam abundante linguagem gestual que pontua a verbal, falam com as mãos, gesticulam, riem-se alto, gritam, batem-se, tal comédia italiana.
Já nos povos do norte da Europa, a expressividade das emoções é tão discreta que diríamos que são frios. Por vezes a grande contenção cria sentimentos de enorme violência.
Já os orientais, expressam pouco as emoções, transmitem com o seu comportamento mais uma sensação de boa educação que de frieza. Um discreto sorriso pode acompanhar uma emoção carregada de sentimentos dolorosos, tal como um grande contentamento. É um código tão diferente do nosso que quase pode dar azo a mal entendidos.
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Vimos nesta última semana japoneses a emocionarem-se, para logo de seguida pedirem desculpa, como se se tivessem excedido. Com tudo o que têm passado, é muito impressionante!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Aconteceu...em Buenos Aires, taxista e Maradona

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Eu já desconfiava que volta não volta vou pensar na bola. Ontem vi parcialmente dois jogos, um enquanto pedalava no ginásio, outro enquanto comia um bitoque aqui no restaurante de bairro a que carinhosamente chamo de cantina, tal o uso como recurso.
Agora à noite vi pois o Maradona vestido de fato e gravata a festejar a vitória da selecção argentina.


Há uns anos fiz uma viagem pela Argentina e Chile. Hoje só me vou reportar a Buenos Aires, cidade grandiosa, capital europeia com dimensão americana. Ruas larguíssimas, museus incontáveis, jardins, bairros interessantíssimos, esculturas ao ar livre, eu gostei imenso e quero voltar.

Mas uma das coisas que me impressionou foi a qualidade dos taxistas. Muitos de meia idade, educados, cultos e prestáveis.
Um deles, numa deslocação em que me guiou por vários museus de artistas argentinos, foi falando das suas viagens à Europa, muito especialmente a Espanha, Madrid e o Museu do Prado que o encantou.
A certa altura da viagem passamos junto do estádio do Boca Juniors e eu falo no Maradona que eu sabia que tinha sido daquele clube.
Acho que até abrandou a velocidade, e em voz pausada diz-me que melhor fora que nunca o tivessem tido. E explica-me que quando um país tem um personagem daquele calibre, um ídolo para a juventude, essa pessoa tem de ser uma referência, um exemplo. Ora o do Maradona, na altura todo "encharcado" na toxicodependência, era prejudicial aos jovens.
Na altura gostei de o ouvir. Era um homem que pensava e tinha crítica.
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Se na infância os nossos pais e família próxima são as figuras maiores de referência na construção da identidade, na adolescência as figuras de identificação alargam-se, abrangendo outras pessoas que nos parecem importantes para nós. Por vezes professores, médicos mas também outros jovens e alguns idolos. Por vezes breves identificações feitas pela superfície como o uso de brincos ou do penteado de Cristiano Ronaldo.
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Mais tarde vi o Maradona sempre de charuto na boca, hábito importado de Cuba onde o terão reabilitado.
Hoje vejo-o como treinador. Oxalá se aguente saudável. Há doenças que em personalidades frágeis podem ter recaídas.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Aconteceu em viagem - 7 - Douro Internacional

Foto - Magda
Freixo-de-Espada-à-Cinta foi um nome que desde miúda me divertiu..

Mantenho nas viagens a mania de ir anotando nomes de terras por onde vou passando, pelo som estranho de algumas palavras. Foi o caso de Caçarelhos, Palaçolo, Palancar, Ifanes, Constantim, Sonhoanes, Variz, Ventozelo e Zafa. Tudo à volta da mesma zona, do Douro Internacional.

Onde nasceu a senhora? Na Variz, diz ela. Sorrisos de quem ouve.
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Para além da sonoridade das palavras há os sítios, a paisagem, os sons.
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Que paz se sente lá do cimo do Penedo Durão! Vista larga sobre o Douro, aves de rapina com as suas grandes asas a voar bem lá no cimo. Um grande silêncio faz-nos companhia.

Contaram-me que o compositor Eurico Carapatoso vai para lá sentar-se nas férias. Aquele lugar mágico, acredito, pode permitir inspirar-se.

Parece que nasceu ali perto, numa terra também de nome engraçado, Escalhão. Eu nunca tinha ouvido falar.
Maior que a avaliação que fiz à chegada, com alguns edifícios interessantes, calhou estar quase sem gasolina e cheia de fraqueza. Já era tarde para almoçar, tive receio de ter me ficar por uma sanduiche. Mas eis que na bomba de gasolina me apontam um restaurante numa rua sem outras construções.
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Situado onde antes foi um lagar de vinho, as paredes de pedra estão enfeitadas com objectos de lagar. Alguns recortes de jornal emoldurados dão conta de, por várias vezes ter sido citado e elogiado.
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Estava um dia muito solarengo. Da parte de trás, um pequeno quintal e duas mesas debaixo de um telheiro. Por aí fiquei, com uma música de fundo, portuguesa, muito bem escolhida, Zé Mário Branco, Sérgio Godinho e outros companheiros destes. .

Na extremidade do quintal uma casa pequena com um letreiro à porta dizia "massagens de azeite", restos de uma feira. Explicaram-me que foi uma ucraniana quem teve a ideia e montou o "stand"..

A comida da região faz parte das minhas viagens.
Não como em quantidade mas sou apreciadora da boa comida e dos bons vinhos. E neste restaurante tudo isso havia.

Entrada de farinheira assada com pão torrado com flôr de sal e fundo de azeite. Um arroz de carne muito bem feito e uma boa sobremesa. Vinho engarrafado da região, muito bom, que me penitencio de não me lembrar do nome.

A comida é parte integrante da cultura e somos surpreendidos quando menos se espera...como naquele dia.
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Lagar de nome, este não tinha nada de insólito.

sábado, 2 de janeiro de 2010

aconteceu no Serviço Médico à Periferia - 1

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Faz hoje 30 anos que iniciei o Serviço Médico à Periferia (SMP), numa vila do norte frio de Portugal, a mais de 300 quilómetros de distância e por más estradas.

Para quem não sabe o que isso foi, direi que foi uma tentativa de dotar de médicos zonas pouco ou nada cobertas na área da saúde. Era no 3º ano depois terminado o curso de medicina e antes de se iniciar a formação para especialista, e tinha a duração de 1 ano.

A colocação era feita por escolha voluntária de uma terra e depois por sorteio quando o número de inscritos ultrapassava as vagas. Nesse dia a sorte não estava do meu lado e fui saltando de terra em terra até ficar lá longe de Lisboa, numa terra da qual nunca tinha ouvido falar.
Li depois bastante sobre esta zona, também conhecida por Terras do Demo, uma vez que Aquilino Ribeiro por ali nasceu e muito escreveu sobre ela.

Eu e uma colega, que nos conhecíamos relativamente pouco, saímos de Lisboa, comigo a guiar, com o espírito de quem vai para uma missão, obrigatória, quiçá para ambiente de guerra.

Passei por casa dela para a buscar e a mãe confidenciou-me que tinha estado para chamar o médico porque a filha de noite só vomitava e sentia que ia morrer…

A viagem fez-se em silêncio.

Os psicanalistas que interpretem, mas em vez de irmos parar a Moimenta da Beira, no distrito de Viseu, fomos parar a Aguiar da Beira, distrito da Guarda. Encontramos uns grandes pedregulhos e ficamos aliviadas ao fazer os quilómetros que nos separavam do verdadeiro destino, supondo que teria de ser melhor.

Fomos para lá obrigadas, mas ao fim de pouco tempo estávamos integradas. Aprendemos a gostar das coisas simples da vida, das gentes, das comidas, das paisagens, das festas populares. Fizemos amigos que se mantêm até hoje.
O regresso, um ano depois também foi triste, uma parte de nós ficou por lá.

E tal como no filme que referi no escrito de ontem, e a propósito das diferentes linguagens, vou recordar um doente que vi no 1º dia de consulta. Começou por me dizer que a razão da consulta era por “ir muito ao campo”. Lisboeta que sou, e jóvem que era, não achei que isso fosse muito grave e fiz-lhe ver as vantagens do campo e do ar puro. Ao que ele me disse que eu não teria percebido bem, e quis ajudar-me dizendo que “dava demais do corpo”.
Iinterrompi a consulta e fui perguntar à senhora enfermeira que me dissesse qual o significado destas frases, e depois do o saber pareceu-me óbvio, o homem estava com diarreia!

Lição nº 1, passar a estar atenta às diferentes formas de denominar as mesmas coisas, e à cultura local, o que só nos enriqueceu
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