sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Aconteceu...fuga no areal

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Pela areia fora, passa por mim a chorar. Da boca bem aberta saía um choro sonoro, forte, enquanto a cara estava toda coberta de lágrimas. Olhei à volta, não percebi se alguém o acompanhava, aparentemente estava sozinho, eventualmente perdido.
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Olhei-o de costas, lá ia ele, pequeno e magrito, talvez uns dois anos, mais mês menos mês. Sigo-o, disposta a socorrê-lo julgando-o perdido.
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Mas reparo que uma senhora que ia na mesma direcção mas bastante mais atrás, acelera o passo e ultrapassando-me, agarra-o.
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Uma da tarde na praia, num dia quente, Algarve com o seu vento levante, que nos afaga com memórias do deserto.
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A criança cruza-se comigo já ao colo da mãe, resistindo e mantendo o mesmo choro intenso e olhando para os terrenos que abandonava. O meu olhar e o da mãe cruzam-se, e sugiro quase como justificando-o que talvez esteja com sono.
A mãe pára e conta-me brevemente que não é nada disso, lá do longe viu uma bola dos senhores que jogavam raquetes e era de ideias fixas, queria-a. Comento ao miúdo, como que querendo-o acalmar, que amanhã ele poderia trazer uma bola para brincar. De forma afirmativa, a mãe diz que não vale a pena, "nunca quer nada do que lhe trazemos, só quer as coisas dos outros". E remata "É a minha sina", seguindo pela areia.
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Fiquei muito incomodada. Julgo que aquela díade, mãe e filho, precisariam de ajuda, mas num brevíssimo cruzamento esporádico de praia, que fazer?
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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Poema - Jorge Sousa Braga

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O VENTO
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Por mais que tente, o vento
não consegue adormecer
se não tiver nada para ler.
Seja uma folha de tília,
de bambu ou buganvília.

É por isso que o vento
arrasta as folhas consigo,
até encontrar um abrigo,
onde possa adormecer.
- arrastou até a folha
onde eu estava a escrever!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

sábado, 28 de julho de 2012

Acontece...nada é certo, joguemos com o imprevisto

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Há dados adquiridos, ou que julgamos ter, como um Inverno frio e chuvoso e de Junho em diante estar bom para a praia. São experiências antigas, hoje convicções quase delirantes. É que às vezes as contas saiem furadas, e parte do inverno deste ano postei o céu sempre azul. Estamos em Julho, que era suposto ter bom tempo, mas que tem oscilado entre temperaturas muito altas, com os inevitáveis incêndios, chuvas torrenciais com queda de granizo, ou temperaturas de início de Primavera.
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No Algarve, onde as pessoas procuram calor e águas mornas, há desde há uma semana um vento sud-oeste, temperaturas baixas para a época, a exigir um agasalho ao fim do dia como se na costa ocidental nos encontrássemos.
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Mais do que peixe grelhado, ou saladas frias, o que apetece é sopa de peixe bem quentinha, açorda ou xarém, comidas mais de inverno que de verão.
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Ontem começou a Feira da Serra em São Braz de Alportel, este ano dedicada ao medronho e seus diversos usos. Receio que com os incêndios de há 2 semanas nas serras de São Braz e de Tavira, para o ano não haja medronheiro algarvio pronto a dar fruto.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Poema - Pedro Tamen

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Aqui não tenho relógio
nem de corda nem de sol,
que sol não há nesta cave.
Sai-me o tempo destas mãos
tão parcas e corroídas,
desenhando um necrológio
neste sapato, lençol
levitando em asa de ave.
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Prego e prego, sois irmãos
das minhas horas perdidas.


sábado, 14 de julho de 2012

sábado, 7 de julho de 2012

Acontece...que a saúde dos portugueses não pode ser uma treta.

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Sinto que estamos a viver um período da treta. Talvez por isso, o poema do poeta e médico que postei na 5ª feira passada, Ladaínha, me fez tanto sentido.
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"Troikas", "trikas", déficits, cursos superiores tirados à pressão, apoio a entidades privadas, desapoios a entidades públicas, impostos acrescidos para quem não é rico e é só trabalhador, umas inovações estranhas a nível escolar, e uma destruição do SNS (serviço Nacional de Saúde) que, como técnica e utente me toca particularmente.
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Um país que fez uma enorme evolução, apetecia-me escrever revolução a nível da saúde, alguém se lembra de como éramos há quase 40 anos? Hoje atingimos em muitas áreas da saúde níveis europeus nomeadamente a saúde materno infantil , índices de mortalidade, morbilidade infantil, desenvolvimento dos programas de Prevenção Precoce (para o desenvolvimento infantil), etc
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Só que hoje há equipas que diminuíram o número de técnicos, valências que acabaram - professores, educadores, psicomotricistas e outros foram desaparecendo das equipas de saúde mental infantil, deixando-as com menos recursos para actuarem. Pela Carta Hospitalar recentemente conhecida, muitos hospitais vão deixar de ter pedopsiquiatria. Ficaremos quase como há umas décadas atrás.
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A saúde deve ser vigiada. A prevenção é um sinal de qualidade de saúde. Sai cara? Não, pode poupar muitos gastos.
Quem manda parece só querer gente doente.  Não faz nenhum sentido "expurgar das listas dos médicos de família os utentes que há mais de 3 anos não tenham utilizado os respectivos serviços, dando o seu lugar a um utente sem médico de família", como recentemente foi determinado superiormente. Se até nem dão trabalho, porque castigá-los? E se há muitos doentes sem médico, porque não preencher os lugares vagos do quadro médico?
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Ainda ontem necessitei de um item diferente para dar alta a uma criança. É que não tem dinheiro para as viagens até ao hospital, nem para o medicamento diário, que segundo avaliação dos professores, é essencial para a sua integração e aprendizagem escolar. Não ficará melhorado, nem faltou às consultas, só que não pode voltar.
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Os quadros de pessoal devem estar cheios de vagas. Por morte, reforma ou passagem para o privado, tem havido um emagrecimento enorme do quadro técnico, relativamente às últimas décadas. Dizem: preencham-se as necessidades por contratação barata, enfermeiros a menos de 5€/hora, esqueçamo-nos da qualidade, é preciso é pessoal, médicos mesmo se sem grande qualificação específica, sem exames de avaliação que garantam a qualidade do saber e do fazer, que garantam que as chefias o são por mérito! E tantas outras coisas!
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A indignação actual dos médicos não é só salarial, esqueça isso quem assim o pensa. É pela garantia da qualidade dos serviços, pela manutenção do SNS, a bem dos portugueses.
Não há pachorra! Por isso esta semana haverá a manifestação mais evidente para todos, uma greve dos médicos, convocada pelos sindicatos e Ordem dos Médicos. Há décadas que tal não acontece. Hão-de-nos ouvir, e oxalá arrepiar caminhos. Os utentes que nos compreendam.