quinta-feira, 19 de julho de 2012

Poema - Pedro Tamen

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Aqui não tenho relógio
nem de corda nem de sol,
que sol não há nesta cave.
Sai-me o tempo destas mãos
tão parcas e corroídas,
desenhando um necrológio
neste sapato, lençol
levitando em asa de ave.
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Prego e prego, sois irmãos
das minhas horas perdidas.


sábado, 14 de julho de 2012

sábado, 7 de julho de 2012

Acontece...que a saúde dos portugueses não pode ser uma treta.

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Sinto que estamos a viver um período da treta. Talvez por isso, o poema do poeta e médico que postei na 5ª feira passada, Ladaínha, me fez tanto sentido.
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"Troikas", "trikas", déficits, cursos superiores tirados à pressão, apoio a entidades privadas, desapoios a entidades públicas, impostos acrescidos para quem não é rico e é só trabalhador, umas inovações estranhas a nível escolar, e uma destruição do SNS (serviço Nacional de Saúde) que, como técnica e utente me toca particularmente.
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Um país que fez uma enorme evolução, apetecia-me escrever revolução a nível da saúde, alguém se lembra de como éramos há quase 40 anos? Hoje atingimos em muitas áreas da saúde níveis europeus nomeadamente a saúde materno infantil , índices de mortalidade, morbilidade infantil, desenvolvimento dos programas de Prevenção Precoce (para o desenvolvimento infantil), etc
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Só que hoje há equipas que diminuíram o número de técnicos, valências que acabaram - professores, educadores, psicomotricistas e outros foram desaparecendo das equipas de saúde mental infantil, deixando-as com menos recursos para actuarem. Pela Carta Hospitalar recentemente conhecida, muitos hospitais vão deixar de ter pedopsiquiatria. Ficaremos quase como há umas décadas atrás.
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A saúde deve ser vigiada. A prevenção é um sinal de qualidade de saúde. Sai cara? Não, pode poupar muitos gastos.
Quem manda parece só querer gente doente.  Não faz nenhum sentido "expurgar das listas dos médicos de família os utentes que há mais de 3 anos não tenham utilizado os respectivos serviços, dando o seu lugar a um utente sem médico de família", como recentemente foi determinado superiormente. Se até nem dão trabalho, porque castigá-los? E se há muitos doentes sem médico, porque não preencher os lugares vagos do quadro médico?
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Ainda ontem necessitei de um item diferente para dar alta a uma criança. É que não tem dinheiro para as viagens até ao hospital, nem para o medicamento diário, que segundo avaliação dos professores, é essencial para a sua integração e aprendizagem escolar. Não ficará melhorado, nem faltou às consultas, só que não pode voltar.
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Os quadros de pessoal devem estar cheios de vagas. Por morte, reforma ou passagem para o privado, tem havido um emagrecimento enorme do quadro técnico, relativamente às últimas décadas. Dizem: preencham-se as necessidades por contratação barata, enfermeiros a menos de 5€/hora, esqueçamo-nos da qualidade, é preciso é pessoal, médicos mesmo se sem grande qualificação específica, sem exames de avaliação que garantam a qualidade do saber e do fazer, que garantam que as chefias o são por mérito! E tantas outras coisas!
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A indignação actual dos médicos não é só salarial, esqueça isso quem assim o pensa. É pela garantia da qualidade dos serviços, pela manutenção do SNS, a bem dos portugueses.
Não há pachorra! Por isso esta semana haverá a manifestação mais evidente para todos, uma greve dos médicos, convocada pelos sindicatos e Ordem dos Médicos. Há décadas que tal não acontece. Hão-de-nos ouvir, e oxalá arrepiar caminhos. Os utentes que nos compreendam.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Poema - Jorge Sousa Braga


LADAÍNHA
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Concha perfumada
Pórtico real
Princesa das flores
Porta misteriosa
Pérola vermelha
Coração de peónia
Pegada de gazela
Pórtico de jade
Palácio de púrpura
Delta negro
Pote de mel
Botão de lótus
Gruta de canela
Porta alada
Flor da lua
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Rogai por nós

quarta-feira, 27 de junho de 2012

domingo, 24 de junho de 2012

Poema - Rui Caeiro

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A estranheza
e a morosidade
tingidas
aqui e ali
de alguma réstia
de deslumbre
dizem que
dizem que
viver é isso
a verdade é
não sei
não sei mesmo
mas algo me dia
a ser mesmo assim
não me admirava
nada

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Aconteceu...que até no escuro se iluminou

Tive sorte!
Pelo telefone soube que no "contnente" como por aqui se diz, choveu, esteve nublado e desagradável.
Logo no dia maior do ano, véspera de verão! 
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Para mim o dia começou bem cedo, apesar do check-in feito pela net. Levantei-me quase de madrugada direcção ao Faial, onde soube que nos dias anteriores o tempo tinha estado mau, com nuvens que tudo tapavam, vento e chuva  e que os aviões andaram com os horários com atraso.
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Pouco tempo depois do avião levantar voo em Lisboa, adormeci para acordar já perto da ilha Pico. E foi uma surpresa, céu estava azul, havia sol, algumas nuvens com o pico do Pico, bem visível a espreitar.
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Dia de trabalho, fim de tarde com sol e uma discreta aragem.
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Só que o dia era longo, como já referi dia maior do ano. Assim, o céu continuou azul, e mesmo perto das 23 horas continuava o Pico a ver-se bem, embora agasalhado com um cachecol de nuvens, conforme se pode ver na foto que se segue.
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Espectacular foi um pouco mais tarde, já a noite tinha caído, e por breves minutos, mesmo na escuridão, o pico do Pico lá estava, ainda visível, até ser submergido no negro que tudo invadiu.
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Há sortes assim, para a vista e as sensações. Se uma lua cheia me invade de emoção, esta beleza hoje também me arrebatou.