terça-feira, 27 de julho de 2010

Aconteceu...Exposições de Júlio Pomar e Graça Morais


.
As recuperações das cidades, de edifícios, castelos, a criação de museus e outros equipamentos começam a melhorar a qualidade de vida no interior.
Tinha lido no jornal que ia ser inaugurada uma exposição do Pomar - Uma antologia -no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança. Estando já no centro do país, resolvi dar lá um salto.

O edifício, antigo e bonito, recuperado pelo Arquitecto Souto Moura, com resultado muito bom, tornou o espaço muito agradável. Aliás foi reconhecido e premiado internacionalmente.

A exposição, grande, acompanha os vários períodos ou fases do Pomar, e, apesar de já ter visto várias mostras, é sempre um grande prazer. Desenho, pintura e escultura.
Obras desde os anos 40 a 2007.

Gosto muito destas manchas significativas.



Noutras salas, "Retratos e Auto Retratos" da Graça Morais



Uma volta pela cidade, o castelo com as casas e ruas recuperadas, valeu bem este passeio.

domingo, 25 de julho de 2010

Poema - António Cabral

.
AQUI, O HOMEM

Nem Baco nem meio Baco!:
Aqui é o homem,
desde as mãos ossudas e calosas,
desde o suor
ao sonho que transpõe as nebulosas.

Montes de pedra dura,
gólgotas
onde os geios são escadas!
Venham ver como sobe o desespero
e a esperança, de mãos dadas.

É o homem.
Isso é o homem.
– Nem sátiro nem fauno –
Uma vontade erguida em rubro gládio
que ganha a terra, palmo a palmo.

Vinhas que são o inferno,
o único
em que o fogo é a taça da alegria!
Venham ver um senhor
grandioso como o sol ao meio-dia.

Nem Baco nem meio Baco!:
Aqui é o homem
que nada há que não suporte
mas suporta e persiste.
Aqui é o homem até à morte.

sábado, 24 de julho de 2010

Aconteceu...cenas do prédio da minha infância

.
A D. Maria era a lavadeira de Sintra, que de carroça e burro passava todas as semanas para buscar a roupa que entregava por passar na semana a seguir. Estamos nos anos 60, altura em que não tínhamos ainda máquina de lavar roupa. Ora a D. Maria era muito simples, tratava toda a gente da mesma forma. Fosse a senhora marquesa do 5º direito que para ela foi sempre a D. Amela, assim sem i, fosse a porteira a quem ela tratava de igual forma, a D. Emila, sem i também.

.
Pois esta D. Emília, cá vai o nome certo, precisou algumas vezes de tirar dentes. O dentista seria raro e caro, mas ela não se atrapalhava. Atava ao dente um fio que prendia na porta de dentro do elevador, daqueles ainda com porta de lagarta em ferro. O senhor António, com quem era casada, subia ao 1º andar e puxava o elevador e lá conseguia, depois de algumas tentativas repetidas arrancar o dito.
.

O marido, em expediente médico-cirúrgico não se ficava atrás. Tinha umas boas varizes nas pernas, e um dia pensou que se aquelas coisas ali estavam saídas, o melhor era cortar o mal pela raiz, como já tinha feito com uns calos e uns cravos. E assim o fez, na cozinha. Escolheu a melhor faca, afiou-a com todo o cuidado, sentou-se numa cadeira, esticou a perna e com toda a sua força tentou cortar aquela excrescência. Só que mal deu uma facada, o sangue jorrou com pressão saindo em jacto e sujando o tecto. Quanto a ele, caiu para o lado e foi levado de urgência em shock.
.
Gente simples!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Aconteceu...que há crianças que tiveram necessidade de crescer depressa!

..
Entra, cumprimenta sem me conhecer, ar seguro. Tem uns 10 anos e senta-se à mesa onde a miúda holandesa está a tomar o pequeno almoço. Estou na mesa "dos crescidos", olha-me e diz: eu sei falar inglês, passei para o 5º ano e aprendi na escola. Queria meter conversa com ela, mas agora não me lembro, como se diz "qual é o teu nome"?

Digo-lhe, ela pergunta, a holandesa da mesma idade responde.

A conversa vai passar para mim. Conta-me que do 1º ao 4º ano teve na escola, nas actividades um professor de inglês. Mas está esquecida, como se diz "quantos anos tens?" Lá lhe digo. A conversa entre elas vai ser aos soluços, a portuguesa sempre a afirmar que sabe mas não se lembra.

Acaba por ir brincar com o amigo português que entretanto chega..

Mais tarde , na piscina, ela diz, "vamos a ver se posso vir logo outra vez" e o amigo português da mesma idade diz-lhe, foge, diz qualquer coisa ao teu pai e vem se ele não te deixar".

Venho a saber que o pai dela teve há anos um terrível desastre e está tetraplégico. Filha única é a auxiliar da mãe para muitas coisas, até tratar do pai..

Fez-se luz no meu espírito. Sabe falar inglês, embora só tenha aprendido umas frases na escola. Despachada. Teve necessidade certamente de ter ter crescido à pressão, perante a força das circunstâncias, a doença do pai. Fazer de crescida, ser autónoma.

Poderá ela, como o outro, mentir ao pai? Aquele pai frágil que ela sabe que com ele não se pode zangar porque ele não se pode defender?.

Há crianças que, por terem familiares de quem dependem, mas que de alguma maneira são fracos, deprimidos, psicóticos, deficientes, tiveram de dar saltos no crescimento, cuidar de si próprias, ficar com responsabilidades acrescidas, e ficaram hipermaturas (maduras na aparência). Por baixo, frequentemente ficam falhas, humores que riscam descompensar um dia, depressivamente, mas não sempre, felizmente.
.
Há vidas que obrigam a isto, ser-se crescido quando se devia ser criança. São uns sobreviventes!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Poema - valter hugo mãe

.
duvido que volte a cair neve
enquanto eu estou a olhar.
tenho os olhos quentes e aqueço
tudo em redor. a espera põe-me
assim. se vier chuva sou só eu
a chorar