quarta-feira, 5 de maio de 2010

Aconteceu...vídeo

Obrigada por me teres enviado o vídeo por mail, D.
Como sabes tenho (temos) amigos de grande categoria humana e cultural que moram alguns até cresceram na Margem Sul. Serão excepções? Felizmente há muitas.
Mas também há muito do que está bem caracterizado aqui.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Aconteceu...com o meu neto mais novo

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Está tudo tão calmo! Embora espaçadamente se oiça passar o comboio, crianças a brincar no jardim, o vento a bater nas árvores faz uma música que lembra a água do mar calmo quando vai e vem já na areia.
Está tudo tão calmo! O sol entra pela janela e ilumina esta sala. Ainda tentei escrever na mesa da varanda, mas a luz intensa impedia-me de ver o écran.
O canto dos passarinhos é suave e alegre.
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Hoje foi a primeira vez que fui buscar o meu neto mais novo à creche. Faz hoje 5 meses e começou ontem a ficar na casa-dos-bebés-dos-pais-que-trabalham.
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Cheguei à sala e vi-o logo, refastelado numa espreguiçadeira olhava, com aquele ar atento que tem, à sua roda. Outros bebés lá estavam, como ele.
Chamei-o pelo nome, olhou para mim e sorriu.
Só quem já viveu um momento destes, de se ser reconhecido por um neto, pode perceber a emoção que isto causa.
Pois digam-me lá que com os seus 5 meses não me pode ter reconhecido, que sorriria para qualquer pessoa. É que hoje mando as teorias à fava, e digo-vos que estão todas erradas, ele sorriu mesmo para mim, eu sei, eu senti!
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Está tudo tão calmo aqui! É que depois de alguma aventura para trazer a tralha toda que hoje os bebés carregam atrás de si, acabou por adormecer ainda no carro.
E depois foi só mudá-lo para o berço e ficar a olhá-lo a dormir.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Poema - Rui Pires Cabral

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"NUNCA SE SABE."

Papéis velhos com poemas: são o joio
das gavetas. Relê-los causa aversão
e uma espécie de tristeza arrependida -
são tão nossos como as más recordações
e ainda vemos a circunstância precisa,
a causa, a ferida, por dentro de cada um.
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Mas na altura havia esperança: é isso
que representam. Não pelas coisas que
dizem - é só descrença e fastio - mas
pela simples razão de termos querido
guardá-los. Com um pouco mais de alento,
de inspiração e trabalho, ainda se endireita
isto. Ou seja, os versos. E até a vida.

sábado, 1 de maio de 2010

Aconteceu em viagem - 8 - Nelas

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(...) Quando se entrava na loja dele e se perguntava, por exemplo, se tinha sal, ou outra coisa qualquer, cera, ele dizia: "Não há sal. Há muito tempo que dei para isso do sal". Ou então: "não, mas o que é que julga? Cera, eu? Há muito tempo que dei para isso da cera." (...)
Esta conversa refere-se ao merceeiro e passa-se no livro de Margueritte Duras, "Os Cavalos De Tarquínia".
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Associei com uma cena hilariante passada há anos em Nelas, num café do largo principal. Esplanada de mesas postas, empregados vestidos a preceito, de avental muito comprido branco sobre roupa preta e colarinhos engomados brancos. Na parede um quadro de ardósia onde escrito a giz imensos petiscos eram anunciados.
O empregado chega e pedimos um deles, não sei qual. Ele vai lá dentro, volta e comunica-nos que aquele não havia. Escolhemos outro e a situação repete-se. A certa altura, entre o irritados e o perdidos de riso pedimos-lhe então que vá lá dentro se faz favor, saber o que há, o que o empregado cumpre e volta dizendo que não há nada, que o restaurante era novo e só abriria no dia seguinte.
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Rimos a bom rir! E começamos a olhar para os lados supondo ser uma situação para apanhados e descobrirmos uma câmara de filmar.
Mas não, era mesmo a sério, e tivemos de nos levantar e procurar outra que servisse alguma coisa.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Poema - Ana Salomé

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DIÁRIO
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A partir de agora, todo o poema que fale de amor, fora.
Todo o poema que não revolucione, fora.
Todo o poema que não ensine, fora.
Todo o poema que não salve vidas, fora.
Todo o poema que não se sobreviva, fora.
Vou deixar um anúncio no jornal:
Procura-se poeta. Trespasso-me.