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terça-feira, 3 de maio de 2011

Aconteceu...que me incomoda o despudor

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Estava no intervalo de uma consulta quando, espavorida, uma colega vinda da rua quer-me contar... só ouvi mesmo alguma coisa. Disse-lhe com um ar frio e distante que falaríamos mais logo. Estávamos  a 11 de Setembro de 2001, pouco depois da hora do almoço e ela tinha acabado de ver televisão.
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Nem sempre estamos capazes de tomar consciência, viver certas emoções. Com o que ouvi fiz um movimento de defesa dentro de mim, evitei sentir e pensar. Só mais tarde, fazendo a digestão lenta do assunto, o pude fazer.
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Ontem Bin Laden, considerado o responsável pelo 11 de Setembro foi morto.
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Foi violento ver Barack Obama satisfeito com o feito,   as milhares de pessoas nas ruas Nova Iorque  festejarem a  morte; ler os jornais noticiando-a com o mesmo despudor; ouvir/ver uma apresentadora   excitada que queria ver umas imagens da morte, etc.
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Sempre houve guerras, vencidos e vencedores. O que não havia era o espectáculo mediático, a morte em cima da hora. 
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Cada qual com o seu interesse, poder, dinheiro, seja ele qual for e que motiva o seu rumo. 
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"Todos tiveram pai, todos tiveram mãe (...)" disse José Régio. Isto é frequentemente esquecido.
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À vida humana cada vez se dá menos valor.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Aconteceu...caixas para pessoas vivas

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Um destes dias, do Derby de Lisboa como ouvi que chamavam ao jogo de futebol Sporting Benfica, ouvi um oficial da polícia falar sobre as medidas de segurança que iam ser tomadas.
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Ao referir-se à claque do Benfica, que ainda não tinha partido rumo ao estádio do Sporting, o polícia disse que eles seriam cerca de 3000 e iriam em caixas de 400. Caixas?
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A minha fantasia levou-me para aquelas camionetas de caixa aberta, onde animais são transportados, esborrachados uns aos outros. À chegada e quando os fazem sair, uns vêm mortos, outros moribundos, outros ainda com fracturas várias.
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Depois o meu pensamento divagou para as caixas de redes, quatro faces e uma abertura, que os pesacdores do mar usam para a apanha de peixe ou marisco ou para os pôr em viveiro. Mas isso são chamadas gaiolas.
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Já tive oportunidade de ver as claques dos três principais clubes serem encaminhadas para os estádios. Vi de perto, ali no passeio, parada, só para os ver. Curiosidade, que género de pessoas, homens, mulheres, qual o aspecto, e o comportamento.
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Por isso penso saber o que são as caixas que o polícia falava, cordões de polícia que envolvem a massa da claque, delimitando-a em grupos. E lá vão eles, fileiras serradas, presos entre os cordões de guarda. Todos os que vi naquelas viagens, iam mansos como carneiros.
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O aspecto das pessoas de algumas claques impressionou-me. Não são todas constituídas por pessoas semelhantes no estilo e aspecto social. Numa delas, gente com ar pobre, para não dizer quase miserável, quer na roupa, nos dentes podres ou até na ausência deles. Há marcas de infância sofridas e abandónicas que não se apagam, e ficam coladas à pele porque já lhes pertencem, só a morte as fará desparecer.
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Impressionou-me que por períodos não há cantos nem palavras de ordem, fazendo lembrar um cortejo fúnebre, que acompanha o morto à sua última morada. Impressionou-me o ar submisso com que se sujeitam a ser tratados assim como animais.
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Que, e em grupo, sabemos que agem muitas vezes como tal.
Mas dizer que vão em caixas de 400, ó senhor guarda, terá mesmo de se dizer assim?